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Educação Ambiental

Formando novas gerações de protetores ambientais

A Educação é a forma mais efetiva de conscientização e a Rede Pedagógica Ambiental é o projeto da professora Jacy Alice Grande Odani com o Instituto Soka Amazônia

A especialista, mestre e doutora em Educação, Jacy Alice sempre se encantou com a escola, desde menina.

“No maternal, o cheiro, as cores, as pessoas me marcaram muito e eu só tinha 2 anos! Lembro que me apaixonei de imediato pela profissão. Decidi que era o que iria seguir: seria professora”, contou Jacy.

Jacy teve sorte. Já na 2ª série do Ensino Fundamental pode usufruir de um ensino de qualidade, ministrado por uma excelente professora que deixou marcas profundas em sua formação. Tanto que, aos 6 anos, alfabetizou os vizinhos e seu irmão caçula. Foi sua iniciação na brilhante carreira que se delinearia no futuro.

Todos os títulos foram conquistados na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e ela é hoje a alma do projeto Rede Pedagógica Ambiental em parceria com o Instituto Soka Amazônia. O objetivo é proporcionar uma rica vivência educativa ambiental já desde a primeira infância, proporcionando às crianças atendidas uma formação integral do ser humano, conscientizando-as para sua simbiótica relação com a natureza.

Rede Pedagógica Ambiental e o Instituto Soka Amazônia

“O projeto foi iniciado em uma simples conversa com o diretor do Instituto Soka, Akira Sato”, explicou a educadora. A partir desse diálogo, foi elaborado um “piloto” implantado na Creche Municipal Neyde Tomás. “Hoje estamos no 2º ano do projeto, atendendo três creches, com 900 crianças”, enfatizou. São, portanto, 900 famílias impactadas, atendidas por meio do ensino remoto, devido à pandemia no Covid-19. Estão previstas a capacitação para a produção de hortas comunitárias, cursos de alimentação saudável que serão ministrados pela bioconfeiteira Cláudia Regina, entre outros. “Queremos acabar com a fome e a miséria!”, exclamou a educadora. O uso da biomassa[i] por exemplo, obtida a partir da banana verde, é um excelente complemento alimentar que pode ser utilizado em praticamente todas as preparações aumentando significativamente o teor nutricional. “Quase toda família atendida tem uma bananeira no seu quintal e elas desconhecem o potencial desse alimento”, complementa.

Todas as ações realizadas com as crianças são inspiradas na Carta da Terra e nas ODS[ii]. Professores e comunidade recebem formação com base nesses conteúdos para a realização das atividades pedagógicas que, por sua vez, têm fundamento na pedagogia da escuta e os pressupostos da pedologia[iii] preconizada pelo grande pensador L. S. Vigotski, em prol da educação ambiental.

Extraindo força da dor

Há muitas maneiras de se lidar com a dor. Há quem se dedique a buscar respostas e outras que se entreguem ao sofrimento. Mas há quem decide dar um significado maior ao fato. É o caso da professora Jacy. No final de 2019 sofreu a perda de uma filha, poucas horas após o nascimento, após uma gestação marcada por muitos incidentes devido a problemas congênitos do bebê. Houve quem se posicionasse a favor da interrupção da gravidez, argumentando inúmeras questões relacionadas à deficiência da criança, entre outras coisas. “Foi uma verdadeira violência”, contou. Jacy se deu conta de que tal violência não poderia se repetir e buscou maneiras de fazer desse episódio uma bandeira de luta em prol de uma gestação segura e protegida por lei.

Quando uma pessoa se empodera, as energias afins se juntam. E foi isso que aconteceu. Jacy uniu-se a outros com o mesmo propósito e juntos produziram um projeto de Lei que tramita na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. “Se aprovada, nosso Estado será o primeiro a ter uma lei que trata da violência gestacional”, exclamou. A Lei Yumi Odani (nome de sua filha falecida), aborda ainda a estimulação precoce no caso de bebês nascidos com doenças crônicas e deficiências. Tal estimulação precoce consegue reduzir significativamente diversas sequelas causadas por estas patologias específicas, daí a imensa relevância do projeto de Lei que produziu.

A tragédia também a inspirou a encampar uma ação social: a doação de fraldas às UTIs neonatais de Manaus. “Quando comecei eu queria 34 fraldas. Conseguimos mais de 400! Empresas me procuram para doar, tem quem bata à minha porta para deixar um pacote de fraldas. É realmente gratificante quando percebemos que há humanidade nas pessoas”, exultou.

A educadora entende que a carreira docente que abraçou é muito mais que os quatro muros da escola. O campo de atuação vai além disso. Tem de se estender para fora da sala de aula, para as ruas, calçadas, lares. “Só teremos educação de qualidade quando erradicarmos a miséria da vida do povo”, enfatizou.

Para tanto, ela ressalta que tal objetivo tem de ser uma tarefa de todos. A meta é a formação de uma rede pedagógica multidisciplinar diretamente relacionada à conscientização sócioambiental, tendo a Educação como elo, desde a primeira infância – 0 a 3 anos – a melhor idade para se iniciar qualquer aprendizado. Isso porque é nessa fase da vida que o cérebro da criança possui uma imensa neuroplasticidade. Ou seja, a fase do crescimento e desenvolvimento sensório-motor, que é quando se formam as redes neurais mais importantes para a formação da personalidade. “E quanto mais oportunidades pedagógicas oferecermos, mais desenvolvimento essas crianças terão e, consequentemente, se tornarão adultos mais sãos, conscientes e empoderados”, explicou.

A parceria com o Instituto Soka Amazônia é parte essencial para a formação dessa rede de apoio sócio-educativa-ambiental. “Sou muito grata e uma entusiasta das ações do Instituto pois percebo a grandeza do que seremos capazes de criar juntos”, explicou. Em dois apenas – mesmo em meio à pandemia global – vêm conseguindo atender 900 famílias. “Imagine daqui a 10 anos!”, complementou.

Jacy ressalta ainda que esse é um fator de fundamental importância para a construção de um planeta mais sustentável. São essas futuras gerações – despertas para a importância dessa construção por meio de ricas vivências educativas – que se tornarão adultos conscientes e protetores do meio em que vivem. “As experiências vividas por estas crianças jamais serão esquecidas, estarão no cerne da personalidade de cada uma e, posteriormente, no cidadão planetário que se tornarão”, conclui.


[i] A biomassa de banana verde ajuda a emagrecer e a reduzir o colesterol porque é rica em amido resistente, um tipo de carboidrato que não é digerido pelo intestino e que funciona como uma fibra que ajuda a controlar a glicemia, reduzir o colesterol e dar mais saciedade após a refeição. https://www.tuasaude.com/biomassa-de-banana-verde/

[ii] Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 e compõem uma agenda mundial para a construção e implementação de políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030. https://www.embrapa.br/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-ods/o-que-sao-os-ods

[iii] Pedologia, do grego pedon (solo, terra), é o estudo dos solos no seu ambiente natural. É ramo da geografia física, e é um dos dois ramos das ciências do solo, sendo o outro a edafologia.

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