I – A Unicidade de Vida e Ambiente
Num discurso proferido durante a reunião do Conselho da Comunidade de Ecologia Humana, em Yokohama, em 1990, Zena Daysh, vice-presidente executivo do Commonwealth Human Ecology Council (CHEC), descreveu a essência da ecologia humana como uma preocupação para os seres humanos como criaturas da ecologia global, que inclui o homo sapiens, assim como as plantas e outros animais, e com os seres humanos como entidades que haviam criado a política, a sociedade, a economia e a cultura [1].
Zena Daysh esclarece, portanto, os dois pilares da ecologia humana ao reconhecer o fato de que os seres humanos são parte do ecossistema global e que são criaturas culturais e sociais. O primeiro pilar sustenta um sistema de coexistência entre a humanidade e a natureza, o segundo refere-se ao ambiente cultural e social que os seres humanos moldaram através da história.
Através da interação com o meio ambiente, a qual é externa por natureza (i.e., o cosmos), os seres humanos construíram um ambiente que é ecologicamente muito complexo. Como parte do ecossistema global, eles aprenderam a se adaptar à ordem e às leis do mundo animal juntamente com as plantas, animais, objetos inanimados e microrganismos. Com esta base, criaram um ambiente cultural e social, incluindo a linguagem, a tecnologia, os governos, a economia e as organizações. O relacionamento intrínseco entre este complexo ecológico que forma o ambiente da humanidade e os próprios seres humanos é expresso no Budismo como a lei de esho funi [2], ou a unicidade da vida e ambiente.
Aqui, “esho” é uma contração dos termos “eho” de “shoho”, que se refere ao ambiente humano e à entidade humana, respectivamente. “Fun”i, por outro lado, é uma expressão que significa “dois, mas não dois”[3]. “Dois” expressa a inter-relação e a interação em um desenvolvimento criativo entre o meio ambiente humano e a entidade vivente. Enquanto o ambiente influencia a entidade humana, os seres vivos também reagem sobre seu ambiente, transformando-o e recriando-o novamente. O meio ambiente é assim transformado, e então exerce-se sobre os seres vivos por novos meios. Esse conceito pode ser descrito, na linguagem da ecologia, como “meio ambiente dinâmico” (o impacto do meio ambiente sobre os seres humanos) e “formação do meio ambiente” (os efeitos da atividade humana sobre o meio ambiente).
A inter-relação entre os seres humanos e o meio ambiente é um processo histórico no qual ambos se transformaram um ao outro e evoluíram criativamente durante anos através da adaptação biológica bem como através da adaptação cultural e social. Por exemplo, como criaturas vivas, os seres humanos herdaram e transmitiram as características genéticas e fisiológicas de seus ancestrais. Eles também mantêm e desenvolvem a herança espiritual de seus ancestrais ao incorporarem os seus ambientes cultural e social.
No Budismo, falamos de “shoho” e “eho” para demonstrar a maneira como essa inter-relação “humanidade-ambiente” torna-se uma presença histórica em termos de espaço e tempo, tanto física como espiritualmente. Portanto, a unicidade do shosho e eho expressa a ideia de que a vida humana e seu ambiente são absolutamente “um, não dois”