A relação do ser humano com o meio em que vive vai muito além da simples existência; envolve todo um complexo conjunto de ações e reações que impactam diretamente a vida social
A área de atuação da Psicologia Social envolve o estudo de tudo o que ocorre com o indivíduo desde a sua concepção, suas relações com o meio e as pessoas com quem convive. É o estudo das manifestações comportamentais suscitadas pela interação do indivíduo, sua integração, a interdependência, escolhas e decisões, desejos e expectativas. Tudo isso influencia no processo de socialização – interação com os grupos sociais e seus diversos papéis sociais. Denise Machado Duran Gutierrez é uma pesquisadora apaixonada por tudo relacionado à área e é uma das cientistas colaboradoras do Instituto Soka Amazônia.
“Fico encantada com o empenho da equipe do Instituto Soka em todas as ações que empreende”, contou a pesquisadora.
A paulistana Denise é a responsável, pela Coordenação de Tecnologia Social do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), há 10 anos. Graduada em Psicologia para Universidade de São Paulo (USP), mestre em Psicologia da Saúde na Universidade Católica de Brabant, na Holanda e doutora em Saúde da Mulher e da Criança pelo Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“A Psicologia Clínica não foi minha primeira opção de carreira, mas ela foi se introduzindo naturalmente e hoje sinto que era para ser”, explicou. Desde o Ensino Médio seu forte senso de justiça social e desejo de melhor compreender as relações humanas foi um guia para a trajetória impressionante que viria a seguir.
Carreira acadêmica
Contingências da vida levaram-na ao mestrado na Holanda. Devido ao trabalho do esposo, mudaram-se para o exterior, a oportunidade surgiu e ela se sentiu agraciada pelo destino. “Mas nunca me ocorreu voltar-me à carreira acadêmica”, confessou.
De volta ao Brasil, novamente em função da carreira do cônjuge, foram viver em Manaus. “Nos primeiros dias, ainda morando em hotel, sai a passear pela cidade e me vi à porta de uma Universidade. Resolvi entrar e ver se havia algum curso na minha área para fazer”, brincou. Saiu empregada. Fora contratada para lecionar Psicologia da Personalidade. Isso aconteceu há mais de 20 anos e, desde então, não mais deixou a carreira acadêmica. É professora titular da Universidade Federal do Amazonas e uma entusiasta da pesquisa voltada às Tecnologias Sociais. E o INPA veio logo a seguir, com certeza, graças à competência e o comprometimento.
Em sua modéstia argumentou que aquele “era um momento em que havia uma grande carência de profissionais titulados”. Porém, basta observar brevemente sua trajetória e discurso para compreender que se trata de pura competência, forte senso de responsabilidade e desejo por fazer a diferença no local em que se encontra.
Embora paulista, abraçou Manaus de coração e, por consequência, a Amazônia, por entender que essa floresta encerra mais do que árvores, é o próprio futuro da humanidade que ali se encontra.
Parceria com o Instituto Soka Amazônia
Há cerca de 10 anos, por intermédio do INPA, conheceu o Instituto Soka Amazônia e suas impactantes ações. Encantou-se. “Tudo o que fazem no [Instituto] Soka é maravilhoso! Sua base humanística, focada no ser humano e na melhoria de sua qualidade de vida é encantadora. Aquele projeto de vincular o nascimento ao plantio de uma árvore, tem uma carga simbólica e didática tão poderosa”, ressaltou se referindo ao projeto Sementes da Vida, em parceria com maternidades de Manaus. Segundo ela, embora pareça simples, a ideia de ter vinculada uma espécie amazônica ao nascimento de um novo ser humano – uma árvore que talvez subsista para além da existência daquele indivíduo – produz uma sensação real de eternidade, além da identidade e do pertencimento.
Sua área de pesquisa no doutorado voltou-se à família, essa unidade social que tanto muda conforme a época e que precisa ser constantemente estudada e atualizada. “Na verdade, nossa ideia de tempo é um sopro. O nosso tempo de vida, em termos de História, é um simples pulsar”. Ela enfatiza que se trata de mera ilusão de que o que vemos em nosso vagar pelo mundo seja uma realidade concreta. Vivemos somente um simulacro de um momento histórico que vai sendo construído geração após geração. “Há 20 anos essa realidade social e familiar era muito diferente da atual. E, daqui a 20 anos, será muito mais diferente. A família é um produto sociocultural, fundamental como produtora de cuidados de saúde e bem-estar”, explicou. E, ressalta que cada local possui suas próprias características.
O momento mais marcante, como ela própria enfatizou, foi sua participação, em 2019, na Conferência da ONU em Salt Lake City, como colaboradora do Instituto e representante do INPA. “Vi como o [Instituto] é muito bem-conceituado”, contou. Segundo ela, foi uma oportunidade riquíssima de aprendizado e compartilhamento de tecnologias sociais com pesquisadores da África e América Latina. “Depois de ter feito uma palestra na ONU, eu falo que com essa experiência, já posso me aposentar!”, brincou Denise.
Ela fez questão de ressaltar ainda, a profícua parceria do Instituto no acolhimento dos alunos de pós-graduação, mestrado e doutorado. A Reserva Particular do Patrimônio Natural Dr. Daisaku Ikeda é um local bastante utilizado pelos alunos, tanto do INPA como da UFAM, pela grande biodiversidade existente e pela proximidade com estas instituições.
Livro sobre o Seminário das Águas
Há 6 anos, sob sua estreita coordenação, INPA e Instituto Soka Amazônia, vêm realizando o Seminário das Águas da Amazônia e, em outubro deste ano está previsto o lançamento do livro sobre esse importante evento que já faz parte do calendário oficial da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI). “Foi um longo percurso até chegarmos a esse produto cultural que, tenho certeza, será uma importante ferramenta de atualização e pesquisa para o setor!”, exclamou a professora doutora.
“Nosso desejo é de realizar o lançamento do livro na próxima Semana [de Ciência e Tecnologia] em outubro”, enfatizou.
Outro motivo de grande júbilo por parte da pesquisadora é o convite do MCTI para a construção da Rede Amazônica de Tecnologia Social, que consistirá no mapeamento de todas as iniciativas de instituições voltadas à área. O MCTI pretende construir uma plataforma contendo todas as informações sobre esses agentes promotores, inclusive com sua geolocalização, abrangência de atuação, métodos, processos e populações atendidas. “Penso que será mais uma importante ferramenta para aprendizado e transformação social e o [Instituto] Soka estará nesse projeto que será disponibilizado para todo o planeta”, finaliza a pesquisadora.