Uuka Idi Urbi Ifer Umm Marwan Santos é jornalista, budista e uma apaixonada pelas causas ambientais
Dona de uma narrativa invejável, sensível e emocionante, Uuka é uma jornalista de grande talento e capacidade. Seus textos são bem conhecidos há muitos anos pelo público da BSGI que acompanha a revista Terceira Civilização. Mas o que pouca gente conhece – pois Uuka é também um ser humano de grande humildade – é o lado ambientalista. Há pouco mais de um mês, ela vive um sonho: o de se doar integralmente às causas que sempre a motivaram.
“Estou vivendo um momento de realizações fruto de um trabalho que começou há algum tempo. Vir para a Europa era um desejo antigo que a princípio estava relacionado a ter uma vida melhor, mas que se transformou em algo maior como parte do meu propósito”. iniciou. Aportou na Inglaterra em 2012 e, na época, encontrava-se casada e com planos de constituir família, estudar inglês. Porém, a vida tomou outro rumo e acabou voltando para o Brasil, onde permaneceu por um tempo. “O que foi bom pois, reorganizei meus planos, migrando para o jornalismo ambiental. Em paralelo, fiz muitas ideias virarem realidade, inclusive viajando por países europeus e africanos”, continuou Uuka.
Uma criança bem informada
Ainda quando criança, seu pai sempre a fazia refletir sobre o que ela representava na sociedade. Era assunto sério falar sobre grandes corporações e sistemas sociais para alguém tão imaturo, mas aquilo a fez ao menos despertar para um mundo que poucas pessoas são estimuladas a ver. “Por outro lado, minha mãe e minha avó materna, me ofereceram a base da Soka Gakkai, mostrando que era possível transformar tudo e a acreditar em mim mesma”, explicou. Sobretudo, ensinaram-na sobre o princípio da unicidade de mestre e discípulo, reforçando seu vínculo com organização budista. “Muitas vezes assistia alguma reportagem na TV que me impactava e pensava: ‘Eu queria estar lá!’, eu queria fazer algo!”, exclamou.
Seu primeiro projeto de grande impacto foi uma viagem pelo sertão de Pernambuco com uma amiga, levando duas toneladas de comida para gado em Cabrobó. Com telefonemas e e-mails, obtiveram tudo por meio de doação. Explicaram a esses patrocinadores, a situação dos pequenos produtores, cujas criações de gado serviam de subsistência e que passavam por um dos mais severos períodos de estiagem. Ao chegar àquela região, conheceu famílias sobrevivendo com 1 ou 2 litros de água ao dia, e até menos. “Voltei decidida fazer algo pelo clima e pelo meio ambiente. Foi então que iniciei os cursos sobre mudanças climáticas”, enfatizou.
Na África – contatos
Depois disso foi duas vezes à África. Na primeira delas, para o Quênia em 2016, o impacto positivo em sua vida foi certeiro. Viajou com apoio de uma organização não-governamental (ONG) sem ter grande conhecimento do que encontraria. Levou na bagagem material de pintura, revistas da SGI e vários livros infantis do presidente Ikeda no idioma inglês, com a ideia de interagir com as crianças. Ao chegar, encontrou outras duas brasileiras que queriam organizar uma pequena biblioteca num orfanato e se uniu a elas na empreitada. “Uma semana depois inauguramos a sala Amigos do Mundo. Passados mais quinze dias, tive a chance de montar um segundo espaço, a sala Coragem, com a ajuda dos moradores locais”, exultou Uuka.
Já na segunda vez no Quênia, conseguiu patrocínio de uma empresa estadunidense e de uma marca brasileira de cosméticos orgânicos, que lhe possibilitou encorajar e auxiliar uma cooperativa feminina num protótipo para a produção desse tipo de cosmético a partir da matéria-prima local. Criou laços de amizade que perduram até hoje. O diálogo sincero e o desejo pela felicidade do outro fez com que as coisas acontecessem de forma harmônica. “A partir daí não existem mais barreiras culturais, de idioma ou de ideias. Tudo se complementa. Lembro-me com carinho do Chip, um garoto que decidiu terminar a escola e entrou na faculdade de direito a partir dos nossos incentivos e lendo os direcionamentos do presidente Ikeda, nos livros da biblioteca”, contou.
Inspiração da Nova Revolução Humana
Uma de suas inspirações, ela obteve ao ler o volume 10 da Nova Revolução Humana, no capítulo “Castelo do Debate”. Um trecho em particular a tocou profundamente: “Ir pessoalmente aos locais em dificuldade”. Uuka fez desse trecho, seu juramento. Determinou que a cada nova viagem, seja para as comunidades africanas, indígenas, vilas europeias, ou novo contato com as pessoas, um sírio ou argelino em situação de refúgio, se esforçaria para cumprir aquele juramento.
Em 2020, vivendo os desafios do início da pandemia, decidiu fazer desse momento algo de valor e participou de vários cursos e palestras. Conversou com profissionais da área ambiental, pois não é simples nem fácil ingressar numa nova área. Ainda mais quando as perspectivas para o futuro demonstram ser sempre muito pessimistas na área ambiental. Mas isso a manteve focada, principalmente, em tornar atraente esse tipo de informação. “A bagagem que a gente tem enquanto membro da Soka Gakkai, ajuda porque assuntos como ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável], Agenda 2030, COP [Conference of Parties], e outros assuntos da ONU [Organização das Nações Unidas] não são distantes. Além do que, como jornalista humanista, tenho a chance de levar um pouco de esperança para tantos relatórios caóticos que a gente vê”, explicou.
E, como todo esforço sinceramente empenhado é um dia recompensado, na próxima COP 26, em Glasgow, no Reino Unido, sua trajetória de projetos será apresentada como uma das 16 melhores iniciativas do mundo realizadas em prol do clima e pelo meio ambiente. A seleção foi feita pela renomada comissão dos cursos da ONU Mudanças Climáticas, órgão em que estudou.
Hoje: o reconhecimento de uma trajetória
Agora na Europa, Uuka encontra-se numa condição totalmente diferente. Tem novos projetos como a de organizar uma exposição de desenhos das crianças do Quênia, do Amazonas e da Inglaterra. Além disso, desenvolve também uma iniciativa com pessoas em situação de refúgio. E, obviamente, manterá a agenda de cursos sobre o clima e o meio ambiente, processo o qual iniciou na Inglaterra e, finalmente, vai ainda se dedicada a uma proposta profissional que surgiu enquanto cumpria a quarentena obrigatória devido a pandemia, em Paris, França.
“Iniciei essa jornada sem saber muito bem como deveria conduzi-la, mas aos poucos, percebi que o mais importante é o desejo que está contido em cada ação. Hoje, é difícil saber se meu sobrinho ou as crianças do Núcleo Infantil da BSGI vão conseguir abraçar um dia uma árvore nativa da Amazônia, ter acesso à água potável com tranquilidade ou viver as estações do ano como elas devem realmente ser. Mas meu papel como uma pessoa consciente é seguir trabalhando, informando e encorajando as pessoas a fazerem do nosso planeta um lugar melhor em todos os aspectos”, finalizou a jornalista e ativista ambiental.