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Constrangimento entre árvores? Entenda o fenômeno dessa timidez

Há muitas teorias que visam justificar o fato de que as copas das árvores mantêm um distanciamento mínimo e bem peculiar entre si
Cientistas que estudam os dosséis recomendam para os leigos: deite-se sob as copas das grandes árvores, olhe para os dosséis esmeralda e deleite-se com o balançar das ramagens ao sabor dos ventos. É uma sensação simplesmente indescritível!

A teoria mais conhecida é a da otimização da exposição solar a fim de potencializar o processo de fotossíntese. Quem já teve a experiência de cuidar de uma

Quem já teve a experiência de cuidar de uma planta sabe o que representa a correta exposição ao sol tanto do tronco como dos ramos mais internos. Quando a planta recebe a preciosa luz e calor, há um incremento realmente impressionante no seu desenvolvimento.

Na verdade, toda a vida na terra depende da energia oriunda da nossa querida estrela.

O fenômeno

Pense agora em árvores como as amazônicas que não são plantadas pelo homem e sim pelo processo natural. Elas crescem desordenadamente e dessa forma suas copas, teoricamente deveriam se juntar lá no alto. Mas não é isso que acontece. É justamente sobre esse fenômeno que estamos falando. As árvores, generosa e naturalmente mantêm entre si uma distância capaz de oferecer, no mínimo, oportunidade para que as plantas e os animais do solo possam usufruir da maravilhosa luz solar e se desenvolver.

Além do descrito acima, ainda se buscam outras justificativas para o fenômeno. Há quem defenda que o fato ocorra para promover a redução da propagação de insetos prejudiciais. Há também quem acredite que as árvores não misturando suas copas, visam proteger os ramos uns dos outros, evitando que se partam ou rachem. Outra teoria argumenta que a assim dita timidez entre árvores maximiza o processo de fotossíntese por meio da maior exposição ao sol.

MAHIM BHAT, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons
Buscando explicações para o fenômeno

Entre todas as teorias aventadas a partir da observação científica uma se destaca: a de que esse comportamento se dá para dificultar a passagem de insetos e larvas de uma árvore a outra. Para uma pessoa que esteja no chão da floresta e olhe para as copas, é fácil fazer uma analogia com rios, por causa do desenho intrincado delineado pelas frestas entre as árvores. Na realidade, esse é resultado de mecanismos diferentes em cada espécie. Afora o fenômeno descrito no início desse texto, todas as outras teorias ocorrem de forma pontual em uma ou outra espécie, resultado de inúmeras adaptações e processos evolutivos.

É assim que muitos dosséis1 de florestas, coberturas superiores da floresta formadas pelas copas das árvores, apresentam espaços vazios, que podem ajudar as árvores a compartilhar recursos e permanecer saudáveis. Há pesquisadores que defendem que também as árvores necessitam de seu espaço individual.

Histórico dos estudos 

As primeiras constatações remontam à década de 1920, porém foi preciso que se passassem várias décadas até que pesquisas reais fossem feitas, descritas e publicadas. A causa – ou as causas – do fenômeno, como já colocado, são várias e muitas ainda sem comprovação absoluta, mas que possuem fortes indícios. Dentre as muitas teorias aventadas, houve uma que defendia que a timidez arbórea se dava por uma disputa entre as árvores devido o balanço dos ramos causado pelo vento, cada árvore se esmerando em produzir mais e mais novos galhos para atacar ou se defender das vizinhas.

Aproximadamente duas décadas se passaram até que a equipe de Mark Rudnicki, biólogo da Universidade Tecnológica de Michigan, resolveu medir a força das colisões entre pinheiros da espécie Pinus contorta em Alberta, Canadá. O estudo percebeu que florestas compostas por troncos longos e longilíneos, largamente expostos às ventanias, tinham a tendência de resultar em timidez arbórea. Rudnicki e sua equipe experimentaram usar cordas de náilon para impedir os choques entre pinheiros vizinhos. O que ocorreu a partir disso espantou os pesquisadores: as plantas entrelaçaram suas copas, preenchendo os espaços entre as copas adjacentes! Ou seja: não eram os choques resultado de disputas, mas outra causa que permanece um mistério.

Já publicamos antes uma matéria sobre a consciência das plantas – veja aqui. A pesquisadora silvicultora e horticultora da Universidade de Yale, Marlyse Duguid, afirma que há cada dia mais estudos científicos sobre o tema da consciência vegetal. A comunicação química entre espécies lenhosas ainda é escassa, mas se em outras espécies já foi possível verificar que existe o estabelecimento de percepção entre afins, isso leva a crer que as plantas sejam capazes de interromper o crescimento do dossel antes da ocorrência de qualquer disputa. 

A individualidade como vantagem

O que se percebeu até o momento é que a timidez arbórea é um fato e que a preservação do espaço individual parece trazer benefícios. Proteger as folhas, por exemplo. É inegável que as folhas são elementos imprescindíveis para a sobrevivência de qualquer planta. É por elas que o vegetal respira, transpira, se hidrata por meio da captação da água, sente a brisa e os compostos químicos transmitidos por outras plantas e mais um sem número de funções essenciais. 

Assim sendo, toda planta sabe que folhagens mais espaçadas contribuem para que a luz do sol chegue ao chão da floresta e nutra outros vegetais e animais, elementos que ajudam no desenvolvimento da sua própria vida. Acredita-se, portanto, que as lacunas entre as copas permitem que a vida de tantas outras criaturas da floresta – cada qual com sua função no ciclo natural de desenvolvimento – sobrevivam e procriem, perpetuando o ciclo.

E, acima de tudo, os cientistas que estudam os dosséis recomendam para os leigos: deite-se sob as copas das grandes árvores, olhe para os dosséis esmeralda e deleite-se com o balançar das ramagens ao sabor dos ventos. É uma sensação simplesmente indescritível!


O dossel da floresta, ou seja, a cobertura superior da floresta formada pelas copas das árvores, em termos ecológicos apresenta uma grande influência na regeneração das espécies arbustivo-arbóreas, além de atuar como barreira física às gotas de chuva, protegendo o solo da erosão.

Fontes

https://www.natgeo.pt/ciencia/2020/03/o-fenomeno-natural-que-provoca-timidez-entre-arvores

https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2020/07/algumas-arvores-praticam-distanciamento-social-para-evitar-doencas