RPPN Dr. Daisaku Ikeda: história de preservação da biodiversidade

por Monica Kimura, em colaboração para o Instituto Soka Amazônia

O dia 12 de julho marca a oficialização da Reserva Particular de Patrimônio Natural, hoje denominada RPPN Dr. Daisaku Ikeda.

A Unidade de Conservação (UC), localizada em frente ao Encontro das Águas, em Manaus, chamou-se inicialmente Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Nazaré das Lajes, passando a receber o nome do fundador do Instituto Soka Amazônia, por uma homenagem do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Como destacou, à época,  o então diretor de Criação e Manejo e Unidades de Conservação do ICMBio, Luiz Felipe Lima de Souza, o nome da RPPN é um reconhecimento aos tenazes esforços do pacifista em prol do meio ambiente.

“Quando Ikeda falou da relação entre cultura de paz e meio ambiente no ano de 1995, sendo realmente um visionário, teve a grandeza de criar uma reserva natural em um dos biomas mais importantes do globo”.

O Instituto Soka Amazônia, criado por Ikeda, realiza a gestão da RPPN e promove a visão de relação mais harmônica entre ser humano e meio ambiente, em programas de conservação da biodiversidade, apoio à pesquisa científica e educação socioambiental.

A importância da RPPN Dr. Daisaku Ikeda para ecologia da região

Quando foi criada a RPPN, no início da década de 1990, a área de 52 hectares era um terreno totalmente degradado onde havia ruínas de a antiga olaria e vegetação rasteira e de pequeno porte, num solo precário, como relembra o biólogo e doutor em Ciência do Sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Diego Oliveira Brandão.

“É surpreendente e singular conhecer as origens dessa RPPN, pois quem a visita hoje só enxerga uma densa e bela  floresta regenerada  que hoje compõe a Reserva”, conta.

Diego reitera sobre alguns pontos que tornam a RPPN Dr. Daisaku Ikeda ainda mais relevante dentro de um contexto macro. “A primeira é a presença na Amazônia, pois a Região Norte tem o menor número de RPPN do país, , conforme dados do ICMBio”, explicou.

Outro ponto é a sua localização em frente ao Encontro das Águas. Não somente pelo visual espetacular, mas pela biodiversidade que abriga. “Foi uma decisão inteligente e providencial do fundador do Instituto Soka quando, apesar da degradação aparente no momento da decisão, visualizou o potencial existente”, elucidou.

Hoje a cobertura vegetal da Reserva é de tal exuberância que dezenas de pesquisadores da vida natural já passaram por lá e relatam que é um ambiente propício para a realização de estudos científicos.

RPPN em benefício da biodiversidade e do clima

As RPPNs são Unidades de Conservação essenciais para a biodiversidade, porque servem de habitat para as espécies nativas conhecidas e ainda desconhecidas esperando para serem catalogadas. Toda RPPN é uma Unidade de Conservação privada de Uso Sustentável.

Diego explica que, embora as RPPNs representem ainda um número pouco expressivo (cerca de 1% de todo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, os outros 99% são outras formas de Unidades de Conservação de domínio público e alguns privados), sua relevância extrapola os números, “pois cada RPPN tem o objetivo de conservar a  biodiversidade e sua existência garante a sobrevivência de muitas espécies, inclusive as ameaçadas de extinção”.

“Cada RPPN é um banco genético único. Funciona como uma provedora de alimentos e habitat às espécies nativas – fauna e flora silvestre – proporcionando serviços ecossistêmicos importantes, como frutos, polinização e proteção do solo”, explicou Diego.

Outro ponto levantado pelo biólogo é a relevância dessas UCs para o clima regional e global. O ciclo hidrológico de cada região Amazônica depende da reciclagem da água que a floresta executa. E atua também como estoque de carbono na superfície terrestre, como nas folhas, nos troncos, nas populações de fungos e  raízes, por exemplo. “Em vez desse carbono estar solto na atmosfera como dióxido de carbono, que é um gás intensificador do efeito estufa que aquece o planeta”, completa Diego.

Apesar da relevante contribuição das RPPNs para a biodiversidade e o clima do planeta Terra, Diego faz um alerta: mesmo com todo poder de regeneração da natureza, estudos indicam que há um limite associado ao desmatamento e às mudanças climáticas globais.

“A combinação entre 25% de desmatamento e aquecimento global de 2,5°C pode mudar o clima da região permanentemente, com alta perda de biodiversidade.E estamos perto desse limite, pois o desmatamento está próximo de 20% e o aquecimento global já ultrapassou 1,15°C.”, disse com preocupação. Só para se ter uma ideia: de 2001 a 2018, a média de desmatamento foi de 17 mil km2 ao ano em toda Amazônia. “Para ficar claro uma comparação básica: a área do Distrito Federal é de 5,7 mil km2, portanto, foi desmatada anualmente mais de três vezes a área total do Distrito Federal”, finalizou o biólogo.

RPPNs m números

Infelizmente, embora abrigue a maior parte da maior floresta tropical biodiversa do planeta, a Região Norte brasileira é a que tem a menor quantidade de RPPNs. Por exemplo, o estado do Amazonas possui somente 14 reservas particulares atualmente.

Em todo território nacional há 1567 RPPNs que, juntas perfazem um total de 890 mil hectares. Os estados campeões são: Minas Gerais (350), Paraná (282) e Bahia (157); seguidos por Rio de Janeiro (152), São Paulo (99) e Santa Catarina (84). O bioma com mais unidades é a Mata Atlântica, seguido pelo Cerrado e pela Caatinga.

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A Amazônia como ela é

As castanhas e o sucesso de um projeto-empresa que respeita usos e costumes dos povos da Amazônia

É o tipo de empreendimento que vale a pena conhecer.

Não apenas pelo seu incontestável sucesso. Por sinal ele é, a bem dizer, resultado de uma experiência malsucedida, lá atrás, nos anos 1970, quando o Governo incentivava empresários a investirem na Amazônia e o projeto pecuário então implantado não demorou muito a demonstrar uma coisa que hoje todos já sabem, a inadequação do solo amazônico para pastagens.

Estamos falando da Fazenda Aruanã, (e da Agropecuária Aruanã Ltda.) em Itacoatiara, a uns 200 e poucos quilômetros de Manaus, de onde saem as castanhas do Brasil EcoNut ali mesmo cultivadas, selecionadas, beneficiadas e embaladas a vácuo dentro de padrão exportação, vendidas basicamente a públicos do Sudeste do país sobretudo em lojas de produtos naturais. A embalagem de Econut contém atmosfera modificada. É feito o vácuo e em seguida introduzido gás da atmosfera modificada que garante 2 anos de validade para o produto.

Detalhes e mais detalhes

Mais importante do que isso, no entanto, são os muitos detalhes que envolvem a empreitada.

Nada de processos de produção e beneficiamento com muita automação e recursos de tecnologia de ponta. Em lugar disso, imenso respeito pelos usos e costumes dos povos locais; a saudável convivência com índios e povos ribeirinhos; a forma de produção manual e simples, que leva em conta a conveniência de usar intensamente mão de obra local com seus usos e costumes; a inflexível decisão de defender apenas os interesses do empreendedor, mas também dos habitantes da região, levados a plantar castanhas para negociá-las com total liberdade, sem qualquer obrigação de vender suas colheitas ao empreendedor que lhes forneceu a custo zero tanto as sementes como a forma mais adequada de fazer o plantio.

Humanismo A atuação do Instituto Soka Amazônia está intimamente ligada à pratica do Humanismo, que a  SGI (Soka Gakai Internacional) e a sua organização no Brasil, a BSGI sempre propagaram. Da mesma forma, os princípios humanísticos estão presentes, de A a Z neste projeto da Fazenda Aruanã, no momento em que fica patente seu respeito pelos povos da Amazônia, seu ambiente, seu modo de vida e os meios de seu sustento.

Pelo contrário. A Fazenda Aruanã utiliza em sua produção exclusivamente suas próprias castanhas.

Castanhas em lugar de áreas degradadas

É sabido e usual o fato de que ribeirinhos e até mesmo pequenos agricultores que têm suas roças de subsistência na floresta Amazônica normalmente abrem pequenas clareiras na floresta para seu plantio, mandioca sobretudo, além de pesca. Mais adiante, esgotado o solo, ele é abandonado e aberta nova clareira e mais adiante novo abandono de uma área devastada.

A família proprietária da Fazenda Aruanã, atenta a esse indesejável círculo vicioso, iniciou um processo de contato com ribeirinhos com uma proposta: “não deixem a área devastada; mantenham-na viva, plantando castanha, que castanha é dinheiro. Nós lhes daremos as sementes, ajudaremos na melhor forma de plantio e de cuidados”. Essa abordagem fez com que crescesse o número de áreas recuperadas e, passado o tempo, há ribeirinhos que têm hoje uma nova fonte de rendimento pois, de fato, castanha é um produto de facílima comercialização.

“O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” “A castanha é sua e você a vende para quem bem entender. Nós só usamos castanha plantada por nós mesmos! ”

A desconfiança do ribeirinho

Curiosidade: desconfiados, alguns ribeirinhos ficaram esquivos: “O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” A desconfiança foi água abaixo com a resposta de que isso não seria necessário. Cada um venderia as castanhas a quem bem entendesse e a Fazenda Aruanã continuaria usando exclusivamente suas próprias castanhas.

Múltiplas alternativas e um convite

Esse projeto, em verdade,  permite múltiplas alternativas para textos e nosso propósito é fazer isso em diferentes matérias em nossas mídias sociais.

Aceite um convite que fazemos aqui e agora, com a convicção de que será uma experiência enriquecedora, uma espécie de brisa saudável e de esperança a respeito da Amazônia, que quase sempre (a bem dizer quase todos os dias) é assunto para matérias pessimistas e preocupantes.

Aceite este convite: vale a pena

O programa “O Globo Repórter” esteve na Fazenda Aruanã em 2020 e fez um relado muito bem feito desse caso de sucesso, que está agora no youtube.

São uns 13 ou 14 minutos que valem a pena.

Mais adiante voltaremos ao assunto.

Vídeo Globo Rural – Produção comercial de castanhas na Amazônia ajuda na recuperação de florestas em 19 abr 2020Clique aqui se o vídeo não abrir em seu navegador

A Amazônia como ela é

As castanhas e o sucesso de um projeto-empresa que respeita usos e costumes dos povos da Amazônia

É o tipo de empreendimento que vale a pena conhecer.

Não apenas pelo seu incontestável sucesso. Por sinal ele é, a bem dizer, resultado de uma experiência malsucedida, lá atrás, nos anos 1970, quando o Governo incentivava empresários a investirem na Amazônia e o projeto pecuário então implantado não demorou muito a demonstrar uma coisa que hoje todos já sabem, a inadequação do solo amazônico para pastagens.

Estamos falando da Fazenda Aruanã, (e da Agropecuária Aruanã Ltda.) em Itacoatiara, a uns 200 e poucos quilômetros de Manaus, de onde saem as castanhas do Brasil EcoNut ali mesmo cultivadas, selecionadas, beneficiadas e embaladas a vácuo dentro de padrão exportação, vendidas basicamente a públicos do Sudeste do país sobretudo em lojas de produtos naturais. A embalagem de Econut contém atmosfera modificada. É feito o vácuo e em seguida introduzido gás da atmosfera modificada que garante 2 anos de validade para o produto.

Detalhes e mais detalhes

Mais importante do que isso, no entanto, são os muitos detalhes que envolvem a empreitada.

Nada de processos de produção e beneficiamento com muita automação e recursos de tecnologia de ponta. Em lugar disso, imenso respeito pelos usos e costumes dos povos locais; a saudável convivência com índios e povos ribeirinhos; a forma de produção manual e simples, que leva em conta a conveniência de usar intensamente mão de obra local com seus usos e costumes; a inflexível decisão de defender apenas os interesses do empreendedor, mas também dos habitantes da região, levados a plantar castanhas para negociá-las com total liberdade, sem qualquer obrigação de vender suas colheitas ao empreendedor que lhes forneceu a custo zero tanto as sementes como a forma mais adequada de fazer o plantio.

Humanismo A atuação do Instituto Soka Amazônia está intimamente ligada à pratica do Humanismo, que a  SGI (Soka Gakai Internacional) e a sua organização no Brasil, a BSGI sempre propagaram. Da mesma forma, os princípios humanísticos estão presentes, de A a Z neste projeto da Fazenda Aruanã, no momento em que fica patente seu respeito pelos povos da Amazônia, seu ambiente, seu modo de vida e os meios de seu sustento.

Pelo contrário. A Fazenda Aruanã utiliza em sua produção exclusivamente suas próprias castanhas.

Castanhas em lugar de áreas degradadas

É sabido e usual o fato de que ribeirinhos e até mesmo pequenos agricultores que têm suas roças de subsistência na floresta Amazônica normalmente abrem pequenas clareiras na floresta para seu plantio, mandioca sobretudo, além de pesca. Mais adiante, esgotado o solo, ele é abandonado e aberta nova clareira e mais adiante novo abandono de uma área devastada.

A família proprietária da Fazenda Aruanã, atenta a esse indesejável círculo vicioso, iniciou um processo de contato com ribeirinhos com uma proposta: “não deixem a área devastada; mantenham-na viva, plantando castanha, que castanha é dinheiro. Nós lhes daremos as sementes, ajudaremos na melhor forma de plantio e de cuidados”. Essa abordagem fez com que crescesse o número de áreas recuperadas e, passado o tempo, há ribeirinhos que têm hoje uma nova fonte de rendimento pois, de fato, castanha é um produto de facílima comercialização.

“O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” “A castanha é sua e você a vende para quem bem entender. Nós só usamos castanha plantada por nós mesmos! ”

A desconfiança do ribeirinho

Curiosidade: desconfiados, alguns ribeirinhos ficaram esquivos: “O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” A desconfiança foi água abaixo com a resposta de que isso não seria necessário. Cada um venderia as castanhas a quem bem entendesse e a Fazenda Aruanã continuaria usando exclusivamente suas próprias castanhas.

Múltiplas alternativas e um convite

Esse projeto, em verdade,  permite múltiplas alternativas para textos e nosso propósito é fazer isso em diferentes matérias em nossas mídias sociais.

Aceite um convite que fazemos aqui e agora, com a convicção de que será uma experiência enriquecedora, uma espécie de brisa saudável e de esperança a respeito da Amazônia, que quase sempre (a bem dizer quase todos os dias) é assunto para matérias pessimistas e preocupantes.

Aceite este convite: vale a pena

O programa “O Globo Repórter” esteve na Fazenda Aruanã em 2020 e fez um relado muito bem feito desse caso de sucesso, que está agora no youtube.

São uns 13 ou 14 minutos que valem a pena.

Mais adiante voltaremos ao assunto.

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Reconciliação entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico

Tamy Yukie Kobashikawa (*)

O principal objetivo deste artigo é introduzir a educação ambiental e como ela dialoga com a Educação Soka e com os ideais do fundador do Instituto Soka Amazônia.

Introdução-histórica sobre educação ambiental

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, define-se educação ambiental como o processo de reconhecimento de valores e conceitos que desenvolvem habilidades e comportamentos para compreender e apreciar a inter-relação entre um indivíduo, sua cultura e seu entorno biofísico (Palmer & Neal, 1994, p.12). Os esforços para trazer a educação ambiental (e suas questões) para a agenda político-econômica mundial se refletiu na criação do Programa Internacional de Educação Ambiental pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o Programa Ambiental das Nações Unidas em 1975 (Palmer & Neal, 1994).

Dois anos depois, em 1977, a UNESCO organizou a Conferência sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, estabelecendo três “objetivos da educação ambiental” em seu Relatório Final: i) Promover a consciência e preocupação com aspectos econômicos, sociais, políticos e interdependência ecológica em áreas urbanas e rurais; ii) Proporcionar a cada pessoa a oportunidade de adquirir conhecimentos, valores, atitudes, empenho e aptidões para proteger e melhorar o meio ambiente; e iii) Criar novos padrões de comportamento de indivíduos, grupos e sociedade como um todo em relação ao meio ambiente (Palmer & Neal, 1994, p.18).

Apesar dessas iniciativas, a educação ambiental esclareceu seu ponto de vista apenas na década de 90 (Tilbury, 1995). Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, discutiu como alcançar o desenvolvimento sustentável no século XXI. Essas ações foram definidas em um programa central denominado Agenda 21, no qual introduz a educação ambiental em dois capítulos: capítulo 25 (Crianças e Jovens no Desenvolvimento Sustentável) e capítulo 36 (Promoção da Educação, Conscientização Pública e Treinamento) (Palmer & Neal, 1994).

Ações mais concretas foram tomadas dez anos depois, em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo. Neste encontro, foi definido a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), cujo objetivo era “integrar os princípios, valores e práticas do desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da educação e aprendizagem” (UNESCO, 2005).

Já na “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” de 2012, definiu-se os direcionamentos para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o papel da educação ambiental no contexto do desenvolvimento sustentável. Dentre os 17 objetivos lançados, inclui-se um específico sobre educação global (ODS 4): “garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (UNESCO, 2019).

Dentro da ODS 4 há a Meta 4.7 – Desenvolvimento sustentável e cidadania global – que está relacionada à educação ambiental. Afirma-se que “até 2030, garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, incluindo, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não -violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável ”(UNESCO, 2019). Na Meta 4.7, as competências superiores são Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ESD) e Educação para a Cidadania Global (ECG).

Educação Soka e educação ambiental

A Educação Soka é um sistema educacional baseado na abordagem humanística criada por Tsunesaburo Makiguchi (1871-1944), quem também fundou a Soka Gakkai, uma “organização budista baseada na comunidade que promove paz, cultura e educação centrada no respeito pela dignidade da vida” (Soka Gakkai Internaional [SGI], 2020). Através da habilidade de encontrar significado em sua vida e contribuindo para o bem-estar dos outros, a Educação Soka é uma educação centrada nas pessoas para a felicidade e para o desenvolvimento da humanidade em cada pessoa (Ikeda, 2017). Para Makiguchi, a felicidade está relacionada ao empoderamento (Gebert, 2009).

Na obra “Geografia da Vida Humana”, escrito por Makiguchi em 1930, ele explora a ideia de comunidade como um “micromundo”. Ele encoraja as crianças a observar as relações complexas em seu entorno e, se assim for, elas serão capazes de compreender o mundo inteiro (Ikeda, 2017). Para Makiguchi, a comunidade local era um “lugar para observar, confirmar, aprender e colocar em prática” (Gebert, 2009, p.149) princípios universais, bem como compreender as relações históricas e complexas entre o ser humano e a natureza. Ikeda (2012) elabora três qualidades da educação baseada na comunidade – afeto, apreço e proteção:

“Não deve se limitar a simplesmente fornecer conhecimento sobre o ambiente natural, costumes e história da comunidade local, mas deve estimular sentimentos de afeto por essa comunidade e a determinação de valorizá-la. Deve inspirar um profundo apreço pelas maneiras pelas quais o ambiente circundante, incluindo as atividades produtivas e econômicas de outras pessoas que vivem na comunidade, melhora nossas vidas: deve incentivar ações diárias com base nesse sentimento de apreço. Deve permitir que as pessoas considerem as questões da comunidade local em termos do que devemos proteger para o bem das gerações futuras e do tipo de sociedade que devemos construir em seu nome, colocando isso no centro de nosso modo de vida” (p. 11)[1].

Gebert (2009) enfatiza que apesar da crítica de que a comunidade local é “muito comum, limitada e superficial” (p.150), na perspectiva de Makiguchi, mesmo neste “micromundo” é possível compreender os conhecimentos essenciais necessários para incorporar sociedade. No entanto, Makiguchi repete sua afirmação de que neste pequeno mundo estão plenamente compreendidos os contornos essenciais do conhecimento e das qualidades morais de que uma pessoa mais tarde precisará ao emergir na ampla sociedade (Gebert, 2009). Portanto, por meio de interações em uma comunidade local, um indivíduo pode aprender sobre o mundo; em outras palavras, pode se tornar um cidadão global (Ikeda, 2017).

Ikeda (2017) afirma que a cidadania global não é determinada pelo número de línguas que se fala, nem pelo número de países para os quais se viajou. A cidadania global tem os seguintes três elementos: sabedoria, coragem e compaixão, como ele afirma:

“A sabedoria para perceber a inter-relação de todos os tipos de vida e ambiente; a coragem Para não temer nem negar diferenças, mas para respeitar e se forçar em compreender pessoas de diferentes culturas e crescer por meio do contato com elas; e a compaixão para cultivar uma empatia imaginativa que alcance além do ambiente ao nosso redor e se estenda a outras pessoas que sofrem em lugares distantes” (p. 122).

Compaixão significa perceber as qualidades daqueles de quem não gostamos e apreciar a chance de fazer crescer a nossa humanidade. Sabedoria e compaixão estão interligadas, portanto, o desejo de contribuir para o bem-estar dos outros (compaixão) proporciona sabedoria infinita (Ikeda, 2017).

Em relação ao papel da educação para o desenvolvimento sustentável, Ikeda discute que a educação é essencial para que as pessoas tomem as questões ambientais como preocupação pessoal e harmonizem seus esforços por um futuro comum (Ikeda, 2002), no qual a dignidade da vida é fundamental (Ikeda, 2012). As questões ambientais estão interligadas com as questões globais, como população, pobreza, direitos humanos, etc., o que significa que a sustentabilidade está ligada a essas questões também. Assim, para superá-los, é necessário transformar nosso modo de vida (Ikeda, 2002) e ter “um senso de responsabilidade para com aqueles com quem compartilhamos o planeta, e um senso de responsabilidade para com o futuro”[2] (Ikeda, 2012, p.3).

Para alcançar a educação para o desenvolvimento sustentável, Ikeda (2002) enfatiza a importância de aumentar a conscientização por meio de três etapas: primeiro, aprender e aprofundar a consciência das questões e realidades ambientais; segundo, refletir sobre nossos modos de vida, renovando-os em direção à sustentabilidade; e terceiro, capacitar as pessoas a tomarem medidas concretas para resolver o desafio que enfrentamos.

Aprender é fundamental para aprofundar a compreensão e a consciência (Ikeda, 2002). É importante não apenas compreender as causas e a estrutura social que impulsionam a destruição ambiental, como também aprender a compreender a realidade daqueles que sofrem, ter compaixão por eles e estar atento à nossa interconexão (Ikeda, 2002). Ikeda enfatizou que esses esforços darão origem a uma consciência renovada e determinação para agir (Ikeda, 2002).

A reflexão funciona para esclarecer os valores éticos de uma pessoa. A educação deve estimular a compreensão de como as questões ambientais estão relacionadas a nós e deve inspirar-nos a assumir a responsabilidade por nossas ações em nível global. (Ikeda, 2002).

Finalmente, empoderar significa agir com coragem e esperança. É um voto pessoal profundo e um compromisso ao meio ambiente (Ikeda, 2002). Empoderamento não é um modo de vida passivo e dependente em que a vida de alguém está à mercê de mudanças nas circunstâncias. O empoderamento é um modo de vida contributivo, baseado na consciência da natureza interdependente de nossas vidas com o meio ambiente, na qual nos esforçamos ativamente para alcançar a felicidade, tanto para nós quanto para os outros (Ikeda, 2002). O empoderamento exerce liderança e gera transformação real na sociedade (Ikeda, 2012).

Este artigo apresentou uma breve história da educação ambiental e os principais conceitos da Educação Soka que são relacionados ao meio ambiente. O Instituto Soka Amazônia desenvolve programas de Educação Ambiental, especificamente, o Projeto Academia Ambiental com base nestes ideais do fundador, e em convergência com as ações da ONU e da Carta da Terra.

Bibliografia

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[1] Tradução tentativa

[2] Tradução tentativa

(*) A brasileira Tamy Yukie Kobashikawa, está fazendo Doutorado em Economia pela Universidade Soka no Japão. Atualmente estuda a interseção da filosofia de Ikeda e Educação para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania Global. Ela é especialmente apaixonada por educação, desenvolvimento sustentável e alívio da pobreza.

Reconciliação entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico

Tamy Yukie Kobashikawa (*)

O principal objetivo deste artigo é introduzir a educação ambiental e como ela dialoga com a Educação Soka e com os ideais do fundador do Instituto Soka Amazônia.

Introdução – histórica sobre educação ambiental

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, define-se educação ambiental como o processo de reconhecimento de valores e conceitos que desenvolvem habilidades e comportamentos para compreender e apreciar a inter-relação entre um indivíduo, sua cultura e seu entorno biofísico (Palmer & Neal, 1994, p.12). Os esforços para trazer a educação ambiental (e suas questões) para a agenda político-econômica mundial se refletiu na criação do Programa Internacional de Educação Ambiental pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o Programa Ambiental das Nações Unidas em 1975 (Palmer & Neal, 1994).

Dois anos depois, em 1977, a UNESCO organizou a Conferência sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, estabelecendo três “objetivos da educação ambiental” em seu Relatório Final: i) Promover a consciência e preocupação com aspectos econômicos, sociais, políticos e interdependência ecológica em áreas urbanas e rurais; ii) Proporcionar a cada pessoa a oportunidade de adquirir conhecimentos, valores, atitudes, empenho e aptidões para proteger e melhorar o meio ambiente; e iii) Criar novos padrões de comportamento de indivíduos, grupos e sociedade como um todo em relação ao meio ambiente (Palmer & Neal, 1994, p.18).

Apesar dessas iniciativas, a educação ambiental esclareceu seu ponto de vista apenas na década de 90 (Tilbury, 1995). Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, discutiu como alcançar o desenvolvimento sustentável no século XXI. Essas ações foram definidas em um programa central denominado Agenda 21, no qual introduz a educação ambiental em dois capítulos: capítulo 25 (Crianças e Jovens no Desenvolvimento Sustentável) e capítulo 36 (Promoção da Educação, Conscientização Pública e Treinamento) (Palmer & Neal, 1994).

Ações mais concretas foram tomadas dez anos depois, em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo. Neste encontro, foi definido a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), cujo objetivo era “integrar os princípios, valores e práticas do desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da educação e aprendizagem” (UNESCO, 2005).

Já na “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” de 2012, definiu-se os direcionamentos para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o papel da educação ambiental no contexto do desenvolvimento sustentável. Dentre os 17 objetivos lançados, inclui-se um específico sobre educação global (ODS 4): “garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (UNESCO, 2019).

Dentro da ODS 4 há a Meta 4.7 – Desenvolvimento sustentável e cidadania global – que está relacionada à educação ambiental. Afirma-se que “até 2030, garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, incluindo, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não -violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável ”(UNESCO, 2019). Na Meta 4.7, as competências superiores são Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ESD) e Educação para a Cidadania Global (ECG).

Educação Soka e educação ambiental

A Educação Soka é um sistema educacional baseado na abordagem humanística criada por Tsunesaburo Makiguchi (1871-1944), quem também fundou a Soka Gakkai, uma “organização budista baseada na comunidade que promove paz, cultura e educação centrada no respeito pela dignidade da vida” (Soka Gakkai Internaional [SGI], 2020). Através da habilidade de encontrar significado em sua vida e contribuindo para o bem-estar dos outros, a Educação Soka é uma educação centrada nas pessoas para a felicidade e para o desenvolvimento da humanidade em cada pessoa (Ikeda, 2017). Para Makiguchi, a felicidade está relacionada ao empoderamento (Gebert, 2009).

Na obra “Geografia da Vida Humana”, escrito por Makiguchi em 1930, ele explora a ideia de comunidade como um “micromundo”. Ele encoraja as crianças a observar as relações complexas em seu entorno e, se assim for, elas serão capazes de compreender o mundo inteiro (Ikeda, 2017). Para Makiguchi, a comunidade local era um “lugar para observar, confirmar, aprender e colocar em prática” (Gebert, 2009, p.149) princípios universais, bem como compreender as relações históricas e complexas entre o ser humano e a natureza. Ikeda (2012) elabora três qualidades da educação baseada na comunidade – afeto, apreço e proteção:

“Não deve se limitar a simplesmente fornecer conhecimento sobre o ambiente natural, costumes e história da comunidade local, mas deve estimular sentimentos de afeto por essa comunidade e a determinação de valorizá-la. Deve inspirar um profundo apreço pelas maneiras pelas quais o ambiente circundante, incluindo as atividades produtivas e econômicas de outras pessoas que vivem na comunidade, melhora nossas vidas: deve incentivar ações diárias com base nesse sentimento de apreço. Deve permitir que as pessoas considerem as questões da comunidade local em termos do que devemos proteger para o bem das gerações futuras e do tipo de sociedade que devemos construir em seu nome, colocando isso no centro de nosso modo de vida” (p. 11)[1].

Gebert (2009) enfatiza que apesar da crítica de que a comunidade local é “muito comum, limitada e superficial” (p.150), na perspectiva de Makiguchi, mesmo neste “micromundo” é possível compreender os conhecimentos essenciais necessários para incorporar sociedade. No entanto, Makiguchi repete sua afirmação de que neste pequeno mundo estão plenamente compreendidos os contornos essenciais do conhecimento e das qualidades morais de que uma pessoa mais tarde precisará ao emergir na ampla sociedade (Gebert, 2009). Portanto, por meio de interações em uma comunidade local, um indivíduo pode aprender sobre o mundo; em outras palavras, pode se tornar um cidadão global (Ikeda, 2017).

Ikeda (2017) afirma que a cidadania global não é determinada pelo número de línguas que se fala, nem pelo número de países para os quais se viajou. A cidadania global tem os seguintes três elementos: sabedoria, coragem e compaixão, como ele afirma:

“A sabedoria para perceber a inter-relação de todos os tipos de vida e ambiente; a coragem Para não temer nem negar diferenças, mas para respeitar e se forçar em compreender pessoas de diferentes culturas e crescer por meio do contato com elas; e a compaixão para cultivar uma empatia imaginativa que alcance além do ambiente ao nosso redor e se estenda a outras pessoas que sofrem em lugares distantes” (p. 122).

Compaixão significa perceber as qualidades daqueles de quem não gostamos e apreciar a chance de fazer crescer a nossa humanidade. Sabedoria e compaixão estão interligadas, portanto, o desejo de contribuir para o bem-estar dos outros (compaixão) proporciona sabedoria infinita (Ikeda, 2017).

Em relação ao papel da educação para o desenvolvimento sustentável, Ikeda discute que a educação é essencial para que as pessoas tomem as questões ambientais como preocupação pessoal e harmonizem seus esforços por um futuro comum (Ikeda, 2002), no qual a dignidade da vida é fundamental (Ikeda, 2012). As questões ambientais estão interligadas com as questões globais, como população, pobreza, direitos humanos, etc., o que significa que a sustentabilidade está ligada a essas questões também. Assim, para superá-los, é necessário transformar nosso modo de vida (Ikeda, 2002) e ter “um senso de responsabilidade para com aqueles com quem compartilhamos o planeta, e um senso de responsabilidade para com o futuro”[2] (Ikeda, 2012, p.3).

Para alcançar a educação para o desenvolvimento sustentável, Ikeda (2002) enfatiza a importância de aumentar a conscientização por meio de três etapas: primeiro, aprender e aprofundar a consciência das questões e realidades ambientais; segundo, refletir sobre nossos modos de vida, renovando-os em direção à sustentabilidade; e terceiro, capacitar as pessoas a tomarem medidas concretas para resolver o desafio que enfrentamos.

Aprender é fundamental para aprofundar a compreensão e a consciência (Ikeda, 2002). É importante não apenas compreender as causas e a estrutura social que impulsionam a destruição ambiental, como também aprender a compreender a realidade daqueles que sofrem, ter compaixão por eles e estar atento à nossa interconexão (Ikeda, 2002). Ikeda enfatizou que esses esforços darão origem a uma consciência renovada e determinação para agir (Ikeda, 2002).

A reflexão funciona para esclarecer os valores éticos de uma pessoa. A educação deve estimular a compreensão de como as questões ambientais estão relacionadas a nós e deve inspirar-nos a assumir a responsabilidade por nossas ações em nível global. (Ikeda, 2002).

Finalmente, empoderar significa agir com coragem e esperança. É um voto pessoal profundo e um compromisso ao meio ambiente (Ikeda, 2002). Empoderamento não é um modo de vida passivo e dependente em que a vida de alguém está à mercê de mudanças nas circunstâncias. O empoderamento é um modo de vida contributivo, baseado na consciência da natureza interdependente de nossas vidas com o meio ambiente, na qual nos esforçamos ativamente para alcançar a felicidade, tanto para nós quanto para os outros (Ikeda, 2002). O empoderamento exerce liderança e gera transformação real na sociedade (Ikeda, 2012).

Este artigo apresentou uma breve história da educação ambiental e os principais conceitos da Educação Soka que são relacionados ao meio ambiente. O Instituto Soka Amazônia desenvolve programas de Educação Ambiental, especificamente, o Projeto Academia Ambiental com base nestes ideais do fundador, e em convergência com as ações da ONU e da Carta da Terra.

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[1] Tradução tentativa

[2] Tradução tentativa

(*) A brasileira Tamy Yukie Kobashikawa, está fazendo Doutorado em Economia pela Universidade Soka no Japão. Atualmente estuda a interseção da filosofia de Ikeda e Educação para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania Global. Ela é especialmente apaixonada por educação, desenvolvimento sustentável e alívio da pobreza.