Biodiversidade amazônica: Camucamu, a rainha da vitamina C

Essa árvore é uma prova viva de que a floresta tem ainda muito o que oferecer à humanidade e a cada exemplar abatido é uma perda irreparável para o meio ambiente

Ela ocorre em muitas áreas da Amazônia em sua forma silvestre, mas devido suas propriedades medicinais, no Brasil vem sendo cultivada principalmente no Pará, em algumas fazendas de São Paulo, nos municípios de Mirandópolis e Iguape. Ainda pouco conhecido no Brasil, o destino da produção são os grandes apreciadores do fruto no exterior, como: Japão, EUA e a União Europeia. Atualmente, o Peru é o grande produtor e exportador do camu camu.

Porém, a América Tropical, o Brasil possui a maior diversidade de espécies do gênero Myrtaceae. A planta é encontrada abundante nos estados do Amapá, Marachão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantis. O primeiro registro data de 1902, quando da expedição do botânico austro-húngaro, Adolfo Ducke, à Amazônia.

Conhecida também por outros nomes – caçari, araçá-d’água, araçá-de-igapó, sarão, azedinha – o camucamuzeiro é um arbusto ou pequena árvore, podendo atingir de 3m a 6m de altura, pertencente à família Myrtaceae, ainda não totalmente domesticada e se dispersa em praticamente toda a região Amazônia. Embora seja um fruto de alto valor nutritivo os povos da floresta parecem não apreciá-lo como alimento, preferindo utilizá-lo como isca para pesca ou, eventualmente, como tira-gosto. O peixe, por sua vez, alimenta-se do camu camu e é o principal dispersor das sementes. A polinização é feita principalmente por abelhas, embora o vento também contrinua significamente no processo. As flores exalam um aroma doce e agradável, devido isso o néctar é bastante apreciado pelas abelhas nativas (Melipona fuscopilara e Trigona portica).

Sua preferência são as margens de rios e lagos, os exemplares silvestres chegam a permanecer por 4 a 5 meses submersos durante os períodos de cheia. O camu camu amadurece entre novembro e março e praticamente ao longo de todo o ano a árvore brinda os olhos com suas flores, principalmente entre abril e junho.

São largamente conhecidos os benefícios da vitamina C para o bom funcionamento do sistema imunológico do organismo. Além disse é um importante antioxidante, que participa em várias reações metabólicas no organismo, como o metabolismo de ácido fólico, fenilalanina, tirosina, ferro, histamina, metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e carnitina. Esta vitamina é também muito importante na síntese de colágeno, razão pela qual está muitas vezes presente nos suplementos de colágeno. O colágeno é essencial para a manutenção da pele, mucosas, ossos, dentes e preservação da integridade dos vasos sanguíneos.

Desde de 1980, o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, vem estudando o camucamuzeiro figurando em sua lista de prioridades, por considerá-la de grande potencial nutritivo, entre os frutos nativos da região. O objetivo é oferecer formas alternativas de melhorar a dieta da população local, mas também a geração de divisas. Para se ter uma ideia mais clara de seu potencial nutritivo, a concentração de vitamina C do camu camu é aproximadamente 13 vezes maior que aquela encontrada no caju, 20 vezes maior que na acerola, 100 vezes maior que no limão, podendo conter 5 g da vitamina em cada 100 g de polpa.

By Agroforum Perú – http://www.agroforum.pe/agro-noticias/attachments/11564d1471060316-camu-camu-peru-vitamina-c.jpg/, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=54372736

E mais: na comparação com a laranja, o camu camu contém 10 vezes mais ferro e 50% mais fósforo. Devido o elevado teor de ácido ascórbico é considerado um poderoso antioxidante e coadjuvante na eliminação de radicais livres, proporcionando retardamento no envelhecimento. Ou seja: são muitas as razões para estudar, cultivar e promover seu consumo.

Desafios

Por todos os motivos acima listados, os pesquisadores concordam que se trata de uma espécie de imenso potencial para exploração comercial. Os desafios a serem vencidos tem a ver com a falta de variedades ou clones indicados para condição de cultivo em área de terra firme.

Nesse sentido, a Embrapa da Amazônia Oriental vem se debruçando sobre a questão do melhoramento genético da espécie desde 2008, promovendo a seleção de genótipos para o caráter de produção de frutos no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Camucamuzeiro. Foi assim que os melhores materiais obtidos foram clonados e estão em fase de avaliação em área de terra firme.

A partir de plantas sadias e de alta produção com frutos de tamanho apropriado, faz-se a coleta das sementes. A extração dos frutos é feito por meio da coleta de frutos com o mesmo estágio de maturação que deve garantir uma maior uniformidade no processo de germinação.

O camucamuzeiro começa a produzir após 3 anos de seu posicionamento em campo. Os frutos têm formato globoso arredondado, com diâmetro de 10mm a 32 mm, de coloração vermelha ou rósea e roxo escuro no estágio final de maturação e pesa cerca de 8g. De elevada acidez, dificilmente são consumidos in natura, sendo bastante apreciados em preparações, como refrescos, sorvetes, geleias, doces, licores, ou para conferir sabor a tortas e sobremesas. É, portanto, mais uma das espécies amazônicas potencialmente das mais viáveis economicamente por contribuir significativamente para o bem estar e a saúde humana.

Fontes:

http://portal.inpa.gov.br/cpca/areas/camu-camu.html?#:~:text=O%20camu%2Dcamu%2C%20ca%C3%A7ari%2C,lagos%2C%20geralmente%20de%20%C3%A1gua%20preta

https://www.todafruta.com.br/camu-camu/  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/175155/1/COLECAO-PLANTAR-A-cultura-do-camu-camu-2012.pdf

Amazônia: exuberância verde em solo pobre

A imensa camada florestal amazônica se assenta em uma fina camada de compostos orgânicos

Pouca gente acredita, mas é verdade: aquela imensidão verde amazônica está assentada sobre uma fina camada de nutrientes, um solo considerado pobre. O ceticismo vem da pergunta que logo vem à mente: como é possível? É o que este texto visa responder. Todo solo se desenvolve a partir da destruição (intemperismo) das rochas, ou material de origem. Tal intemperismo[i] tem causa principal nas chuvas torrenciais que literalmente lavam a região, por uma série de fatores (já abordados na matéria deste blog: Rios voadores são essenciais para o planeta)

As águas dessas chuvas são levemente ácidas por causa da reação com o CO2 da atmosfera, que forma um composto chamado ácido carbônico (H2O + CO2 = H2CO3) que decompõe as rochas. Há ainda a ação de outros organismos como fungos, algas, líquens, raízes, que atuam em conjunto para a ocorrência do intemperismo, por também produzirem ácidos.

Porém, o principal agente intemperizador das rochas é a água, pois o solo em que está assentada a mata, resulta de todo um conjunto de fatores: a decomposição física das rochas que se quebram continuamente em pedaços cada vez menores, e a formação de outros minerais secundários. A cada chuva vão perdendo elementos químicos nutricionais fundamentais para o desenvolvimento da vegetação, como cálcio, magnésio e potássio, pois são pouco retidos no solo.

A maior parte do solo amazônico é arenoso. A fina camada que recobre o chão é formada pela decomposição de folhas, frutos, sementes e animais mortos. E é isso que lhe confere sua exuberância. Embora o intemperismo impere, é a floresta que mantém a sua magnífica exuberância. Sem ela, a floresta, o solo se torna areia em poucas décadas.

Foto de Materiais orgânicos (Serrapilheira) feita por Setsuo Tahara disponível em https://www.flickr.com/photos/setsuotahara/101158655/

A derrubada contínua vem desertificando grande parte do que antes era uma densa e majestosa floresta. Há indícios claros que se a atual taxa de desmatamento se mantiver, em breve não haverá mais como recuperar a vegetação.

Em áreas desmatadas, as fortes chuvas “lavam” o solo, carregando seus nutrientes. É o chamado processo de lixiviação[i], que deixa os solos amazônicos ainda mais pobres. Dos 6,7 bilhões de km2 de área da Amazônia, somente 14% de toda essa imensidão é considerada verdadeiramente fértil para a agricultura.

Neste processo a camada de húmus tem um papel fundamental. Além disso, os poucos nutrientes presentes no solo são rapidamente absorvidos pelas raízes das árvores, e estas plantas, por sua vez, tornam a liberar nutrientes para enriquecimento do solo. Trata-se de uma constante reciclagem de nutrientes.

Nas margens dos rios podemos encontrar solos mais férteis, conhecidos como várzeas. As chuvas carregam os nutrientes e correm para os rios, daí suas margens possuírem maior quantidade de compostos orgânicos. Especialmente as águas vindas das Cordilheiras dos Andes que percorrem grandes extensões de terra e vem trazendo imensas quantidades de nutrientes, principalmente nos períodos de cheias. Em algumas regiões pequenas de Rondônia e Acre (estados que vem sofrendo grandes devastações) encontram-se solos de grande fertilidade.

Portanto, o que sustenta a exuberância da floresta, é a própria floresta, devido as toneladas de material orgânico depositadas continuamente no solo, apesar da escassez de nutrientes.

Fontes

https://www.ibflorestas.org.br/bioma-amazonico

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-solo-amazonia-pobre-nutrientes.htm https://www.blogs.unicamp.br/geofagos/2006/10/10/solo-pobre-vegetacao-exuberante/


[i]  Lixiviação é o movimento de materiais solúveis na matriz do solo pelo efeito da água que escorre e causa erosão ou a água que infiltra no solo em direção ao lençol freático. … “O mesmo processo acontece em todos os solos com a camada superficial mais leve (solos de textura leve)


[i] Dá-se o nome de intemperismo (também chamado de meteorização) ao conjunto de alterações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem quando ficam expostas na superfície da Terra.

Agrofloresta é um bom negócio?

É, no mínimo, uma forma milenar de produzir renda sem derrubar a mata. Mas, na realidade, envolve toda uma infinidade de fatores

A resposta à pergunta é sim, embora à primeira vista pareça que não, por se tratar de uma forma ancestral de produção de alimentos a partir da manutenção da floresta em pé, por meio da exploração de insumos vegetais (sementes, seiva, flores, folhas, casca etc) e animais. No momento em que o mundo todo está com os olhos voltados para as queimadas que destroem a floresta Amazônica, o tema da agrofloresta se torna ainda mais relevante. O biólogo e mestre em Ecologia pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Diego Oliveira Brandão, explicou que

é um método que associa o manejo de espécies nativas e exóticas diversas numa mesma área, oferecendo mais produtividade. Portanto, no Sistema Agroflorestal, as árvores, os arbustos, as palmeiras, os bambus nativos, etc. são cultivados em associação com culturas agrícolas, pastagens e animais (boi, galinha, pato e porco), em uma mesma unidade de manejo. Diferente da monocultura que derruba imensas áreas para plantar uma única espécie. Procedendo dessa forma, criam-se interações ecológicas e econômicas entre todos esses elementos, equilibrando espaços e tempos de cultivo para os pequenos produtores.

Agricultores do mundo todo se utilizam há séculos do Sistema Agroflorestal como forma de subsistência. Mas foi somente a partir da década de 1970 que se iniciaram estudos sobre o esse modelo agrícola e cientistas passaram a olhar com mais atenção como uma forma de produzir alimentos e insumos sem agressão ao meio ambiente.

Muitas vantagens

Média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros

Por se tratar do plantio de espécies nativas, as agroflorestas contribuem positivamente na restauração de áreas degradadas por extração inadequada de recursos, ocupação desordenada, incêndios etc. E, no momento em que se fala tanto em mudanças climáticas, tal restauração está intimamente ligada à redução do aquecimento global, porque as plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera para crescer e se reproduzir. Apenas para recordar: no Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Agenda bastante comprometida no momento atual pelo desmatamento.

De modo bem simplificado, é possível pontuar que agrofloresta simula o que a natureza faz normalmente: mantém o solo sempre coberto pela vegetação, com diversas espécies juntas, cada qual dando seu suporte às demais. Só esse fato já minimiza danos com pragas, doenças e mudanças climáticas, o que dispensa o uso dos agrotóxicos.

Diego cita dados do IBGE que apontam uma média de 2 bilhões de dólares ao ano gerados a partir de produtos não madeireiros, ou seja, a partir da floresta em pé. Isso sem ou quase nenhum apoio governamental. “Se houvesse  mais incentivo com assistência técnica a produtividade da agroflorestal seria muito maior”, enfatiza. E esses produtos, oriundos do Sistema Agroflorestal, são praticamente todos in natura, como o açaí, a andiroba, a castanha e o cacau. Com as cooperativas de beneficiamento o valor dos produtos da agroflorestal pode ser multiplicado por, no mínimo 4, com a produção de matéria prima como óleo, gordura, polpa e sementes desidratadas e produtos industrializados como alimentos, sucos, remédios e cosméticos

Uma reportagem do Jornal Nacional sobre o projeto Amazônia 4.0, ilustrou muito bem esse fato. O quilo das sementes de cacau é comumente vendido a 12 reais em média. Se for transformado em chocolate, pode chegar a atingir 200 reais o quilo se for produzido para exportação. O cientista líder do projeto, Ismael Nobre, ressaltou que só o cacau, sem qualquer beneficiamento, é sete vezes mais lucrativo por hectare que a pecuária.

Cacaueiro

Mas há muito mais do que se beneficiar ao manter as florestas em pé. Diego cita as mais importantes: a manutenção da fertilidade dos solos e redução de erosão; conservação de água em rios, nascentes e biodiversidade; diversificação da produção de alimentos nas regiões onde se estabelece e por aí vai. Só há vantagens em sistema agroflorestal em comparação à monocultura ou pecuária tradicional na Amazônia.

Para os pequenos agricultores o Sistema Agroflorestal traz outro importante benefício: a obtenção de receitas de curto prazo com a colheita de produtos em tempos diferentes (frutos, sementes etc). Assim não ficam reféns de uma grande safra monocultora, reduzindo assim, a necessidade de insumos externos. Por empoderar os agricultores e as comunidades tradicionais, a partir da aquisição de maior autonomia com a diversificação de sua produção, a agrofloresta representa uma verdadeira tecnologia social, capaz de produzir dividendos significativos e também, bastante lucrativos.

Fontes:

http://tecnologiasocial.sites.uff.br/o-que-sao-tecnologias-sociais/

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10226794892841395&id=1322832872&sfnsn=wiwspwa

https://www.wwf.org.br/?76990/Agrofloresta-e-alternativa-de-desenvolvimento-na-Amazonia

https://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/RevistaSistemasAgroflorestais.pdf

https://cebds.org/o-que-e-o-acordo-de-paris/

Um universo conectado sob os nossos pés!

Raízes e Fungos
Raízes e fungos interagem sob a terra como uma grande “internet” vegetal promovendo a comunicação e subsistência da vida no planeta

Quem caminha pela mata tem os olhos voltados para o que a superfície revela. A beleza e a singularidade proporcionada pela atmosfera quase mágica da floresta. Mas debaixo dos seus pés há um universo complexo e interativo composto por raízes e fungos que promovem, entre outras coisas, a subsistência dos seres que sobre ela vivem. Uma das mais complexas redes de que se tem notícia é a da Amazônia, cujo solo é pobre em nutrientes, mas por meio de uma série de interações, dá vida à maior e mais exuberante floresta tropical do planeta.

O início

Tudo se inicia com a raiz que se prolonga por debaixo do solo lenta e pacientemente. Microorganismos, em especial os fungos, crescem ao redor e dentro dessas raízes fornecendo nutrientes em troca dos carboidratos (açúcares) que a planta produz por meio de reações químicas de trocas com o ambiente que o cerca.

Imagem de ezblum por Pixabay

Trata-se de uma conexão muito mais profunda do que antes se acreditava e a Ciência vem estudando com grande interesse, pois a simbiose entre fungos e raízes, além de fornecer substratos mutuamente, forma uma verdadeira rede de comunicação subterrânea.

Há indícios de que indivíduos mais velhos, chamados de árvores-mães, se utilizem dessa rede, fornecendo, além de açúcares às mudas jovens, sua sombra e proteção contra pragas e outras ameaças e, assim, aumentar suas chances de sobrevivência, perpetuando a floresta.

E as que estão em vias de falecer, generosamente, despejam seus últimos nutrientes nessa imensa rede, intuitivamente, garantindo que não haja “desperdícios”, pois as jovens mudas farão bom uso desse subsídio para se fortalecerem e se desenvolverem. É como se os mais “idosos” desejassem passar seu “conhecimento” e “sabedoria” aos que estão ao redor – mais jovens e saudáveis – para que “aprendam” com sua experiência.

Porém, não se trata de uma rede de benefícios somente. Há espécies de plantas como algumas orquídeas que se especializaram em “roubar” nutrientes de árvores próximas; ou ainda a nogueira-preta que espalham toxinas com o intuito de “sabotar” espécies rivais, podendo causar até a morte destas.

Fungos, agentes mensageiros

Rede micorriza é o nome do aglomerado de fungos que interage sob a terra e permite que sejam trocados nutrientes de uma planta a outra. As “mensagens” carregadas por essa rede além de permitir a troca de substratos, “informa” os demais sobre as ocorrências na região, como a morte de uma planta, o ataque de pragas ou até a iminente mudança climática. Os fungos, agem ainda como uma linha de defesa. Caso as plantas “hospedeiras” sejam atacadas, os fungos liberam sinais químicos para alertar as espécies vizinhas de modo que consigam ampliar suas defesas.

Cerca de 90% das plantas possuem boas relações com os fungos. Uma silenciosa relação harmoniosa e fundamental se desenvolve entre plantas e fungos, um não sobreviveria sem o outro. Nas florestas mais densas é possível observar uma fina teia que espalha no solo cobrindo todo o chão da floresta. Este é o micélio vegetativo que é a parte correspondente à sustentação e absorção de nutrientes.

Imagem de DebWatson por Pixabay

E é essa fina teia de micélio que possibiliza a formação da micorriza que conecta os fungos às raízes das plantas no subsolo. Um dos componentes fundamentais do micélio é a hifa, filamentos de células dos fungos. A cientista e professora de Ecologia Florestal da Universidade da Colúmbia Britânica, Suzanne Simard vem, desde 1997, testando teorias de como as árvores se comunicam entre si. Utilizando carbono radioativo, ela mede o fluxo e o compartilhamento desse elemento químico entre as árvores. Não é exagero dizer que se trata de uma via superrápida para tráfego de dados, que coloca em contato uma grande população de indivíduos diversos e dispersos. A cientista também acredita que as plantas parecem funcionar no sentido oposto ao observado por Darwin, em relação à competição por recursos entre as espécies animais. Segundo ela, muitas espécies de plantas utilizam a rede para trocar nutrientes e se autopreservarem, garantindo a sobrevivência.

Outro especialista, o micologista[i] estadunidense, Paul Stamets, afirma que essa rede de fungos é uma “internet natural” do planeta Terra. Segundo ele é ela que coloca cada planta do mundo conectada, mesmo as que se encontram muito distantes entre si. Um paralelo traçado por ele é o filme Avatar de 2009, cujo cenário mostra como vários organismos obtém comunicação eficaz e compartilhamento de recursos por meio de uma ligação simbiótica produzida por eletroquímica passando pelas intrincadas cadeias de raízes das plantas.

Fontes:

http://www.bioblog.com.br/a-comunicacao-das-plantas-uma-internet-em-baixo-da-terra/

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141128_vert_earth_internet_natural_dg


[i] Micologia (também denominada micetologia) é um ramo da biologia dedicado ao estudo dos fungos, que são organismos heterotróficos de variadas dimensões. Possuem tamanhos consideráveis como os cogumelos e também tamanhos microscópicos como as leveduras e bolores.

Manacapuru recebe plantio do Memorial Vida

Município com o terceiro maior PIB do Estado promove evento ambiental com participação do Instituto Soka Amazônia

Manacapuru é um município amazonense situado na Região Metropolitana da capital Manaus. No último dia 28, integrando a programação de três dias do evento de Educação Ambiental promovido pelo município, o Instituto Soka Amazônia realizou o plantio de 100 árvores dentro do projeto Memorial Vida.

O objetivo do evento é a conscientização da população em geral. Durante o verão amazônico, aumentam consideravelmente os incêndios florestais – em geral, ocorrem por ação humana.

Ao longo de seis quilômetros, a equipe do Instituto plantou uma centena de espécies em conjunto com a população e convidados da municipalidade. O projeto Memorial Vida visa homenagear as vítimas brasileiras da Covid-19 com o plantio de árvores amazônicas. Uma forma de celebrar a vida!

Testemunho de quem respira a floresta

Raimundo Costa da Silva é um verdadeiro homem da terra. Aos 64 anos possui o sorriso largo e fácil de quem compreende os anseios da natureza

O caboclo amazonense é antes de tudo um forte. Vive em verdadeira simbiose com o meio ambiente, retirando dele praticamente tudo o que precisa para sua sobrevivência. Ao longo dos séculos, desenvolveu toda uma cultura, aparentemente simples, mas que na verdade tem uma complexidade ímpar, tema de inúmeros artigos e teses acadêmicas. A prova viva desse personagem impressionante é Raimundo Costa da Silva.

Sr. Raimundo Costa da Silva

Nascido às margens do rio Xeruã, no extremo oeste do estado do Amazonas, divisa com o Acre, é um dos filhos do meio de uma prole de 8. Aos 10 anos, devido à aridez da vida naquela região, sua família decidiu migrar rumo às cercanias da capital, Manaus. “A vida era muito dura lá e alguém disse que a gente devia vir pra cá pois tinha mais condições”, contou. A aventura foi duríssima. Raimundo ilustrou a dificuldade: “Viemos a remo. Foram 6 meses num batelão [embarcação de fundo chato, própria para trafegar próximo às margens rasas de rios, lagos ou lagoas]. Foi muito difícil”. Partiram de Xeruã 10 pessoas ao todo: os pais e os oito filhos.

Em Puraquequara[i] há 54 anos, Raimundo sorri quando perguntado sobre o que representa seu pedaço de terra: “eu vou ficar aqui o resto da minha vida! E vou viver muito ainda”. Aprendeu na lida do dia a dia o trabalho na terra. No início, na roça de mandioca. “É bom porque pra gente comer a farinha, desflorestava muito, sabe? Eu sempre fui criado no mato e sempre me senti uma parte da natureza e não achava bom derrubar a mata pra fazer roçado”, explicou.

Nos seus três hectares de terra, hoje ele lida com uma horta de diversas culturas: banana, melancia, maxixe, hortaliças e muito mais. Mas sempre manteve acesa a ideia de reflorestar, ou devolver à floresta o que derrubou. E começou a colher sementes e estocá-las.

“Pensei assim: se alguém pudesse abrir uma porta pra eu reflorestar isso aqui era isso que eu queria fazer”. Decidiu falar com Edison Akira [diretor presidente do Instituto Soka Amazônia]. “E ele topou na hora!”, conta animado. Em poucos anos, ele e o Instituto já reflorestaram um bom pedaço e se depender de Raimundo, irão plantar ainda muito mais. E está gostando muito de ser o agente regenerador da floresta.

Hoje, no seu pedaço de terra vive uma pequena comunidade: as famílias de seus 6 filhos que inclui uma penca de curumins (crianças). “Caboclo não para nunca de trabalhar, o que a gente não para nunca de fazer é curumim!”, fez questão de ressaltar o caboclo Raimundo, orgulhoso de sua prole e da molecada que corre e brinca solta o dia todo, respirando o melhor ar possível do planeta.

Tem uma vitalidade invejável. Às 4 horas da manhã já está de pé. Prepara seu café, vai para o terreiro, prepara a alimentação das galinhas. A essas alturas já está amanhecendo e ele segue rumo à horta. Tem de levar a água na mão, pois o bombeamento não chega até ali. Faz a pausa necessária para o almoço, descansa meia hora e já vai pra lida de novo. A produção da horta, que vende na cidade e para os vizinhos é o que mantém sua pequena renda. A proteína animal das refeições obtém da pesca e da caça. “A gente só retira o suficiente para consumo da família”, explica uma das regras de ouro da cultura cabocla.

Seu maior orgulho: a família. Em sua sabedoria singular, Raimundo sabe que está povoando aquele pedaço da floresta com indivíduos igualmente sábios, que vão manter seu legado intacto e a terra preservada. Embora a pandemia tenha afetado a renda da família, não reclama. Sabe que é parte de um processo planetário e emenda dizendo que “ninguém adoeceu ou passou necessidade”.

Embora não tenha estudo formal, “só sei assinar meu nome”, o conhecimento ancestral herdado dos pais é passado aos demais membros de sua pequena comunidade: é preciso proteger a floresta para que todos possam continuar a usufruir dela no futuro.


[i] Puraquequara é um bairro do município brasileiro de Manaus, capital do estado do Amazonas. Localiza-se na Zona Leste da cidade. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sua população era de 5 856 habitantes em 2010. Está distante cerca de 27 km do centro da capital, cujo acesso é feito exclusivamente por via fluvial.

Nossa biodiversidade : Camu camu, muitas vezes mais vitamina C

Essa árvore é uma prova viva de que a floresta tem ainda muito o que oferecer à humanidade e a cada exemplar abatido é uma perda irreparável para o meio ambiente

Ela ocorre em muitas áreas da Amazônia em sua forma silvestre, mas devido suas propriedades medicinais, no Brasil vem sendo cultivada principalmente no Pará, em algumas fazendas de São Paulo, nos municípios de Mirandópolis e Iguape. Ainda pouco conhecido no Brasil, o destino da produção são os grandes apreciadores do fruto no exterior, como: Japão, EUA e a União Europeia. Atualmente, o Peru é o grande produtor e exportador do camu camu.

Porém, a América Tropical, o Brasil possui a maior diversidade de espécies do gênero Myrtaceae. A planta é encontrada abundante nos estados do Amapá, Marachão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantis. O primeiro registro data de 1902, quando da expedição do botânico austro-húngaro, Adolfo Ducke, à Amazônia.

Conhecida também por outros nomes – caçari, araçá-d’água, araçá-de-igapó, sarão, azedinha – o camucamuzeiro é um arbusto ou pequena árvore, podendo atingir de 3m a 6m de altura, pertencente à família Myrtaceae, ainda não totalmente domesticada e se dispersa em praticamente toda a região Amazônia. Embora seja um fruto de alto valor nutritivo os povos da floresta parecem não apreciá-lo como alimento, preferindo utilizá-lo como isca para pesca ou, eventualmente, como tira-gosto. O peixe, por sua vez, alimenta-se do camu camu e é o principal dispersor das sementes. A polinização é feita principalmente por abelhas, embora o vento também contrinua significamente no processo. As flores exalam um aroma doce e agradável, devido isso o néctar é bastante apreciado pelas abelhas nativas (Melipona fuscopilara e Trigona portica).

Sua preferência são as margens de rios e lagos, os exemplares silvestres chegam a permanecer por 4 a 5 meses submersos durante os períodos de cheia. O camu camu amadurece entre novembro e março e praticamente ao longo de todo o ano a árvore brinda os olhos com suas flores, principalmente entre abril e junho.

São largamente conhecidos os benefícios da vitamina C para o bom funcionamento do sistema imunológico do organismo. Além disse é um importante antioxidante, que participa em várias reações metabólicas no organismo, como o metabolismo de ácido fólico, fenilalanina, tirosina, ferro, histamina, metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e carnitina. Esta vitamina é também muito importante na síntese de colágeno, razão pela qual está muitas vezes presente nos suplementos de colágeno. O colágeno é essencial para a manutenção da pele, mucosas, ossos, dentes e preservação da integridade dos vasos sanguíneos.

Desde de 1980, o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, vem estudando o camucamuzeiro figurando em sua lista de prioridades, por considerá-la de grande potencial nutritivo, entre os frutos nativos da região. O objetivo é oferecer formas alternativas de melhorar a dieta da população local, mas também a geração de divisas. Para se ter uma ideia mais clara de seu potencial nutritivo, a concentração de vitamina C do camu camu é aproximadamente 13 vezes maior que aquela encontrada no caju, 20 vezes maior que na acerola, 100 vezes maior que no limão, podendo conter 5 g da vitamina em cada 100 g de polpa.

By Agroforum Perú – http://www.agroforum.pe/agro-noticias/attachments/11564d1471060316-camu-camu-peru-vitamina-c.jpg/, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=54372736

E mais: na comparação com a laranja, o camu camu contém 10 vezes mais ferro e 50% mais fósforo. Devido o elevado teor de ácido ascórbico é considerado um poderoso antioxidante e coadjuvante na eliminação de radicais livres, proporcionando retardamento no envelhecimento. Ou seja: são muitas as razões para estudar, cultivar e promover seu consumo.

Desafios

Por todos os motivos acima listados, os pesquisadores concordam que se trata de uma espécie de imenso potencial para exploração comercial. Os desafios a serem vencidos tem a ver com a falta de variedades ou clones indicados para condição de cultivo em área de terra firme.

Nesse sentido, a Embrapa da Amazônia Oriental vem se debruçando sobre a questão do melhoramento genético da espécie desde 2008, promovendo a seleção de genótipos para o caráter de produção de frutos no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Camucamuzeiro. Foi assim que os melhores materiais obtidos foram clonados e estão em fase de avaliação em área de terra firme.

A partir de plantas sadias e de alta produção com frutos de tamanho apropriado, faz-se a coleta das sementes. A extração dos frutos é feito por meio da coleta de frutos com o mesmo estágio de maturação que deve garantir uma maior uniformidade no processo de germinação.

O camucamuzeiro começa a produzir após 3 anos de seu posicionamento em campo. Os frutos têm formato globoso arredondado, com diâmetro de 10mm a 32 mm, de coloração vermelha ou rósea e roxo escuro no estágio final de maturação e pesa cerca de 8g. De elevada acidez, dificilmente são consumidos in natura, sendo bastante apreciados em preparações, como refrescos, sorvetes, geleias, doces, licores, ou para conferir sabor a tortas e sobremesas. É, portanto, mais uma das espécies amazônicas potencialmente das mais viáveis economicamente por contribuir significativamente para o bem estar e a saúde humana.

Fontes:

http://portal.inpa.gov.br/cpca/areas/camu-camu.html?#:~:text=O%20camu%2Dcamu%2C%20ca%C3%A7ari%2C,lagos%2C%20geralmente%20de%20%C3%A1gua%20preta

https://www.todafruta.com.br/camu-camu/  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/175155/1/COLECAO-PLANTAR-A-cultura-do-camu-camu-2012.pdf

Rios voadores são essenciais para o planeta

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
(Trecho da canção Planeta Água de Guilherme Arantes)

São bilhões de toneladas de água na forma gasosa despejadas na atmosfera diariamente pela floresta, essa gigantesca massa de ar úmida atravessa todo o continente e fornecem as chuvas tão necessárias para toda a cadeia do agronegócio. Isso significa que se a floresta deixar de existir todo o setor agropecuário, igualmente, não resistirá. Os colossais “rios voadores” são parte de um ciclo natural que abastece de água não só o nosso país, mas todo o continente. Neste 21 de março, data em que se celebra o Dia Mundial da Água e das Árvores, o Instituto Soka Amazônia quer enfatizar mais esse aspecto de suma importância para a manutenção de todas as formas de vida.

Um documentário recente da BBC World[i] registra de forma clara que a maior floresta tropical do planeta vem sendo sistematicamente derrubada sem qualquer fiscalização, tudo em nome de um equivocado senso de “progresso”. Tal processo de devastação se acelerou nos últimos dois anos como nunca antes na história deste país. Pessoas que se intitulam “corretores imobiliários” adentram a floresta e, sem qualquer escrúpulo, derrubam imensas extensões de mata nativa localizadas em áreas de preservação e anunciam os terrenos em páginas do Facebook abertamente, sem receio. Uma das imagens mais chocantes e perturbadoras do documentário é a cena de uma imensa árvore, de mais de 30 metros, ceifada pela ação da motosserra, desabando ao solo em câmera lenta. Uma gigante como esta leva décadas para atingir tal envergadura e é derrubada em cerca de meia hora.

Documentário BBC – disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QpTMqTo_ycc
Como se formam os nossos rios voadores

O fenômeno dos Rios Voadores não é exclusividade nossa. Todos os anos, todas as matas do planeta transpiram toneladas e toneladas de água para a atmosfera na forma de vapor que viajam milhares de quilômetros para levar fertilidade a diversas áreas necessitadas. O impacto desses “rios voadores” é imensurável para a continuidade da vida na Terra. O equilíbrio dos ecossistemas e sua imensa biodiversidade dependem da água que viaja pelos céus. Estes cursos de água flutuantes se elevam a mais de três quilômetros de altura. Mas os nossos rios voadores têm um processo ainda mais complexo e interessante.

Quem popularizou o termo foi o explorador e aviador suíço-brasileiro Gérard Moss, que é também engenheiro e ambientalista. Ele produziu e protagonizou o projeto Expedição Rios Voadores, junto com os professores e cientistas Antônio Donato Nobre, Enéas Salati e outros. Moss voou milhares de quilômetros seguindo as correntes de ar, para coletar amostras de vapor d’água que comprovaram o que os pesquisadores já intuíam sobre o fluxo e formação desses imensos cursos d’água flutuantes.

A formação dos nossos rios voadores se inicia no Oceano Atlântico e a gigantesca cobertura verde da Amazônia funciona como uma imensa bomba, puxando para dentro do continente a umidade que evaporou do mar. Já sobre a terra, essa umidade se precipita em forma de chuva sobre a mata, que novamente vai transpirar novos cursos d’água voadores para a atmosfera. Daí seguem carregando enormes quantidades de vapor d’água para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Parte dessa massa de ar e umidade se precipita pelo caminho, fornecendo água essencial às lavouras, pastos e outras matas. Porém, imensas massas de vapor de água se mantêm no percurso até se chocarem com a grande muralha natural: a Cordilheira dos Andes. E é desse encontro que se reinicia o ciclo: as montanhas geladas recebem generosas doses desse vapor quente que se precipitarão para a formação das cabeceiras dos rios amazônicos.

Jornada extensa e necessária

Mas a jornada desses caudalosos rios voadores não se finda aí. As correntes de ar continuam ativas após o choque contra as cordilheiras e seguem rumo ao sul e centro-oeste, às grandes lavouras e pastagens do setor agropecuário. Não é exagero dizer que sem esses rios voadores, toda a economia agrícola do país entraria em colapso.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Científicas (INPE), Antônio Donato Nobre, explica que o fenômeno desses rios em forma de vapor d’água são a resposta ao mistério de uma vasta região ser verde e úmida. Este território compreende desde Cuiabá, Buenos Aires e São Paulo, um quadrilátero responsável por mais de 70% do PIB de toda a América do Sul, uma vez que contemplam em seu interior: hidrelétricas, indústrias, agricultura e grandes centros que dependem do equilíbrio climático e da provisão de água para existir. “Esses rios aéreos de vapor que a Amazônia exporta para essas áreas contraria a tendência normal dessa região de ser desértica. Essa imensa usina de serviços ambientais é o maior parque tecnológico que a Terra já conheceu”, ressalta o pesquisador.

Palestra disponível em: https://www.ted.com/talks/antonio_donato_nobre_the_magic_of_the_amazon_a_river_that_flows_invisibly_all_around_us?language=pt-br
Palestra Antonio Donato Nobre – Ted Talks Manaus
Alguns dados importantes

Ainda restam cerca de 600 bilhões de árvores na Amazônia, segundo estimativas. Destas, as gigantes como a Sumaúma, possuem raízes de grande profundidade, bombeando as águas de lençóis freáticos que se encontram a mais de 50 metros abaixo da superfície, e envia essa umidade às folhas que, sob o calor do sol amazônico, se transmutam em vapor e vão compor a outra parte dos rios voadores. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) mostram que uma única árvore frondosa, com copa de 20 metros de diâmetro, pode transpirar mais de mil litros de água por dia. Em toda a Amazônia, é um volume que chega a 20 bilhões de toneladas de água diariamente. Uma porção maior que a do Rio Amazonas, responsável por 17 bilhões de toneladas de água.

Por todos os ângulos analisados, a manutenção da floresta em pé é vantajosa a todos os envolvidos. O Brasil tem uma posição privilegiada em relação aos recursos hídricos. Porém, aquecimento global e as mudanças climáticas que ameaçam alterar os regimes de chuva em escala mundial são fatores que demonstram o quão frágil é esse “privilégio” e comprovam o clamor para que se busquem meios de promover a preservação e, assim garantir a sobrevivência a todo o continente, com a manutenção das chuvas levadas pelos rios voadores.

Links de sites relacionados ao tema

CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: www.inpe.br
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: www.inpa.gov.br
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia : lba.inpa.gov.br/lba/
IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia: www.imazon.org.br


[i] https://www.youtube.com/watch?v=QpTMqTo_ycc&feature=youtu.be

As muitas águas da Amazônia

A quinta edição do Seminário Águas da Amazônia trouxe dados essenciais para a reflexão e busca de soluções para as questões atuais envolvendo a floresta

Sempre que se fala em Amazônia logo vem à mente as imagens das queimadas e o desmatamento ilegal. Mas a região é muito mais que isso. O V Seminário Águas da Amazônia, que aconteceu online nos dias 20 e 21 de outubro[i], abordou diversos aspectos extremamente relevantes para o futuro da maior floresta tropical do planeta. Cerca de uma centena de privilegiados e interessados participantes se inscreveram puderam ter acesso a informações atuais e necessárias para gerar reflexão e caminhos criativos rumo à sustentabilidade efetiva.

O primeiro dia, 20 de outubro, foi brindado com a preciosa Abertura pela Prof. Dra. Denise Gutierrez, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que discorreu sobre a importância do evento cujo objetivo principal é popularizar a ciência. E, no caso específico deste Seminário, a questão das Águas da Amazônia, fonte essencial da vida e que representa cerca de 20% de toda a água doce do planeta.

Amazônia e suas potencialidades, palestra proferida pelo Prof. Dr. Phelippe Daou Junior/CEO do Grupo Rede Amazônica, que congrega 13 emissoras de tevê da região Norte do país em cinco estados. Daou enfatizou bastante a questão das potencialidades da região, afinal são pelo menos 25 mil quilômetros de rios navegáveis o que proporciona uma infraestrutura logística invejável.

O Prof. Ms. Oscar Asakura/CBO, da All Bi Technologies, discorreu sobre a Inteligência Artificial para promover Inovações Disruptivas. O termo inovação disruptiva foi cunhado por Clayton M. Christensen, professor de Administração na Harvard Business School. Mas inovação disruptiva não é somente uma ideia criativa. Trata-se de inovação real em uma tecnologia, produto ou serviço cujas características são disruptivas e não somente evolutivas.

O exemplo usado por Asakura foi o Iphone e posteriormente o Smartphone. Embora já seja um produto de uso comum, quando de seu surgimento, provocou verdadeiro assombro, um computador que cabia na palma da mão. Dessa forma, foi uma inovação disruptiva que provocou uma verdadeira ruptura nos padrões anteriormente estabelecidos. É, portanto algo inédito, original e transformador, um feito que todos os desenvolvedores de tecnologia vêm buscando realizar e que deve ser o grande tema dos próximos anos.

Da Universidade Federal do Paraná, o Prof. Dr. Marco Tadeu Grassi, fez a palestra Qualidade da água nas cidades brasileiras. Embora abundante, a água no Brasil tem sido muito maltratada, por diversas questões ao longo das décadas. O professor abriu sua fala alertando para a vulnerabilidade hídrica (imagem ao lado). A foto em destaque é da represa do Passaúna, em abril de 2020, de Curitiba-PR, um dosprincipais reservatórios que abastecem daquela Região Metropolitana. As tabelas demonstram a crescente preocupação dos especialistas quanto a escassez de água que já ocorre. Em Curitiba, por exemplo, os reservatórios estão operando abaixo de 30% de sua capacidade.

Brasil – cerca de 50% dos municípios têm saneamento básico. 31% lançam esgoto não tratado no meio ambiente. 10% não tem acesso a serviços de saneamento básico. E pior ainda: mesmo para aqueles que possuem tratamento de água, a mesma está contaminada por substâncias sem controle ou monitoramento. Os programas governamentais que realizam o monitoramento controlam cerca de 40 a 50 substâncias. Mas sabe-se hoje que o universo de substâncias químicas presentes na água do dia-a-dia é infinitamente superior a esses números.

No segundo dia, 21 de outubro, o Prof. Ms. Vicente Fernandes Tino, das Universidades IDAAM, falou sobre A inteligência de dados e o futuro das profissões. Em uma palestra bastante dinâmica, Tino observou que os dados são o novo petróleo (Data is the new oil), ou seja, o combustível da nova economia e quem souber fazer bom uso deles, aproveitando o seu potencial, pode sair-se muito bem num futuro bem próximo.

Isso se justifica ao se compreender que boa parte de todas as nossas atividades cotidianas tem um traço digital. Difícil encontrar um ser humano no planeta que não esteja com um celular na mão consultando um dado (número de telefone, localização de determinado endereço, fazendo um pagamento, conversando com alguém). São tarefas cotidianas às quais ninguém dá importância, mas são por meio delas que as corporações se valem para estruturar suas ações.

O professor enfatizou que há o lado “luz” e o lado “sombra” e que devido a isso é fundamental que gestores, pesquisadores, população em geral, se posicione para não ser tragado pela torrente que pode advir do lado “sombra”. As recentes eleições presidenciais deixaram claro o potencial destrutivo deste lado sombrio.

Impactos ambientais das grandes construções e hidrelétricas na Amazônia e os Serviços Ambientais da Floresta, foi o tema do Prof. Dr. Philip Fearnside, do INPA. Ele iniciou sua palestra enfatizando o impacto ambiental causado pela construção das grandes hidrelétricas na região amazônica. E que, embora se alardeie que se trata de uma opção energética mais barata que as demais, o custo ambiental a longo prazo é gigantesco. Na verdade, segundo Fearnside, o país teria como gerar muito mais energia por meio de usinas eólicas e solares – possui condição privilegiada quanto aos ventos e ao sol – do que pelas hidrelétricas. Na verdade, juntas – eólica e solar – ultrapassam em muito a energia gerada pelas tradicionais usinas hidrelétricas. E, as duas não causam o impacto ambiental nefasto causado pelo represamento das águas (deslocamento de populações humanas inteiras junto com a perda de referencial dos povos tradicionais; morte de plantas, árvores e animais etc)

O V Seminário Águas da Amazônia foi realizado pelo Instituto Soka Amazônia e integrou a programação oficial da Semana de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, com apoio do INPA, Universidade Federal do Paraná, Fundação Rede Amazônica, Faculdades IDAAN, All Bi Technologies e Instituto Federal do Amazonas.


[i] As palestras estão disponíveis na íntegra no YouTube:

1º dia – https://www.youtube.com/watch?v=ZFaz-tqlkaI ;

2º dia – https://www.youtube.com/watch?v=BddQRIzbEI8&t=2s

O verde que compõe a Amazônia

Árvores da Amazônia

Quanto mais se estudam as árvores, mais surpresas surgem.

Elas são a verdadeira riqueza da floresta, cada árvore traz em si um imenso manancial de potencialidades para muito além da nossa existência

Este artigo abre uma série de outras matérias que serão publicadas neste espaço, abordando peculiaridades da flora amazônica

Poucos sabem deste dado: há árvores que podem viver mais de mil anos. Essa informação recente comprovada por especialistas, nos remete a outra muito importante, que as árvores podem fornecer valiosas informações acerca de nosso passado, como verdadeiras “cáspsulas do tempo” vivas.

60 milhões de anos

Sua longevidade remonta a 60 milhões de anos. A seleção natural precisou operar por todo esse tempo para que os diversos grupos de plantas amazônicas atingissem a sua incrível diversidade atual. Quanto mais se estudam as árvores, mais surpresas surgem. Para se ter uma ideia do muito que ainda há para se descobrir: um levantamento datado de 2006 registrou 1.119 espécie de árvores na Amazônia, porém hoje se sabe que este número é pelo menos três vezes maior. São cerca de 3.615 espécies arbóreas segundo levantamento feito por ecólogos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2019. E ainda há grandes porções de floresta intocada pelo ser humana, portanto, existe espaço para muitas surpresas.

São 7 milhões de km2, distribuídos por nove países e o Brasil detém a maior parte desse patrimônio natural, 60% da floresta. Os 40% restantes estão espalhados pelo Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Suriname, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa. Para a obtenção do levantamento, os pesquisadores analisaram dados de inventários florestais e coleções biológicas de todos esses países da bacia amazônica.

3615 espécies

As 3.615 espécies arbóreas de áreas úmidas da Amazônia estão compreendidas em 104 famílias botânicas, por sua vez distribuídas em 689 gêneros. As famílias arbóreas mais diversificadas são as leguminosas (578 espécies), seguidas pelas rubiáceas (220), anonáceas (182), lauráceas (175) e mirtáceas (155 espécies arbóreas). As dez famílias com maior diversidade são responsáveis por 53% do conjunto de espécies arbóreas das zonas úmidas da Amazônia.

Há cerca de 20 milhões de anos o oeste da Amazônia era um imenso alagadiço que deu origem à bacia amazônica devido à elevação progressiva do derretimento dos Andes.

Há muitas teorias quanto aos fatores que possibilitaram a grande diversificação de árvores nas áreas úmidas da Amazônia. Para tanto é preciso lembrar que se trata de um tempo geológico bastante grande, que remonta ao Mioceno (entre 23,5 milhões de anos atrás). Há cerca de 20 milhões de anos o oeste da Amazônia era um imenso alagadiço que deu origem à bacia amazônica devido à elevação progressiva do derretimento dos Andes. As espécies arbóreas que ali existiam tiveram que se adaptar para sobreviver.

O tempo de vida de cada espécie

Outro dado importante: o tempo de vida de cada espécie. Há árvores que podem chegar aos mil anos de vida o que as torna monumentos vivos da história natural. A partir de uma única árvore dessas é possível estabelecer relações com os locais em que seus pais cresceram, sua herança genética, sua capacidade de adaptação aos diferentes climas e mudanças. São dados essenciais para estabelecer novas possibilidades de sobrevivência não só da floresta como um todo, mas para toda a espécie humana também, uma vez que dependemos de cada pedaço de verde do planeta para a nossa continuidade.

Há quem denomine as árvores da Amazônia como “cápsulas do tempo” da história humana, pois a análise dos ecossistemas é essencial para compreendermos o passado e assim, traçarmos o futuro da espécie.

À medida que as árvores crescem, absorvem detalhes sobre o ambiente em sua madeira, criando registros do ambiente ao longo do tempo.

Em um artigo publicado recentemente no Trends in Plant Science[i], cientistas brasileiros que estudaram espécies da Amazônia explicaram como algumas plantas podem contribuir para o entendimento da história da humanidade.

Segundo o pesquisador líder do estudo que deu origem ao artigo, Victor Caetano Andrade, à medida que as árvores crescem, absorvem detalhes sobre o ambiente em sua madeira, criando registros do ambiente ao longo do tempo. “Ao combinar técnicas como dendrocronologia (o estudo de anéis das árvores), análise de isótopos de carbono e oxigênio, e genética, podemos obter informações sobre o clima e os eventos mediados por humanos na floresta tropical”, esclareceu o pesquisador.

Embora pareça óbvio dada a quantidade de fatos inquestionáveis sobre o assunto, há ainda correntes céticas e negacionistas que clamam pela derrubada das florestas justificando que estas são um empecilho ao desenvolvimento econômico. A comprovação do potencial das matas milenares para o mapeamento da história da humanidade é um dado a se juntar aos demais para sustentar a manutenção da floresta em pé.

Outro pesquisador da equipe, Caetano Andrade, ressaltou que “surpreendentemente, a história negligenciou algumas das maiores e mais antigas testemunhas que as florestas tropicais têm a oferecer: suas árvores”. Ainda segundo ele, escavações arqueológicas e análises arque botânicas levaram a grandes avanços em nosso reconhecimento de vidas humanas passadas nos trópicos, mas as árvores que ainda estão de pé também têm muito a contribuir para o entendimento da história natural.


Fontes:

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2019/09/arvore-mais-alta-da-amazonia-esta-50-maior-e-cientistas-nao-sabem-por-que.html

https://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta/busca?b=ad&id=507431&biblioteca=vazio&busca=autoria:%22%C3%81VILA,%20F.%20(Ed.).%22&qFacets=autoria:%22%C3%81VILA,%20F.%20(Ed.).%22&sort=&paginacao=t&paginaAtual=1

[i] Trends in Plant Science é o periódico de revisão mensal original e líder em ciência de plantas (Journal metrics: IF 5-year 14.017 | IF 2018 14.006 | Citescore2018 9.62), apresentando ampla cobertura da ciência básica de plantas, da biologia molecular à ecologia. Críticas e opiniões sucintas e legíveis sobre tópicos de pesquisa básica fornecem visões gerais instantâneas do pensamento atual e novos desenvolvimentos em biologia vegetal. Direcionados a pesquisadores, estudantes e professores, nossos artigos são sempre confiáveis ​​e são escritos por líderes na área e estrelas em ascensão: