A floresta mais biodiversa do mundo tem o nome inspirado nas corajosas mulheres indígenas avistadas pelo espanhol Francisco Orellana no século XVI às margens do Rio Amazonas, em alusão às guerreiras da mitologia grega.
A homenagem não poderia ser mais justa pois a Amazônia também é uma “floresta de mulheres” corajosas, que protegem a terra, semeiam e cultivam vidas, transmitem sabedoria e são o próprio arco e flecha de esperança e resiliência.
Neste Dia Internacional da Mulher, compartilhamos a visão e desafios das mulheres amazônidas, diversas e símbolos de força. Suas trajetórias representam muitas mulheres e inspiram no desejo de cuidar e proteger a vida.
Marcivana Sateré-Mawé

“A história da minha família é a de muitas mulheres que saem de seus territórios em direção às grandes cidades para ter acesso aos serviços públicos e melhores oportunidades para os filhos. Todas precisam se munir de muita coragem para deixar seu território e ir para um lugar totalmente diferente e se reinventar”.
Sua mãe, dona Ana, foi uma grande inspiração como defensora dos direitos das mulheres e da preservação da tradição cultural dos povos indígenas.
“Eu sinto essa força em mulheres de todos as etnias. Elas protegem a vida de seus filhos, seus territórios e suas tradições. São mulheres com terçado na mão nas roças ou produzindo artesanato na cidade, sempre transmitindo sua cultura e tradição para as novas gerações. Lembro, na época da Covid, que muitas delas confeccionaram máscaras de tecido com símbolos de sua etnia”.
Para garantir a transmissão de seus saberes e tradições, as mulheres indígenas também enfrentam desafios.
“Há um sério desrespeito na atuação das mulheres por seus saberes ancestrais. Por ecemplo, embora seja uma prática milenar, não há reconhecimento de uma mulher pajé e nem políticas públicas que garantam esse direito a elas.”
A crise climática, a destruição da floresta e o deslocamento forçado são dores sentidas especialmente pelas mulheres indígenas.
“Para nós, proteger o território é proteger o próprio corpo. Mulheres indígenas, muitas vezes são as líderes da comunidade e percebem o impacto das mudanças climáticas antes que os estudiosos. Uma parente me relatou que vinha percebendo a maniva queimar muito antes da seca ser declarada. Por ter uma relação de quase parentesco com a terra, elas percebem mais rapidamente os efeitos da crise climática.
Proteger a terra e tudo que há nela é uma missão ancestral.
Na cultura sateré-mawé aprendemos que no nukosen (o princípio de todo conhecimento, como uma espécie de paraíso) havia frutas bonitas, águas limpas e tudo era muito equilibrado porque era cuidado pelas mulheres. Essa também é a nossa própria origem do guaraná. Há uma relação de parentesco com a terra. O meio ambiente e o ser humano, ou melhor, os seres, não estão separados. Todos eles vivem em harmonia e todos eles dialoguem entre si".
Ter seus direitos e tradições respeitados é o desejo para todas as mulheres indígenas.
“O que está acontecendo no mundo, nos entristece, mas, continuaremos a existir. A transmissão do conhecimento ancestral não acaba, porque, para nós indígenas, mesmo após a morte, esse conhecimento continua a ser transmitido".
Márcia Verônica Ramos de Macêdo

““Meu pai costumava dizer que meu marido era meu diploma. E de fato foi um caso de amor, pois sou professora desde os 18 anos. Tive como inspiração também outro Mestre, Daisaku Ikeda, que é o fundador do Instituto Soka Amazônia”.
Com doutorado e pos-doutorado, autora de livros sobre dialetologia regional, o léxico dos seringueiros e lendas da floresta, Márcia abraçou uma nova paixão ligada à Amazônia: plantar árvores. Junto com seu pai, dirige uma ONG e plantam cerca de 150 mudas de árvores frutíferas na cidade semanalmente. Orgulha-se de ser mãe do advogado e chef de cozinha, Carlos Vinícius, da advogada, Ana Beatriz e da gastróloga, Ana Ceila, e vó de
Yasmin e Nathália.
“A força da mulher na Amazônia é marcada por uma resistência e uma conexão profunda com a terra e as tradições. Ela desempenha papéis fundamentais na preservação da cultura, das tradições e do meio ambiente e é líder de família e das suas comunidades. Frequentemente a guardiã do saber tradicional, seja na medicina, nas práticas artesanais ou nas histórias passadas de geração em geração.
Em um território imenso, há muitas Amazônias e múltiplos também são os desafios nos caminhos das mulheres amazônidas.
"O isolamento geográfico é um dos principais desafios, pois muitas comunidades na Amazônia estão localizadas em áreas remotas e de difícil acesso, dificultando o acesso a serviços básicos como saúde, educação e segurança."
A falta ou dificuldade de acesso à educação coloca a região Norte numa posição de alto índice de alfabetismo e baixa escolaridade e, consequentemente, com condição de vida menos privilegiada. A região Norte também exibe altos índices de violência doméstica. O Acre, em particular, tem o maio número de feminicídios na região.
"Apesar dos desafios, as mulheres amazônidas encontram forças nas suas raízes, na solidariedade entre as mulheres e na sua relação com a natureza. Ela também é uma protagonista na luta por direitos, por educação e por um futuro mais justo para suas famílias e comunidades. A mulher amazônida se reinventa, se fortalece e se transforma, sendo pilar essencial para a resistência e a construção de um futuro mais sustentável e igualitário na região".
Em uma Amazônia bio e socialmente diversa, múltiplas e resilientes mulheres
"A mulher amazônida é, sem dúvida, de uma coragem invejável. É uma força comum às mulheres indígenas, ribeirinhas, quilombolas, negras, rurais, urbanas e de outras diversas realidades dentro da Amazônia. Desejo a todas que façam o seu sonho acontecer, que acreditem no seu potencial. "
Dona Raimunda Pereira Viana, do Catalão

"“Passei por muitas situações difíceis, perdi minha mãe quando eu tinha 4 anos. Meu pai tinha sete filhos e foi só luta. Mas sempre com fé a gente foi vivendo e vencendo. Hoje tenho 63 anos e não me troco por duas novinhas de 20. Tenho tido a graça da saúde, da força e da coragem."
Nascida próximo a uma aldeia indígena na região do Alto Juruá e Rio Xeruã, Raimunda Pereira Viana, é conhecida como dona Rai do Catalão, mas, poderia ser chamada de Coragem ou Resiliência. Como ela mesma diz, teve uma vida difícil, mas nunca perdeu a esperança.
“Pra mim, a força da mulher da Amazônia é inexplicável, pois a gente tira de onde não tem e sempre consegue resolver as siutações. São muitos os desafios. Somos sujeitas a abusos, preconceitos e perigos constantes”.
Uma vida entre e sobre os rios.
“Faz um tempo que vim morar no Lago Catalão. Vim descendo, descendo, o rio Juruá, Xeruã, Solimões e estou agora aqui próximo ao Encontro das Águas onde encontro Rio Negro e Solimões. Vivo numa comunidade flutuante, o Catalão, conhecida como cidade sobre as águas."
Professora certificada, Dona Rai , como é conhecida, é líder comunitária há mais de 20 anos e o jeito que encontrou de liderar foi pelo exemplo e pela vontade de reunir pessoas para ajudar.
“Ser mulher da Amazônia é isso: acordar muito cedo e ir pra labuta, pegar o seu transporte e ir pro rio pra fazer o que precisa ser feito”.
Dinâmica, inquieta, falante, Dona Rai conversa com a gente enquanto dirige o barco.
“Tenho orgulho de ser amazonense e usufruir da dessa natureza do nosso verde. Estou atravessando agora o rio, dirigindo o barco com outro barco atrás".
Aprendendo com o ritmo constante das águas.
“Moramos sobre as águas, em casas flutuantes. Todos os dias estamos como se estivéssemos em um barco, flutuando. Agora estou do outro lado do rio, essa mulher da Amazônia
Não desistir. Ressurgir sempre, como águias.
“Às vezes quero pendurar a chuteira devido as dificuldades e falta de apoio. Mas meus sonhos nunca cessaram, cada vez tenho mais sonhos. Sem sonhos a mulher da Amazônia não tem vida. Somos como águias, quando estamos muito cansadas aí paramos, pensamos e somos renovadas."
Eliane Rocha

“A força da mulher na Amazônia está na sua resiliência e na sua capacidade de transformar desafios em oportunidades. Muitas são mães solo, que assumem sozinhas a responsabilidade de criar seus filhos, trabalhando incansavelmente para garantir um futuro melhor."
Desde o início de sua instalação no bairro da Compensa, na zona Leste de Manaus, a indústria Gaia Eco, identificou a difícil realidade presente em muitas periferias das cidades amazônicas: a maioria das mulheres são jovens mães, solteiras, desempregadas e que se responsabilizem pelo sustento e criação dos filhos.
“As mulheres da Amazônia mostram todos os dias sua capacidade de superar obstáculos, reinventar-se e seguir em frente com determinação. Dificuldade para equilibrar trabalho e maternidade, para ter acesso a oportunidades de crescimento profissional e a uma rede de apoio, torna a realidade econômica e a jornada diária dessas mulheres ainda mais desafiadora.
Para apoiar essas mulheres a conquistarem sua independência e realizar seus sonhos, a indústria Gaia adotou como política de RH, a prioridade de contratação de jovens mãe.
“Que este dia seja um lembrete de que cada mulher tem dentro de si uma força imensa. Para todas as mães, trabalhadoras e guerreiras que fazem a diferença em suas famílias e comunidades, desejo que acreditem no seu potencial e saibam que não estão sozinhas. Juntas, seguimos construindo um futuro melhor!
Mais que doar, participe efetivamente da proteção da Amazônia
Com seu apoio as ações e programas do Instituto Soka Amazônia alcançam milhares de vidas, ampliando a consciência para a proteção do meio ambiente e da biodiversidade amazônica.