Instituto Soka Amazônia informa como ajudar o povo Yanomami

Acompanhando a intensa cobertura jornalística sobre a tragédia humanitária e emergência de saúde pública na Terra Indígena Yanomami, o Instituto Soka Amazônia expressa solidariedade e desejo de que toda ajuda humanitária necessária chegue a esse território e que mais ações sejam empreendidas para real e perene proteção dos povos originários da Amazônia.

O Instituto é defensor do valor de Justiça Ecológica e, inspirado na visão humanística do seu fundador o pacifista, Dr. Daisaku Ikeda, enstá comprometido com proteção da integridade ecológica da Amazônia, atuando nas frentes de educação ambiental, proteção da natureza e pesquisas científicas. Entre suas ações realiza parcerias e apoio a comunidades indígenas circunscritas, por enquanto, à região de Manaus, embora tenha a consciência da proporção gigantesca do território amazônico*, que se estende por vários estados brasileiros.

Atendendo a solicitação de alguns doadores e parceiros, o Instituto esclarece que não está em operação no território Yanomami, que fica localizado em uma região remota no oeste do estado de Roraima.

Informamos aos interessados em realizar doações ou outras ações de apoio ao povo Yanomami os seguintes canais:

Como ajudar

Associações de apoio aos Yanomami em solo

Associações que trabalham in loco em Roraima, ajudando com o envio de alimentos e também com ferramentas para a criação de roças locais:

  • Hutukara Associação Yanomami – Pix via CNPJ: 07.615.695/0001-65
  • Associação Ypasali Sanuma – Banco do Brasil – Ag.: 0250 – c/c: 125.892-3
    Pix via CNPJ: 34.141.441/0001-25
  • Urihi Associação Yanomami – Banco do Brasil – Ag.: 2617-4 – c/c: 59027-4
    Pix: conselhodaf@gmail.com   | Pix via CNPJ: 34.807.578/0001-76
  • Conselho Indígena de Roraima também criou campanha para ajudar na compra de alimentos e remédios. Mais informações, pelo site: http://cir.org.br

VOLUNTÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE

  • Força Nacional do SUS cadastra voluntários médicos, enfermeiros e nutricionistas que queiram apoiar voluntariamente. Para reforçar as equipes no território Yanomami, os voluntários prestarão atendimento direto aos pacientes localizados na Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami e no hospital de campanha do Exército. Os interessados devem se inscrever no site oficial, clique aqui
  • Associação Médicos da Floresta: presta assistência junto a comunidades indígenas e tem operação no Território Yanomani. Saiba mais no site da Associação
  • Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade: divulga informações sobre chamada de médicos voluntários. Mais informações, acesse o site.

OUTRAS FORMAS DE AJUDAR:

  • Ação da Cidadania: campanha dedicada a levar alimento para a população da região, em coordenação com o Ministério do Desenvolvimento Social, Funai e entidades locais. Acesse o site da campanha.
  • Central Única das Favelas (CUFA): recebe doação de alimentos não perecíveis e doações em dinheiro. Os alimentos serão transportados até Roraima com apoio logístico da Favela Log, e as ações de separação e distribuição podem ser acompanhadas na página da Cufa no Twitter.
  • Editora Companhia das Letras está doando todo o lucro obtido com a venda do livro “O espírito da floresta”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, para o fundo emergencial de apoio aos Yanomami. A Campanha é valida até 15/02.   Para adquirir o livro, acesse aqui.

* SAIBA MAIS SOBRE A AMAZÔNIA:

Unidos na ciência contra a mudança climática

Mudanças climáticas Amazonas

Autor: Diego Oliveira Brandão[1]

Unidos na Ciência (título original: United in Science 2022) é uma síntese científica relacionada às mudanças climáticas, impactos e respostas. O relatório foi produzido por várias organizações científicas com atuação global, sendo publicado em 13/09/2022. Os tópicos do relatório abordaram gases de efeito estufa (GEE), clima atual, clima futuro, impactos e adaptação. A mensagem principal de cada tópico foi traduzida livremente e interpretada em um contexto da Amazônia, sendo apresentada abaixo.

O relatório mostrou que as concentrações atmosféricas de GEE continuam a aumentar. Houve uma queda em 2020 e 2021. Isso aconteceu devido aos efeitos da pandemia de COVID-19. No entanto, as emissões de GEE agora estão tão altas quanto o período pré-pandemia.

A temperatura atmosférica sobre o solo e oceano tem sido crescente. Foi estimada uma média probabilidade de que, entre 2022 e 2026, a temperatura média anual seja temporariamente 1,5°C mais alta do que em 1850-1900.

Bilhões de pessoas em todo o mundo estão expostas aos impactos das mudanças climáticas. Os impactos socioeconômicos serão crescentes. As populações mais vulneráveis sofrerão mais, como as comunidades tradicionais (andirobeiras, extrativistas, indígenas, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas e ribeirinhas) e agricultores familiares da Amazônia que dependem das plantas nativas para subsistência. Vulnerabilidade é o grau de suscetibilidade e incapacidade dos sistemas humanos e naturais de lidar com os efeitos negativos da mudança do clima.

Comunidades tradicionais e agricultores familiares da Amazônia estão altamente ameaçados pela mudança climática. Crédito da imagem: Diego Oliveira Brandão, arquivo pessoal

A adaptação é crucial para reduzir os riscos aos impactos climáticos. Medidas de adaptação são iniciativas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima.

As evidências científicas alertam que são necessárias medidas aprimoradas para evitar o aquecimento contínuo do sistema terrestre. Isso é essencial para reduzir a probabilidade de mudanças irreversíveis no sistema climático. O relatório destacou que os sistemas de alerta precoce podem salvar vidas, reduzir perdas e danos, contribuir para a redução do risco de desastres e apoiar a adaptação às mudanças climáticas.

Referências:

  • United in Science 2022: A multi-organization high-level compilation of the most recent science related to climate change, impacts and responses. Disponível em: https://public.wmo.int/en/resources/united_in_science. Acesso em: 14/09/2022.
  • Política Nacional sobre Mudança do Clima. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 14/09/2022.
  • Brandão, D. O. Mudanças climáticas e seus impactos sobre os produtos florestais não madeireiros na Amazônia. In: SIMPÓSIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SISTEMA TERRESTRE, 10. (SPGCST), 2021, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Anais… São José dos Campos: INPE, 2021. On-line. ISBN 978-65-00-33306-0. IBI: < 8JMKD3MGPDW34P/45U3UDP >. Disponível em: < http://urlib.net/ibi/8JMKD3MGPDW34P/45U3UDP  >.
  • Brandão, D. O.; Barata, L.E.S.; Nobre, C. A. The effects of environmental changes on plant species and forest dependent communities in the Amazon region. Forests, v.13, n.3, p. 466, 2022. Disponível em: < https://www.mdpi.com/1999-4907/13/3/466  >
  • Imagens do arquivo pessoal de Diego Oliveira Brandão.

Artigos relacionados:


[1] Biólogo CRBIO 116152

Contato: diegobrandao779@gmail.com

Descoberta “agridoce”: novos peixes da Amazônia descritos por brasileiros já estão ameaçados de extinção

Peixes fazem parte de subfamília que teve a última espécie identificada em 1965. Descoberta só foi possível porque a região já vem sendo explorada

Autora: Bianca Camatta Arte: Ana Júlia Maciel

Artigo publicado originalmente em 17/05/2022

Não é usual a publicação neste blog, de artigos de terceiros. Neste caso abrimos uma exceção, seja pela qualidade do texto, o valor do artigo em si e sobretudo pelo alerta que traz a respeito de um fato importante sobre a Amazônia, região que é foco de muita atenção em todo o mundo e o centro das atividades que o Instituto Soka Amazônia aqui desenvolve continuamente

Duas espécies de peixes encontradas por pesquisadores brasileiros na Amazônia, a Poecilocharax callipterus e a Poecilocharax rhizophilus, acabam de ser descritas – e já “nascem” em perigo de extinção. 

Ambas as espécies foram encontradas próximas ao município de Apuí, na Amazônia. “A gente foi a campo com o objetivo de amostrar esses peixes ao longo da América do Sul, voltar em pontos e localidades de peixes da ordem Characiformes (pacus, piranhas, piaus, lambaris, e etc.) que considerávamos raros em coleções científicas, e também mostrar lugares novos”, conta ao Jornal da USP, Murilo Pastana, doutor pela USP e atualmente pós-doutorando pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington, nos Estados Unidos.

Murilo Pastana – Foto: Arquivo Pessoal

“Durante a descoberta, em 2016, nós detectamos que a região estava sofrendo muito com o impacto ambiental. Esse fato só se agravou nos anos seguintes e, enquanto enviávamos nosso estudo para publicação, o boletim do desmatamento da Amazônia Legal de abril de 2021 classificou a região como o segundo município com maior perda de cobertura vegetal. Por conta disso, sugerimos a classificação das duas espécies como em perigo de extinção, sendo que uma delas já indicamos como ”criticamente ameaçada’, por existir em apenas um riacho da região”, explica Pastana.

Além de Murilo Pastana, o artigo publicado no dia 16 de maio no periódico Zoological Journal of the Linnean Society tem como autores Willian Ohara, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), e Patrícia Camelier, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O trabalho começou entre 2015 e 2016, quando os três eram doutorandos do Museu de Zoologia (MZ) da USP.

Os dois lados da descoberta

Os pesquisadores fizeram um trajeto de Rondônia até o estado do Pará, atravessando o sul do estado do Amazonas, região da Amazônia antes intransitável. “A ideia era chegar aonde os pesquisadores ainda não chegaram, e teríamos chances de encontrar possíveis espécies novas”, conta Murilo Pastana. 

O pesquisador diz que foi preciso ter alimentos e equipamentos para um período de cerca de duas semanas em campo. Lá, eles utilizavam principalmente redes para conseguir identificar as espécies. “Dependendo do tipo de ambiente, uma rede diferente é usada, por exemplo, a rede de arrasto, que você abre com duas pessoas e vai arrastando em direção à margem do rio”, pontua.

O equipamento utilizado depende da região analisada, se é um riacho, uma cachoeira ou um rio, por exemplo. Porém, Pastana esclarece que todos os métodos que cabiam em um determinado ambiente eram utilizados, como forma de padronização.

Murilo Pastana (centro) e Willian Ohara (direita), coletando espécies próximos à margem de um rio após pescar com rede de cerco perto de Apuí – Foto: Murilo N.L. Pastana e Willian M. Ohara

No entanto, apesar da descoberta das espécies, que fazem parte da subfamília Crenuchinae ser a primeira desde 1965, na visão de Pastana, ela carrega consigo um sabor agridoce.

 “Ao mesmo tempo em que podemos descobrir novas espécies tão espetaculares, isso só está acontecendo porque aquela região está sob intensa exploração: as estradas que usamos foram abertas provavelmente por madeireiros, garimpeiros e grileiros.”

Mais de uma vez, a gente estava coletando dentro de parque nacional, dentro de floresta nacional e olhávamos para o lado e tinha gado”, complementa. 

Fazenda de gado perto do município de Apuí. Esses animais foram criados em áreas recentemente desmatadas – Foto: Murilo N.L. Pastana e Willian M. Ohara

As espécies como expressão artística

As novas espécies descobertas, que fazem parte da mesma subfamília, foram identificadas por características que a destacam de outras já conhecidas. Poecilocharax callipterus foi identificada por meio de sua mancha escura na cauda e nadadeiras alaranjadas. Essa espécie foi sugerida pelos pesquisadores como ameaçada, aproximando-se do critério de criticamente ameaçada de extinção, por existir em apenas um riacho da região.

Imagem da Poecilocharax callipterus. Em cima vemos o macho e embaixo a fêmea – Foto: Murilo N.L. Pastana e Willian M. Ohara

Pastana complementa explicando a diferença entre o macho e a fêmea. O primeiro é mais avermelhado que a segunda, tem uma coloração mais escura e tem nadadeiras dorsais e anais mais alongadas. 

Já na Poecilocharax rhizophilus, a característica que se destacou foi o seu tamanho, que a fez ser considerada uma miniatura. “Quando a vimos, achamos que poderia ser juvenil, mas, quando olhamos na lupa, vimos que eles já tinham maturidade sexual”, conta Pastana. Ele ainda esclarece que, quando um peixe tem a medida máxima de 2,6 cm e já tem maturidade sexual, a espécie é considerada uma miniatura.

A Poecilocharax rhizophilus tem apenas 2 cm de comprimento – Foto: Murilo N.L. Pastana e Willian M. Ohara

A importância desses novos peixes para o ambiente em que vivem ainda não pode ser medida apenas com esse estudo, mas Pastana lembra que qualquer espécie que some em uma região causa um desequilíbrio ecológico. 

Já para a área de estudo de Pastana, a descoberta dessas espécies pode contribuir para a compreensão da evolução dos peixes e também a evolução dos rios. “Tem pessoas que casam dados geológicos e hidrológicos com a distribuição de peixes, para entender a conexão entre os rios ao longo do tempo”, exemplifica. 

O pesquisador também comenta que, como as obras de arte, cada espécie de peixe é insubstituível

“Como você se sentiria se eu fosse num museu de arte, pegasse um quadro e rasgasse na sua frente? É assim que eu me sinto quando um peixinho é extinto, porque aquilo para mim é uma expressão quase que artística da morfologia, da genética e é insubstituível, como qualquer obra”, lamenta ele.

Artigo original originalmente em 17/05/202 Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/descoberta-agridoce-novos-peixes-da-amazonia-descritos-por-brasileiros-ja-estao-ameacados-de-extincao/