Relembrando a Tese de Proteção do Meio Ambiente do pacifista Daisaku Ikeda

Completando um ano de falecimento do fundador do Instituto Soka Amazônia, Daisaku Ikeda, compartilhamos seus pensamentos e sua Tese de Proteção do Meio Ambiente produzida como contribuição à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Eco 92), realizada entre os dias 2 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro.

Durante a sua existência, o filósofo e pacifista, Daisaku Ikeda, empreendeu esforços por meio de diálogos, palestras e incentivos para disseminar seus ideais de proteção à vida em todas as suas formas.Convicto de que um movimento popular centralizado nas Nações Unidas é a chave para transformar o mundo onde imperam a desunião e a hostilidade, Ikeda veio empreendendo esforços enviando Propostas de Paz às Nações Unidas durante 40 anos.

Diante dos desafios globais, que ainda estarão em discussão na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em 2025, relembramos seus direcionamentos para a construção de um mundo de harmonia e coexistência.

Confira a seguir, a Tese na íntegra:

Uma nova estratégia para a proteção ambiental

Tese do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da SGI, publicada em 1992

I – A Unicidade de Vida e Ambiente

Num discurso proferido durante a reunião do Conselho da Comunidade de Ecologia Humana, em Yokohama, em 1990, Zena Daysh, vice-presidente executivo do Commonwealth Human Ecology Council (CHEC), descreveu a essência da ecologia humana como uma preocupação para os seres humanos como criaturas da ecologia global, que inclui o homo sapiens, assim como as plantas e outros animais, e com os seres humanos como entidades que haviam criado a política, a sociedade, a economia e a cultura [1]

Zena Daysh esclarece, portanto, os dois pilares da ecologia humana ao reconhecer o fato de que os seres humanos são parte do ecossistema global e que são criaturas culturais e sociais. O primeiro pilar sustenta um sistema de coexistência entre a humanidade e a natureza, o segundo refere-se ao ambiente cultural e social que os seres humanos moldaram através da história.

Através da interação com o meio ambiente, a qual é externa por natureza (i.e., o cosmos), os seres humanos construíram um ambiente que é ecologicamente muito complexo. Como parte do ecossistema global, eles aprenderam a se adaptar à ordem e às leis do mundo animal juntamente com as plantas, animais, objetos inanimados e microrganismos. Com esta base, criaram um ambiente cultural e social, incluindo a linguagem, a tecnologia, os governos, a economia e as organizações. O relacionamento intrínseco entre este complexo ecológico que forma o ambiente da humanidade e os próprios seres humanos é expresso no Budismo como a lei de esho funi [2], ou a unicidade da vida e ambiente.

Aqui, “esho” é uma contração dos termos “eho” de “shoho”, que se refere ao ambiente humano e à entidade humana, respectivamente. “Fun”i, por outro lado, é uma expressão que significa “dois, mas não dois”[3]. “Dois” expressa a inter-relação e a interação em um desenvolvimento criativo entre o meio ambiente humano e a entidade vivente. Enquanto o ambiente influencia a entidade humana, os seres vivos também reagem sobre seu ambiente, transformando-o e recriando-o novamente. O meio ambiente é assim transformado, e então exerce-se sobre os seres vivos por novos meios. Esse conceito pode ser descrito, na linguagem da ecologia, como “meio ambiente dinâmico” (o impacto do meio ambiente sobre os seres humanos) e “formação do meio ambiente” (os efeitos da atividade humana sobre o meio ambiente).

A inter-relação entre os seres humanos e o meio ambiente é um processo histórico no qual ambos se transformaram um ao outro e evoluíram criativamente durante anos através da adaptação biológica bem como através da adaptação cultural e social. Por exemplo, como criaturas vivas, os seres humanos herdaram e transmitiram as características genéticas e fisiológicas de seus ancestrais. Eles também mantêm e desenvolvem a herança espiritual de seus ancestrais ao incorporarem os seus ambientes cultural e social.

No Budismo, falamos de “shoho” e “eho” para demonstrar a maneira como essa inter-relação “humanidade-ambiente” torna-se uma presença histórica em termos de espaço e tempo, tanto física como espiritualmente. Portanto, a unicidade do shosho e eho expressa a ideia de que a vida humana e seu ambiente são absolutamente “um, não dois”

"A inter-relação entre os seres humanos e o meio ambiente é um processo histórico no qual ambos se transformaram um ao outro e evoluíram criativamente durante anos através da adaptação biológica bem como através da adaptação cultural e social."

Se extrapolarmos, em termos de espaço, a cadeia ecológica do indivíduo à comunidade, ao grupo étnico, ao Estado, à humanidade como um todo, ela estende-se do ecossistema da Terra ao sistema solar, a galáxia, aos grupos de galáxias e a todo o Universo. Da mesma forma, a cadeia de tempo vai além do nascimento da raça humana, retorna ao início da vida e mesmo ao início da evolução química e física.

Isso quer dizer que, numa dimensão fundamental de tempo e espaço, a realidade, fundamental do Universo, da vida humana e seu ambiente são uma e a mesma. E devido a essa unidade última, sua inter-relação é possível no mundo fenomenal de tempo e espaço. Esta lei representa o mais profundo significado de “dois, mas não dois”.

Do ponto de vista da natureza, baseado na lei de “unicidade da vida e seu ambiente”,  somos conduzidos aos seguintes princípios concernentes aos problemas globais de hoje. Primeiramente, em sua essência fundamental, eho (o ambiente humano) e shoho (a entidade humana), são unos, e embora interagindo no mundo fenomenal – visto que recebem a impressão da história como efeito manifesto – partilham um “destino comum”.

Em segundo lugar, a raça humana, portanto, não pode sobreviver a menos que seja sustentada pela harmonia e coexistência com o ecossistema natureza-humanidade (o ecossistema da Terra), que pode ser chamado de meio ambiente primário. A destruição do meio ambiente da Terra, portanto, é equivalente à destruição da mente e do corpo e rouba dos seres humanos o direito à vida. 

Em terceiro, uma vez que o eho, como ambiente  sociocultural envolve todo o ecossistema natural e possui intrinsecamente a tendência de se desenvolver com base na harmonia das leis e da ordem da natureza, os seres humanos devem reconhecer a dignidade do próprio ecossistema natural e, mobilizando sua sabedoria, encontrar meios para coexistir com as plantas e os animais, através do autocontrole e esforçando-se para sujeitar-se à cadeia de vida. lsto significa não somente restringir o consumo perceptível mas ajudar aqueles em necessidade 

Devemos nos mover na direção do apoio para a “integridade” em face dos benefícios do ecossistema natural: isto é fundamental à “ética ambiental”.

 

"Os seres humanos, portanto, devem utilizar o conhecimento da ecologia e de outros campos para servir como "coordenadores" na promoção de uma harmonia criativa dentro do ecossistema da Terra. Além disso, devem suprimir sua urgência para dominar a natureza, o que resultaria na destruição do ecossistema."

Em quarto, a ciência e a tecnologia, a política, a economia, as organizações, as instituições e demais que constituem o meio ambiente cultural e social devem todos coexistir com o ecossistema, guiando a humanidade rumo a uma prosperidade criativa. Dessa forma, a raison d’etre fundamental dos seres humanos, como a mais avançada forma de vida da Terra, está em ser a protetora da dignidade de todos os seres vivos. Os seres humanos, portanto, devem utilizar o conhecimento da ecologia e de outros campos para servir como “coordenadores” na promoção de uma  harmonia criativa dentro do ecossistema da Terra. Além disso, devem suprimir sua urgência para dominar a natureza, o que resultaria na destruição do ecossistema.

Em quinto lugar, o papel da humanidade é usar o meio ambiente cultural e social que criou para delinear novos “valores globais”. Esta é a missão designada da humanidade como criadora de valores. A economia e outras formas de desenvolvimento devem ser meios de criação de valor, não lhes deve ser permitido privar os seres humanos e outras criaturas de seu direito futuro à vida. Caminhos devem ser explorados para estabelecer tais valores globais e universais para o futuro. Nisto reside a base filosófica e intelectual do conceito de desenvolvimento sustentado.

II. Um novo sistema internacional através da reforma das Nações Unidas

Em junho deste ano, líderes de muitos países em todo o mundo, bem como organizações não governamentais, irão se reunir no Rio de Janeiro, Brasil, para realizarem a Cúpula da Terra, ou seja, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced). Por tratar de problemas globais ambientais, tanto os países do Hemisfério Norte quanto do Hemisfério Sul deveriam cooperar mutuamente, mas na realidade, a confrontação vem antes entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, causando muitas dúvidas quanto ao fato da Conferência ser produtiva ou não como um todo.

Isto porque o surgimento crescente de vozes nos países em desenvolvimento acusam o alto consumo de massa das nações desenvolvidas como o principal responsável pela atual deterioração do ambiente da Terra. A censura é direcionada às políticas de desenvolvimento que não estão ligadas ao melhoramento dos meios de vida dos povos do Sul e que falharam em evitar os danos ao meio ambiente.

"A economia e outras formas de desenvolvimento devem ser meios de criação de valor, não lhes deve ser permitido privar os seres humanos e outras criaturas de seu direito futuro à vida. Caminhos devem ser explorados para estabelecer tais valores globais e universais para o futuro. Nisto reside a base filosófica e intelectual do conceito de desenvolvimento sustentado."

Não se pode negar que, realmente, os mecanismos de desenvolvimento das nações industrializadas, em vez de amenizar a pobreza, produziu imensos débitos acumulados nos países em desenvolvimento, de forma que os povos do Sul não poderiam prestar atenção à preservação ambiental. Além dessa aguda confrontação entre o Norte e o Sul, existe, mesmo nos países desenvolvidos, uma falta de consenso e de coordenação ao se formular contra-medidas.

Até agora, parece que há poucas perspectivas que a Conferência do Rio de Janeiro possa realmente adotar um tratado para a criação de uma estrutura para a prevenção do aquecimento da Terra e outros acordos de importância viral.

Em 1972, muitos programas de ação foram adotados na Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente. Nos vinte anos subsequentes, entretanto, as nações desenvolvidas continuaram sua impetuosa busca pela riqueza material, seguindo resolutamente seu caminho de “economia em primeiro”. Elas deram a máxima prioridade à sua própria riqueza e relegaram o cuidado do ambiente da Terra a uma importância secundária ou menor. 

Embora continue a assistência ao desenvolvimento dos países do Sul, não está diretamente ligada ao melhoramento do padrão de vida das pessoas lá. Pouco foi feito para solucionar a terrível pobreza nem a consequente explosão populacional.

A deterioração ambiental, a pobreza e o descontrole do crescimento populacional, todos numa escala global, estão intimamente relacionados. A humanidade está numa situação extremamente difícil que requer soluções simultâneas e abrangentes para todos esses problemas que ameaçam sua existência.

Para tratar dessas dificuldades, incluindo a crescente deterioração do ecossistema terrestre, inovações na ciência e na tecnologia, modificações nas leis, uma mudança na economia “cíclica” [4], e a reconsideração de termos comerciais e sistemas sociais justos que conduziram ao sucesso de tais reformas em escala global

Desde o término da Guerra Fria[*] entre as nações do Ocidente e do Oriente, as Nações Unidas tem sido revitalizadas, e hoje podemos ouvir falar de uma *Renascença das Nações Unidas”. Felizmente, passaram-se os dias em que os vetos evitavam a passagem de resoluções no Conselho de Segurança e paralisaram o funcionamento da organização mundial. Mas é verdade que as Nações Unidas não podem tratar adequadamente da complexidade das questões globais tais como a crise do meio ambiente.

Pode-se duvidar da praticabilidade de tal plano, argumentando que, dadas as dificuldades financeiras que as Nações Unidas sofrem atualmente, seria totalmente impossível estabelecer uma nova organização, mesmo se fosse apenas uma consequência do atual sistema. 

"A deterioração ambiental, a pobreza e o descontrole do crescimento populacional, todos numa escala global, estão intimamente relacionados. A humanidade está numa situação extremamente difícil que requer soluções simultâneas e abrangentes para todos esses problemas que ameaçam sua existência.."

 Entretanto, se considerarmos a magnitude da crise envolvendo a sobrevivência da humanidade em todos os países, não somente do ponto de vista dos interesses de cada Estado, mas do interesse de toda a Terra e de toda a humanidade, podemos perfeitamente conseguir argumentos para uma maior assistência financeira para a organização internacional que deve tomar a liderança na batalha contra esta crise. 

Realmente, disse que as Nações Unidas não estão financeiramente preparadas para promover um desenvolvimento sustentado necessário para tratar adequadamente da preservação ambiental. Portanto, proponho que, agora que a Guerra Fria terminou, as enormes despesas militares envolvidas sejam cortadas como uma medida para aumentar os fundos necessários para a assistência das Nações Unidas.

[*a Tese foi escrita  meses após a dissolução da União Soviética (em 1991), acontecimento historicamente considerado o fim da Guerra Fria]

O custo de soluções substanciais para os problemas relacionados à proteção ambiental, tais como o aquecimento global, a extinção das espécies e a proteção florestal, é, estima-se, astronômica. De acordo com o secretário responsável pelos preparativos da Cúpula da Terra no Brasil, a quantia de dinheiro necessária à preservação ambiental a partir de agora seria de 125 bilhões de dólares por ano. [5]

O único meio de se levantar tal quantia é reduzir drasticamente os gastos militares, estimados em 1 trilhão de dólares anuais em todo o mundo. Especificamente, proponho que cada país corte seus gastos militares e contribua com parte dos fundos liberados para um “Fundo de Desarmamento das Nações Unidas” , que financiaria a preservação do meio ambiente da Terra.

O levantamento de fundos para esse propósito não deve ser deixado apenas para os governos centrais ou locais. É importante que as organizações não-governamentais também estudem alguma forma de contribuir. A fim de transcender as limitações de uma organização internacional composta de Estados soberanos, deve-se considerar cuidadosamente a reunião das forças construtivas das ONGs que tanto se empenham na área de preservação ambiental, proteção dos direitos humanos e cooperação ao desenvolvimento. A maior tarefa em se criar um novo sistema de Nações Unidas é como construir uma organização que possa promover diretamente a força, não somente dos governantes, mas das ONGs capazes de organizar a opinião e a participação a nível popular. 

III. Rumo a uma consciência orientada para a humanidade

A voz das massas deve ser ouvida. Mesmo as propostas mais importantes trazidas à baila pelas Nações Unidas ou por outras organizações internacionais, governos nacionais, círculos comerciais, organizações privadas ou por especialistas não podem ter muita eficácia se não tiverem forte apoio das pessoas. 

A proteção do meio ambiente da Terra, embora abarque a política, economia, ciência e tecnologia, direito e outros campos, em uma “complexa questão”, exige que transcendamos esses campos específicos e questionamos persistentemente nossos estilos de vida, valores e perspectivas da sociedade no futuro. Por esta importante razão, é vital que a consciência popular não deva ser limitada a uma área local, grupo étnico ou a uma única nação, mas que se mova em direção a uma *consciência humana”.

As pessoas devem  ser cosmopolitas no verdadeiro sentido da palavra, pessoas de sabedoria e de ação que compartilham a percepção da ampla crise mundial, e, embora familiarizadas à singular cultura local de suas terras natais, não limitam sua relação ou sua consideração às culturas tradicionais em outras partes do mundo.

A cultura é geralmente compreendida como modelo de comportamento, apreendida dentro de uma comunidade, no processo histórico de lidar com o seu meio ambiente.

A cortina fundamental contra a qual cada cultura se desenvolve é seu ecossistema local único. Em resposta a essa “natureza externa (cosmos)”, a  ancestral “natureza interna”, ou sistema nacional, produziu durante séculos uma herança espiritual que é a cultura.

O cosmos externo que circunda as pessoas no palco proporcionado pelo planeta verde, estende-se do ecossistema da Terra ao infinito universo. Imagino que os nossos ancestrais viram e experimentaram em suas próprias regiões, valores universais que estavam ligados à Mãe Natureza e ao universo. Daqui nasceram as únicas formas de pensamento, os códigos éticos que formam o núcleo da cultura popular.

"As pessoas devem ser cosmopolitas no verdadeiro sentido da palavra, pessoas de sabedoria e de ação que compartilham a percepção da ampla crise mundial, e, embora familiarizadas à singular cultura local de suas terras natais, não limitam sua relação ou sua consideração às culturas tradicionais em outras partes do mundo."

As formas de relacionar o ecossistema e o universo naturalmente diferem de pessoa para pessoa, dependendo das diferenças em seu sistema nacional. E assim toma forma os sistemas culturais peculiares a um certo povo ou a uma região específica. Mesmo assim, qualquer sistema cultural de pessoas deve conter valores cósmicos, valores universais e princípios éticos. Isto indica como todos os povos do planeta podem vir a respeitar a cultura de cada um e a aprender uns com os outros através do intercâmbio, de forma a criar um “valor da Terra” ainda mais avançado em prol do futuro da humanidade.

A cultura de cada pessoa e região, nutrida pelo ecossistema global, envolve um grande tesouro de sabedoria sem dono, ligado ao universo e ao know-how da vida diária, que é uma expressão desta sabedoria. Através do contato com culturas singulares e estilos de vida de outras pessoas, pode-se experimentar os magníficos ritmos da Mãe Natureza e sentir um senso de realização na vida.

O Sutra de Lótus, considerado a suprema escritura no Budismo, ensina o conceito de shoho jisso (que significa a verdadeira entidade de todos os fenômenos) [6]. Isso demonstra que as características únicas de uma pessoa são uma expressão direta dos valores cósmicos e universais, Baseado neste espírito tolerante do Budismo, a Soka Gakkai Internacional há muito tem conduzido intercâmbio cultural com 115 países, cada qual com sua própria herança cultural distinta. 

Enquanto aprende erudição e sabedoria de cada cultura e as transmite a outras culturas, a SGI tem se empenhado para abrir caminho de coexistência com a natureza, associando e sublimando a sabedoria de todas as culturas. 

Por exemplo, como parte de esforço para educar o público sobre a importância de corrigir a disparidade no desenvolvimento entre o Norte e o Sul, a  SGI realizou a  Exposição sobre Direitos Humanos e das Crianças (com a colaboração do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef), e a Exposição UNICEF e as Crianças do Mundo

Para a Cúpula da Terra, os planos da SGI de apoiar as Nações Unidas com a realização de uma exposição no Rio de Janeiro intitulada “O Desbravar do Século da Vida: Exposição sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”.

A ideia de ecologia humana defendida pelo Conselho de Ecologia Humana da Comunidade Britânica é o mesmo que shoho jisso.

 

Espero que as valiosas experiências de Conselho durante os últimos trinta anos nos campos do intercâmbio cultural com as pessoas nativas em todo o mundo, a promoção de compreensão mútua e a formação de um consenso entre os diversos povos e mais recentemente, a preservação de florestas, bem como a sabedoria e o conhecimento atingido e partir destas experiências, irão se tomar um “modelo” para uma solidariedade mundial mais ampla e será firmemente refletida na orientação da Conferência Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Notas:

[1] Discurso do vice-presidente executivo Zena Saysh em Yokohama na reunião da CHEC, em Yokohama, em 25 de agosto de 1990.

[2] Ver Myoraku (Chan-jan), Hokke’gengi shakusen, vol, 14, pp, 33-919

[3] Funi (=ni narazu) é a forma abreviada de “ni ni shite ni narazu” que significa “dois mas não dois”. Os dois são distintos mas unidos.Ver texto Myoraku citado na nota 2

[4] Em um discurso que proferi na 37ª Reunião Geral da Soka Gakkai em 17 de novembro de 1974, clamei pelo estabelecimento de uma “economia ambiental cíclica”

[5] Asahi Shimbum, 15 de janeiro de 1992

[6] Shoho significa literalmente “várias leis”, isto é, todas as coisas, o mundo fenomenal, por meio do qual a tradução literal “jisso” significa que todos os fenômenos neste mundo são diretamente a verdade absoluta. Ver Hokekyo narabi ni Kaiketsu (O Sutra de Lótus e a Abertura e Fechamento dos Sutras, Seikyo Shimbunsha, pp 154-155. Hokekyo (O Sutra de Lótus), Capítulo Hoben (2º)

Mais que doar, participe efetivamente da proteção da Amazônia

Com seu apoio as ações e programas do Instituto Soka Amazônia alcançam milhares de vidas, ampliando a consciência para a proteção do meio ambiente e da biodiversidade amazônica.

RPPNs – movimento voluntário e crescente de conservação da natureza

Existe um movimento social, voluntário e crescente que a cada ano vem ampliando as áreas de conservação da natureza. Estamos falando do movimento de criação de reservas particulares ou, melhor dizendo, Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN´S, como são conhecidas.

As RPPN´S foram instituídas na década de 90 e passaram a ser consideradas de uso sustentável em 2000, quando incorporadas ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Esse formato de unidade de conservação se distingue das demais unidades, por serem criadas de forma espontânea por seus proprietários, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.

812 mil hectares

As RPPN`S formam hoje o maior movimento civil em prol da conservação da natureza, somando, segundo dados da Confederação Nacional das RPPN`S cerca de 812.027 hectares, protegidas por seus proprietários e mantenedores. Atualmente há 1.748 RPPN´S em todos os biomas do Brasil, proporcionando a conservação da biodiversidade (fonte: CNRPPN).

Nós do Instituto Soka Amazônia, temos a grata missão de gerir uma dessas unidades de conservação no Amazonas, a RPPN Dr. Daisaku Ikeda, uma unidade com 52 hectares que leva o nome do fundador da Organização. A RPPN Dr. Daisaku Ikeda está situada na zona leste de Manaus com vista para o magnifico Encontro das Águas do Rio Negro e Solimões. Nosso trabalho consiste em promover o acesso de alunos, acadêmicos e pesquisadores à rica diversidade de fauna, flora e sítios arqueológico e histórico.

Aproximação com outras organizações

Esse trabalho consistente teve como ponto de partida seu plano de manejo, aprovado em 2017 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, e também permitiu que nos aproximássemos de outras instituições que promovem a conservação da natureza e que atuam no mesmo segmento socioambiental. Fruto desses riquíssimos encontros, hoje o Instituto Soka e a Fundação Rede Amazônica, promovem ações socioambientais e de conservação na Amazônia através de suas unidades de defesa do meio ambiente.

De um lado o Instituto Soka, com a RPPN Dr. Daisaku Ikeda (Manaus/Am) e de outro a Fundação Rede Amazônica com a RPPN Cachoeira da Onça (Presidente Figueiredo/Am). A história de nossas RPPN´S se confundem pela trajetória de seus fundadores, Dr. Daisaku Ikeda e Dr. Phelippe Daou. Suas ações em prol da conservação têm impactado inúmeras pessoas em nossa região. As duas instituições promovem juntas a conservação de mais de 119 hectares no Bioma Amazônico.

A parceria avançou bastante e nos próximos anos irá beneficiar milhares de pessoas nos dois municípios onde as unidades de conservação se encontram.

Acreditamos que as atividades realizadas influenciarão positivamente pessoas e instituições para aumentar ainda mais as áreas de conservação, constituindo novas RPPN´S e indo além, dando a essas áreas o sentido real da conservação, permitindo o acesso responsável que a educação ambiental e pesquisa podem oferecer.

Texto originalmente publicado em: https://portalamazonia.com/echos-da-amazonia/mais-que-um-lugar-bonito-uma-rppn

RPPNs – movimento voluntário e crescente de conservação da natureza

Existe um movimento social, voluntário e crescente que a cada ano vem ampliando as áreas de conservação da natureza. Estamos falando do movimento de criação de reservas particulares ou, melhor dizendo, Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN´S, como são conhecidas.

As RPPN´S foram instituídas na década de 90 e passaram a ser consideradas de uso sustentável em 2000, quando incorporadas ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Esse formato de unidade de conservação se distingue das demais unidades, por serem criadas de forma espontânea por seus proprietários, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.

812 mil hectares

As RPPN`S formam hoje o maior movimento civil em prol da conservação da natureza, somando, segundo dados da Confederação Nacional das RPPN`S cerca de 812.027 hectares, protegidas por seus proprietários e mantenedores. Atualmente há 1.748 RPPN´S em todos os biomas do Brasil, proporcionando a conservação da biodiversidade (fonte: CNRPPN).

Nós do Instituto Soka Amazônia, temos a grata missão de gerir uma dessas unidades de conservação no Amazonas, a RPPN Dr. Daisaku Ikeda, uma unidade com 52 hectares que leva o nome do fundador da Organização. A RPPN Dr. Daisaku Ikeda está situada na zona leste de Manaus com vista para o magnifico Encontro das Águas do Rio Negro e Solimões. Nosso trabalho consiste em promover o acesso de alunos, acadêmicos e pesquisadores à rica diversidade de fauna, flora e sítios arqueológico e histórico.

Aproximação com outras organizações

Esse trabalho consistente teve como ponto de partida seu plano de manejo, aprovado em 2017 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, e também permitiu que nos aproximássemos de outras instituições que promovem a conservação da natureza e que atuam no mesmo segmento socioambiental. Fruto desses riquíssimos encontros, hoje o Instituto Soka e a Fundação Rede Amazônica, promovem ações socioambientais e de conservação na Amazônia através de suas unidades de defesa do meio ambiente.

De um lado o Instituto Soka, com a RPPN Dr. Daisaku Ikeda (Manaus/Am) e de outro a Fundação Rede Amazônica com a RPPN Cachoeira da Onça (Presidente Figueiredo/Am). A história de nossas RPPN´S se confundem pela trajetória de seus fundadores, Dr. Daisaku Ikeda e Dr. Phelippe Daou. Suas ações em prol da conservação têm impactado inúmeras pessoas em nossa região. As duas instituições promovem juntas a conservação de mais de 119 hectares no Bioma Amazônico.

A parceria avançou bastante e nos próximos anos irá beneficiar milhares de pessoas nos dois municípios onde as unidades de conservação se encontram.

Acreditamos que as atividades realizadas influenciarão positivamente pessoas e instituições para aumentar ainda mais as áreas de conservação, constituindo novas RPPN´S e indo além, dando a essas áreas o sentido real da conservação, permitindo o acesso responsável que a educação ambiental e pesquisa podem oferecer.

Texto originalmente publicado em: https://portalamazonia.com/echos-da-amazonia/mais-que-um-lugar-bonito-uma-rppn

Simpósio internacional discute cidadania global

Veja notícia elaborada pela equipe da Editora Brasil Seikyo (EBS) que participou desse evento internacional

Autor: REDAÇÃO Editora Seykio

Nos dias 23 e 24 de outubro, sábado e domingo no Japão, ocorreu o 11o Simpósio Internacional Acadêmico sobre a Filosofia de Daisaku Ikeda, com o tema “Coexistência da Humanidade e Educação de Cidadãos Globais”, na Universidade Soka do Japão (USJ), em Hachioji, Tóquio. Em formato híbrido (presencial e on-line), o evento uniu estudiosos de 52 universidades e instituições de dez países e territórios.

Autoridades acadêmicas se dedicaram, em mais de doze horas de reunião ao longo dos dois dias, a apresentar seus trabalhos, pesquisas e realizar um rico intercâmbio de conhecimento sobre temas como cidadania global, educação Soka e criação de valor na atualidade, tendo como base a filosofia do Dr. Ikeda.

O fundador da instituição, Dr. Daisaku Ikeda, enviou mensagem especial para a cerimônia de abertura, citando os males vividos hoje pela civilização mundial, dentre eles a desconfiança, salientando que a antítese da desconfiança é a educação — a qual nutre a inabalável crença no potencial humano e a coragem para superar quaisquer adversidades. Ele também afirmou que abraçar esse objetivo ajuda os envolvidos a despertar para sua condição iluminada e, enquanto lutam em conjunto, fazem com que sua vida floresça ao máximo. Disse ainda que, diante dos grandes desafios atuais, o momento é o de amplificar a essência original da educação e, assim, potencializar tais características humanas.

Nessa mesma ocasião, o reitor da USJ, Yoshihisa Baba, lembrou-se de que, desde o início do simpósio, um evento de apenas trinta pessoas, seria esta a primeira edição realizada no Japão. Onze anos depois, a atividade se expandiu a ponto de abranger diversos países e territórios, incluindo o Brasil.

Dentro dos painéis temáticos, uma das apresentações foi a do Instituto Soka Amazônia sobre o projeto Academia Ambiental, seu escopo e o resultado das ações mais recentes. A BSGI também foi convidada a assistir ao evento com representantes. Partindo do princípio de que a educação ambiental é um item essencial para cultivar a cidadania global, conforme defende o Dr. Ikeda, Tamy Kobashikawa e Tais Tokusato declararam que a proposta do Instituto Soka Amazônia conecta a escola à comunidade local e à vida diária, e promove sentimentos de afeto, gratidão e proteção por meio de pequenas ações que geram efeitos no ambiente como um todo.

O projeto prevê quatro passos propostos pelo fundador para aumento da conscientização dos estudantes: aprendizado, reflexão, empoderamento e liderança. Atualmente, realizado em formato virtual, é composto por videoaulas transmitidas pelo YouTube, as quais podem ser usadas pelos professores e são divididas em dois semestres. As apresentadoras mostraram que as escolas públicas locais participantes aplicaram os vídeos e as dinâmicas e que isso gerou não só um feedback positivo, mas também um envolvimento maior dos alunos — já que, na versão presencial, apenas os melhores estudantes participavam, e, na versão virtual, todos puderam se envolver. No entanto, elas pontuaram que o projeto deve continuar, principalmente porque foram identificados pela pesquisa os passos do projeto que envolvem “empoderamento” e “liderança”, os quais ainda precisam ser aprimorados junto com os estudantes, desenvolvendo ainda mais a consciência de cada um como agente ativo da mudança do seu ambiente.

*Imagem destacada: Estudantes participam atentamente de simpósio em formato híbrido. Um deles afirma: “Vou me desenvolver como uma pessoa capaz de expandir os ideais da educação humana do fundador pelo mundo”. Crédito: Seikyo Press

Venha conhecer as ruínas da histórica Olaria do Senhor Andresen

Ao vir a Manaus faça uma viagem no tempo

Se você vier a Manaus e andar pela cidade prestando atenção nas casas mais antigas e típicas de uma determinada época da capital amazonense, final do século 19, início do século 20, do meio para o fim do chamado “ciclo da borracha” (*) ao longo do caminho percorrido será possível fazer uma viagem de volta no tempo e embarcar nas histórias contadas pelas gerações que ajudaram a construir a imagem da ‘Manaus Antiga’ e seus cenários, como está narrado no portal G1. Vale a pena ver – aqui.

Tijolos depois das casas de taipa

A matéria do G1 ocupa-se, em especial, de casas ainda feitas de taipa, mas a estética das construções da época colonial foi mantida um pouco mais adiante, quando várias olarias começaram a se instalar na cidade, concentradas de um lado e de outro do Rio Negro, de onde saíram os tijolos que mantêm de pé por anos e anos moradias que até hoje são típicas de Manaus.

Se nas suas andanças pela cidade houver tempo e disposição, vale uma esticada até o Instituto Soka Amazonas para conhecer, entre outras importantes realizações da Organização, as ruínas de uma daquelas históricas olarias, que pertenceu à família do sr. J. H. Andresen, um dinamarquês que ainda menino foi para a cidade do Porto, em Portugal e veio depois para o Brasil.

Naquela época, por diferentes razões, os portugueses estavam como que redescobrindo o Brasil e houve uma forte corrente migratória dirigida, entre outros, para o norte de nosso país, primeiro para Belém do Pará, depois para o Amazonas. Pessoas e mesmo empresas vinham com um claro objetivo econômico, e o dinamarquês-lusitano sr. J. H. Andresen foi um dos que chegaram a Manaus em busca de sucesso, sucesso que, sim, ele alcançou, afinal, a ciclo da borracha estava em seu apogeu

Primeiro o sr. Andresen trabalhou, aqui, na mesma empresa de importações e exportações em que trabalhava em Portugal, mas logo desenvolveu seu próprio negócio, os Armazéns J.H. Andresen, no centro de Manaus. Foi um sucesso!

Além da atividade comercial (foto) J.H.Andresen criou a olaria que levava seu próprio nome, no mesmo local ocupado, hoje, pela RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) onde se localiza o Instituto Soka Amazônia

Quando o ciclo da borracha já não estava com todo o fôlego, e os negócios de comércio começavam a minguar, o empreendedor dinamarquês voltou-se para outro ramo e surgiu em 1882 a Olaria Lages e Lages, cujas ruinas podem ser visitadas hoje na RPPN Daisaku Ikeda (Reserva Particular de Patrimônio Natural), fora do centro de Manaus, uma área de 52 hectares bem em frente ao Encontro das Águas, uma das visitas obrigatórias para quem visita o Amazonas.

Segundo as arqueólogas Maraget Cerqueira e Vanessa Benedito, colaboradoras constantes do Instituto Soka Amazônia, sócias da consultoria Muiraquitã Arqueologia, que atua em processos de licenciamento ambiental, a Reserva Daisaku Ikeda contém uma típica “floresta cultural”, uma área muito devastada que foi totalmente remanejada e reconstruída para voltar a ter o verde pujante que ostenta hoje.

Olaria Andresen_1901 – Aspecto do complexo oleiro, localizado na entrada da cidade em tomada feita do Rio Negro- Foto: Felipe Augusto Fidanza – Álbum do Estado do Amazonas  

Quem chega à Reserva e faz a caminhada naturalmente proposta aos visitantes, é conduzido às ruinas da olaria que pertenceu ao sr. Andresen, situada dentro do riquíssimo sítio arqueológico que tem uma série de descobertas de tempos ainda mais remotos, pré-coloniais.

O ofício da produção de tijolos, a partir da utilização da argila, transcendeu épocas. Após o declínio do ciclo econômico da borracha e, por consequente declínio do complexo de olarias que antes estava localizado na atual RPPN Daisaku Ikeda e seu entorno, as olarias “mudaram-se” para o outro lado do belo rio Negro, em sua margem direita e o município de Iranduba abriga atualmente o maior complexo de fábricas de cerâmica que produzem milhares de tijolos, de variados modelos, gerando trabalho e renda para muitas famílias.

Nas ruinas da olaria Lages e Lages, encontram-se peças remanescentes da época em que a olaria do sr. Andresen estava em plena atividade – material ainda muito bem conservado, típico do final do século 19, início do século 20, tijolos, por sinal, praticamente iguais aos atuais. Anúncios da época, aliás, apregoavam que a olaria do sr. Andresen era a mais moderna de todas.

A aquisição do espaço em que atua o Instituto Soka Amazônia aconteceu em 1991 e 4 anos depois, em 1995, a RPPN Daisaku Ikeda foi oficialmente credenciada pelo IBAMA.

A Olaria Lages do sr. Andresen apregoava ser a mais moderna da região. Imagem disponibilizada pelo Centro Cultural Reunidos

A homenagem ao dr. Ikeda foi prestada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), em reconhecimento aos esforços do fundador do Instituto Soka pela preservação e educação ambiental da Amazônia.

O Instituto Soka espera que a pandemia do Covid 19 chegue logo ao fim e possa voltar a dar boas-vindas a todos os visitantes.

Inclusive você.

(*) O auge do ciclo da borracha aconteceu entre os anos de 1879 e 1912, tendo ainda, uma boa sobrevida entre os anos de 1942 e 1945, no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).

Venha conhecer as ruínas da histórica Olaria do Senhor Andresen

Ao vir a Manaus faça uma viagem no tempo

Se você vier a Manaus e andar pela cidade prestando atenção nas casas mais antigas e típicas de uma determinada época da capital amazonense, final do século 19, início do século 20, do meio para o fim do chamado “ciclo da borracha” (*) ao longo do caminho percorrido será possível fazer uma viagem de volta no tempo e embarcar nas histórias contadas pelas gerações que ajudaram a construir a imagem da ‘Manaus Antiga’ e seus cenários, como está narrado no portal G1. Vale a pena ver – aqui.

Tijolos depois das casas de taipa

A matéria do G1 ocupa-se, em especial, de casas ainda feitas de taipa, mas a estética das construções da época colonial foi mantida um pouco mais adiante, quando várias olarias começaram a se instalar na cidade, concentradas de um lado e de outro do Rio Negro, de onde saíram os tijolos que mantêm de pé por anos e anos moradias que até hoje são típicas de Manaus.

Se nas suas andanças pela cidade houver tempo e disposição, vale uma esticada até o Instituto Soka Amazonas para conhecer, entre outras importantes realizações da Organização, as ruínas de uma daquelas históricas olarias, que pertenceu à família do sr. J. H. Andresen, um dinamarquês que ainda menino foi para a cidade do Porto, em Portugal e veio depois para o Brasil.

Naquela época, por diferentes razões, os portugueses estavam como que redescobrindo o Brasil e houve uma forte corrente migratória dirigida, entre outros, para o norte de nosso país, primeiro para Belém do Pará, depois para o Amazonas. Pessoas e mesmo empresas vinham com um claro objetivo econômico, e o dinamarquês-lusitano sr. J. H. Andresen foi um dos que chegaram a Manaus em busca de sucesso, sucesso que, sim, ele alcançou, afinal, a ciclo da borracha estava em seu apogeu

Primeiro o sr. Andresen trabalhou, aqui, na mesma empresa de importações e exportações em que trabalhava em Portugal, mas logo desenvolveu seu próprio negócio, os Armazéns J.H. Andresen, no centro de Manaus. Foi um sucesso!

Além da atividade comercial (foto) J.H.Andresen criou a olaria que levava seu próprio nome, no mesmo local ocupado, hoje, pela RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) onde se localiza o Instituto Soka Amazônia

Quando o ciclo da borracha já não estava com todo o fôlego, e os negócios de comércio começavam a minguar, o empreendedor dinamarquês voltou-se para outro ramo e surgiu em 1882 a Olaria Lages e Lages, cujas ruinas podem ser visitadas hoje na RPPN Daisaku Ikeda (Reserva Particular de Patrimônio Natural), fora do centro de Manaus, uma área de 52 hectares bem em frente ao Encontro das Águas, uma das visitas obrigatórias para quem visita o Amazonas.

Segundo as arqueólogas Maraget Cerqueira e Vanessa Benedito, colaboradoras constantes do Instituto Soka Amazônia, sócias da consultoria Muiraquitã Arqueologia, que atua em processos de licenciamento ambiental, a Reserva Daisaku Ikeda contém uma típica “floresta cultural”, uma área muito devastada que foi totalmente remanejada e reconstruída para voltar a ter o verde pujante que ostenta hoje.

Olaria Andresen_1901 – Aspecto do complexo oleiro, localizado na entrada da cidade em tomada feita do Rio Negro- Foto: Felipe Augusto Fidanza – Álbum do Estado do Amazonas  

Quem chega à Reserva e faz a caminhada naturalmente proposta aos visitantes, é conduzido às ruinas da olaria que pertenceu ao sr. Andresen, situada dentro do riquíssimo sítio arqueológico que tem uma série de descobertas de tempos ainda mais remotos, pré-coloniais.

O ofício da produção de tijolos, a partir da utilização da argila, transcendeu épocas. Após o declínio do ciclo econômico da borracha e, por consequente declínio do complexo de olarias que antes estava localizado na atual RPPN Daisaku Ikeda e seu entorno, as olarias “mudaram-se” para o outro lado do belo rio Negro, em sua margem direita e o município de Iranduba abriga atualmente o maior complexo de fábricas de cerâmica que produzem milhares de tijolos, de variados modelos, gerando trabalho e renda para muitas famílias.

Nas ruinas da olaria Lages e Lages, encontram-se peças remanescentes da época em que a olaria do sr. Andresen estava em plena atividade – material ainda muito bem conservado, típico do final do século 19, início do século 20, tijolos, por sinal, praticamente iguais aos atuais. Anúncios da época, aliás, apregoavam que a olaria do sr. Andresen era a mais moderna de todas.

A aquisição do espaço em que atua o Instituto Soka Amazônia aconteceu em 1991 e 4 anos depois, em 1995, a RPPN Daisaku Ikeda foi oficialmente credenciada pelo IBAMA.

A Olaria Lages do sr. Andresen apregoava ser a mais moderna da região. Imagem disponibilizada pelo Centro Cultural Reunidos

A homenagem ao dr. Ikeda foi prestada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), em reconhecimento aos esforços do fundador do Instituto Soka pela preservação e educação ambiental da Amazônia.

O Instituto Soka espera que a pandemia do Covid 19 chegue logo ao fim e possa voltar a dar boas-vindas a todos os visitantes.

Inclusive você.

(*) O auge do ciclo da borracha aconteceu entre os anos de 1879 e 1912, tendo ainda, uma boa sobrevida entre os anos de 1942 e 1945, no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).

As muitas idas e vindas na vida de Jean

Gestor Ambiental do Instituto Soka Amazônia

Jean Dinelly Leão – Gestor Ambiental. É assim que está escrito em seu cartão de visitas.

Esse título –Gestor Ambiental– está longe de descrever toda a atividade de Jean no Instituto Soka Amazônia. E está longe (claro!) de revelar todas as inúmeras idas e vindas que foram acontecendo em sua vida, desde que, aos 14 anos, saiu de Maués para Manaus, sem saber direito o que iria acontecer dali para a frente, a não ser  –disso ele estava determinado–  que ia encontrar um futuro melhor, estudar, trabalhar, ganhar mais, ter, bem lá na frente, muito o que contar para os netos, se viesse a tê-los.

Bombril

Responsável Técnico pela RPPN Dr. Daisaku Ikeda, as funções de Jean abrangem, por exemplo, o Assessoramento Executivo, que avalia o nível de interação que o Instituto pode ter com seus parceiros e define os campos de trabalho, embasamento do propósito filosófico face à legislação e ou termo de cooperação. Faz parte de seu trabalho, também, a definição da melhor forma de comunicação para cada nível de interação que o Instituto possui com doadores, colaboradores, parceiros institucionais e demais públicos. E vai adiante, no agendamento, avaliação e participação de atividades com Universidades, empresas, profissionais liberais e demais parceiros do Instituto. Passa pela avaliação de intervenções de caráter humano e fisiológico na RPPN, bem como o seu grau de impacto e suas formas de mitigação propostas no Plano de Manejo. Por fim, elaboração de relatórios pertinentes à gestão da RPPN junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio

Parece muito, mas há muito mais. Jean está sempre ativo em cada visita de grupos que veem conhecer de perto o Instituto. Ou quando jornalistas precisam receber informações detalhadas sobre assuntos relacionados aos projetos de biodiversidade na Amazônia. Em verdade, vez ou outra ele é chamado de Bombril, com suas 1001 utilidades…

Maués, Jean, guaraná

Maués, que é onde Jean veio ao mundo, é a terra do guaraná. Com muito orgulho.

O quase caçula foi o penúltimo de 9 irmãos. Garoto ainda, já trabalhava com amigos na Secretaria de Saúde da cidade, na área de saúde bucal. Foi, aliás, por insistência desses mesmos amigos que, pouco depois da morte do pai, Jean decidiu ir em busca de novos ares na Capital, onde foi morar com amigos. Longa viagem de barco – 18 horas rio acima.

Com persistência, coragem, verdadeira obstinação e uma incrível firmeza de propósito, foi encontrando o seu caminho. A primeira barreira vencida foi o ensino médio, curso técnico em contabilidade. E dá-lhe trabalho. Um desses foi numa farmácia, “Até injeções eu aplicava” conta Jean com ar divertido.

A professora da USP, o guaraná e a diabete Recentes descobertas de pesquisadores do grupo da professora Elizabeth Aparecida Ferraz Silva Torres, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, concluíram em um estudo que as propriedades do guaraná (Paullinia cupana) vão além das conhecidas funções energéticas promovidas pela cafeína. Os compostos fenólicos presentes nas sementes e no fruto possuiriam ação bactericida, anti-inflamatória e anti-hiperglicêmica, sendo que este último age em enzimas que controlam a diabete do tipo 2. O artigo pode ser encontrado na internet: aqui

O valor de um computador de tela azul

Mas tudo bem. Formado em contabilidade, continuou sua maratona, passando a usar o que obtivera com sua formação. Talvez por estar nessa área, acabou conseguindo seu primeiro computador, um Gradiente ainda com aquela antiga tela azul, máquina que teve papel muito importante em sua vida. Autodidata, foi aprendendo e se tornando craque.

Olha daqui, mexe dali, tenta de outro jeito, quando percebeu já dominava a máquina, e daí a começar a dar aulas no Distrito Industrial de Manaus foi um pulo. Em verdade, era de ensinar que ele gostava mesmo. Sem deixar o emprego, agora numa fábrica de painéis elétricos, o que não faltava era gente querendo aprender. Um dos clientes, um senhor português ficou encantado com a internet e maravilhado com a possibilidade de ver, no mesmo dia, os jornais da terrinha.

De tanto dar aulas particulares, veio a ideia de montar com um sócio uma escola especializada em informática. Foi no ano 2.000, mas na prática a empreitada não foi todo o sucesso que ele e o sócio esperavam. E teve que ser encerrada.

Bom ouvinte (apaixonado)

O lado bom foi que, através do sócio, conheceu Elizangela, uma secretária que mais parecia uma filósofa. Foram horas e horas de conversa. Ela uma filósofa. Ele um bom ouvinte, um ouvinte atento que se transformou num ouvinte apaixonado. E acabou em casamento que deu muito certo. Mais do que esposa, Elizangela tem sido um poço de bom senso, qualidade que tem contribuído para uma série de decisões que Jean teve que ir tomando.

Com a chegada do Gabriel (que hoje tem 17 anos) e da Taís, filha de Elizangela (hoje com 23 nos), o peso da vida de casado não era pequeno. De qualquer forma, e trabalhando sempre, de um jeito ou de outro a vida se encaminhava. Um dos expedientes que não deixou de usar (com muito prazer, já que sempre teve muito gosto por ensinar) foi se dedicar à noite e nos fins de semana a ensinar pessoas extremamente interessadas em aprender a usar o computador, primeiro em Manaus, sobretudo no Distrito Industrial e, mais adiante, em Manaquiri, Careiro, Careiro Castanha, Tefé, Alto Tefé, Parintins e tantas outras cidades, onde até hoje há pessoas que quando eventualmente cruzam com Jean, agradecem a porta que ele abriu para o incrível mundo novo.

Budista desde 2009, Jean acompanhou a inauguração do edifício do Cepeam, hoje Instituto Soka Amazônia. “Me lembro da trabalheira toda e da euforia que houve, com a expectativa de todas as coisas boas que eram prometidas e veem sendo cumpridas.”

O tão sonhado diploma

E por falar em euforia Jean lembra, quando viu surgir a concreta possibilidade de conseguir bolsa integral para o tão sonhado curso superior.

“Foi um salto na vida!” – lembra. Ele tinha se matriculado, antes, num curso de administração que foi uma desilusão. Mas em 2009 foi muito bem classificado no Enem e matriculou-se no curso de Engenharia Ambiental, que lhe pareceu (e à “filósofa” Elizangela) que era uma excelente oportunidade. O Brasil estava crescendo, novas indústrias se instalando, havia carência de profissionais dessa área e as empresas brasileiras chegavam a ir buscar engenheiros no Exterior.

Ele estava com 33 anos de idade, uma espécie de tiozinho da sua turma na Faculdade.

 “Meu trabalho prático, quando fazia o curso, acabou tendo a ver com o Cepeam” – conta Jean. Um trabalho para avaliar a origem dos resíduos sólidos, ou pra falar mais claro, lixo que se acumula nas margens do rio, por exemplo na praia do Instituto Soka Amazônia.  “Meus amigos achavam que eu estava louco por fazer pesquisa em alguns lugares tão isolados, que são considerados barra pesada na região.” Mas correu tudo bem, contar tudo o que aconteceu ali dava conversa para mais hora e meia, e o certo é que o estudo foi muito bem avaliado. “Com meu boné cor de laranja, o pessoal achava que eu era da área que cuida da coleta pública de lixo e se abria, sem qualquer apelação.”

Ele estava com 33 anos de idade, uma espécie de tiozinho da sua turma na faculdade

Graduado, no entanto, o exercício prático na profissão não chegou de imediato. Continuava dando aulas, mas sem um trabalho fixo, dava uma mão para Elisangela em seu bem-sucedido Café Regional. Hoje ele dá risada: engenheiro, professor, cozinheiro, garçom de um Café Regional…

Encontro na praia – recolhendo lixo

Foi nessa época o primeiro encontro (casual) com o presidente do Instituto Soka Amazônia, Edison Akira, que viu Jean tirando resíduos da beira do rio e puxou conversa, mera troca de trivialidades, que ficou por isso mesmo. Akira estava nos seus primeiros dias na Amazônia.

Mais aulas, mais trabalho, mais projetos independentes e finalmente em 2016 um novo encontro com o presidente do Instituto Soka Amazônia e o convite formal para uma atuação regular no Instituto.

Humaitá

De lá para cá continua sendo trabalho, trabalho e mais trabalho. Com verdadeira alegria, pois trabalhar é o que faz a felicidade de Jean. Um dos projetos em que se envolveu até a tampa foi o de Humaitá, um local que ficou conhecido pelos altos níveis de corte indiscriminado de árvores, garimpo ilegal, queimadas, choques com o Ibama, mas que tem uma população apaixonada pela cidade.

A economia da Humaitá baseia-se na produção de soja, arroz, pecuária. Conhecida como a “Terra da Mangaba”, em verdade a árvore-símbolo da cidade, mangaba, é típica não da Amazônia, mas do nordeste brasileiro.

“Quando fomos até lá, percebemos o muito que poderia ser feito, falamos das possiblidades de trabalho, mas fomos recebidos com certo descrédito pela maioria dos ouvintes. ‘Todos que veem aqui prometem mundos e fundos e nunca mais aparecem’. Hoje é muito bom ser recebido pelas mesmas pessoas que, ao contrário de antes, botam muita fé no trabalho que estamos fazendo” – lembra Jean sem esconder o orgulho que tem desse prestígio que desfruta o Instituto Soka Amazônia.

As muitas idas e vindas na vida de Jean

Gestor Ambiental do Instituto Soka Amazônia

Jean Dinelly Leão – Gestor Ambiental. É assim que está escrito em seu cartão de visitas.

Esse título –Gestor Ambiental– está longe de descrever toda a atividade de Jean no Instituto Soka Amazônia. E está longe (claro!) de revelar todas as inúmeras idas e vindas que foram acontecendo em sua vida, desde que, aos 14 anos, saiu de Maués para Manaus, sem saber direito o que iria acontecer dali para a frente, a não ser  –disso ele estava determinado–  que ia encontrar um futuro melhor, estudar, trabalhar, ganhar mais, ter, bem lá na frente, muito o que contar para os netos, se viesse a tê-los.

Bombril

Responsável Técnico pela RPPN Dr. Daisaku Ikeda, as funções de Jean abrangem, por exemplo, o Assessoramento Executivo, que avalia o nível de interação que o Instituto pode ter com seus parceiros e define os campos de trabalho, embasamento do propósito filosófico face à legislação e ou termo de cooperação. Faz parte de seu trabalho, também, a definição da melhor forma de comunicação para cada nível de interação que o Instituto possui com doadores, colaboradores, parceiros institucionais e demais públicos. E vai adiante, no agendamento, avaliação e participação de atividades com Universidades, empresas, profissionais liberais e demais parceiros do Instituto. Passa pela avaliação de intervenções de caráter humano e fisiológico na RPPN, bem como o seu grau de impacto e suas formas de mitigação propostas no Plano de Manejo. Por fim, elaboração de relatórios pertinentes à gestão da RPPN junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio

Parece muito, mas há muito mais. Jean está sempre ativo em cada visita de grupos que veem conhecer de perto o Instituto. Ou quando jornalistas precisam receber informações detalhadas sobre assuntos relacionados aos projetos de biodiversidade na Amazônia. Em verdade, vez ou outra ele é chamado de Bombril, com suas 1001 utilidades…

Maués, Jean, guaraná

Maués, que é onde Jean veio ao mundo, é a terra do guaraná. Com muito orgulho.

O quase caçula foi o penúltimo de 9 irmãos. Garoto ainda, já trabalhava com amigos na Secretaria de Saúde da cidade, na área de saúde bucal. Foi, aliás, por insistência desses mesmos amigos que, pouco depois da morte do pai, Jean decidiu ir em busca de novos ares na Capital, onde foi morar com amigos. Longa viagem de barco – 18 horas rio acima.

Com persistência, coragem, verdadeira obstinação e uma incrível firmeza de propósito, foi encontrando o seu caminho. A primeira barreira vencida foi o ensino médio, curso técnico em contabilidade. E dá-lhe trabalho. Um desses foi numa farmácia, “Até injeções eu aplicava” conta Jean com ar divertido.

A professora da USP, o guaraná e a diabete Recentes descobertas de pesquisadores do grupo da professora Elizabeth Aparecida Ferraz Silva Torres, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, concluíram em um estudo que as propriedades do guaraná (Paullinia cupana) vão além das conhecidas funções energéticas promovidas pela cafeína. Os compostos fenólicos presentes nas sementes e no fruto possuiriam ação bactericida, anti-inflamatória e anti-hiperglicêmica, sendo que este último age em enzimas que controlam a diabete do tipo 2. O artigo pode ser encontrado na internet: aqui

O valor de um computador de tela azul

Mas tudo bem. Formado em contabilidade, continuou sua maratona, passando a usar o que obtivera com sua formação. Talvez por estar nessa área, acabou conseguindo seu primeiro computador, um Gradiente ainda com aquela antiga tela azul, máquina que teve papel muito importante em sua vida. Autodidata, foi aprendendo e se tornando craque.

Olha daqui, mexe dali, tenta de outro jeito, quando percebeu já dominava a máquina, e daí a começar a dar aulas no Distrito Industrial de Manaus foi um pulo. Em verdade, era de ensinar que ele gostava mesmo. Sem deixar o emprego, agora numa fábrica de painéis elétricos, o que não faltava era gente querendo aprender. Um dos clientes, um senhor português ficou encantado com a internet e maravilhado com a possibilidade de ver, no mesmo dia, os jornais da terrinha.

De tanto dar aulas particulares, veio a ideia de montar com um sócio uma escola especializada em informática. Foi no ano 2.000, mas na prática a empreitada não foi todo o sucesso que ele e o sócio esperavam. E teve que ser encerrada.

Bom ouvinte (apaixonado)

O lado bom foi que, através do sócio, conheceu Elizangela, uma secretária que mais parecia uma filósofa. Foram horas e horas de conversa. Ela uma filósofa. Ele um bom ouvinte, um ouvinte atento que se transformou num ouvinte apaixonado. E acabou em casamento que deu muito certo. Mais do que esposa, Elizangela tem sido um poço de bom senso, qualidade que tem contribuído para uma série de decisões que Jean teve que ir tomando.

Com a chegada do Gabriel (que hoje tem 17 anos) e da Taís, filha de Elizangela (hoje com 23 nos), o peso da vida de casado não era pequeno. De qualquer forma, e trabalhando sempre, de um jeito ou de outro a vida se encaminhava. Um dos expedientes que não deixou de usar (com muito prazer, já que sempre teve muito gosto por ensinar) foi se dedicar à noite e nos fins de semana a ensinar pessoas extremamente interessadas em aprender a usar o computador, primeiro em Manaus, sobretudo no Distrito Industrial e, mais adiante, em Manaquiri, Careiro, Careiro Castanha, Tefé, Alto Tefé, Parintins e tantas outras cidades, onde até hoje há pessoas que quando eventualmente cruzam com Jean, agradecem a porta que ele abriu para o incrível mundo novo.

Budista desde 2009, Jean acompanhou a inauguração do edifício do Cepeam, hoje Instituto Soka Amazônia. “Me lembro da trabalheira toda e da euforia que houve, com a expectativa de todas as coisas boas que eram prometidas e veem sendo cumpridas.”

O tão sonhado diploma

E por falar em euforia Jean lembra, quando viu surgir a concreta possibilidade de conseguir bolsa integral para o tão sonhado curso superior.

“Foi um salto na vida!” – lembra. Ele tinha se matriculado, antes, num curso de administração que foi uma desilusão. Mas em 2009 foi muito bem classificado no Enem e matriculou-se no curso de Engenharia Ambiental, que lhe pareceu (e à “filósofa” Elizangela) que era uma excelente oportunidade. O Brasil estava crescendo, novas indústrias se instalando, havia carência de profissionais dessa área e as empresas brasileiras chegavam a ir buscar engenheiros no Exterior.

Ele estava com 33 anos de idade, uma espécie de tiozinho da sua turma na Faculdade.

 “Meu trabalho prático, quando fazia o curso, acabou tendo a ver com o Cepeam” – conta Jean. Um trabalho para avaliar a origem dos resíduos sólidos, ou pra falar mais claro, lixo que se acumula nas margens do rio, por exemplo na praia do Instituto Soka Amazônia.  “Meus amigos achavam que eu estava louco por fazer pesquisa em alguns lugares tão isolados, que são considerados barra pesada na região.” Mas correu tudo bem, contar tudo o que aconteceu ali dava conversa para mais hora e meia, e o certo é que o estudo foi muito bem avaliado. “Com meu boné cor de laranja, o pessoal achava que eu era da área que cuida da coleta pública de lixo e se abria, sem qualquer apelação.”

Ele estava com 33 anos de idade, uma espécie de tiozinho da sua turma na faculdade

Graduado, no entanto, o exercício prático na profissão não chegou de imediato. Continuava dando aulas, mas sem um trabalho fixo, dava uma mão para Elisangela em seu bem-sucedido Café Regional. Hoje ele dá risada: engenheiro, professor, cozinheiro, garçom de um Café Regional…

Encontro na praia – recolhendo lixo

Foi nessa época o primeiro encontro (casual) com o presidente do Instituto Soka Amazônia, Edison Akira, que viu Jean tirando resíduos da beira do rio e puxou conversa, mera troca de trivialidades, que ficou por isso mesmo. Akira estava nos seus primeiros dias na Amazônia.

Mais aulas, mais trabalho, mais projetos independentes e finalmente em 2016 um novo encontro com o presidente do Instituto Soka Amazônia e o convite formal para uma atuação regular no Instituto.

Humaitá

De lá para cá continua sendo trabalho, trabalho e mais trabalho. Com verdadeira alegria, pois trabalhar é o que faz a felicidade de Jean. Um dos projetos em que se envolveu até a tampa foi o de Humaitá, um local que ficou conhecido pelos altos níveis de corte indiscriminado de árvores, garimpo ilegal, queimadas, choques com o Ibama, mas que tem uma população apaixonada pela cidade.

A economia da Humaitá baseia-se na produção de soja, arroz, pecuária. Conhecida como a “Terra da Mangaba”, em verdade a árvore-símbolo da cidade, mangaba, é típica não da Amazônia, mas do nordeste brasileiro.

“Quando fomos até lá, percebemos o muito que poderia ser feito, falamos das possiblidades de trabalho, mas fomos recebidos com certo descrédito pela maioria dos ouvintes. ‘Todos que veem aqui prometem mundos e fundos e nunca mais aparecem’. Hoje é muito bom ser recebido pelas mesmas pessoas que, ao contrário de antes, botam muita fé no trabalho que estamos fazendo” – lembra Jean sem esconder o orgulho que tem desse prestígio que desfruta o Instituto Soka Amazônia.