Há décadas a ciência se debruça em conhecer mais sobre como as espécies vegetais reagem a estímulos externos
O termo “estado vegetativo” é cada vez mais do que impróprio para definir alguém em estado de letargia total. Isso porque cada vez mais se sabe que os vegetais são capazes de sentir e reagir a muitas variáveis do ambiente como luz, água, gravidade, temperatura, estrutura do solo, nutrientes, toxinas, micróbios, herbívoros, sinais químicos de outras plantas. Há estudos que buscam compreender o sistema de processamento de informação, bem parecido com o que ocorre com o nosso cérebro, que integra todos os dados, coordenando respostas comportamentais de cada espécie.
Um exemplo dessa comunicação: na savana africana, as girafas têm uma predileção por determinada folhagem oriunda de acácias. Estas árvores, ao serem “atacadas” pelas girafas, liberam gás etileno que é logo assimilado por suas irmãs do entorno. Tal informação faz com que estas liberem toxinas para as folhas, de forma a rechaçar o ataque desses grandes mamíferos, o que garante a sobrevivência da comunidade. Outro exemplo de comunicação entre plantas: um estudo divulgado no fim de 2013 na revista Ecology Letters, mostrou como as plantas se comunicam por meio de compostos voláteis. Viajando pelo ar, eles avisam outras árvores sobre a presença de herbívoros potencialmente perigosos – as folhas recebem a mensagem e tornam-se mais resistentes às pragas.
A inteligência vegetal é tema de inúmeras pesquisas recentes que registraram que os vegetais possuem linguagem, memória, cognição e, mais impressionante, são dotadas da capacidade de fazer escolhas! Ou seja: cada vez mais a ciência coloca as plantas no mesmo patamar dos animais: criaturas autônomas e sensíveis.
Um novo campo de estudo foi criado: a neurobiologia vegetal, cujo propósito é entender como a planta sente e percebe seu entorno, suas reações integradas aos estímulos que o ambiente lhe proporciona. Em 2005, em Florença, a Sociedade de Neurobiologia Vegetal teve seu primeiro encontro e, em 2006, foi lançada a primeira revista científica: a Plant Signaling & Behavior (Sinalização e comportamento da planta, em tradução livre).
O fato de as plantas serem seres que não têm como se mover e buscar alimentos fez com que desenvolvessem um aparato extremamente sofisticado e ao mesmo tempo sutil, mas eficaz, tanto para localizar alimento e nutrientes como para identificar possíveis ameaças. Estudos já publicados descobriram cerca de 15 a 20 sentidos, alguns análogos aos nossos: olfato e paladar (reagem ao perceber a presença de substâncias presentes no ar ou em seu corpo, como no exemplo das girafas); visão (toda planta reage à luz e hoje se sabe que percebem diferentes comprimentos de onda luminosa e sombras); tato (trepadeiras e raízes “sabem” quando encontram objetos sólidos); audição (há muito se sabe que as plantas reagem fortemente a estímulos sonoros). Um experimento interessante realizado em laboratório, resultou na constatação de que as plantas buscam por água no subsolo, seja natural ou canos enterrados. Nesse último caso, mesmo que o solo ao redor esteja totalmente seco, o que se conclui que as plantas foram guiadas pelo som da água em movimento. As raízes merecem um capítulo à parte. Como já abordado em matéria desse mesmo blog (Um universo conectado sob os nossos pés!, leia a íntegra aqui, sabe-se que as extremidades das raízes vegetais, além de sentirem a gravidade, umidade, luz, pressão e dureza, também são capazes de perceber volume, nitrogênio, fósforo, sal, várias toxinas, micróbios e sinais químicos de plantas vizinhas. As raízes percebem quando estão próximas de obstáculos ou de alguma substância tóxica, desviam-se evitando ter contato. Também conseguem perceber quando estão próximas de plantas irmãs ou não.
“As plantas são capazes de comportamentos muitíssimo mais sofisticadas do que imaginávamos”, afirma o biólogo Rick Karban, da Universidade da Califórnia, nos EUA, e principal autor do estudo sobre comunicação vegetal. “Elas passaram por uma seleção em que tiveram de lidar com os mesmos desafios que os animais e desenvolveram soluções que, às vezes, guardam semelhanças com as deles.”
Com o avanço dos estudos em biologia e fisiologia vegetal e, aliados às novas tecnologias de medição e quantificação potentes, capazes de mensurar todos os fenômenos nunca antes imaginados é que faz com que a ciência coloque as plantas em um novo patamar: para estes pesquisadores elas ocupam o mesmo lugar na escala evolutiva.
Tudo o que foi descrito e muito mais são resultado de pesquisas recentes, realizadas nos últimos vinte anos. Há ainda muito mais a ser descoberto e, à medida que o tempo passa, novas e impressionantes descobertas se somam à ideia de que a inteligência das plantas vai muito além do que imaginávamos o que abre um grandioso e precioso leque de possibilidades para o futuro do planeta. Daí a urgência em se preservar e conservar o que existe de forma a podermos usufruir de tudo o que o mundo vegetal tem a oferecer.
Fontes:
https://veja.abril.com.br/ciencia/a-inteligencia-das-plantas-revelada/
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-planta-inteligente/