A aventura brasileira de um peruano de muito valor

Juan Pablo é filho da floresta, da Amazônia peruana e, como ninguém, sabe o que representa essa densa mata na vida de cada habitante do planeta Terra

Já faz uma década que Pablo chegou ao Brasil.

O jovem coletor e cuidador da Reserva do Instituto Soka Amazônia tinha tenros 21 anos quando aqui chegou vindo do Peru, do pequeno distrito de Tapiche Iberia, localizado no departamento de Loreto, na província de Requena.

Juan Pablo Tercero Caiña Arce, como muitos imigrantes latino-americanos, veio ao Brasil em busca de uma vida melhor.

Venda de madeira para chegar ao Brasil

O convite do cunhado Erick Oblitas (esposo de sua irmã), também peruano, para trabalhar como coletor de terra preta foi aceito prontamente, mas havia um grande empecilho a vencer: recursos financeiros para a viagem. “Eu trabalhava com meu pai em uma serraria e ele me cedeu um grande lote de madeira para que eu vendesse e conseguisse o dinheiro para comprar a passagem”, conta Pablo.

Logo que chegou ao Brasil, em 2011, foi recebido por seus familiares que moravam em Manaus. Desde a década de 1980 tanto a capital como algumas outras cidades da Amazônia passaram a ser ponto de referência para os peruanos, que viam na emigração uma oportunidade para reconstrução de suas vidas.

A Amazônia peruana é muito similar à brasileira: compreende 37% do território do Peru e a economia se baseia na agricultura de pequena escala e na extração florestal e de hidrocarbonetos[i]. Essa região concentra cerca de 77% da população menos favorecida do Peru. Foi nesse contexto que o jovem Pablo decidiu emigrar e iniciar suas atividades laborais como coletor de sementes no INPA. Por ser oriundo do mesmo ecossistema, conhecia muito bem as espécies e foi bem tranquila a sua adaptação ao serviço.

A chegada ao Instituto Soka Amazônia

Pouco menos de um mês de iniciado trabalho, recebeu um novo convite. Desta vez veio do prof. dr. Jomber Chota, também oriundo do Peru e pesquisador residente do Instituto Soka há vários anos. O contato adveio por meio da comunidade peruana que o acolheu logo que chegou a Manaus. Jomber já era grande amigo dos tios de Pablo, que haviam emigrado muito tempo antes.

A proposta do pesquisador foi prontamente aceita e o garoto Pablo decidiu se aventurar uma vez mais. A amizade e o carinho do professor foram mais do que suficientes para sua decisão que, ao longo de uma década, se mostrou assertiva.

Além de coletar sementes tanto na Reserva do Instituto, prepara os plantios e cuida com grande dedicação das mudas. É figura primordial para a continuidade dos projetos do Instituto.

O sorriso fácil e o olhar aguçado – embora um tanto tímido – do rapaz ao longo de toda a entrevista demonstraram toda a sua força e tenacidade, componentes estes que fizeram com que conquistasse sua companheira, a brasileira Érica, que conheceu no Instituto, com quem têm uma filha de 4 anos, Yanka. A aparente simplicidade é, na realidade o grande valor de sua qualificada mão de obra, que se comprova pela longevidade de sua permanência no Instituto. Seu maior sonho é aprimorar suas habilidades, retornando à faculdade de Biologia em breve e continuar sua trajetória no Instituto.

Herança genética

O teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano, Stuart Hall, em seu livro Identidade Cultural e Diáspora, defende que os locais das culturas são transitórios. Isso significa que quando um sujeito migrante cruza fronteiras culturais e geográficas distintas, este passa não somente por uma mudança de localização, mas vivencia a construção de novos espaços simbólicos. Pablo, nesta década de Brasil, reconstruiu seus novos espaços simbólicos, a partir de sua dedicação ao trabalho e no valor deste. “Eu tenho os valores herdados de meu pai que carrego comigo desde criança”, explica. Segundo ele, tais valores são parte de sua herança genética e sente-se feliz por saber que seu trabalho é fundamental para a preservação da Amazônia. Um legado que deixará, não só aos seus, mas à toda a humanidade.

Quando um migrante cruza fronteiras culturais e geográficas distintas, este passa não somente por uma mudança de localização, mas vivencia a construção de novos espaços simbólicos


[i] Hidrocarbonetos são compostos orgânicos cuja estrutura molecular é formada a partir da união entre átomos de hidrogênio e carbono. A fórmula básica para hidrocarbonetos é a seguinte: C x H y . Esses compostos orgânicos podem ser encontrados em diferentes estados da matéria: líquido, gasoso (gás natural ou por condensação) e eventualmente sólido.

A aventura brasileira de um peruano de muito valor

Juan Pablo é filho da floresta, da Amazônia peruana e, como ninguém, sabe o que representa essa densa mata na vida de cada habitante do planeta Terra

Já faz uma década que Pablo chegou ao Brasil.

O jovem coletor e cuidador da Reserva do Instituto Soka Amazônia tinha tenros 21 anos quando aqui chegou vindo do Peru, do pequeno distrito de Tapiche Iberia, localizado no departamento de Loreto, na província de Requena.

Juan Pablo Tercero Caiña Arce, como muitos imigrantes latino-americanos, veio ao Brasil em busca de uma vida melhor.

Venda de madeira para chegar ao Brasil

O convite do cunhado Erick Oblitas (esposo de sua irmã), também peruano, para trabalhar como coletor de terra preta foi aceito prontamente, mas havia um grande empecilho a vencer: recursos financeiros para a viagem. “Eu trabalhava com meu pai em uma serraria e ele me cedeu um grande lote de madeira para que eu vendesse e conseguisse o dinheiro para comprar a passagem”, conta Pablo.

Logo que chegou ao Brasil, em 2011, foi recebido por seus familiares que moravam em Manaus. Desde a década de 1980 tanto a capital como algumas outras cidades da Amazônia passaram a ser ponto de referência para os peruanos, que viam na emigração uma oportunidade para reconstrução de suas vidas.

A Amazônia peruana é muito similar à brasileira: compreende 37% do território do Peru e a economia se baseia na agricultura de pequena escala e na extração florestal e de hidrocarbonetos[i]. Essa região concentra cerca de 77% da população menos favorecida do Peru. Foi nesse contexto que o jovem Pablo decidiu emigrar e iniciar suas atividades laborais como coletor de terra preta. Por ser oriundo do mesmo ecossistema, conhecia muito bem as espécies e foi bem tranquila a sua adaptação ao serviço.

A chegada ao Instituto Soka Amazônia

Pouco menos de um mês de iniciado trabalho, recebeu um novo convite. Desta vez veio do prof. dr. Jomber Chota, também oriundo do Peru e pesquisador residente do Instituto Soka há vários anos. O contato adveio por meio da comunidade peruana que o acolheu logo que chegou a Manaus. Jomber já era grande amigo dos tios de Pablo, que haviam emigrado muito tempo antes.

A proposta do pesquisador foi prontamente aceita e o garoto Pablo decidiu se aventurar uma vez mais. A amizade e o carinho do professor foram mais do que suficientes para sua decisão que, ao longo de uma década, se mostrou assertiva.

Além de coletar sementes tanto na Reserva do Instituto, prepara os plantios e cuida com grande dedicação das mudas. É figura primordial para a continuidade dos projetos do Instituto.

O sorriso fácil e o olhar aguçado – embora um tanto tímido – do rapaz ao longo de toda a entrevista demonstraram toda a sua força e tenacidade, componentes estes que fizeram com que conquistasse sua companheira, a brasileira Érica, que conheceu no Instituto, com quem têm uma filha de 4 anos, Yanka. A aparente simplicidade é, na realidade o grande valor de sua qualificada mão de obra, que se comprova pela longevidade de sua permanência no Instituto. Seu maior sonho é aprimorar suas habilidades, retornando à faculdade de Biologia em breve e continuar sua trajetória no Instituto.

Herança genética

O teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano, Stuart Hall, em seu livro Identidade Cultural e Diáspora, defende que os locais das culturas são transitórios. Isso significa que quando um sujeito migrante cruza fronteiras culturais e geográficas distintas, este passa não somente por uma mudança de localização, mas vivencia a construção de novos espaços simbólicos. Pablo, nesta década de Brasil, reconstruiu seus novos espaços simbólicos, a partir de sua dedicação ao trabalho e no valor deste. “Eu tenho os valores herdados de meu pai que carrego comigo desde criança”, explica. Segundo ele, tais valores são parte de sua herança genética e sente-se feliz por saber que seu trabalho é fundamental para a preservação da Amazônia. Um legado que deixará, não só aos seus, mas à toda a humanidade.

Quando um migrante cruza fronteiras culturais e geográficas distintas, este passa não somente por uma mudança de localização, mas vivencia a construção de novos espaços simbólicos


[i] Hidrocarbonetos são compostos orgânicos cuja estrutura molecular é formada a partir da união entre átomos de hidrogênio e carbono. A fórmula básica para hidrocarbonetos é a seguinte: C x H y . Esses compostos orgânicos podem ser encontrados em diferentes estados da matéria: líquido, gasoso (gás natural ou por condensação) e eventualmente sólido.

Coleta de sementes não em meio à floresta, mas em pleno centro de Manaus

Sementes em Manaus

Autorização para coleta em mais 5 pontos

Isso mesmo: coleta de sementes de árvores da região amazônica em pleno centro da cidade de Manaus.

A explicação do fato inusitado não é complicada.

Pode olhar no mapa: Manaus é, a bem dizer, uma mancha urbana no meio da floresta amazônica. Uma enorme mancha, uma cidade cosmopolita, com muitos traços de modernidade, um dos mais importantes aeroportos do país, muitas indústrias, mais de dois milhões de habitantes, claro que com quase todos os problemas comuns senão à totalidade, mas à maioria das cidades brasileiras.

Justamente por ser essa mancha urbana em meio ao verde, não é de admirar que existam vivas, aqui e ali restos intocados da floresta, capazes às vezes, de trazer à tona peculiaridades como essa, de encontrar-se um ponto de coleta de sementes nada mais, nada menos, do que no estacionamento do Fórum de Manaus.

Esse local, e mais quatro já vinham sendo usados pelo Instituto Soka Amazônia em Manaus para coleta de sementes, mas recentemente foi formalizada a autorização para seu uso com esse fim.

O curioso é que nesse local central da Capital há outras pessoas que também fazem coletas e chega a haver, algumas vezes, uma certa corrida para ver quem chega primeiro e quem consegue ter melhores resultados, cada um movido pelas seu interesse pelas preciosas sementes.

Um desses novos locais recentemente liberados para o Instituto Soka Amazônia é no Bosque da Ciência do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia uma enorme reserva, com 13 hectares, um dos pontos de maior visitação por parte de turistas que vão ao Amazonas.

A terceira autorização é a da Fazenda do sr. Raimundo Rodrigo, no bairro de Puraquequara, ao leste da capital do Estado.

A quarta e a quinta são propriedades privadas, uma fazenda na cidade de Itaquatiara a 175 quilômetros de Manaus, e outra em fazenda na cidade de Rio Preto da Eva, a 80 quilômetros da Capital.

Coleta de sementes não em meio à floresta, mas em pleno centro de Manaus

Sementes em Manaus

Autorização para coleta em mais 5 pontos

Isso mesmo: coleta de sementes de árvores da região amazônica em pleno centro da cidade de Manaus.

A explicação do fato inusitado não é complicada.

Pode olhar no mapa: Manaus é, a bem dizer, uma mancha urbana no meio da floresta amazônica. Uma enorme mancha, uma cidade cosmopolita, com muitos traços de modernidade, um dos mais importantes aeroportos do país, muitas indústrias, mais de dois milhões de habitantes, claro que com quase todos os problemas comuns senão à totalidade, mas à maioria das cidades brasileiras.

Justamente por ser essa mancha urbana em meio ao verde, não é de admirar que existam vivas, aqui e ali restos intocados da floresta, capazes às vezes, de trazer à tona peculiaridades como essa, de encontrar-se um ponto de coleta de sementes nada mais, nada menos, do que no estacionamento do Fórum de Manaus.

Esse local, e mais quatro já vinham sendo usados pelo Instituto Soka Amazônia em Manaus para coleta de sementes, mas recentemente foi formalizada a autorização para seu uso com esse fim.

O curioso é que nesse local central da Capital há outras pessoas que também fazem coletas e chega a haver, algumas vezes, uma certa corrida para ver quem chega primeiro e quem consegue ter melhores resultados, cada um movido pelas seu interesse pelas preciosas sementes.

Um desses novos locais recentemente liberados para o Instituto Soka Amazônia é no Bosque da Ciência do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia uma enorme reserva, com 13 hectares, um dos pontos de maior visitação por parte de turistas que vão ao Amazonas.

A terceira autorização é a da Fazenda do sr. Raimundo Rodrigo, no bairro de Puraquequara, ao leste da capital do Estado.

A quarta e a quinta são propriedades privadas, uma fazenda na cidade de Itaquatiara a 175 quilômetros de Manaus, e outra em fazenda na cidade de Rio Preto da Eva, a 80 quilômetros da Capital.