Coisas do verão amazônico: um espetáculo com milhões de anos

As peculiaridades das estações do ano na Amazônia, que são só duas, verão e inverno,  nada de primavera e outono;  de que forma o verão e o inverno afetam o dia a dia de toda a população do Amazonas e, em particular, das pessoas que mantêm vivo e ativo o nosso Instituto Soka durante os 12 meses do ano; as belezas que a natureza revela nos meses “secos” (ou com redução na quantidade de chuvas), belezas com milhões de anos que aparecem menos ou aparecem mais, dependendo de como tenha sido o inverno e da quantidade de água que caia do céu durante os meses pouco ou quase nada chuvosos do verão.

Não é segredo: no Amazonas são só duas estações por ano: verão, de maio/junho até meados de novembro e inverno de novembro/dezembro, quando as chuvas começam a vir com mais força, até que o tempo mude outra vez e volte a chover menos em meados do maio seguinte.

Tempo realmente seco não chega a haver – a umidade é constante.

Temperaturas baixas, ou seja, alguma coisa de 19 a 21 graus, são coisa rara.

A diferença entre uma estação e outra

A diferença entre uma estação e outra é, basicamente, a quantidade de chuvas.

As temperaturas e a umidade relativa do ar não chegam a ter variações tão significativas, mas seja como for, em alguns dias do verão de 2021 supostamente a época mais seca, onde estamos quando este artigo está sendo redigido, choveu muito, a ponto de haver vários pontos de alagamento nas ruas da Capital. Em 2 de agosto, por exemplo, quando normalmente os termômetros estariam lá em cima, nos 38 ou 39 graus eles não passaram dos 28 graus, talvez como simples reflexo da onda de frio que castigou boa parte mais ao sul e até o centro do país, ou uma prova concreta de que as variações climáticas de que tanto se fala estejam se mostrando ao mundo como indesejável realidade.

O portal G1 lembrou em seu espaço digital que apesar de ser um fenômeno da natureza, o verão amazônico também recebe influências da ação do homem. Registrou, ainda, palavras do meteorologista do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Renato Senna, que explicou que o aumento da temperatura pode ser mais intenso, dependendo de algumas condições. “O homem altera o ambiente substituindo áreas anteriormente cobertas por vegetação com asfalto, concreto e vidro, elementos que intensificam as condições de elevação da temperatura e redução da umidade, criando as conhecidas “ilhas de calor” nos grandes centros urbanos”, disse.

Inverno

O inverno, com suas chuvas fortes e a bem dizer diárias, é a época ideal para o plantio, já que as mudas criadas durante a estação anterior precisam de água para germinar e se desenvolver em toda plenitude.

O que não falta são muitas áreas que devem receber novas árvores, assim como há muita muda preparada na estação anterior.

Tanto quanto em qualquer outra época do ano, há uma trabalheira sem fim para as equipes técnicas do Instituto Soka Amazônia em suas múltiplas atividades adequadas a cada estação.

Uma curiosidade que merece registro à parte: não chega ser surpresa quando se encontram em Manaus árvores de outras regiões do Brasil, em especial da Mata Atlântica, vicejando sobretudo em áreas públicas da Capital. O ipê do sul cresce muito bem no norte brasileiro. Da mesma forma, sabe-se que espécies do norte brasileiro podem ser encontradas nos estados mais ao sul. Até o Ipê Amazônico, uma versão nortista dessa espécie, pode ser encontrada forte e muito viva em cidades do sudeste, centro oeste e até no sul do Brasil.

Verão

O verão é tempo de intensa atividade na manutenção dos viveiros, produção de novas mudas que precisam estar prontas mais adiante. Época de coleta e tratamento de sementes, árvores florindo, uma cena encantadora proporcionada pela mãe natureza. Tempo de desbaste de árvores, poda. Em tempos normais, sem pandemia, é a melhor fase dos programas de visitas de colegiais ao Instituto.

Milhões de anos

Nesse período mais seco, o visual da margem do Rio Negro transfigura-se e deixa à mostra os desenhos e inscrições gravados na rocha escura daquele paredão que se estende por pelo menos 500 metros. Há várias estimativas feitas por diferentes arqueólogos sobre a idade dessas gravuras rupestres, variando de 2 mil a 7 mil anos. Ficam em frente ao Encontro das Águas, no leste de Manaus.

Em reportagem muito interessante, o jornal A Crítica de Manaus publicou recentemente reportagem sobre esse assunto, matéria que pode ser vista na internet aqui

Em certo trecho dessa matéria, há uma frase muito feliz do educador e fotógrafo amador Valter Calheiros: “A beleza das lajes nos presenteia com sua magia e beleza”

Quanto mais baixas forem as águas do rio, maior a quantidade de inscrições que pode ser admirada.

Fotos do Educador e Fotógrafo Amador Valter Calheiros

2021, aliás, está sendo um ano muito propício para contemplar esses desenhos.

Os desenhos milenares

Outra publicação que vale a pena visitar é a que se encontra aqui. Assinala-se ali que entre os desenhos está uma série de rostos humanos gravados nas pedras localizadas à beira do rio. Também é possível identificar figuras geométricas, espirais e desenhos sinuosos em forma de cobra.

Com a subida do rio Negro, os desenhos começam a ser cobertos pela água.

2010: o ano recorde

2010 talvez tenha sido o ano recorde, pois nessa época aconteceu uma seca acima do normal, a ponto de haver peixes morrendo e o paredão mostrou-se praticamente por inteiro, revelando novos desenhos e chegou a atrair a atenção de uma equipe não-brasileira, provavelmente da BBC de Londres e a Lage acabou sendo assunto de uma reportagem internacional.

Material riquíssimo para estudos tanto de história, como de geologia, arqueologia, paleontologia, ecologia e, dentro da ecologia, a fenologia, ou “fenomenologia”, ramo que estuda os fenômenos periódicos dos seres vivos e suas relações com as condições do ambiente, tais como temperatura, luz e umidade.


Mais atrações

A bem da verdade, deve-se lembrar que nem só por essa atração há tantas visitações ao local: o lugar é excelente para pescarias e há um cuidado muito especial que as equipes do Instituto têm que dispensar para evitar que curiosos entrem na sua área e possam provocar danos às espécies ali existentes. Intervenções muito cordiais e discretas têm sido suficientes para evitar problemas.