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Biossequestro

Crédito de Carbono é uma coisa e Pegada de Carbono é outra

Marcos Viana(*) põe os pingos nos ii

O tema aquecimento global e mudança climática, bem como os diversos dispositivos e políticas para seu controle, trouxe definições que por vezes provocam confusão. Uma das mais frequentes é sobre as expressões “Crédito de Carbono” e “Pegada de Carbono”, que muitas vezes são usadas como sinônimos.

E não o são.

A origem do termo

Vamos começar pela origem da definição de Crédito de Carbono.

Essa denominação surgiu durante as discussões que aconteceram nas diversas reuniões da UNFCCC (vertido do inglês como Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) que culminaram com o “Protocolo de Quioto” ratificado por várias nações no ano de 1997.

Durante o desenvolvimento dos vários mecanismos que o Protocolo de Quioto definiu é que o termo “Crédito de Carbono” começou a ser usado por algumas pessoas.

Cabe, no entanto, a pergunta: o que é Crédito de Carbono?

Créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE – no inglês CER – Cerificate of Emission Reduction) são certificados emitidos para uma pessoa ou empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa.

Por convenção, 1 tonelada de dióxido de carbono corresponde a 1 crédito de carbono.

Um exemplo prático

Por exemplo, a empresa A usava, para gerar vapor em sua caldeira, a queima de óleo diesel (combustível fóssil) e executou um projeto de troca de combustível, passando a queimar biomassa (no caso, bagaço de cana de uma usina de açúcar que ficava na vizinhança). Acontece que o bagaço de cana é fonte renovável de energia e o CO2 gerado na sua queima e passou a ser captado (biosequestrado) pela plantação de cana-de-açúcar na safra seguinte, formando um ciclo virtuoso de renovação.

O óleo Diesel, ao contrário, tem origem no petróleo, sendo que o CO2 de sua queima não volta para um ciclo de renovação e faz com que esse gás de efeito estufa fique por 150 anos em atividade na atmosfera. Como aquela empresa trocou sua matriz energética, ela passou a criar, a cada ano, um “Crédito de Carbono” que é calculado como toneladas equivalentes de CO2 (tCO2e) que ela deixou de emitir por ter deixado de queimar Diesel. Ou seja, como a empresa “não gasta” aquela reserva, fica com um crédito de emissões, que se certificado por uma entidade reconhecida pela UNFCCC pode ser anualmente negociado com uma outra empresa (B) como forma de compensação de suas emissões de gases de efeito estufa – Ver figura 1 abaixo

Figura 1 – Representação gráfica de como se dá a transferência de créditos de carbono de uma empresa para outra

E a pegada de carbono?

Agora, vamos falar sobre pegada de carbono.

A definição de “pegada de carbono” está diretamente relacionada à quantidade de emissões de gases de efeito estufa em toneladas de CO2 (tCO2e) que uma pessoa ou empresa emite em determinado ano, originada de suas atividades, produtos e serviços.

Ou seja, “pegada de carbono” é a soma de todas as emissões de uma pessoa ou empresa.

Pegada de carbono pode, também, ser definida como um inventário das emissões de gases de efeito estufa.

Para dar um exemplo prático, suponhamos que uma pessoa queira calcular sua pegada de carbono com o uso de seu veículo no ano de 2020. Sabendo-se que esse carro faz 10 km por litro de gasolina, e foram percorridos 12.000 km no ano de 2020, busca-se no BEN (Balanço Energético Nacional) 2020, o fator de emissão gasolina igual a 2,212 kg CO2 / L.


Figura 2 – Cálculo da pegada de carbono de um veículo a gasolina que percorreu 12.000 km no ano de 2020

Realizando os cálculos devidos (ver figura 2), encontra-se que a pegada de carbono pelo uso de veículo daquela pessoa foi de 2,654 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes).

Para neutralizar a sua pegada de carbono, a pessoa terá diferentes formas de fazê-lo. Mas isso é assunto para um outro artigo.

Fontes:

  • Quanto mais quente melhor? Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças climáticas. Carlos Klink (organizado) – São Paulo: Peirópolis, Brasília, DF:IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.
  • BEM 2020 – Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia

(*) Marcos Viana é pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental, qualificado em controles preventivos e titular da consultoria AmazonCert sediada em Manaus