O peso da palavra “perpetuidade”
A palavra “perpetuidade”, contida na definição do que é uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) dá uma perfeita dimensão da responsabilidade assumida por uma pessoa (jurídica ou mesmo física) ao pleitear e obter o registro de uma área dentro do sistema oficial de áreas protegidas do Brasil.
Perpetuamente manter todos os cuidados que vão das ações de proteção e sinalização, passando pelo planejamento e o plantio de árvores nativas até a gestão de toda a área que contribui para o estabelecimento de corredores ecológicos que oferecem refúgio para a fauna e favorecem a provisão de uma série de benefícios, direta e indiretamente desfrutados por toda a coletividade.
Obrigações assumidas
É muita responsabilidade!
Responsabilidade que tem um custo.
Aplicação contínua (em verdade, perpétua) de muitos e muitos recursos materiais, humanos; horas e horas de constante dedicação.
Coletar sementes, tratá-las, criar mudas, plantar, acompanhar seu desenvolvimento, manter equipes técnicas especializadas em cada etapa, administrar esse processo como um todo.
E a verdade é que não são muitas ou muito vultosas as possibilidades de obter algum rendimento que de alguma forma contribua para cobrir os custos envolvidos.
Um livro que cobre o assunto de A a Z
O livro “Conservação em Ciclo Contínuo” de Flávio Ojidos (coautoria de Claudio Valladares Pádua e Angela Pellin), da Editora Essencial Idea contém informações de A a Z sobre RPPNs – histórico da conservação voluntária em áreas privadas no Brasil e diversos outros países, legislação, pesquisas, análise de cenários e até uma série de informações sobre possibilidades de geração ou obtenção de recursos, seja através de prestação de serviços, seja através de alguns incentivos fiscais.
Ao exporem o regime ganha-ganha em que essas operações se desenvolvem, os autores lembram até e entre outras, atividades turísticas, pois é cada vez maior o número de pessoas que querem conhecer de perto como é e como se desenvolve uma RPPN, e essas visitas passaram a ser algo extremamente atraente.
As muitas RPPNs no Brasil
Há mais de 1.650 RPPNs em todos os biomas e Estados do país, que juntas protegem cerca de 800 mil hectares. Uma delas, a RPPN Gigante do Itaguaré, de 358 hectares, protege a biodiversidade da Serra da Mantiqueira e tem sido palco para a implementação prática dos conceitos da Conservação em Ciclo Contínuo, trazidos no já citado livro de Flávio Ojidos.
Outra, a RPPN Dr. Daisaku Ikeda, em Manaus, que é gerida pelo Instituto Soka Amazônia. Com seus 52 hectares, é localizada na área do Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, com o compromisso de preservar a biodiversidade e promover o desenvolvimento ambiental na região.
São muitas as histórias de famílias e instituições que demonstram efetivo engajamento com a causa ambiental e oferecem ao mundo seus esforços conservacionistas em prol de toda a coletividade.
Como Brent Mitchell fala no prefácio do livro mencionado, “quando buscamos definição para as reservas particulares, dizemos que oferecem benefícios públicos através de meios privados”. Seria importante acrescentar: perpetuamente.