Biodiversidade amazônica: Camucamu, a rainha da vitamina C

Essa árvore é uma prova viva de que a floresta tem ainda muito o que oferecer à humanidade e a cada exemplar abatido é uma perda irreparável para o meio ambiente

Ela ocorre em muitas áreas da Amazônia em sua forma silvestre, mas devido suas propriedades medicinais, no Brasil vem sendo cultivada principalmente no Pará, em algumas fazendas de São Paulo, nos municípios de Mirandópolis e Iguape. Ainda pouco conhecido no Brasil, o destino da produção são os grandes apreciadores do fruto no exterior, como: Japão, EUA e a União Europeia. Atualmente, o Peru é o grande produtor e exportador do camu camu.

Porém, a América Tropical, o Brasil possui a maior diversidade de espécies do gênero Myrtaceae. A planta é encontrada abundante nos estados do Amapá, Marachão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantis. O primeiro registro data de 1902, quando da expedição do botânico austro-húngaro, Adolfo Ducke, à Amazônia.

Conhecida também por outros nomes – caçari, araçá-d’água, araçá-de-igapó, sarão, azedinha – o camucamuzeiro é um arbusto ou pequena árvore, podendo atingir de 3m a 6m de altura, pertencente à família Myrtaceae, ainda não totalmente domesticada e se dispersa em praticamente toda a região Amazônia. Embora seja um fruto de alto valor nutritivo os povos da floresta parecem não apreciá-lo como alimento, preferindo utilizá-lo como isca para pesca ou, eventualmente, como tira-gosto. O peixe, por sua vez, alimenta-se do camu camu e é o principal dispersor das sementes. A polinização é feita principalmente por abelhas, embora o vento também contrinua significamente no processo. As flores exalam um aroma doce e agradável, devido isso o néctar é bastante apreciado pelas abelhas nativas (Melipona fuscopilara e Trigona portica).

Sua preferência são as margens de rios e lagos, os exemplares silvestres chegam a permanecer por 4 a 5 meses submersos durante os períodos de cheia. O camu camu amadurece entre novembro e março e praticamente ao longo de todo o ano a árvore brinda os olhos com suas flores, principalmente entre abril e junho.

São largamente conhecidos os benefícios da vitamina C para o bom funcionamento do sistema imunológico do organismo. Além disse é um importante antioxidante, que participa em várias reações metabólicas no organismo, como o metabolismo de ácido fólico, fenilalanina, tirosina, ferro, histamina, metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e carnitina. Esta vitamina é também muito importante na síntese de colágeno, razão pela qual está muitas vezes presente nos suplementos de colágeno. O colágeno é essencial para a manutenção da pele, mucosas, ossos, dentes e preservação da integridade dos vasos sanguíneos.

Desde de 1980, o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, vem estudando o camucamuzeiro figurando em sua lista de prioridades, por considerá-la de grande potencial nutritivo, entre os frutos nativos da região. O objetivo é oferecer formas alternativas de melhorar a dieta da população local, mas também a geração de divisas. Para se ter uma ideia mais clara de seu potencial nutritivo, a concentração de vitamina C do camu camu é aproximadamente 13 vezes maior que aquela encontrada no caju, 20 vezes maior que na acerola, 100 vezes maior que no limão, podendo conter 5 g da vitamina em cada 100 g de polpa.

By Agroforum Perú – http://www.agroforum.pe/agro-noticias/attachments/11564d1471060316-camu-camu-peru-vitamina-c.jpg/, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=54372736

E mais: na comparação com a laranja, o camu camu contém 10 vezes mais ferro e 50% mais fósforo. Devido o elevado teor de ácido ascórbico é considerado um poderoso antioxidante e coadjuvante na eliminação de radicais livres, proporcionando retardamento no envelhecimento. Ou seja: são muitas as razões para estudar, cultivar e promover seu consumo.

Desafios

Por todos os motivos acima listados, os pesquisadores concordam que se trata de uma espécie de imenso potencial para exploração comercial. Os desafios a serem vencidos tem a ver com a falta de variedades ou clones indicados para condição de cultivo em área de terra firme.

Nesse sentido, a Embrapa da Amazônia Oriental vem se debruçando sobre a questão do melhoramento genético da espécie desde 2008, promovendo a seleção de genótipos para o caráter de produção de frutos no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Camucamuzeiro. Foi assim que os melhores materiais obtidos foram clonados e estão em fase de avaliação em área de terra firme.

A partir de plantas sadias e de alta produção com frutos de tamanho apropriado, faz-se a coleta das sementes. A extração dos frutos é feito por meio da coleta de frutos com o mesmo estágio de maturação que deve garantir uma maior uniformidade no processo de germinação.

O camucamuzeiro começa a produzir após 3 anos de seu posicionamento em campo. Os frutos têm formato globoso arredondado, com diâmetro de 10mm a 32 mm, de coloração vermelha ou rósea e roxo escuro no estágio final de maturação e pesa cerca de 8g. De elevada acidez, dificilmente são consumidos in natura, sendo bastante apreciados em preparações, como refrescos, sorvetes, geleias, doces, licores, ou para conferir sabor a tortas e sobremesas. É, portanto, mais uma das espécies amazônicas potencialmente das mais viáveis economicamente por contribuir significativamente para o bem estar e a saúde humana.

Fontes:

http://portal.inpa.gov.br/cpca/areas/camu-camu.html?#:~:text=O%20camu%2Dcamu%2C%20ca%C3%A7ari%2C,lagos%2C%20geralmente%20de%20%C3%A1gua%20preta

https://www.todafruta.com.br/camu-camu/  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/175155/1/COLECAO-PLANTAR-A-cultura-do-camu-camu-2012.pdf

Agrofloresta é um bom negócio?

É, no mínimo, uma forma milenar de produzir renda sem derrubar a mata. Mas, na realidade, envolve toda uma infinidade de fatores

A resposta à pergunta é sim, embora à primeira vista pareça que não, por se tratar de uma forma ancestral de produção de alimentos a partir da manutenção da floresta em pé, por meio da exploração de insumos vegetais (sementes, seiva, flores, folhas, casca etc) e animais. No momento em que o mundo todo está com os olhos voltados para as queimadas que destroem a floresta Amazônica, o tema da agrofloresta se torna ainda mais relevante. O biólogo e mestre em Ecologia pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Diego Oliveira Brandão, explicou que

é um método que associa o manejo de espécies nativas e exóticas diversas numa mesma área, oferecendo mais produtividade. Portanto, no Sistema Agroflorestal, as árvores, os arbustos, as palmeiras, os bambus nativos, etc. são cultivados em associação com culturas agrícolas, pastagens e animais (boi, galinha, pato e porco), em uma mesma unidade de manejo. Diferente da monocultura que derruba imensas áreas para plantar uma única espécie. Procedendo dessa forma, criam-se interações ecológicas e econômicas entre todos esses elementos, equilibrando espaços e tempos de cultivo para os pequenos produtores.

Agricultores do mundo todo se utilizam há séculos do Sistema Agroflorestal como forma de subsistência. Mas foi somente a partir da década de 1970 que se iniciaram estudos sobre o esse modelo agrícola e cientistas passaram a olhar com mais atenção como uma forma de produzir alimentos e insumos sem agressão ao meio ambiente.

Muitas vantagens

Média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros

Por se tratar do plantio de espécies nativas, as agroflorestas contribuem positivamente na restauração de áreas degradadas por extração inadequada de recursos, ocupação desordenada, incêndios etc. E, no momento em que se fala tanto em mudanças climáticas, tal restauração está intimamente ligada à redução do aquecimento global, porque as plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera para crescer e se reproduzir. Apenas para recordar: no Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Agenda bastante comprometida no momento atual pelo desmatamento.

De modo bem simplificado, é possível pontuar que agrofloresta simula o que a natureza faz normalmente: mantém o solo sempre coberto pela vegetação, com diversas espécies juntas, cada qual dando seu suporte às demais. Só esse fato já minimiza danos com pragas, doenças e mudanças climáticas, o que dispensa o uso dos agrotóxicos.

Diego cita dados do IBGE que apontam uma média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros, ou seja, a partir da floresta em pé. Isso sem ou quase nenhum apoio governamental. “Se houvesse  mais incentivo com assistência técnica a produtividade da agroflorestal seria muito maior”, enfatiza. E esses produtos, oriundos do Sistema Agroflorestal, são praticamente todos in natura, como o açaí, a andiroba, a castanha e o cacau. Com as cooperativas de beneficiamento o valor dos produtos da agroflorestal pode ser multiplicado por, no mínimo 4, com a produção de matéria prima como óleo, gordura, polpa e sementes desidratadas e produtos industrializados como alimentos, sucos, remédios e cosméticos

Uma reportagem do Jornal Nacional sobre o projeto Amazônia 4.0, ilustrou muito bem esse fato. O quilo das sementes de cacau é comumente vendido a 12 reais em média. Se for transformado em chocolate, pode chegar a atingir 200 reais o quilo se for produzido para exportação. O cientista líder do projeto, Ismael Nobre, ressaltou que só o cacau, sem qualquer beneficiamento, é sete vezes mais lucrativo por hectare que a pecuária.

Cacaueiro

Mas há muito mais do que se beneficiar ao manter as florestas em pé. Diego cita as mais importantes: a manutenção da fertilidade dos solos e redução de erosão; conservação de água em rios, nascentes e biodiversidade; diversificação da produção de alimentos nas regiões onde se estabelece e por aí vai. Só há vantagens em sistema agroflorestal em comparação à monocultura ou pecuária tradicional na Amazônia.

Para os pequenos agricultores o Sistema Agroflorestal traz outro importante benefício: a obtenção de receitas de curto prazo com a colheita de produtos em tempos diferentes (frutos, sementes etc). Assim não ficam reféns de uma grande safra monocultora, reduzindo assim, a necessidade de insumos externos. Por empoderar os agricultores e as comunidades tradicionais, a partir da aquisição de maior autonomia com a diversificação de sua produção, a agrofloresta representa uma verdadeira tecnologia social, capaz de produzir dividendos significativos e também, bastante lucrativos.

Fontes:

http://tecnologiasocial.sites.uff.br/o-que-sao-tecnologias-sociais/

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10226794892841395&id=1322832872&sfnsn=wiwspwa

https://www.wwf.org.br/?76990/Agrofloresta-e-alternativa-de-desenvolvimento-na-Amazonia

https://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/RevistaSistemasAgroflorestais.pdf

https://cebds.org/o-que-e-o-acordo-de-paris/

Agrofloresta é um bom negócio?

É, no mínimo, uma forma milenar de produzir renda sem derrubar a mata. Mas, na realidade, envolve toda uma infinidade de fatores

A resposta à pergunta é sim, embora à primeira vista pareça que não, por se tratar de uma forma ancestral de produção de alimentos a partir da manutenção da floresta em pé, por meio da exploração de insumos vegetais (sementes, seiva, flores, folhas, casca etc) e animais. No momento em que o mundo todo está com os olhos voltados para as queimadas que destroem a floresta Amazônica, o tema da agrofloresta se torna ainda mais relevante. O biólogo e mestre em Ecologia pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Diego Oliveira Brandão, explicou que

é um método que associa o manejo de espécies nativas e exóticas diversas numa mesma área, oferecendo mais produtividade. Portanto, no Sistema Agroflorestal, as árvores, os arbustos, as palmeiras, os bambus nativos, etc. são cultivados em associação com culturas agrícolas, pastagens e animais (boi, galinha, pato e porco), em uma mesma unidade de manejo. Diferente da monocultura que derruba imensas áreas para plantar uma única espécie. Procedendo dessa forma, criam-se interações ecológicas e econômicas entre todos esses elementos, equilibrando espaços e tempos de cultivo para os pequenos produtores.

Agricultores do mundo todo se utilizam há séculos do Sistema Agroflorestal como forma de subsistência. Mas foi somente a partir da década de 1970 que se iniciaram estudos sobre o esse modelo agrícola e cientistas passaram a olhar com mais atenção como uma forma de produzir alimentos e insumos sem agressão ao meio ambiente.

Muitas vantagens

Média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros

Por se tratar do plantio de espécies nativas, as agroflorestas contribuem positivamente na restauração de áreas degradadas por extração inadequada de recursos, ocupação desordenada, incêndios etc. E, no momento em que se fala tanto em mudanças climáticas, tal restauração está intimamente ligada à redução do aquecimento global, porque as plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera para crescer e se reproduzir. Apenas para recordar: no Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Agenda bastante comprometida no momento atual pelo desmatamento.

De modo bem simplificado, é possível pontuar que agrofloresta simula o que a natureza faz normalmente: mantém o solo sempre coberto pela vegetação, com diversas espécies juntas, cada qual dando seu suporte às demais. Só esse fato já minimiza danos com pragas, doenças e mudanças climáticas, o que dispensa o uso dos agrotóxicos.

Diego cita dados do IBGE que apontam uma média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros, ou seja, a partir da floresta em pé. Isso sem ou quase nenhum apoio governamental. “Se houvesse  mais incentivo com assistência técnica a produtividade da agroflorestal seria muito maior”, enfatiza. E esses produtos, oriundos do Sistema Agroflorestal, são praticamente todos in natura, como o açaí, a andiroba, a castanha e o cacau. Com as cooperativas de beneficiamento o valor dos produtos da agroflorestal pode ser multiplicado por, no mínimo 4, com a produção de matéria prima como óleo, gordura, polpa e sementes desidratadas e produtos industrializados como alimentos, sucos, remédios e cosméticos

Uma reportagem do Jornal Nacional sobre o projeto Amazônia 4.0, ilustrou muito bem esse fato. O quilo das sementes de cacau é comumente vendido a 12 reais em média. Se for transformado em chocolate, pode chegar a atingir 200 reais o quilo se for produzido para exportação. O cientista líder do projeto, Ismael Nobre, ressaltou que só o cacau, sem qualquer beneficiamento, é sete vezes mais lucrativo por hectare que a pecuária.

Cacaueiro

Mas há muito mais do que se beneficiar ao manter as florestas em pé. Diego cita as mais importantes: a manutenção da fertilidade dos solos e redução de erosão; conservação de água em rios, nascentes e biodiversidade; diversificação da produção de alimentos nas regiões onde se estabelece e por aí vai. Só há vantagens em sistema agroflorestal em comparação à monocultura ou pecuária tradicional na Amazônia.

Para os pequenos agricultores o Sistema Agroflorestal traz outro importante benefício: a obtenção de receitas de curto prazo com a colheita de produtos em tempos diferentes (frutos, sementes etc). Assim não ficam reféns de uma grande safra monocultora, reduzindo assim, a necessidade de insumos externos. Por empoderar os agricultores e as comunidades tradicionais, a partir da aquisição de maior autonomia com a diversificação de sua produção, a agrofloresta representa uma verdadeira tecnologia social, capaz de produzir dividendos significativos e também, bastante lucrativos.

Fontes:

http://tecnologiasocial.sites.uff.br/o-que-sao-tecnologias-sociais/

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10226794892841395&id=1322832872&sfnsn=wiwspwa

https://www.wwf.org.br/?76990/Agrofloresta-e-alternativa-de-desenvolvimento-na-Amazonia

https://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/RevistaSistemasAgroflorestais.pdf

https://cebds.org/o-que-e-o-acordo-de-paris/

Um universo conectado sob os nossos pés!

Raízes e Fungos
Raízes e fungos interagem sob a terra como uma grande “internet” vegetal promovendo a comunicação e subsistência da vida no planeta

Quem caminha pela mata tem os olhos voltados para o que a superfície revela. A beleza e a singularidade proporcionada pela atmosfera quase mágica da floresta. Mas debaixo dos seus pés há um universo complexo e interativo composto por raízes e fungos que promovem, entre outras coisas, a subsistência dos seres que sobre ela vivem. Uma das mais complexas redes de que se tem notícia é a da Amazônia, cujo solo é pobre em nutrientes, mas por meio de uma série de interações, dá vida à maior e mais exuberante floresta tropical do planeta.

O início

Tudo se inicia com a raiz que se prolonga por debaixo do solo lenta e pacientemente. Microorganismos, em especial os fungos, crescem ao redor e dentro dessas raízes fornecendo nutrientes em troca dos carboidratos (açúcares) que a planta produz por meio de reações químicas de trocas com o ambiente que o cerca.

Imagem de ezblum por Pixabay

Trata-se de uma conexão muito mais profunda do que antes se acreditava e a Ciência vem estudando com grande interesse, pois a simbiose entre fungos e raízes, além de fornecer substratos mutuamente, forma uma verdadeira rede de comunicação subterrânea.

Há indícios de que indivíduos mais velhos, chamados de árvores-mães, se utilizem dessa rede, fornecendo, além de açúcares às mudas jovens, sua sombra e proteção contra pragas e outras ameaças e, assim, aumentar suas chances de sobrevivência, perpetuando a floresta.

E as que estão em vias de falecer, generosamente, despejam seus últimos nutrientes nessa imensa rede, intuitivamente, garantindo que não haja “desperdícios”, pois as jovens mudas farão bom uso desse subsídio para se fortalecerem e se desenvolverem. É como se os mais “idosos” desejassem passar seu “conhecimento” e “sabedoria” aos que estão ao redor – mais jovens e saudáveis – para que “aprendam” com sua experiência.

Porém, não se trata de uma rede de benefícios somente. Há espécies de plantas como algumas orquídeas que se especializaram em “roubar” nutrientes de árvores próximas; ou ainda a nogueira-preta que espalham toxinas com o intuito de “sabotar” espécies rivais, podendo causar até a morte destas.

Fungos, agentes mensageiros

Rede micorriza é o nome do aglomerado de fungos que interage sob a terra e permite que sejam trocados nutrientes de uma planta a outra. As “mensagens” carregadas por essa rede além de permitir a troca de substratos, “informa” os demais sobre as ocorrências na região, como a morte de uma planta, o ataque de pragas ou até a iminente mudança climática. Os fungos, agem ainda como uma linha de defesa. Caso as plantas “hospedeiras” sejam atacadas, os fungos liberam sinais químicos para alertar as espécies vizinhas de modo que consigam ampliar suas defesas.

Cerca de 90% das plantas possuem boas relações com os fungos. Uma silenciosa relação harmoniosa e fundamental se desenvolve entre plantas e fungos, um não sobreviveria sem o outro. Nas florestas mais densas é possível observar uma fina teia que espalha no solo cobrindo todo o chão da floresta. Este é o micélio vegetativo que é a parte correspondente à sustentação e absorção de nutrientes.

Imagem de DebWatson por Pixabay

E é essa fina teia de micélio que possibiliza a formação da micorriza que conecta os fungos às raízes das plantas no subsolo. Um dos componentes fundamentais do micélio é a hifa, filamentos de células dos fungos. A cientista e professora de Ecologia Florestal da Universidade da Colúmbia Britânica, Suzanne Simard vem, desde 1997, testando teorias de como as árvores se comunicam entre si. Utilizando carbono radioativo, ela mede o fluxo e o compartilhamento desse elemento químico entre as árvores. Não é exagero dizer que se trata de uma via superrápida para tráfego de dados, que coloca em contato uma grande população de indivíduos diversos e dispersos. A cientista também acredita que as plantas parecem funcionar no sentido oposto ao observado por Darwin, em relação à competição por recursos entre as espécies animais. Segundo ela, muitas espécies de plantas utilizam a rede para trocar nutrientes e se autopreservarem, garantindo a sobrevivência.

Outro especialista, o micologista[i] estadunidense, Paul Stamets, afirma que essa rede de fungos é uma “internet natural” do planeta Terra. Segundo ele é ela que coloca cada planta do mundo conectada, mesmo as que se encontram muito distantes entre si. Um paralelo traçado por ele é o filme Avatar de 2009, cujo cenário mostra como vários organismos obtém comunicação eficaz e compartilhamento de recursos por meio de uma ligação simbiótica produzida por eletroquímica passando pelas intrincadas cadeias de raízes das plantas.

Fontes:

http://www.bioblog.com.br/a-comunicacao-das-plantas-uma-internet-em-baixo-da-terra/

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141128_vert_earth_internet_natural_dg


[i] Micologia (também denominada micetologia) é um ramo da biologia dedicado ao estudo dos fungos, que são organismos heterotróficos de variadas dimensões. Possuem tamanhos consideráveis como os cogumelos e também tamanhos microscópicos como as leveduras e bolores.

Um universo conectado sob os nossos pés!

Raízes e Fungos
Raízes e fungos interagem sob a terra como uma grande “internet” vegetal promovendo a comunicação e subsistência da vida no planeta

Quem caminha pela mata tem os olhos voltados para o que a superfície revela. A beleza e a singularidade proporcionada pela atmosfera quase mágica da floresta. Mas debaixo dos seus pés há um universo complexo e interativo composto por raízes e fungos que promovem, entre outras coisas, a subsistência dos seres que sobre ela vivem. Uma das mais complexas redes de que se tem notícia é a da Amazônia, cujo solo é pobre em nutrientes, mas por meio de uma série de interações, dá vida à maior e mais exuberante floresta tropical do planeta.

O início

Tudo se inicia com a raiz que se prolonga por debaixo do solo lenta e pacientemente. Microorganismos, em especial os fungos, crescem ao redor e dentro dessas raízes fornecendo nutrientes em troca dos carboidratos (açúcares) que a planta produz por meio de reações químicas de trocas com o ambiente que o cerca.

Imagem de ezblum por Pixabay

Trata-se de uma conexão muito mais profunda do que antes se acreditava e a Ciência vem estudando com grande interesse, pois a simbiose entre fungos e raízes, além de fornecer substratos mutuamente, forma uma verdadeira rede de comunicação subterrânea.

Há indícios de que indivíduos mais velhos, chamados de árvores-mães, se utilizem dessa rede, fornecendo, além de açúcares às mudas jovens, sua sombra e proteção contra pragas e outras ameaças e, assim, aumentar suas chances de sobrevivência, perpetuando a floresta.

E as que estão em vias de falecer, generosamente, despejam seus últimos nutrientes nessa imensa rede, intuitivamente, garantindo que não haja “desperdícios”, pois as jovens mudas farão bom uso desse subsídio para se fortalecerem e se desenvolverem. É como se os mais “idosos” desejassem passar seu “conhecimento” e “sabedoria” aos que estão ao redor – mais jovens e saudáveis – para que “aprendam” com sua experiência.

Porém, não se trata de uma rede de benefícios somente. Há espécies de plantas como algumas orquídeas que se especializaram em “roubar” nutrientes de árvores próximas; ou ainda a nogueira-preta que espalham toxinas com o intuito de “sabotar” espécies rivais, podendo causar até a morte destas.

Fungos, agentes mensageiros

Rede micorriza é o nome do aglomerado de fungos que interage sob a terra e permite que sejam trocados nutrientes de uma planta a outra. As “mensagens” carregadas por essa rede além de permitir a troca de substratos, “informa” os demais sobre as ocorrências na região, como a morte de uma planta, o ataque de pragas ou até a iminente mudança climática. Os fungos, agem ainda como uma linha de defesa. Caso as plantas “hospedeiras” sejam atacadas, os fungos liberam sinais químicos para alertar as espécies vizinhas de modo que consigam ampliar suas defesas.

Cerca de 90% das plantas possuem boas relações com os fungos. Uma silenciosa relação harmoniosa e fundamental se desenvolve entre plantas e fungos, um não sobreviveria sem o outro. Nas florestas mais densas é possível observar uma fina teia que espalha no solo cobrindo todo o chão da floresta. Este é o micélio vegetativo que é a parte correspondente à sustentação e absorção de nutrientes.

Imagem de DebWatson por Pixabay

E é essa fina teia de micélio que possibiliza a formação da micorriza que conecta os fungos às raízes das plantas no subsolo. Um dos componentes fundamentais do micélio é a hifa, filamentos de células dos fungos. A cientista e professora de Ecologia Florestal da Universidade da Colúmbia Britânica, Suzanne Simard vem, desde 1997, testando teorias de como as árvores se comunicam entre si. Utilizando carbono radioativo, ela mede o fluxo e o compartilhamento desse elemento químico entre as árvores. Não é exagero dizer que se trata de uma via superrápida para tráfego de dados, que coloca em contato uma grande população de indivíduos diversos e dispersos. A cientista também acredita que as plantas parecem funcionar no sentido oposto ao observado por Darwin, em relação à competição por recursos entre as espécies animais. Segundo ela, muitas espécies de plantas utilizam a rede para trocar nutrientes e se autopreservarem, garantindo a sobrevivência.

Outro especialista, o micologista[i] estadunidense, Paul Stamets, afirma que essa rede de fungos é uma “internet natural” do planeta Terra. Segundo ele é ela que coloca cada planta do mundo conectada, mesmo as que se encontram muito distantes entre si. Um paralelo traçado por ele é o filme Avatar de 2009, cujo cenário mostra como vários organismos obtém comunicação eficaz e compartilhamento de recursos por meio de uma ligação simbiótica produzida por eletroquímica passando pelas intrincadas cadeias de raízes das plantas.

Fontes:

http://www.bioblog.com.br/a-comunicacao-das-plantas-uma-internet-em-baixo-da-terra/

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141128_vert_earth_internet_natural_dg


[i] Micologia (também denominada micetologia) é um ramo da biologia dedicado ao estudo dos fungos, que são organismos heterotróficos de variadas dimensões. Possuem tamanhos consideráveis como os cogumelos e também tamanhos microscópicos como as leveduras e bolores.

Manacapuru recebe plantio do Memorial Vida

Município com o terceiro maior PIB do Estado promove evento ambiental com participação do Instituto Soka Amazônia

Manacapuru é um município amazonense situado na Região Metropolitana da capital Manaus. No último dia 28, integrando a programação de três dias do evento de Educação Ambiental promovido pelo município, o Instituto Soka Amazônia realizou o plantio de 100 árvores dentro do projeto Memorial Vida.

O objetivo do evento é a conscientização da população em geral. Durante o verão amazônico, aumentam consideravelmente os incêndios florestais – em geral, ocorrem por ação humana.

Ao longo de seis quilômetros, a equipe do Instituto plantou uma centena de espécies em conjunto com a população e convidados da municipalidade. O projeto Memorial Vida visa homenagear as vítimas brasileiras da Covid-19 com o plantio de árvores amazônicas. Uma forma de celebrar a vida!

Manacapuru recebe plantio do Memorial Vida

Município com o terceiro maior PIB do Estado promove evento ambiental com participação do Instituto Soka Amazônia

Manacapuru é um município amazonense situado na Região Metropolitana da capital Manaus. No último dia 28, integrando a programação de três dias do evento de Educação Ambiental promovido pelo município, o Instituto Soka Amazônia realizou o plantio de 100 árvores dentro do projeto Memorial Vida.

O objetivo do evento é a conscientização da população em geral. Durante o verão amazônico, aumentam consideravelmente os incêndios florestais – em geral, ocorrem por ação humana.

Ao longo de seis quilômetros, a equipe do Instituto plantou uma centena de espécies em conjunto com a população e convidados da municipalidade. O projeto Memorial Vida visa homenagear as vítimas brasileiras da Covid-19 com o plantio de árvores amazônicas. Uma forma de celebrar a vida!

Testemunho de quem respira a floresta

Raimundo Costa da Silva é um verdadeiro homem da terra. Aos 64 anos possui o sorriso largo e fácil de quem compreende os anseios da natureza

O caboclo amazonense é antes de tudo um forte. Vive em verdadeira simbiose com o meio ambiente, retirando dele praticamente tudo o que precisa para sua sobrevivência. Ao longo dos séculos, desenvolveu toda uma cultura, aparentemente simples, mas que na verdade tem uma complexidade ímpar, tema de inúmeros artigos e teses acadêmicas. A prova viva desse personagem impressionante é Raimundo Costa da Silva.

Sr. Raimundo Costa da Silva

Nascido às margens do rio Xeruã, no extremo oeste do estado do Amazonas, divisa com o Acre, é um dos filhos do meio de uma prole de 8. Aos 10 anos, devido à aridez da vida naquela região, sua família decidiu migrar rumo às cercanias da capital, Manaus. “A vida era muito dura lá e alguém disse que a gente devia vir pra cá pois tinha mais condições”, contou. A aventura foi duríssima. Raimundo ilustrou a dificuldade: “Viemos a remo. Foram 6 meses num batelão [embarcação de fundo chato, própria para trafegar próximo às margens rasas de rios, lagos ou lagoas]. Foi muito difícil”. Partiram de Xeruã 10 pessoas ao todo: os pais e os oito filhos.

Em Puraquequara[i] há 54 anos, Raimundo sorri quando perguntado sobre o que representa seu pedaço de terra: “eu vou ficar aqui o resto da minha vida! E vou viver muito ainda”. Aprendeu na lida do dia a dia o trabalho na terra. No início, na roça de mandioca. “É bom porque pra gente comer a farinha, desflorestava muito, sabe? Eu sempre fui criado no mato e sempre me senti uma parte da natureza e não achava bom derrubar a mata pra fazer roçado”, explicou.

Nos seus três hectares de terra, hoje ele lida com uma horta de diversas culturas: banana, melancia, maxixe, hortaliças e muito mais. Mas sempre manteve acesa a ideia de reflorestar, ou devolver à floresta o que derrubou. E começou a colher sementes e estocá-las.

“Pensei assim: se alguém pudesse abrir uma porta pra eu reflorestar isso aqui era isso que eu queria fazer”. Decidiu falar com Edison Akira [diretor presidente do Instituto Soka Amazônia]. “E ele topou na hora!”, conta animado. Em poucos anos, ele e o Instituto já reflorestaram um bom pedaço e se depender de Raimundo, irão plantar ainda muito mais. E está gostando muito de ser o agente regenerador da floresta.

Hoje, no seu pedaço de terra vive uma pequena comunidade: as famílias de seus 6 filhos que inclui uma penca de curumins (crianças). “Caboclo não para nunca de trabalhar, o que a gente não para nunca de fazer é curumim!”, fez questão de ressaltar o caboclo Raimundo, orgulhoso de sua prole e da molecada que corre e brinca solta o dia todo, respirando o melhor ar possível do planeta.

Tem uma vitalidade invejável. Às 4 horas da manhã já está de pé. Prepara seu café, vai para o terreiro, prepara a alimentação das galinhas. A essas alturas já está amanhecendo e ele segue rumo à horta. Tem de levar a água na mão, pois o bombeamento não chega até ali. Faz a pausa necessária para o almoço, descansa meia hora e já vai pra lida de novo. A produção da horta, que vende na cidade e para os vizinhos é o que mantém sua pequena renda. A proteína animal das refeições obtém da pesca e da caça. “A gente só retira o suficiente para consumo da família”, explica uma das regras de ouro da cultura cabocla.

Seu maior orgulho: a família. Em sua sabedoria singular, Raimundo sabe que está povoando aquele pedaço da floresta com indivíduos igualmente sábios, que vão manter seu legado intacto e a terra preservada. Embora a pandemia tenha afetado a renda da família, não reclama. Sabe que é parte de um processo planetário e emenda dizendo que “ninguém adoeceu ou passou necessidade”.

Embora não tenha estudo formal, “só sei assinar meu nome”, o conhecimento ancestral herdado dos pais é passado aos demais membros de sua pequena comunidade: é preciso proteger a floresta para que todos possam continuar a usufruir dela no futuro.


[i] Puraquequara é um bairro do município brasileiro de Manaus, capital do estado do Amazonas. Localiza-se na Zona Leste da cidade. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sua população era de 5 856 habitantes em 2010. Está distante cerca de 27 km do centro da capital, cujo acesso é feito exclusivamente por via fluvial.

Testemunho de quem respira a floresta

Raimundo Costa da Silva é um verdadeiro homem da terra. Aos 64 anos possui o sorriso largo e fácil de quem compreende os anseios da natureza

O caboclo amazonense é antes de tudo um forte. Vive em verdadeira simbiose com o meio ambiente, retirando dele praticamente tudo o que precisa para sua sobrevivência. Ao longo dos séculos, desenvolveu toda uma cultura, aparentemente simples, mas que na verdade tem uma complexidade ímpar, tema de inúmeros artigos e teses acadêmicas. A prova viva desse personagem impressionante é Raimundo Costa da Silva.

Sr. Raimundo Costa da Silva

Nascido às margens do rio Xeruã, no extremo oeste do estado do Amazonas, divisa com o Acre, é um dos filhos do meio de uma prole de 8. Aos 10 anos, devido à aridez da vida naquela região, sua família decidiu migrar rumo às cercanias da capital, Manaus. “A vida era muito dura lá e alguém disse que a gente devia vir pra cá pois tinha mais condições”, contou. A aventura foi duríssima. Raimundo ilustrou a dificuldade: “Viemos a remo. Foram 6 meses num batelão [embarcação de fundo chato, própria para trafegar próximo às margens rasas de rios, lagos ou lagoas]. Foi muito difícil”. Partiram de Xeruã 10 pessoas ao todo: os pais e os oito filhos.

Em Puraquequara[i] há 54 anos, Raimundo sorri quando perguntado sobre o que representa seu pedaço de terra: “eu vou ficar aqui o resto da minha vida! E vou viver muito ainda”. Aprendeu na lida do dia a dia o trabalho na terra. No início, na roça de mandioca. “É bom porque pra gente comer a farinha, desflorestava muito, sabe? Eu sempre fui criado no mato e sempre me senti uma parte da natureza e não achava bom derrubar a mata pra fazer roçado”, explicou.

Nos seus três hectares de terra, hoje ele lida com uma horta de diversas culturas: banana, melancia, maxixe, hortaliças e muito mais. Mas sempre manteve acesa a ideia de reflorestar, ou devolver à floresta o que derrubou. E começou a colher sementes e estocá-las.

“Pensei assim: se alguém pudesse abrir uma porta pra eu reflorestar isso aqui era isso que eu queria fazer”. Decidiu falar com Edison Akira [diretor presidente do Instituto Soka Amazônia]. “E ele topou na hora!”, conta animado. Em poucos anos, ele e o Instituto já reflorestaram um bom pedaço e se depender de Raimundo, irão plantar ainda muito mais. E está gostando muito de ser o agente regenerador da floresta.

Hoje, no seu pedaço de terra vive uma pequena comunidade: as famílias de seus 6 filhos que inclui uma penca de curumins (crianças). “Caboclo não para nunca de trabalhar, o que a gente não para nunca de fazer é curumim!”, fez questão de ressaltar o caboclo Raimundo, orgulhoso de sua prole e da molecada que corre e brinca solta o dia todo, respirando o melhor ar possível do planeta.

Tem uma vitalidade invejável. Às 4 horas da manhã já está de pé. Prepara seu café, vai para o terreiro, prepara a alimentação das galinhas. A essas alturas já está amanhecendo e ele segue rumo à horta. Tem de levar a água na mão, pois o bombeamento não chega até ali. Faz a pausa necessária para o almoço, descansa meia hora e já vai pra lida de novo. A produção da horta, que vende na cidade e para os vizinhos é o que mantém sua pequena renda. A proteína animal das refeições obtém da pesca e da caça. “A gente só retira o suficiente para consumo da família”, explica uma das regras de ouro da cultura cabocla.

Seu maior orgulho: a família. Em sua sabedoria singular, Raimundo sabe que está povoando aquele pedaço da floresta com indivíduos igualmente sábios, que vão manter seu legado intacto e a terra preservada. Embora a pandemia tenha afetado a renda da família, não reclama. Sabe que é parte de um processo planetário e emenda dizendo que “ninguém adoeceu ou passou necessidade”.

Embora não tenha estudo formal, “só sei assinar meu nome”, o conhecimento ancestral herdado dos pais é passado aos demais membros de sua pequena comunidade: é preciso proteger a floresta para que todos possam continuar a usufruir dela no futuro.


[i] Puraquequara é um bairro do município brasileiro de Manaus, capital do estado do Amazonas. Localiza-se na Zona Leste da cidade. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sua população era de 5 856 habitantes em 2010. Está distante cerca de 27 km do centro da capital, cujo acesso é feito exclusivamente por via fluvial.

Nossa biodiversidade : Camu camu, muitas vezes mais vitamina C

Essa árvore é uma prova viva de que a floresta tem ainda muito o que oferecer à humanidade e a cada exemplar abatido é uma perda irreparável para o meio ambiente

Ela ocorre em muitas áreas da Amazônia em sua forma silvestre, mas devido suas propriedades medicinais, no Brasil vem sendo cultivada principalmente no Pará, em algumas fazendas de São Paulo, nos municípios de Mirandópolis e Iguape. Ainda pouco conhecido no Brasil, o destino da produção são os grandes apreciadores do fruto no exterior, como: Japão, EUA e a União Europeia. Atualmente, o Peru é o grande produtor e exportador do camu camu.

Porém, a América Tropical, o Brasil possui a maior diversidade de espécies do gênero Myrtaceae. A planta é encontrada abundante nos estados do Amapá, Marachão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantis. O primeiro registro data de 1902, quando da expedição do botânico austro-húngaro, Adolfo Ducke, à Amazônia.

Conhecida também por outros nomes – caçari, araçá-d’água, araçá-de-igapó, sarão, azedinha – o camucamuzeiro é um arbusto ou pequena árvore, podendo atingir de 3m a 6m de altura, pertencente à família Myrtaceae, ainda não totalmente domesticada e se dispersa em praticamente toda a região Amazônia. Embora seja um fruto de alto valor nutritivo os povos da floresta parecem não apreciá-lo como alimento, preferindo utilizá-lo como isca para pesca ou, eventualmente, como tira-gosto. O peixe, por sua vez, alimenta-se do camu camu e é o principal dispersor das sementes. A polinização é feita principalmente por abelhas, embora o vento também contrinua significamente no processo. As flores exalam um aroma doce e agradável, devido isso o néctar é bastante apreciado pelas abelhas nativas (Melipona fuscopilara e Trigona portica).

Sua preferência são as margens de rios e lagos, os exemplares silvestres chegam a permanecer por 4 a 5 meses submersos durante os períodos de cheia. O camu camu amadurece entre novembro e março e praticamente ao longo de todo o ano a árvore brinda os olhos com suas flores, principalmente entre abril e junho.

São largamente conhecidos os benefícios da vitamina C para o bom funcionamento do sistema imunológico do organismo. Além disse é um importante antioxidante, que participa em várias reações metabólicas no organismo, como o metabolismo de ácido fólico, fenilalanina, tirosina, ferro, histamina, metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e carnitina. Esta vitamina é também muito importante na síntese de colágeno, razão pela qual está muitas vezes presente nos suplementos de colágeno. O colágeno é essencial para a manutenção da pele, mucosas, ossos, dentes e preservação da integridade dos vasos sanguíneos.

Desde de 1980, o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, vem estudando o camucamuzeiro figurando em sua lista de prioridades, por considerá-la de grande potencial nutritivo, entre os frutos nativos da região. O objetivo é oferecer formas alternativas de melhorar a dieta da população local, mas também a geração de divisas. Para se ter uma ideia mais clara de seu potencial nutritivo, a concentração de vitamina C do camu camu é aproximadamente 13 vezes maior que aquela encontrada no caju, 20 vezes maior que na acerola, 100 vezes maior que no limão, podendo conter 5 g da vitamina em cada 100 g de polpa.

By Agroforum Perú – http://www.agroforum.pe/agro-noticias/attachments/11564d1471060316-camu-camu-peru-vitamina-c.jpg/, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=54372736

E mais: na comparação com a laranja, o camu camu contém 10 vezes mais ferro e 50% mais fósforo. Devido o elevado teor de ácido ascórbico é considerado um poderoso antioxidante e coadjuvante na eliminação de radicais livres, proporcionando retardamento no envelhecimento. Ou seja: são muitas as razões para estudar, cultivar e promover seu consumo.

Desafios

Por todos os motivos acima listados, os pesquisadores concordam que se trata de uma espécie de imenso potencial para exploração comercial. Os desafios a serem vencidos tem a ver com a falta de variedades ou clones indicados para condição de cultivo em área de terra firme.

Nesse sentido, a Embrapa da Amazônia Oriental vem se debruçando sobre a questão do melhoramento genético da espécie desde 2008, promovendo a seleção de genótipos para o caráter de produção de frutos no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Camucamuzeiro. Foi assim que os melhores materiais obtidos foram clonados e estão em fase de avaliação em área de terra firme.

A partir de plantas sadias e de alta produção com frutos de tamanho apropriado, faz-se a coleta das sementes. A extração dos frutos é feito por meio da coleta de frutos com o mesmo estágio de maturação que deve garantir uma maior uniformidade no processo de germinação.

O camucamuzeiro começa a produzir após 3 anos de seu posicionamento em campo. Os frutos têm formato globoso arredondado, com diâmetro de 10mm a 32 mm, de coloração vermelha ou rósea e roxo escuro no estágio final de maturação e pesa cerca de 8g. De elevada acidez, dificilmente são consumidos in natura, sendo bastante apreciados em preparações, como refrescos, sorvetes, geleias, doces, licores, ou para conferir sabor a tortas e sobremesas. É, portanto, mais uma das espécies amazônicas potencialmente das mais viáveis economicamente por contribuir significativamente para o bem estar e a saúde humana.

Fontes:

http://portal.inpa.gov.br/cpca/areas/camu-camu.html?#:~:text=O%20camu%2Dcamu%2C%20ca%C3%A7ari%2C,lagos%2C%20geralmente%20de%20%C3%A1gua%20preta

https://www.todafruta.com.br/camu-camu/  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/175155/1/COLECAO-PLANTAR-A-cultura-do-camu-camu-2012.pdf