Perigo no Ninho: ameaça da poluição plástica para as aves

Nos primeiros meses do ano, a confecção de ninhos por diferentes espécies de aves é um espetáculo comum.

Mas uma cena flagrada na sede do Instituto Soka Amazônia – na Reserva Particular de Patrimônio Natural Daisaku Ikeda, às margens do Rio Negro, em frente ao Encontro das Águas, em Manaus – chamou a atenção de pesquisadores e visitantes.

Entre as tramas dos ninhos de Japu ou Japiim (Psarocolius decumanus) foi notada forte presença de fios sintéticos, evidenciando a crescente interferência humana nos ecossistemas naturais. 

Fios de nylon em ninhos de japu na RPPN Daisaku Ikeda

Além de fios de nylon provenientes da pesca, outros materiais indevidamente descartados no ambiente vêm sendo utilizados na construção dos ninhos por aves de diversas espécies.

Este comportamento anormal já  foi  registrado em  artigo científico publicado na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B.  O estudo intitulado “Formato de bico e uso de materiais em ninhos de aves” revelou que aves em ambientes antrópicos vem utilizando diversos materiais na elaboração de seus abrigos, desde fragmentos de redes de pesca, bitucas de cigarro e até sacolas plásticas.

Pesquisas realizadas no litoral do Amapá apontou que aves marinhas também têm construído ninhos com lixo marinho, especialmente plástico. No estado do Pará, um estudo identificou que 67% dos ninhos de Japu, na região costeira amazônica, contêm plásticos.

Ameaça à biodiversidade

Poluição plástica representa grave ameaça a biodiversidade e preocupa cientistas.  

Ao ficarem presos aos fios, os animais podem ter sua mobilidade comprometida, e a ingestão de fragmentos e microplásticos pode causar ferimentos internos e obstruções fatais no sistema digestivo das aves adultas e filhotes.

Para a graduanda em Medicina Veterinária, Cristina Santos, e Hudson Lucas, veterinário especializado em animais silvestres, infelizmente, a população desconhece como o descarte de materiais plásticos têm impactos severos na sobrevivência das aves.

Japu ou japó (Psarocolius decumanus) avistado na RPPN Daisaku Ikeda

A ingestão de fragmentos plásticos pode provocar lesões no trato gastrointestinal e a sensação de plenitude e desnutrição, levando à morte dos animais por anemia, explica Cristina Santos.

 “As lesões causadas pelo plástico tornam-se úlceras e, na tentativa de cicatrização, ocorre a fibrose do tecido, comprometendo o bem-estar geral do animal”, detalhou.

Hudson destaca que o contato com esses materiais pode causar obstruções intestinais, intoxicações e, em casos graves, perda de membros ou morte de filhotes, antes mesmo da eclosão dos ovos.

Combate à Poluição Plástica

A ocorrência observada nos ninhos de Japu na RPPN Daisaku Ikeda pode estar associada ao descarte indevido de redes de nylon de pesca e outros materiais na região da praia Ponta das Lajes.

Diante dessa situação alarmante, é urgente implementar medidas eficazes de gestão de resíduos e promover a conscientização pública. Combater a poluição plástica é essencial para garantir a segurança das aves e preservar o equilíbrio ambiental.

Em novembro, o Instituto Soka Amazônia realizou ação de sensibilização e mutirão de limpeza na região de Ponta das Lajes. Na ocasião, duas toneladas e meia de resíduos foram retiradas do Sitio Ponta das Lajes e margens.

O apelo é claro: o cuidado com os resíduos não é apenas uma responsabilidade individual, mas também uma necessidade coletiva para proteger a biodiversidade. Afinal, cada pequeno gesto pode fazer uma grande diferença na vida das espécies que compartilham o planeta conosco.

Fonte: Beak shape and nest material use in Birds https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rstb.2022.0147

Foto de Rebeca Soares Braga

Rebeca Soares Braga

É bióloga e estudante de Jornalismo, integrante do coletivo Vem Passarinhar Manaus. Colabora como Educadora no programa Academia Ambiental do Instituto Soka Amazônia

Dia do Rio: união em defesa das águas e do patrimônio cultural

Liderado pelo Instituto Soka Amazônia e IPHAN-AM, mutirão recolheu 2,5 toneladas de resíduos no Sítio Arqueológico Ponta das Lajes, celebrando o Dia do Rio, com atividade de educação ambiental e preservação cultural

* colaboração especial :Talita de Oliveira

Na véspera do Dia do Rio, comemorado no dia 24 de novembro, o Sítio Arqueológico Ponta das Lajes, localizado em Manaus, foi palco de uma ação de mobilização ambiental que reuniu cerca de 300 voluntários.

O mutirão de limpeza, liderado pelo Instituto Soka Amazônia e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-AM),  resultou na retirada de 2,5 toneladas de resíduos sólidos.

Além de preservar o ambiente e valorizar o sítio arqueológico, o evento promoveu a conscientização sobre a importância dos rios e do patrimônio cultural do Amazonas. 

Beatriz Calheiros, superintendente do IPHAN Amazonas, explicou que a ação faz parte do plano de ações integradas de preservação do patrimônio arqueológico do Amazonas, lançado em setembro.

“Estamos aqui, graças a muitos parceiros, fazendo uma das ações do plano, que tem como espaço de aprendizado e teste o Sítio Ponta das Lajes. Os sítios arqueológicos representam um processo de ocupação muito anterior ao processo de colonização que nós vivemos e por isso é preciso reconhecer a importância dos povos originários e das diversas etnias”, ressaltou.

Sociedade civil engajada

A preocupação com a preservação ambiental e com a biodiversidade também foi  o foco da iniciativa, segundo Jean Dinelli Leão, coordenador de Educação Ambiental do Instituto Soka Amazônia,  “É o segundo ano que realizamos essa atividade e, desta vez, conseguimos superar as expectativas com mais pessoas e a coleta de resíduos surpreendente de 2.5 toneladas de material que prejudica o ambiente aquático e espalha poluição no entorno, em especial no período de cheia dos rios que, em breve se inicia”.

A bacia hidrográfica amazônica é a segunda mais poluída do mundo e recebe cerca de 182 mil toneladas de plástico por ano, segundo José Eduardo Martinelli Filho,  pesquisador e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA). Vários estudos já demonstram o impacto desse tipo de material para a biodiversidade e para a saúde humana, com a presença de microplásticos identificada em diversos organismos aquáticos. Diante desse desafio, a união da sociedade é crucial. 

 

 

Representando 15 empresas japonesas, reunidas na Kaigisho – Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas, Elen Carlen Cunha destacou a importância da reflexão gerada durante a ação. 

“A atividade vem demonstrar claramente a importância da ação que precisamos fazer junto às comunidades. Cada vez mais precisamos fazer ações de educação ambiental na base”, afirmou.

O evento também incentivou a educação das novas gerações. A indústria Kawasaki, instalada próximo ao Sítio Arqueológico, participou da ação com 100 voluntários, entre colaboradores da empresa e familiares.

A iniciativa reuniu voluntários de 18 empresas, incluindo parceiras do Instituto Soka Amazônia e integrantes da Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas, servidores de órgãos públicos como Defesa Civil, Guarda Municipal, Polícia Militar, Batalhão de Policiamento Ambiental, Serviço Geológico do Brasil, Semmas-Clima, UFAM e UEA. Também participaram representantes da sociedade civil, como a Coordenação de Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), a Associação Brasil SGI, o Instituto Sumaúma e o Grupo Suçuarana.

Espaço sagrado

O Sítio Arqueológico Ponta das Lajes abriga registros rupestres milenares, como oficinas líticas e petróglifos (representações gravadas em rochas).  

Nas bordas do rochedo, gravuras em forma de animais e rostos humanos, até então submersas, ficaram expostas devido ao nível do rio. A primeira vez que elas haviam sido visualizadas foi no ano de 2010, durante outra forte estiagem. Esses elementos testemunham a ocupação de povos originários há mais de 2.000 anos.

Na mesma região, encontram-se outros sítios arqueológicos como o Porto do Encontro das Águas, o Lages e o Sítio Arqueológico Daisaku Ikeda, que homenageia o fundador do Instituto Soka Amazônia, o filósofo e pacifista Dr. Daisaku Ikeda.  

“O espaço do Instituto Soka e a área das Lajes são patrimônios naturais e arqueológicos. Não se trata apenas de um local de visita, como museu ou parque; mas também é um espaço sagrado. Independente dos nossos credos, é preciso entender que ao chegar no sítio não estamos apenas fazendo uma visita, estamos nos conectando com a história, a memória e a identidade da formação do nosso povo”, disse Beatriz Calheiros, superintendente do IPHAM-AM

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