Seminário das Águas discute a seca na amazônica e os impactos para saúde e biodiversidade

Texto: site Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

A influência da água na saúde humana e os impactos da seca na Amazônia na avifauna foram alguns dos temas abordados na 9ª edição do Seminário das Águas da Amazônia. O evento ocorreu no auditório do Bosque da Ciência e teve como tema “Panorama da Seca na Bacia Amazônica: Impactos na Saúde Humana e Biodiversidade”, sendo realizado pelo Instituto Soka e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).

A coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Marcela Amazonas, fez a abertura do evento e destacou a importância do Instituto Soka. “Há 10 anos, este instituto, fundado por Daisaku Ikeda, tem como objetivo promover a coexistência harmoniosa entre o ser humano e a natureza, visando garantir a integridade ecológica da Amazônia”, afirmou.

O pesquisador do Inpa, Renato Senna, explicou os fenômenos de seca na Amazônia durante os anos de 2023 e 2024. Em sua apresentação, o meteorologista relatou os problemas decorrentes das mudanças climáticas, enfatizando que, embora algumas pessoas ainda neguem esse processo, há evidências claras da intensificação da seca.

“A seca de 2024 é, na verdade, uma continuidade da seca de 2023. Ela foi provocada principalmente por eventos climáticos nos oceanos, que contribuíram para a redução do volume de chuvas na Amazônia. Em 2023, tivemos uma seca significativa, e, em 2024, o cenário se agravou. Esse processo contínuo resultou em uma seca sem precedentes na história da Amazônia, com impactos consideráveis sobre a sociedade, as comunidades ribeirinhas, as empresas e a população amazônica como um todo”, afirmou Senna.

A pesquisadora Maria Cristina de Vasconcelos apresentou um panorama sobre a influência da água na saúde humana. 

Além disso, o projeto Vem Passarinhar, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), abordou o impacto da seca nas aves da amazônia, conhecimento apresentado pelas biólogas Bruna Silva e Rebeca Soares.

Ao final das apresentações, o diretor-presidente do Instituto Soka, Luciano Nascimento, destacou a importância de uma atuação consciente e colaborativa para enfrentar a crise climática. “A crise climática é um fenômeno global que trouxe sérios impactos em nossa convivência diária. Sabemos que a causa fundamental dessa crise reside no comportamento egoísta do ser humano”, afirmou Nascimento.

Luciano também citou o fundador do Instituto, Daisaku Ikeda, que defendia que o ser humano e o meio ambiente são “unos e inseparáveis”. “Cada um de nós é protagonista em seu palco de atuação e possui a capacidade e a força necessárias para sensibilizar outros sobre a importância de proteger o meio ambiente e, em especial, a Amazônia”, completou.

Oficina Social:

No encerramento da programação, foi realizada uma oficina intitulada “Papel Reciclado Colorido com Cascas de Frutas e Hortaliças”, ministrada por Marcela Amazonas, chefe do Laboratório de Celulose e Papel/Carvão Vegetal, juntamente com a pesquisadora nutricionista do Inpa, Dionísia Nagahama.

Destacando a urgência de reconhecer os impactos das mudanças climáticas que afetam a Amazônia, a oficina propôs uma ação prática e sustentável. “Uma das propostas é a oficina de papel reciclado com resíduos da cozinha, usando corantes naturais. O objetivo é mostrar que estamos passando por uma situação difícil, um marco histórico com essa seca, e despertar nos participantes a necessidade de mudar a postura em relação às mudanças climáticas”, afirmou Marcela Amazonas.

A oficina reuniu alguns participantes no Laboratório de Alimentos e Nutrição (Lan) do Inpa. 

Mais que doar, participe efetivamente da proteção da Amazônia

Com seu apoio as ações e programas do Instituto Soka Amazônia alcançam milhares de vidas, ampliando a consciência para a proteção do meio ambiente e da biodiversidade amazônica.

Dicas de Leitura: Preservando a biodiversidade da Amazônia: implicações pedagógicas

Com o tema Preservando a biodiversidade da Amazônia: Implicações pedagógicas para a coexistência harmoniosa, a sustentabilidade e a cidadania global, artigo de autoria das doutoras Namrata Sharma e Tamy Kobashikawa faz uma análise das atividades educacionais do Instituto como um espaço não formal de aprendizagem para a cidadania global.

O estudo foi publicado na edição de maio da Revista Científica ZEP, uma das mais conceituadas dedicada à Pedagogia, e ganhou destaque nas Conferências Internacionais nas áreas de Educação e Cidadania Global.

A publicação também examina as múltiplas contribuições da Instituição para a sustentabilidade, englobando aspectos como a preservação da biodiversidade na região amazônica; apoio ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável por meio do HUB ODS Amazonas; o uso da Carta da Terra como uma estrutura ética; e relevante visão do fundador para a coexistência harmoniosa de todas as formas de vida.

De acordo Sharma buscou-se apresentar um exemplo do trabalho crítico  do que vem sendo feito por organizações não governamentais (ONGs) como atores chave nos campos da sustentabilidade e da educação global.  Como estudo de caso avaliou as ações educações realizadas no Instituto Soka Amazônia que trazem como referência à Carta da Terra Internacional.

A Revista ZEP ( Zeitschrift für Internationale Bildungsforschung und Entwicklungspädagogik) é uma das mais antigas publicações científicas dedicadas a refletir sobre os desenvolvimentos sociais (globais) como um desafio para a educação. Em edições especiais, traz a opinião de pesquisadores sobre globalização, educação, aprendizagem e desenvolvimento, bem como sobre os desafios decorrentes da cooperação acadêmica.

Observação de aves:  conhecimento e proteção da biodiversidade nas Reservas da Biosfera

Instituto Soka Amazônia participa do Global Big Day com ação dedicada à Reserva da Biosfera Amazônia Central

 
por Dulce Moraes, Instituto Soka Amazônia 

Na mesma semana em que se comemora o Dia das Árvores Migratórias (13 de maio) foi realizado o Global Big Day, jornada  mundial de observação de aves. Em 24 horas, pessoas de todas as idades observaram e registraram aves que avistaram em suas cidades, contribuindo assim para ampliar o conhecimento sobre a variedade de espécies nas várias regiões do Planeta.

A iniciativa, criada em 2002 pela Universidade Cornell, incentiva a população a conhecer mais sobre a biodiversidade de sua localidade. Como prática de Ciência Cidadã as jornadas de observação estimulam o envolvimento e engajamento dos participantes na preservação da biodiversidade.

O Instituto Soka Amazônia, dentro da parceria com a Universidade do Estado do Amazonas, recebe jornadas de observação de aves organizadas pelo Vem Passarinhar Manaus na  Reserva de Patrimônio Natural RPPN Dr. Daisaku Ikeda,  que tornou-se pontos de observação de aves registrado na plataforma e-Bird.

Com  participação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Instituto Soka Amazônia, Museu do Amazonas (MUSA), Instituto Mamirauá, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e grupo Vem Passarinhar Manaus, o  Global big Day irá potencializar, neste ano, os registros de espécies da avifauna avistadas na Reserva da Biosfera da Amazônia Central, com apoio da UNESCO.

As aves visualizadas no dia  serão registradas na plataforma e-Bird, contribuindo para ampliar conhecimento de espécies com incidência na Amazônia Central. Dados como esses são de relevância para estudos sobre comportamento de espécies,  efeitos das mudanças climáticas e impacto da poluição sobre biodiversidade.

Foto: Erika Hingst-Zaher (cedida pelo pesquisador). Jornal da USP

É o caso da andorinha azul (Progne subis) – ave migratória que se descola  dos Estados Unidos e Canadá  para a Amazônia  – cuja pesquisa do biólogo Jonathan Maycol Branco, do Instituto de Biociência da USP, apontou  diminuição da população em  decorrência de contaminação por mercúrio na Amazônia. De acordo com o biólogo, o mercúrio detectado nas penas das aves afeta diretamente a capacidade da espécie de se deslocar em vôos em grandes distâncias. Para o especialista, é algo realmente preocupante em se tratando de aves migratórias pois elas necessitam ter grandes reservas de gordura, sua unica fonte de energia durante o processo migratório.    

Reservas da Biosfera união para preservação

Otimizar a convivência homem-natureza é um dos focos das ações propostas para as Reservas da Biosfera, conceito criado pela Unesco na década de 1970.

Na prática é uma área designada que favoreça a descoberta de soluções para problemas como o desmatamento das florestas tropicais, desertificação,  a poluição atmosférica, o efeito estufa e tantos outros. Atualmente, existem 738 Reservas da Biosfera classificadas em 134 países. O Brasil contempla sete: Mata Atlântica, Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Serra do Espinhaço e Amazônia Central, criada em 2001.

Fonte: ReservasdaBiosfera.org

O Instituto Soka Amazônia contribui significativamente para a Reserva da Biosfera Amazônia Central, com ações de apoio a pesquisas científicas, educação socioambiental e conservação da biodiversidade, promovendo a coexistência harmônica entre homem e natureza

Benefício às pessoas, biodiversidade e à Ciência

A prática de observação de aves traz diversos benefícios à saúde de seus praticantes; Ouvir a vocalização de pássaros, por exemplo, pode trazer ganhos para a saúde mental, diminuindo o estresse e ajudando em casos depressivos, como demonstrou pesquisa divulgada em 2022 pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College Londres. Segundo o estudo os efeitos podem durar  por até oito horas.  Embora novas pesquisas devam distinguir esses efeitos considerando sons gravadas ou reais, outros estudos apontaram benefícios para a saúde integral por caminhadas e permanências em áreas verdes ou florestais. Para o experiente observador de aves da Amazônia, Pedro Nassar, as jornadas de observação de aves promovidas pelo Vem Passarinhar Manaus e o Global Big Day traduzem bem esses ganhos:  ” são oportunidades excelentes par se integrar a grupos de pessoas apaixonadas pela natureza. É um estilo de vida saudável e de quebra a gente contribui para a ciência”. A bióloga e co-fundadora do Vem Passarinhar Manaus, Bruna Kathlen da Silva, considera gratificante práticas de Ciência Cidadã como essas: “É muito especial ver pessoas de todas idades admirar as aves e entender a importância delas e, principalmente, como podemos protegê-las e ao meio ambiente para continuarmos existindo”.

Fontes:
Unesco e a Rede Brasileira de Reservas da Biosfera
Jornal da USP : Contaminação de mercúrio da Amazônia em aves migratórias
Ver ou ouvir pássaros melhora a saúde mental

 

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Vem passarinhar Manaus: aprendizado e bem-estar garantidos

O objetivo: observar as exuberantes aves amazônicas em seu habitat natural seja para recreação, seja para fins de estudo

É indiscutível o relevante papel das aves para o equilíbrio dos ecossistemas. Cada grupo de animais tem um propósito e uma função a desempenhar e, graças às características únicas como hábitos alimentares e agilidade no deslocamento pelo ar, as aves formam um contingente essencial para o pleno êxito da harmonia entre os diferentes ecossistemas.

As birdwatching, termo cunhado nos EUA onde a atividade se originou, como são chamadas as ações de grupos para a observação desses animais, além de uma atividade que se complementa à terapia de Banho de Floresta (matéria já publicada neste blog: https://institutosoka-amazonia.org.br/que-tal-um-banho-de-floresta/ ), é ainda uma ação muito eficaz de educação ambiental.

A professora doutora Katell Uguen, da Universidade Estadual do Amazonas, é a orientadora do projeto Vem Passarinhar Manaus, que consiste em ações de observação de pássaros, com alunos e público em geral, em Manaus.

Sensação de bem estar

“Tudo começou na pandemia, em 2020 e vem se realizando com uma periodicidade de aproximadamente 30 a 45 dias”, contou a professora. Francesa de nascimento, vive no Amazonas há 25 anos. Embora tenha se graduado em engenharia agronômica, fez o doutorado em Ecologia Ambiental. “Desde a primeira vez que fui a uma passarinhada*, no Museu da Amazônia, a sensação de bem-estar me conquistou”, contou ela.

Ela se apressa a esclarecer que a iniciativa do Vem Passarinhar Manaus foi de uma aluna de graduação. “Ela veio com o projeto que eu imediatamente abracei por enxergar grandes oportunidades de estudo e também de compartilhamento de vivências saudáveis”, contou. Basicamente, o Vem Passarinhar Manaus uniu o utilíssimo ao agradabilíssimo.

“Já fizemos, no Instituto Soka, oito ações do projeto com a equipe e uma com o público em geral e já identificamos 71 espécies, mas isso ainda é pouco”

Muitas espécies de plantas das florestas amazônicas e de áreas periodicamente alagadas produzem frutos carnosos, com cores vivas e odor forte. Tais características atraem tanto aves como mamíferos que fazem o importante trabalho de dispersar as sementes para longe da árvore-mãe, o que garante a perpetuação e a conquista de novos ambientes para muitas espécies e sua permanência no ecossistema a longo prazo.

Alterações nos habitats podem gerar desequilíbrio, por isso, devido ao bom estado de conservação da cobertura vegetal e a diversidade de ambientes ao longo de um gradiente do rio para a terra firme, as passarinhadas no ISA são tão interessantes. “Já fizemos, no Instituto Soka, três ações do projeto com a equipe e uma com o público em geral e já identificamos 71 espécies, mas ainda é pouco”, explicou. Segundo ela, a área do Encontro das Águas pode reunir facilmente, mais de 300 espécies de aves devido às condições únicas que essas águas oferecem.

Dia mundial da observação de aves

O dia 8 de outubro é o Big Global Day, para o movimento do birdwatching. No mundo todo os apaixonados pela observação de aves saem a campo para reunir dados de extrema relevância para as pesquisas e/ou simplesmente se deleitar com o prazer de estar em meio ao verde, pois é um momento da Primavera (no hemisfério Sul) e Outono (no hemisfério Norte) em que as migrações estão em plena preparação e/ou em andamento. Em outubro, a equipe do projeto fez um levantamento no Instituto Soka onde levantou 28 espécies, contribuindo para o esforço mundial de monitoramento da biodiversidade.

Arquivo de sons de pássaros

Após cada ação do Vem Passarinhar Manaus são produzidos relatórios com os dados coletados. Os espécimes podem ser atraídos por meio de arquivo de sons de pássaros, o que possibilita a observação mais objetiva. A professora explica que a observação de aves é uma atividade que existe desde que o homem começou a interessar-se pelo comportamento de outras formas de vida. Há grupos que se dedicam a essa atividade regularmente em praticamente todos os parques nacionais. Aqui no Brasil o birdwatching é recente mas já conta com muitos clubes de observadores de aves e todos os estados.

É também uma atividade que resulta em benefícios para toda a coletividade, como o desenvolvimento do turismo responsável, pois esse turista não degrada e não polui, por ter a consciência da importância de preservar para que sempre haja espécimes a serem observados. Outro benefício é a geração de renda e valores agregados às comunidades locais, além, é claro, da sensibilização para a importância da conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Outro ponto abordado pela professora é a educação ambiental. “Quem já foi a um birdwatching será naturalmente um defensor do meio ambiente”, finalizou.

(*) A professora dá a essa expressão (passarinhada) um sentido muito mais nobre do que tem em muitos lugares do país onde o termo se refere a uma especialidade gastronômica como a famigerada “Passarinhada de Embu”, churrascada de confraternização política numa cidade da região da grande São Paulo, em que foram mortos de 2 mil a 3 mil pássaros.