Assim que a semente germina e as primeiras folhas aparecem começa o biosequestro de carbono

bIosequestro de carbono
por Marcos Viana*

Num artigo anterior publicado neste espaço, Marcos Viana, pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental, qualificado em controles preventivos e titular da consultoria AmazonCert sediada em Manaus falou da diferença entre crédito de carbono e pegada de carbono. Neste novo artigo ele comenta um tema que vem causando dúvidas e sendo objeto de muita discussão: Como neutralizar ou diminuir nossa pegada de carbono?

Existem muitas maneiras de neutralizar ou diminuir nossa pegada de carbono, como instalar sistema para geração de energia solar e até coisas mais prosaicas no dia a dia como usar bicicleta nos trajetos que necessitamos percorrer, gerar menos resíduos orgânicos, dentre outros. Entretanto, existe uma forma que é muito prática, está ficando cada vez mais barata e nem sempre é lembrada: o biosequestro de carbono pela plantação de árvores.

Como calcular

De acordo com cálculos validados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, vertido do inglês – Intergovernmental Panel on Climate Change) cada árvore de clima tropical biosequestra 312kg de CO2 até atingir o clímax, ou seja, até chegar aos 20 anos de vida. Isso corresponde a uma captação de aproximadamente 16kg de CO2 a cada ano. E não para por aí: depois desses 20 anos, de acordo ainda com o IPCC, contínua captando aproximadamente 6kg a cada ano restante de sua longa vida. O biosequestro de carbono pela plantação de árvores funciona assim: a partir do momento que uma semente germina, a planta brota, sua raiz, seu caule e algumas folhas se desenvolvem. As folhas são responsáveis pela geração de alimento que propicia o crescimento da planta. Nelas acontece a fotossíntese por reações bioquímicas entre o CO2 captado do ar, pela água que vem da raiz e pela luz solar que a atinge. Dessa forma, a planta gera açúcares (carboidratos) que são responsáveis pela formação de outras substâncias, fazendo com que a planta cresça. E ainda tem mais, libera nessa reação o oxigênio (O2), utilizado na nossa respiração (veja Figura 1).

Figura 1 – Esquema da fotossíntese
A partir da germinação da semente

Muitas pessoas pensam que é necessário esperar os 20 anos que a planta leva para atingir seu ápice para que ela comece a captar carbono da atmosfera. Entretanto, diante a explicação acima, a planta já começa a fazer isso desde que a semente germina.

“Que chato, vou ter que esperar 20 anos? Que vantagem tenho nisso?” – chega-se a pensar, de forma totalmente equivocada.

O correto é pensar que ao plantar árvores, a pessoa também está contribuindo para conservação do solo, pois as plantas evitam a erosão e enriquecem o terreno com matéria orgânica. Elas contribuem para manter o ciclo regular de chuvas, pois transpiram muita água. E se já não bastasse tudo isso, elas promovem o aumento da fauna – insetos, pássaros, primatas, dentre outros.

Os especialistas chamam tudo isso de serviços ambientais.

 
 
Um cálculo prático

E aí você pode se perguntar, como faço para calcular o número de árvores a plantar sabendo a minha pegada de carbono?

Vamos relembrar do exemplo que usamos no artigo anterior para determinar a pegada de carbono pelo uso de seu veículo, digamos, no ano de 2020. Vamos admitir que o carro percorre 10 km para cada litro de gasolina consumido, e foram percorridos 12.000 km com esse veículo naquele período. Buscando no BEN (Balanço Energético Nacional) 2020, encontra-se o fator de emissão gasolina igual a 2,212 kg CO2 / L. Realizando os cálculos devidos (veja figura 2), encontra-se que a pegada de carbono pelo uso do veículo foi de 2,654 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes).

Figura 2 – Cálculo da pegada de carbono de um veículo a gasolina que percorreu 12.000 km no ano de 2020
Considerando o uso daquele veículo no ano de 2020, vamos raciocinar desta forma:
  • Sua pegada de carbono é de 2,654 tCO2e
  • Vamos dividir esse valor por 0,312t, lembrando que assinalamos acima que durante os 20 anos de crescimento da árvore são captados 312kg de CO2 que convertido para toneladas métricas é igual a 0,312.
  • Resultado: você deve plantar e cuidar de 9 árvores.  

 

 

Fontes:

  • Quanto mais quente melhor? Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças climáticas. Carlos Klink (organizado) – São Paulo: Peirópolis, Brasília, DF:IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.
  • Rodríguez, Carlos René Muñiz. Estimativa do potencial sequestro de carbono em áreas de preservação permanente de cursos d’água e topos de morros mediante reflorestamento com espécies nativas no município de São Luiz do Paraitinga / Carlos René Muñiz Rodríguez. – São José dos Campos : INPE, 2015.
  • 2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories Volume 4 Agriculture, Forestry and Other Land Use.
  • BEN 2020 – Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia

 
* Marcos Viana é pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental,

 

Plante árvores: o planeta agradece

bIosequestro de carbono
Assim que a semente germina e as primeiras folhas aparecem começa o biosequestro de carbono

Num artigo anterior publicado neste espaço, Marcos Viana, pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental, qualificado em controles preventivos e titular da consultoria AmazonCert sediada em Manaus falou da diferença entre crédito de carbono e pegada de carbono. Neste novo artigo ele comenta um tema que vem causando dúvidas e sendo objeto de muita discussão: Como neutralizar ou diminuir nossa pegada de carbono?

Existem muitas maneiras de neutralizar ou diminuir nossa pegada de carbono, como instalar sistema para geração de energia solar e até coisas mais prosaicas no dia a dia como usar bicicleta nos trajetos que necessitamos percorrer, gerar menos resíduos orgânicos, dentre outros. Entretanto, existe uma forma que é muito prática, está ficando cada vez mais barata e nem sempre é lembrada: o biosequestro de carbono pela plantação de árvores.

Como calcular

De acordo com cálculos validados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, vertido do inglês – Intergovernmental Panel on Climate Change) cada árvore de clima tropical biosequestra 312kg de CO2 até atingir o clímax, ou seja, até chegar aos 20 anos de vida. Isso corresponde a uma captação de aproximadamente 16kg de CO2 a cada ano. E não para por aí: depois desses 20 anos, de acordo ainda com o IPCC, contínua captando aproximadamente 6kg a cada ano restante de sua longa vida. O biosequestro de carbono pela plantação de árvores funciona assim: a partir do momento que uma semente germina, a planta brota, sua raiz, seu caule e algumas folhas se desenvolvem. As folhas são responsáveis pela geração de alimento que propicia o crescimento da planta. Nelas acontece a fotossíntese por reações bioquímicas entre o CO2 captado do ar, pela água que vem da raiz e pela luz solar que a atinge. Dessa forma, a planta gera açúcares (carboidratos) que são responsáveis pela formação de outras substâncias, fazendo com que a planta cresça. E ainda tem mais, libera nessa reação o oxigênio (O2), utilizado na nossa respiração (veja Figura 1).

Figura 1 – Esquema da fotossíntese
A partir da germinação da semente

Muitas pessoas pensam que é necessário esperar os 20 anos que a planta leva para atingir seu ápice para que ela comece a captar carbono da atmosfera. Entretanto, diante a explicação acima, a planta já começa a fazer isso desde que a semente germina.

“Que chato, vou ter que esperar 20 anos? Que vantagem tenho nisso?” – chega-se a pensar, de forma totalmente equivocada.

O correto é pensar que ao plantar árvores, a pessoa também está contribuindo para conservação do solo, pois as plantas evitam a erosão e enriquecem o terreno com matéria orgânica. Elas contribuem para manter o ciclo regular de chuvas, pois transpiram muita água. E se já não bastasse tudo isso, elas promovem o aumento da fauna – insetos, pássaros, primatas, dentre outros.

Os especialistas chamam tudo isso de serviços ambientais.

Um cálculo prático

E aí você pode se perguntar, como faço para calcular o número de árvores a plantar sabendo a minha pegada de carbono?

Vamos relembrar do exemplo que usamos no artigo anterior para determinar a pegada de carbono pelo uso de seu veículo, digamos, no ano de 2020. Vamos admitir que o carro percorre 10 km para cada litro de gasolina consumido, e foram percorridos 12.000 km com esse veículo naquele período. Buscando no BEN (Balanço Energético Nacional) 2020, encontra-se o fator de emissão gasolina igual a 2,212 kg CO2 / L. Realizando os cálculos devidos (veja figura 2), encontra-se que a pegada de carbono pelo uso do veículo foi de 2,654 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes).

Figura 2 – Cálculo da pegada de carbono de um veículo a gasolina que percorreu 12.000 km no ano de 2020

Considerando o uso daquele veículo no ano de 2020, vamos raciocinar desta forma:

  1. Sua pegada de carbono é de 2,654 tCO2e
  2. Vamos dividir esse valor por 0,312t, lembrando que assinalamos acima que durante os 20 anos de crescimento da árvore são captados 312kg de CO2 que convertido para toneladas métricas é igual a 0,312.
  3. Resultado: você deve plantar e cuidar de 9 árvores.  

Fontes:

Quanto mais quente melhor? Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças climáticas. Carlos Klink (organizado) – São Paulo: Peirópolis, Brasília, DF:IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.

Rodríguez, Carlos René Muñiz. Estimativa do potencial sequestro de carbono em áreas de preservação permanente de cursos d’água e topos de morros mediante reflorestamento com espécies nativas no município de São Luiz do Paraitinga / Carlos René Muñiz Rodríguez. – São José dos Campos : INPE, 2015.

2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories Volume 4 Agriculture, Forestry and Other Land Use.

BEN 2020 – Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia

Crédito de Carbono é uma coisa e Pegada de Carbono é outra

por Marcos Viana*

O tema aquecimento global e mudança climática, bem como os diversos dispositivos e políticas para seu controle, trouxe definições que por vezes provocam confusão. Uma das mais frequentes é sobre as expressões “Crédito de Carbono” e “Pegada de Carbono”, que muitas vezes são usadas como sinônimos. E não o são.

A origem do termo

Vamos começar pela origem da definição de Crédito de Carbono. Essa denominação surgiu durante as discussões que aconteceram nas diversas reuniões da UNFCCC (vertido do inglês como Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) que culminaram com o “Protocolo de Quioto” ratificado por várias nações no ano de 1997. Durante o desenvolvimento dos vários mecanismos que o Protocolo de Quioto definiu é que o termo “Crédito de Carbono” começou a ser usado por algumas pessoas.

Cabe, no entanto, a pergunta: o que é Crédito de Carbono?

Créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE – no inglês CER – Cerificate of Emission Reduction) são certificados emitidos para uma pessoa ou empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa. Por convenção, 1 tonelada de dióxido de carbono corresponde a 1 crédito de carbono.

Um exemplo prático

Por exemplo, a empresa A usava, para gerar vapor em sua caldeira, a queima de óleo diesel (combustível fóssil) e executou um projeto de troca de combustível, passando a queimar biomassa (no caso, bagaço de cana de uma usina de açúcar que ficava na vizinhança). Acontece que o bagaço de cana é fonte renovável de energia e o CO2 gerado na sua queima e passou a ser captado (biosequestrado) pela plantação de cana-de-açúcar na safra seguinte, formando um ciclo virtuoso de renovação.

O óleo Diesel, ao contrário, tem origem no petróleo, sendo que o CO2 de sua queima não volta para um ciclo de renovação e faz com que esse gás de efeito estufa fique por 150 anos em atividade na atmosfera. Como aquela empresa trocou sua matriz energética, ela passou a criar, a cada ano, um “Crédito de Carbono” que é calculado como toneladas equivalentes de CO2 (tCO2e) que ela deixou de emitir por ter deixado de queimar Diesel. Ou seja, como a empresa “não gasta” aquela reserva, fica com um crédito de emissões, que se certificado por uma entidade reconhecida pela UNFCCC pode ser anualmente negociado com uma outra empresa (B) como forma de compensação de suas emissões de gases de efeito estufa – Ver figura 1 abaixo

Figura 1 – Representação gráfica de como se dá a transferência de créditos de carbono de uma empresa para outra

E a pegada de carbono?

Agora, vamos falar sobre pegada de carbono.

A definição de “pegada de carbono” está diretamente relacionada à quantidade de emissões de gases de efeito estufa em toneladas de CO2 (tCO2e) que uma pessoa ou empresa emite em determinado ano, originada de suas atividades, produtos e serviços.

Ou seja, “pegada de carbono” é a soma de todas as emissões de uma pessoa ou empresa.

Pegada de carbono pode, também, ser definida como um inventário das emissões de gases de efeito estufa.

Para dar um exemplo prático, suponhamos que uma pessoa queira calcular sua pegada de carbono com o uso de seu veículo no ano de 2020. Sabendo-se que esse carro faz 10 km por litro de gasolina, e foram percorridos 12.000 km no ano de 2020, busca-se no BEN (Balanço Energético Nacional) 2020, o fator de emissão gasolina igual a 2,212 kg CO2 / L.


Figura 2 – Cálculo da pegada de carbono de um veículo a gasolina que percorreu 12.000 km no ano de 2020

Realizando os cálculos devidos (ver figura 2), encontra-se que a pegada de carbono pelo uso de veículo daquela pessoa foi de 2,654 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes).

Para neutralizar a sua pegada de carbono, a pessoa terá diferentes formas de fazê-lo. Mas isso é assunto para um outro artigo.

Fontes:

  • Quanto mais quente melhor? Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças climáticas. Carlos Klink (organizado) – São Paulo: Peirópolis, Brasília, DF:IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.
  • BEM 2020 – Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia

 

(*) Marcos Viana é pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental, qualificado em controles preventivos e titular da consultoria AmazonCert sediada em Manaus.

Crédito de Carbono é uma coisa e Pegada de Carbono é outra

Biossequestro
Marcos Viana(*) põe os pingos nos ii

O tema aquecimento global e mudança climática, bem como os diversos dispositivos e políticas para seu controle, trouxe definições que por vezes provocam confusão. Uma das mais frequentes é sobre as expressões “Crédito de Carbono” e “Pegada de Carbono”, que muitas vezes são usadas como sinônimos.

E não o são.

A origem do termo

Vamos começar pela origem da definição de Crédito de Carbono.

Essa denominação surgiu durante as discussões que aconteceram nas diversas reuniões da UNFCCC (vertido do inglês como Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) que culminaram com o “Protocolo de Quioto” ratificado por várias nações no ano de 1997.

Durante o desenvolvimento dos vários mecanismos que o Protocolo de Quioto definiu é que o termo “Crédito de Carbono” começou a ser usado por algumas pessoas.

Cabe, no entanto, a pergunta: o que é Crédito de Carbono?

Créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE – no inglês CER – Cerificate of Emission Reduction) são certificados emitidos para uma pessoa ou empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa.

Por convenção, 1 tonelada de dióxido de carbono corresponde a 1 crédito de carbono.

Um exemplo prático

Por exemplo, a empresa A usava, para gerar vapor em sua caldeira, a queima de óleo diesel (combustível fóssil) e executou um projeto de troca de combustível, passando a queimar biomassa (no caso, bagaço de cana de uma usina de açúcar que ficava na vizinhança). Acontece que o bagaço de cana é fonte renovável de energia e o CO2 gerado na sua queima e passou a ser captado (biosequestrado) pela plantação de cana-de-açúcar na safra seguinte, formando um ciclo virtuoso de renovação.

O óleo Diesel, ao contrário, tem origem no petróleo, sendo que o CO2 de sua queima não volta para um ciclo de renovação e faz com que esse gás de efeito estufa fique por 150 anos em atividade na atmosfera. Como aquela empresa trocou sua matriz energética, ela passou a criar, a cada ano, um “Crédito de Carbono” que é calculado como toneladas equivalentes de CO2 (tCO2e) que ela deixou de emitir por ter deixado de queimar Diesel. Ou seja, como a empresa “não gasta” aquela reserva, fica com um crédito de emissões, que se certificado por uma entidade reconhecida pela UNFCCC pode ser anualmente negociado com uma outra empresa (B) como forma de compensação de suas emissões de gases de efeito estufa – Ver figura 1 abaixo

Figura 1 – Representação gráfica de como se dá a transferência de créditos de carbono de uma empresa para outra

E a pegada de carbono?

Agora, vamos falar sobre pegada de carbono.

A definição de “pegada de carbono” está diretamente relacionada à quantidade de emissões de gases de efeito estufa em toneladas de CO2 (tCO2e) que uma pessoa ou empresa emite em determinado ano, originada de suas atividades, produtos e serviços.

Ou seja, “pegada de carbono” é a soma de todas as emissões de uma pessoa ou empresa.

Pegada de carbono pode, também, ser definida como um inventário das emissões de gases de efeito estufa.

Para dar um exemplo prático, suponhamos que uma pessoa queira calcular sua pegada de carbono com o uso de seu veículo no ano de 2020. Sabendo-se que esse carro faz 10 km por litro de gasolina, e foram percorridos 12.000 km no ano de 2020, busca-se no BEN (Balanço Energético Nacional) 2020, o fator de emissão gasolina igual a 2,212 kg CO2 / L.


Figura 2 – Cálculo da pegada de carbono de um veículo a gasolina que percorreu 12.000 km no ano de 2020

Realizando os cálculos devidos (ver figura 2), encontra-se que a pegada de carbono pelo uso de veículo daquela pessoa foi de 2,654 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes).

Para neutralizar a sua pegada de carbono, a pessoa terá diferentes formas de fazê-lo. Mas isso é assunto para um outro artigo.

Fontes:

  • Quanto mais quente melhor? Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças climáticas. Carlos Klink (organizado) – São Paulo: Peirópolis, Brasília, DF:IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.
  • BEM 2020 – Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia

(*) Marcos Viana é pesquisador, auditor, engenheiro químico, engenheiro de segurança, especialista em gestão ambiental, qualificado em controles preventivos e titular da consultoria AmazonCert sediada em Manaus

Projeto de biosequestro de carbono

Neutralizar ou compensar as emissões de gases de efeito estufa são as possibilidades empresariais ou individuais desse projeto inovador do Instituto Soka Amazônia em parceria com a AmazonCert

Todas as atividades humanas promovem, em algum grau, o desequilíbrio climático devido às suas emissões de gases do Efeito Estufa. Produção de cimento e aço e queima de combustíveis fósseis estão no topo da lista de maiores causadores de tal desequilíbrio e as pesquisas para combater ou minimizar esse Efeito são contínuas e, muitas delas apresentam resultados promissores, como o projeto de neutralização ou compensação por meio do biosequestro de carbono, idealizado pela AmazonCert em parceria com o Instituto Soka Amazônia.

Segundo o engenheiro químico, especialista em Gestão Ambiental e CEO da AmazonCert, Marcos José Gomes Viana, “o CO2 [dióxido de carbono] emitido para a atmosfera é biosequestrado pelas folhas das jovens árvores como um dos reagentes que atuam no processo de fotossíntese[i]”. Essas mudas em crescimento são mais eficazes que as árvores adultas devido ao processo de amadurecimento que requer maior captação de CO2 do ar atmosférico. Some-se a isso a água que, juntando-se ao CO2 se transforma-se, por reações químicas da fotossíntese, em diversas substâncias (carboidratos), promovendo o desenvolvimento da planta. Assim se dá o biosequestro: CO2 é retido nas partes da planta e liberam o oxigênio, gás indispensável para a sobrevivência de todo ser vivo.

“Nossa abordagem utiliza-se do biosequestro de carbono utilizando mais de 50 espécies nativas para o reflorestamento, preferencialmente em áreas degradadas da floresta Amazônica”, explica o engenheiro.

Segundo Viana, já há alguns anos ele buscava uma instituição ambiental para uma parceria que viabilizasse seu projeto inovador na Amazônia. No Sudeste brasileiro há empresas atuando nesse setor, mas na região Norte, especificamente na maior floresta tropical do planeta, a iniciativa da AmazonCert é ainda a única. “Busquei praticamente todos os institutos de pesquisa, mas nenhum reunia as condições necessárias de que o Instituto Soka Amazônia dispõe”, contou.

Viana precisava de um local que lhe oferecesse não somente as sementes, mas a produção das mudas, de forma certificada e com manejo correto, já em estágio ideal para o plantio. “Finalmente depois de muito buscar cheguei ao Instituto Soka e teve início a nossa parceria”, diz o pesquisador.

O projeto funciona da seguinte forma: a empresa contrata os seus serviços e Viana desenvolve os cálculos que darão origem à validação das emissões de carbono daquela organização. “A empresa pode optar por neutralizar, ou seja, promover o biosequestro de 100% de suas emissões; ou apenas compensar, promovendo somente um percentual de biosequestro”, explicou.

Importante ressaltar que o engenheiro possui a qualificação necessária como auditor ISO 14064-1, que o autoriza a fornecer certificados de emissão de gases do Efeito Estufa. A partir desses cálculos, realiza-se o plantio das mudas necessárias, tanto para a neutralização, como para a compensação.

Outro importante dado: as mudas são plantadas em locais degradados e que tenham a garantia de que não serão afetados/desmatados durante 20 anos. “Isso porque segundo dados recentes, as árvores tropicais sequestram 312 kg de CO2 ao longo de 20 anos, ou o tempo de seu crescimento”, pontuou.

Benefícios a todos

Além da contribuição ao meio ambiente, as empresas que buscam o projeto conquistam, aos olhos do mercado, um importante requisito, que é a valorização da marca e o reconhecimento de seus clientes e consumidores. É uma prerrogativa importante que agrega um valor além da qualidade intrínseca do produto e/ou serviço. As empresas ambientalmente responsáveis são, hoje, a grande busca do mercado consumidor. Há grandes empresas que exigem de seus fornecedores tal certificação para assinar contratos.

Uma “floresta em pé” é, ainda, um fator que mantém uma importante cadeia produtiva e atinge diretamente os povos tradicionais da floresta que dela dependem para sua subsistência imediata. Milhões de pessoas se beneficiam de uma floresta em crescimento.

Esses dois fatores se alinham perfeitamente aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da Agenda 2030 da ONU e ações ESG (do inglês Environmental, Social, Governance ou Ambiental, Social e Governança).

Ainda: as novas árvores contribuem para a manutenção dos rios voadores que por sua vez são parte significativa da manutenção do regime de chuvas e do ciclo hidrológico; também conservam o solo e promovem o aumento da biodiversidade.

Finalmente, os recursos captados por esse projeto servirão para fomento de novas pesquisas do Instituto Soka Amazônia e o consequente aumento de conhecimento acerca de toda a vida na floresta. Ações que beneficiarão as futuras gerações. Há, entre os pesquisadores, o consenso de que até o momento nem um centésimo dos benefícios que a floresta pode fornecer chegaram a ser catalogados. Só para se ter uma ideia: dessa pequena parcela já estudada e catalogada, sabe-se que mais de 10 mil espécies de plantas amazônicas possuem princípios ativos de extrema relevâncias para o uso medicinal e para o controle biológico de pragas.

Por tudo já descrito, o projeto é um meio mais do que necessário e que ainda traz múltiplos benefícios, além da simples neutralização do carbono emitido. Portanto não é exagero dizer que ao plantar uma árvore está se promovendo a vida em todo o planeta.

Fonte: https://g1.globo.com/natureza/noticia/por-que-a-amazonia-e-vital-para-o-mundo.ghtml


1 Fotossíntese é um processo pelo qual ocorre a conversão da energia solar em energia química para realização da síntese de compostos orgânicos. A fotossíntese é a principal responsável pela entrada de energia na biosfera e é realizada por organismos denominados fotossintetizantes, como plantas e algas.

Créditos de carbono: simbiose entre as matas e o clima

Crédito de Carbono

A cada 10 mil novas árvores plantadas é possível neutralizar cerca de 1,6 milhão de toneladas de CO2 (dióxido de carbono)

Qualquer desavisado percebe que mesmo em meio ao calor intenso do verão brasileiro, a sombra de uma frondosa árvore traz um frescor revigorante. Isso porque uma única árvore é capaz de regular a temperatura na sombra de sua copa. Árvores captam a água do subsolo pelas raízes e do ambiente em toda a sua superfície e evaporam por meio de estruturas microscópicas localizadas nas folhas. O Instituto Soka Amazônia, nos 55 hectares de sua Reserva Particular do Patrimônio Natural já neutralizou dezenas de milhões de toneladas de CO2 devido as ações de recuperação ambiental. Em 2025, quando se completarão os 30 anos do credenciamento pelo Ibama serão cerca de 98 milhões de toneladas de dióxido de carbono neutralizados.

No dia 7 de novembro celebra-se o dia da Floresta e do Clima. A relação floresta e clima são simbióticas e, desde o estabelecimento do Protocolo de Quioto[i] (em vigor desde 2005), o mercado de créditos de carbono passou a ser um foco importante para a neutralização dos gases de efeito estufa e minimizar o aquecimento global.

Mas como funciona o mercado de créditos de carbono?

Uma unidade de crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono emitido (tCO2e). Funciona assim: empresas e países têm uma cota de emissão de gases de efeito estufa, os que não atingem a quantidade estabelecida, podem vender essa “sobra”. Os que não superam a meta compram de empresas que possuem créditos ou de quem produz esses créditos como as Reservas neutralizadoras, um exemplo é RPPN Dr. Daisaku Ikeda do Instituto Soka.

Obviamente, a Floresta Amazônica Brasileira é um dos maiores – senão o maior – reservatório de créditos de carbono do planeta. Além de equilibrar o clima, ela protege cerca de 10% da biodiversidade do mundo. A floresta proporciona ainda, sobrevivência e renda a dezenas de povos tradicionais, junto com todo o conhecimento milenar da cultura preservada a gerações por essas populações. Tais fatos evidenciam a gravidade dos problemas ocasionados pelo desmatamento, degradação das matas, as mudanças do uso do solo devido as atividades agropecuárias. Tais ações são responsáveis por 24% de todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) que repercutem em todo o mundo.

Somente no Brasil, tais atividades na região ocasionaram 71% de todas as emissões em 2017 (SEEG, 2019)[ii]. Embora a taxa de desmatamento brasileira tenha diminuído de 2004 a 2012, esses valores voltaram a crescer nos últimos anos. Dessa forma, manter a floresta em pé é crucial, não apenas à nossa gente brasileira, mas também a todas as nações do globo.

Mercado de créditos de carbono

Este início de milênio trouxe novos olhares para a Economia florestal que, há muito, deixou de ser somente um campo de atuação de militantes e ambientalistas. Muitos especialistas apontam que se trata de um mercado em crescimento, mesmo diante de diversos entraves, principalmente nos últimos anos em que se colocou em dúvida algumas certezas estabelecidas quanto às questões ambientais.

Há todo um universo de títulos verdes[iii] disponíveis que, num único ano (2017), registrou um saldo de quase 900 bilhões de dólares, um crescimento de mais de 200 bilhões em relação a 2016. Deste total, 61% foi para comercialização de baixo carbono e 19% para energia limpa. Para estes que reduziram suas emissões, são emitidos créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões.

Cada vez mais as empresas vêm se conscientizando sobre a necessidade de desenvolver ações efetivas de combate às suas emissões de gases nocivos. Todo projeto passa necessariamente por uma avaliação de órgãos internacionais e, se e quando aprovado, torna-se elegível para gerar créditos verdes. Aí, a cada tonelada de CO2 não emitido estas empresas conquistam uma unidade de crédito, possível de ser negociado diretamente com empresas ou na bolsa de valores. Kenny Fonseca, professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), enfatiza que “os países só podem usar esses créditos para suprir uma pequena parte de suas metas”. Ou seja: cumprir o acordo estabelecido no Protocolo de Quioto tem de ser o principal objetivo dos países que firmaram o documento.

O avanço das descobertas não cessa. Sabe-se hoje que não são só os gases que provocam o efeito estufa. A fuligem da fumaça, chamada de carbono negro, tem também um papel bastante nocivo e preponderante. Esse carbono negro ocasiona um sombreamento da superfície atmosférica resultando em aquecimento desta. E também adultera significativamente a formação das nuvens, causando o desequilíbrio térmico do globo.

O pesquisador alerta ainda que, ao contrário do resto do mundo, o Brasil ainda não tem metas a cumprir, apesar de estar na lista dos 20 países que mais poluem. Segundo Kenny, 2/3 das emissões brasileiras estão ligadas à mudança drástica do uso do solo (desmatamento, queimadas e conversão de florestas em sistemas agropecuários). Fato que coloca o país num patamar delicado, que deve afetar todo o planeta.

Fontes:

https://novaescola.org.br/conteudo/1089/como-funcionam-os-creditos-de-carbono#:~:text=A%20negocia%C3%A7%C3%A3o%20dos%20cr%C3%A9ditos%20de,que%20causam%20o%20efeito%20estufa.&text=Nesse%20caso%2C%20a%20cada%20tonelada,meio%20da%20bolsa%20de%20valores

https://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/protocolo-de-quioto.html https://bluevisionbraskem.com/inteligencia/economia-florestal-como-funcionam-os-creditos-de-carbono/


[i] Acordo internacional entre os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), firmado com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global.

[ii] Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa

[iii] Títulos verdes são modelos de títulos de investimento nos quais os recursos são usados exclusivamente para financiar projetos verdes, sendo os créditos de carbono sua principal matriz