A cada 10 mil novas árvores plantadas é possível neutralizar cerca de 1,6 milhão de toneladas de CO2 (dióxido de carbono)
Qualquer desavisado percebe que mesmo em meio ao calor intenso do verão brasileiro, a sombra de uma frondosa árvore traz um frescor revigorante. Isso porque uma única árvore é capaz de regular a temperatura na sombra de sua copa. Árvores captam a água do subsolo pelas raízes e do ambiente em toda a sua superfície e evaporam por meio de estruturas microscópicas localizadas nas folhas. O Instituto Soka Amazônia, nos 55 hectares de sua Reserva Particular do Patrimônio Natural já neutralizou dezenas de milhões de toneladas de CO2 devido as ações de recuperação ambiental. Em 2025, quando se completarão os 30 anos do credenciamento pelo Ibama serão cerca de 98 milhões de toneladas de dióxido de carbono neutralizados.
No dia 7 de novembro celebra-se o dia da Floresta e do Clima. A relação floresta e clima são simbióticas e, desde o estabelecimento do Protocolo de Quioto[i] (em vigor desde 2005), o mercado de créditos de carbono passou a ser um foco importante para a neutralização dos gases de efeito estufa e minimizar o aquecimento global.
Mas como funciona o mercado de créditos de carbono?
Uma unidade de crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono emitido (tCO2e). Funciona assim: empresas e países têm uma cota de emissão de gases de efeito estufa, os que não atingem a quantidade estabelecida, podem vender essa “sobra”. Os que não superam a meta compram de empresas que possuem créditos ou de quem produz esses créditos como as Reservas neutralizadoras, um exemplo é RPPN Dr. Daisaku Ikeda do Instituto Soka.
Obviamente, a Floresta Amazônica Brasileira é um dos maiores – senão o maior – reservatório de créditos de carbono do planeta. Além de equilibrar o clima, ela protege cerca de 10% da biodiversidade do mundo. A floresta proporciona ainda, sobrevivência e renda a dezenas de povos tradicionais, junto com todo o conhecimento milenar da cultura preservada a gerações por essas populações. Tais fatos evidenciam a gravidade dos problemas ocasionados pelo desmatamento, degradação das matas, as mudanças do uso do solo devido as atividades agropecuárias. Tais ações são responsáveis por 24% de todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) que repercutem em todo o mundo.
Somente no Brasil, tais atividades na região ocasionaram 71% de todas as emissões em 2017 (SEEG, 2019)[ii]. Embora a taxa de desmatamento brasileira tenha diminuído de 2004 a 2012, esses valores voltaram a crescer nos últimos anos. Dessa forma, manter a floresta em pé é crucial, não apenas à nossa gente brasileira, mas também a todas as nações do globo.
Mercado de créditos de carbono
Este início de milênio trouxe novos olhares para a Economia florestal que, há muito, deixou de ser somente um campo de atuação de militantes e ambientalistas. Muitos especialistas apontam que se trata de um mercado em crescimento, mesmo diante de diversos entraves, principalmente nos últimos anos em que se colocou em dúvida algumas certezas estabelecidas quanto às questões ambientais.
Há todo um universo de títulos verdes[iii] disponíveis que, num único ano (2017), registrou um saldo de quase 900 bilhões de dólares, um crescimento de mais de 200 bilhões em relação a 2016. Deste total, 61% foi para comercialização de baixo carbono e 19% para energia limpa. Para estes que reduziram suas emissões, são emitidos créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões.
Cada vez mais as empresas vêm se conscientizando sobre a necessidade de desenvolver ações efetivas de combate às suas emissões de gases nocivos. Todo projeto passa necessariamente por uma avaliação de órgãos internacionais e, se e quando aprovado, torna-se elegível para gerar créditos verdes. Aí, a cada tonelada de CO2 não emitido estas empresas conquistam uma unidade de crédito, possível de ser negociado diretamente com empresas ou na bolsa de valores. Kenny Fonseca, professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), enfatiza que “os países só podem usar esses créditos para suprir uma pequena parte de suas metas”. Ou seja: cumprir o acordo estabelecido no Protocolo de Quioto tem de ser o principal objetivo dos países que firmaram o documento.
O avanço das descobertas não cessa. Sabe-se hoje que não são só os gases que provocam o efeito estufa. A fuligem da fumaça, chamada de carbono negro, tem também um papel bastante nocivo e preponderante. Esse carbono negro ocasiona um sombreamento da superfície atmosférica resultando em aquecimento desta. E também adultera significativamente a formação das nuvens, causando o desequilíbrio térmico do globo.
O pesquisador alerta ainda que, ao contrário do resto do mundo, o Brasil ainda não tem metas a cumprir, apesar de estar na lista dos 20 países que mais poluem. Segundo Kenny, 2/3 das emissões brasileiras estão ligadas à mudança drástica do uso do solo (desmatamento, queimadas e conversão de florestas em sistemas agropecuários). Fato que coloca o país num patamar delicado, que deve afetar todo o planeta.
Fontes:
https://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/protocolo-de-quioto.html https://bluevisionbraskem.com/inteligencia/economia-florestal-como-funcionam-os-creditos-de-carbono/
[i] Acordo internacional entre os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), firmado com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global.
[ii] Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa
[iii] Títulos verdes são modelos de títulos de investimento nos quais os recursos são usados exclusivamente para financiar projetos verdes, sendo os créditos de carbono sua principal matriz