Unidos na ciência contra a mudança climática

Mudanças climáticas Amazonas

Autor: Diego Oliveira Brandão[1]

Unidos na Ciência (título original: United in Science 2022) é uma síntese científica relacionada às mudanças climáticas, impactos e respostas. O relatório foi produzido por várias organizações científicas com atuação global, sendo publicado em 13/09/2022. Os tópicos do relatório abordaram gases de efeito estufa (GEE), clima atual, clima futuro, impactos e adaptação. A mensagem principal de cada tópico foi traduzida livremente e interpretada em um contexto da Amazônia, sendo apresentada abaixo.

O relatório mostrou que as concentrações atmosféricas de GEE continuam a aumentar. Houve uma queda em 2020 e 2021. Isso aconteceu devido aos efeitos da pandemia de COVID-19. No entanto, as emissões de GEE agora estão tão altas quanto o período pré-pandemia.

A temperatura atmosférica sobre o solo e oceano tem sido crescente. Foi estimada uma média probabilidade de que, entre 2022 e 2026, a temperatura média anual seja temporariamente 1,5°C mais alta do que em 1850-1900.

Bilhões de pessoas em todo o mundo estão expostas aos impactos das mudanças climáticas. Os impactos socioeconômicos serão crescentes. As populações mais vulneráveis sofrerão mais, como as comunidades tradicionais (andirobeiras, extrativistas, indígenas, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas e ribeirinhas) e agricultores familiares da Amazônia que dependem das plantas nativas para subsistência. Vulnerabilidade é o grau de suscetibilidade e incapacidade dos sistemas humanos e naturais de lidar com os efeitos negativos da mudança do clima.

Comunidades tradicionais e agricultores familiares da Amazônia estão altamente ameaçados pela mudança climática. Crédito da imagem: Diego Oliveira Brandão, arquivo pessoal

A adaptação é crucial para reduzir os riscos aos impactos climáticos. Medidas de adaptação são iniciativas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima.

As evidências científicas alertam que são necessárias medidas aprimoradas para evitar o aquecimento contínuo do sistema terrestre. Isso é essencial para reduzir a probabilidade de mudanças irreversíveis no sistema climático. O relatório destacou que os sistemas de alerta precoce podem salvar vidas, reduzir perdas e danos, contribuir para a redução do risco de desastres e apoiar a adaptação às mudanças climáticas.

Referências:

  • United in Science 2022: A multi-organization high-level compilation of the most recent science related to climate change, impacts and responses. Disponível em: https://public.wmo.int/en/resources/united_in_science. Acesso em: 14/09/2022.
  • Política Nacional sobre Mudança do Clima. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 14/09/2022.
  • Brandão, D. O. Mudanças climáticas e seus impactos sobre os produtos florestais não madeireiros na Amazônia. In: SIMPÓSIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SISTEMA TERRESTRE, 10. (SPGCST), 2021, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Anais… São José dos Campos: INPE, 2021. On-line. ISBN 978-65-00-33306-0. IBI: < 8JMKD3MGPDW34P/45U3UDP >. Disponível em: < http://urlib.net/ibi/8JMKD3MGPDW34P/45U3UDP  >.
  • Brandão, D. O.; Barata, L.E.S.; Nobre, C. A. The effects of environmental changes on plant species and forest dependent communities in the Amazon region. Forests, v.13, n.3, p. 466, 2022. Disponível em: < https://www.mdpi.com/1999-4907/13/3/466  >
  • Imagens do arquivo pessoal de Diego Oliveira Brandão.

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[1] Biólogo CRBIO 116152

Contato: diegobrandao779@gmail.com

Instituto Soka Amazônia e Instituto Aprender Vivo promovem seminário

O evento tem como objetivo desenvolver a consciência crítica acerca dos principais problemas enfrentados hoje pela floresta amazônica
prof. dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi

Denominado Amazônia: regulador do clima global e a dimensão humana da floresta o evento é uma iniciativa do Instituto Aprender Vivo, com o apoio do Instituto Soka Amazônia e outros importantes agentes que atuam na preservação ambiental como forma de regular o clima do planeta. Para falar sobre a sua área de pesquisa e também a respeito do conteúdo de sua palestra, foi convidada a renomada pesquisadora, prof. dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi[i], que gentilmente concedeu uma breve entrevista à nossa equipe de reportagem.

A pesquisadora iniciou explicando sobre a Psicologia Ambiental (PA), uma área de estudo que se ocupa em compreender o comportamento humano na relação com o ambiente, seja natural ou artificialmente construído. “Nesse sentido, a PA entende que o modo como a gente se relaciona com as coisas, os animais e todos os elementos do ambiente é uma dimensão do tipo de pessoa que cada um é. Podemos dizer então, que o nosso comportamento ocorre em três níveis – do ser humano consigo mesmo, dos seres humanos entre si, e do ser humano com seu entorno. Nesse sentido, o ambiente é parte de nós mesmos”, explicou. Ela enfatiza que os seres humanos vivem num ambiente que influencia e modifica. Da mesma forma, este mesmo ambiente nos modifica e influencia de volta. Há uma interação cíclica.

Interações paradoxais

Ela cita exemplos muito interessantes: o que leva uma pessoa a ser muito cuidadosa na limpeza de sua casa e nem tanto com a rua em frente à sua casa? Por que certas pessoas são preocupadas com a proteção dos animais e outras não? O que leva uma pessoa que mesmo sabendo que certas práticas são prejudiciais ao meio ambiente, continua fazendo? Perguntas como essa nos leva a refletir sobre nós mesmos.

“Então, a Psicologia Ambiental tenta desvendar esses aspectos psicossociais que motivam nosso comportamento, para assim poder subsidiar intervenções eficazes e eficientes na educação, nas políticas públicas e governança”, refletiu. 

A dimensão humana

Perguntamos sobre o tema do evento e o que a dimensão humana representa para uma floresta tão impressionantemente gigante como a Amazônia e quais os desdobramentos que esse ingrediente humano pode tomar num futuro próximo. A pesquisadora do INPA ressaltou que essa questão passa necessariamente pelo significado que damos à natureza. “O que ela significa para nós? Que valores temos em relação à floresta e tudo o que ela abriga? Que atitudes e práticas nós temos em relação a floresta? Somos capazes de aceitar que esse ambiente natural possa fazer parte de nossa identidade? Como nos posicionamos nos debates que mostram as ameaças que a floresta vem sendo acometida? Que condutas de afinidade podemos formar para protegê-la?”, questionou.

“O que eu sei sobre sua dinâmica e seus serviços ecossistêmicos? Então, tudo isso eu chamo de dimensão humana, ou seja, envolve conhecimento, atitudes e ações a todos esses elementos que fazem parte do nosso planeta. O fato de a floresta ser um macro sistema, isto é, algo que não é tangível como um objeto em nossas mãos, mas de certa forma, um espaço distante, muitas vezes, nossa forma de pensar e agir em relação à floresta é assentada numa abstração, e por isso, falar na importância da floresta ou nas ameaças que vem sofrendo, parece ser apenas uma notícia que não nos atinge, e por isso, não somos capazes de efetivamente atuar em prol de sua proteção”, esclareceu.

Possibilidades de mudança

Ela aponta para soluções: “Para mudar esse cenário existem diversos caminhos educativos que podem ser adotados. Um em especial é proporcionar mais vivências positivas, desde a infância, com e na natureza. Um convívio contínuo e intenso com esses espaços nos proporciona mais afinidade com ambientes naturais e aumenta os níveis de conexão com a natureza, de tal forma que também construiremos um maior cuidado para com ela”. Citou ainda o “banho de floresta” [matéria já publicada por esse blog: veja aqui]

Para o evento em si ela acredita que será uma oportunidade de envolver pessoas e ambientes comunitários e coletivos fora da urbanidade. Gente que lida com a terra, rios, floresta. “Esse estilo de vida e relações de proximidade com esses espaços naturais trazem ensinamentos e histórias de vida que mostram a força das pessoas em comunhão com esses elementos físicos na produção da sua existência”, enfatizou a estudiosa.

O poder da educação ambiental

O Instituto Soka Amazônia é uma instituição que se dedica à educação ambiental como forma de ajudar a criar novas gerações de pessoas que preservem e se integrem à exuberante natureza amazônica. Sobre a importância da educação ambiental no processo de preservação dos ecossistemas, a pesquisadora ressaltou que se trata de um processo de reflexão da nossa relação com o ambiente, da nossa relação com outras pessoas e, sobretudo, no respeito e cuidado com o nosso entorno.

Segundo ela, a educação ambiental é uma forma de sensibilizar, informar, capacitar e estimular o compromisso e a responsabilidade para uma consciência ecológica. Quanto mais conscientes e reflexivas as pessoas forem, maiores serão as possibilidades de termos um planeta sadio. Esse processo educativo promove nossa presença no mundo respeitando as capacidades de suporte dos ecossistemas, de modo que as demandas sociais sejam repensadas para um consumo sustentável. Vários estudos nos mostram que se a humanidade não mudar seu estilo de vida, ela porá em risco a vida do planeta e de sua própria existência. Para tanto, desde cedo, a educação ambiental, ou educação para a sustentabilidade, deve ser desenvolvida por todos os segmentos da sociedade, em contextos escolares e não escolares.

“Acredito que já não é mais uma opção, mas uma urgência. A educação ambiental não é uma etiqueta social de limpeza dos ambientes ou de descarte de resíduos no seu devido lugar, também não é apenas o cuidado com as plantas e animais, mas sobretudo, é dignificar nosso entorno em todas as suas dimensões, pois essa responsabilidade de cuidado com as pessoas e com o entorno, seja natural ou construído, é a essência de nossa humanidade. Sem isso, a humanidade vai perdendo o sentido até que ela desapareça. Acredito, que ao nos darmos conta disso, nossa atuação será mais sustentável”, finalizou a pesquisadora do INPA.

Evento: AMAZÔNIA: regulador do clima global e a dimensão humana da floresta

Data: 2 de dezembro de 2022

Horário: 9h30 (horário Manaus)

Local: Auditório do Bosque da Ciência (INPA), Manaus-AM

GRATUITO


[i] Doutora em Antropologia Social, pela Brunel University London, Reino Unido; mestre em Ecologia Humana pela Michigan State University, EUA; graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pesquisadora sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Nossa Amazônia: debate urgente e necessário!

A 1ª Conferência Amazônica do Ambiente e do Clima acontece em Manaus de 17 a 19 de novembro

Promoção e iniciativa da Escola Superior de Magistratura do Amazonas (Esman) e da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) a 1ª Conferência Amazônica do Ambiente e do Clima, em Manaus, tem como objetivo repensar o papel do Poder Judiciário na proteção dos direitos Inter geracionais do meio ambiente. Será totalmente online, num ambiente virtual de aprendizagem e as inscrições podem ser realizadas neste link aqui . Os interessados devem primeiro se cadastrar para só então se inscrever no evento. A inscrição é totalmente gratuita, a carga horária é de 12 horas e será conferido certificado de participação.

O público-alvo é composto por magistrados, servidores, serventuários auxiliares da Justiça, promotores de justiça, defensores públicos, advogados, representantes dos poderes Executivo e Legislativo, da sociedade civil organizada, lideranças socioambientais, organizações e pesquisadores atuantes de nível nacional e internacional.

Renomados pesquisadores especialistas abordarão temas relevantes e importantes aspectos relacionados ao tema principal do evento, entre eles: Proteção de Florestas e Biodiversidade, pelo prof. Dr. Bráulio Ferreira de Souza Dias da Universidade de Brasília; Transparência das Informações Agroambientais na Promoção do Desenvolvimento Sustentável, pelo prof. Ms. Girolamo Domenico Treccani, da Universidade Federal do Pará; Panorama da Jurisprudência Ambiental do STJ, pelo Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Herman Benjamin.

Um destaque

O prof. Dr. Tiago Fensterseifer, da PUC-RS e Defensor Público, analisará o regime jurídico-constitucional de proteção climática consagrado na Constituição Federal de 1988. A partir da abordagem inicial do clima (ou sistema climático) como novo bem jurídico de estatura constitucional, abordará, na sequência, o tema de sua jusfundamentalidade, notadamente em relação ao reconhecimento de um (novo) direito fundamental ao clima limpo, saudável e seguro e os deveres estatais vinculantes de proteção climática a partir da norma inscrita no art. 225 da CF/1988. Por fim, seguirá com algumas notas sobre o papel desempenhado pela jurisdição constitucional brasileira na sua efetivação à luz da análise de alguns casos concretos (ex. ADPF 708/DF e ADO 59), inclusive em relação ao papel e status normativo supralegal dos tratados internacionais em matéria climática e o correlato poder-dever do controle de convencionalidade atribuído aos Juízes e Tribunais brasileiros.

Um depoimento, uma expectativa

Alguns representantes do Judiciário manauara visitaram recentemente o Instituto Soka Amazônia e em depoimento, o assessor da Escola Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Amazonas, Caio Henrique Faustino da Silva ressaltou: “É muito bom poder ter voltado ao Instituto Soka Amazônia. Depois de 15 anos (vim aqui quando era criança) isso trouxe para mim uma memória muito boa; reavivou algo muito positivo. ”

Lembra, a seguir, que

“A Conferência Amazônica, em que serão discutidos o meio ambiente e o clima é a primeira realização com esse propósito e formato, e traz o vento da mudança, de coisa nova, início de uma parceria ou de uma nova articulação. Traz também a possibilidade de reavivar outras estratégias de articulação. Tudo isso pensando no meio ambiente e no próprio exercício do direito referente ao meio ambiente sadio e equilibrado para o bem de todos os povos que compartilham o bioma amazônico”.

Inscrições: link aqui : esmam.tjam.jus.br/login/index.php