Rios voadores são essenciais para o planeta

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
(Trecho da canção Planeta Água de Guilherme Arantes)

São bilhões de toneladas de água na forma gasosa despejadas na atmosfera diariamente pela floresta, essa gigantesca massa de ar úmida atravessa todo o continente e fornecem as chuvas tão necessárias para toda a cadeia do agronegócio. Isso significa que se a floresta deixar de existir todo o setor agropecuário, igualmente, não resistirá. Os colossais “rios voadores” são parte de um ciclo natural que abastece de água não só o nosso país, mas todo o continente. Neste 21 de março, data em que se celebra o Dia Mundial da Água e das Árvores, o Instituto Soka Amazônia quer enfatizar mais esse aspecto de suma importância para a manutenção de todas as formas de vida.

Um documentário recente da BBC World[i] registra de forma clara que a maior floresta tropical do planeta vem sendo sistematicamente derrubada sem qualquer fiscalização, tudo em nome de um equivocado senso de “progresso”. Tal processo de devastação se acelerou nos últimos dois anos como nunca antes na história deste país. Pessoas que se intitulam “corretores imobiliários” adentram a floresta e, sem qualquer escrúpulo, derrubam imensas extensões de mata nativa localizadas em áreas de preservação e anunciam os terrenos em páginas do Facebook abertamente, sem receio. Uma das imagens mais chocantes e perturbadoras do documentário é a cena de uma imensa árvore, de mais de 30 metros, ceifada pela ação da motosserra, desabando ao solo em câmera lenta. Uma gigante como esta leva décadas para atingir tal envergadura e é derrubada em cerca de meia hora.

Documentário BBC – disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QpTMqTo_ycc
Como se formam os nossos rios voadores

O fenômeno dos Rios Voadores não é exclusividade nossa. Todos os anos, todas as matas do planeta transpiram toneladas e toneladas de água para a atmosfera na forma de vapor que viajam milhares de quilômetros para levar fertilidade a diversas áreas necessitadas. O impacto desses “rios voadores” é imensurável para a continuidade da vida na Terra. O equilíbrio dos ecossistemas e sua imensa biodiversidade dependem da água que viaja pelos céus. Estes cursos de água flutuantes se elevam a mais de três quilômetros de altura. Mas os nossos rios voadores têm um processo ainda mais complexo e interessante.

Quem popularizou o termo foi o explorador e aviador suíço-brasileiro Gérard Moss, que é também engenheiro e ambientalista. Ele produziu e protagonizou o projeto Expedição Rios Voadores, junto com os professores e cientistas Antônio Donato Nobre, Enéas Salati e outros. Moss voou milhares de quilômetros seguindo as correntes de ar, para coletar amostras de vapor d’água que comprovaram o que os pesquisadores já intuíam sobre o fluxo e formação desses imensos cursos d’água flutuantes.

A formação dos nossos rios voadores se inicia no Oceano Atlântico e a gigantesca cobertura verde da Amazônia funciona como uma imensa bomba, puxando para dentro do continente a umidade que evaporou do mar. Já sobre a terra, essa umidade se precipita em forma de chuva sobre a mata, que novamente vai transpirar novos cursos d’água voadores para a atmosfera. Daí seguem carregando enormes quantidades de vapor d’água para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Parte dessa massa de ar e umidade se precipita pelo caminho, fornecendo água essencial às lavouras, pastos e outras matas. Porém, imensas massas de vapor de água se mantêm no percurso até se chocarem com a grande muralha natural: a Cordilheira dos Andes. E é desse encontro que se reinicia o ciclo: as montanhas geladas recebem generosas doses desse vapor quente que se precipitarão para a formação das cabeceiras dos rios amazônicos.

Jornada extensa e necessária

Mas a jornada desses caudalosos rios voadores não se finda aí. As correntes de ar continuam ativas após o choque contra as cordilheiras e seguem rumo ao sul e centro-oeste, às grandes lavouras e pastagens do setor agropecuário. Não é exagero dizer que sem esses rios voadores, toda a economia agrícola do país entraria em colapso.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Científicas (INPE), Antônio Donato Nobre, explica que o fenômeno desses rios em forma de vapor d’água são a resposta ao mistério de uma vasta região ser verde e úmida. Este território compreende desde Cuiabá, Buenos Aires e São Paulo, um quadrilátero responsável por mais de 70% do PIB de toda a América do Sul, uma vez que contemplam em seu interior: hidrelétricas, indústrias, agricultura e grandes centros que dependem do equilíbrio climático e da provisão de água para existir. “Esses rios aéreos de vapor que a Amazônia exporta para essas áreas contraria a tendência normal dessa região de ser desértica. Essa imensa usina de serviços ambientais é o maior parque tecnológico que a Terra já conheceu”, ressalta o pesquisador.

Palestra disponível em: https://www.ted.com/talks/antonio_donato_nobre_the_magic_of_the_amazon_a_river_that_flows_invisibly_all_around_us?language=pt-br
Palestra Antonio Donato Nobre – Ted Talks Manaus
Alguns dados importantes

Ainda restam cerca de 600 bilhões de árvores na Amazônia, segundo estimativas. Destas, as gigantes como a Sumaúma, possuem raízes de grande profundidade, bombeando as águas de lençóis freáticos que se encontram a mais de 50 metros abaixo da superfície, e envia essa umidade às folhas que, sob o calor do sol amazônico, se transmutam em vapor e vão compor a outra parte dos rios voadores. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) mostram que uma única árvore frondosa, com copa de 20 metros de diâmetro, pode transpirar mais de mil litros de água por dia. Em toda a Amazônia, é um volume que chega a 20 bilhões de toneladas de água diariamente. Uma porção maior que a do Rio Amazonas, responsável por 17 bilhões de toneladas de água.

Por todos os ângulos analisados, a manutenção da floresta em pé é vantajosa a todos os envolvidos. O Brasil tem uma posição privilegiada em relação aos recursos hídricos. Porém, aquecimento global e as mudanças climáticas que ameaçam alterar os regimes de chuva em escala mundial são fatores que demonstram o quão frágil é esse “privilégio” e comprovam o clamor para que se busquem meios de promover a preservação e, assim garantir a sobrevivência a todo o continente, com a manutenção das chuvas levadas pelos rios voadores.

Links de sites relacionados ao tema

CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: www.inpe.br
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: www.inpa.gov.br
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia : lba.inpa.gov.br/lba/
IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia: www.imazon.org.br


[i] https://www.youtube.com/watch?v=QpTMqTo_ycc&feature=youtu.be

Sustentando toda vida da Terra

Instituído pela ONU em 2013, 3 de março celebra-se o Dia Mundial da Vida Selvagem

Segundo Mariana Napolitano, bióloga, PhD em Ecologia e coordenadora do Laboratório de Ciências do WWF-Brasil, “a existência de muitas espécies está sendo pressionada pelas ações humanas na direção de uma sexta extinção em massa”. Este alerta é, além de preocupante, um ponto que merece, no mínimo, uma reflexão. Nesse 3 de março denominado Dia Mundial da Vida Selvagem, o Instituto Soka Amazônia quer enfatizar a imensa relevância da defesa da biodiversidade para a manutenção de toda a vida do planeta.

Há várias décadas cientistas vêm alertando sobre essa questão apontada pela bióloga. Os números são estarrecedores: em média, a abundância das espécies de vertebrados diminuiu 68% desde 1970. Marco Lambertini, diretor-geral do WWF Internacional, ressalta que “o aumento da destruição da natureza pela humanidade está provocando impactos catastróficos, não apenas nas populações silvestres, mas também na saúde humana em todos os aspectos de nossas vidas”. São dados do relatório Planeta Vivo de 2020.

Os últimos 50 anos foram catastróficos para a Terra. A explosão do comércio global somado ao aumento populacional desenfreado e, consequentemente, do consumo exacerbado que chegou junto com o intenso processo de urbanização, ocasionou uma mudança radical de 75% da face do planeta. O que resta da vida selvagem vem sendo constantemente ameaçada e de forma cada vez mais predatória. O que o capitalismo teima em negar e pregar contra é que cada ser vivo – incluindo obviamente os humanos – têm suas vidas intrinsecamente ligadas em uma rede simbiótica de dependência.

E são as florestas tropicais as mais ameaçadas. Elas abrigam riquíssimos ecossistemas e perderam até agora 48,5% de sua cobertura original para se tornarem áreas de uso humano. Já o cerrado com sua imensa diversidade de vida selvagem é uma inestimável fonte de água e armazenamento de carbono que poderiam amenizar as mudanças climáticas. Com a perda acelerada desse bioma para o agronegócio, estamos literalmente reduzindo a longevidade de toda a espécie humana. E pior: a ineficiência da logística de distribuição de produtos leva à perda de cerca de um terço de todo o alimento produzido no mundo.

Onça pintada, rinocerontes, ursos polares, tigres são os exemplos mais visíveis dessa destruição. Mas insetos, plantas e muitas formas microscópicas de vida são também espécies ameaçadas de extinção. E a consequência da perda dessas espécies são imensuráveis e catastróficas: as plantas são cruciais para manter o ar que respiramos; os micro-organismos essenciais para a manutenção da fertilidade do solo, sem estes, nenhuma planta consegue se desenvolver; e insetos são fundamentais para a polinização dos espécimes vegetais que alimentam as populações humanas. Daí vem o título desse texto: a vida selvagem sustenta toda a vida na Terra. E o relatório aponta ainda que 1 em cada 5 plantas estão ameaçadas de extinção. A taxa de desaparecimento de plantas é duas vezes maior que a dos mamíferos, pássaros e anfíbios juntos.

O grande vilão dessa tragédia é a atividade humana não sustentável como a agricultura, pesca, mineração etc. Seus efeitos impactam diretamente na qualidade de vida urbana, com secas prolongadas, ou chuvas em demasia, bem como o ar cada vez mais insalubre. Hoje consumimos cerca de 50% além da capacidade regenerativa anual da Terra. A continuar nesse ritmo, em breve, extinguiremos não apenas a vida selvagem, mas a espécie humana.

Estudos recentes sugerem que os prováveis índices de extinção, atualmente, sejam de 100 à 1.000 extinções por 10.000 espécies em 100 anos, o que é muito elevado. Isso leva a crer que nós estamos mesmo à beira da sexta extinção em massa.

Considerando toda essa trajetória e nosso papel central de fazer uma mudança para modos sustentáveis e resilientes de produção e consumo, temos motivo para ter esperança. No entanto, essa transição deve ser urgente. Uma série de mudanças significativas precisam acontecer no sistema econômico global para promover a perspectiva de que nosso planeta possui recursos finitos. Precisamos reconhecer o valor e as necessidade de nosso planeta Terra, cada vez mais frágil, e gerar consciência de que as agendas social, econômica e ambiental devem caminhar juntas. É imprescindível que protejamos a vida selvagem.

A data de hoje foi criada em 2013 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a fim de reafirmar o valor essencial das espécies selvagem. E o Brasil, País que possui a maior biodiversidade do planeta, precisa agir agora e tomar ações decisivas para que mecanismos sejam criados para promover o melhor aproveitamento do solo; que os serviços ambientais providos pelas florestas, por exemplo, a regulação climática e a segurança hídrica, sejam valorizados; além de incentivar o melhor ordenamento e gestão territorial; a consolidação e criação de áreas protegidas levando em conta uma paisagem mais ampla, a promoção de cadeias produtivas, entre outras ações cotidianas que podem garantir uma efetiva redução na pressão sobre os recursos naturais e a vida selvagem ao redor do mundo.

Fontes:

https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?56342

https://livingplanet.panda.org/pt-br/insects-soil-plants https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2020/03/03/3-de-marco-dia-mundial-da-vida-selvagem.ghtml

Jatobá: uma árvore de muitos benefícios

Banco de Sementes Instituto
O jatobazeiro é considerado sagrado pelos povos indígenas, pois acreditavam que seus frutos possuíam propriedades mágicas e eram utilizadas em suas práticas meditativas

Pode elevar-se do solo até 40 metros! Uma gigante cujo crescimento lento faz com que a madeira de seu tronco e ramos seja de uma qualidade muito superior à das demais árvores. Comumente conhecida pelo nome do fruto – Jatobá (Hymenaea courbaril) em tupi, significa “árvore de frutos duros”. O indígena brasileiro conhece seus múltiplos benefícios medicinais e a considera sagrada, utilizando-a em seus rituais xamânicos. Também é conhecida como: jutaí, jutaí-açu, jutaí-bravo, jutaí-grande, jutaí-peba, jutaí-uba, jutaí-uva, jataíba, jataúba.

Ocorre em partes da América do Sul e Central, do México ao Paraguai. No Brasil é fácil encontrá-la em todas as regiões do país, principalmente nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, em áreas antrópicas[i], de cerrado (lato sensu[ii]), em floresta ciliar ou galera, floresta de terra firme, floresta ombrófila[iii] e na restinga. É mais frequente em solos pobres e argilosos. É uma árvore que comumente compõe a floresta secundária tardia e de clímax na dinâmica sucessional[iv].

O jatobazeiro tem o tronco reto, cilíndrico e de casca lisa, que é grossa e vermelho-escura. Suas folhas são lanceoladas e pontiagudas, com nervura principal bem aparente e as suas delicadas flores têm cores que variam de brancas a creme-alaranjado. O fruto é uma vagem lenhosa grande e robusta; verde quando imaturo, marrom-forte quando maduro e preto quando passado. É de fácil colheita pois as grandes vagens marrons se projetam espontaneamente ao solo e, na floresta, serve de alimento a muitos animais que depois dispersam as sementes por vastas áreas dando continuidade ao ciclo da vida. A polpa tem um aspecto de farinha, é comestível e adocicada, de cor amarelo-claro. As sementes são grandes, ovais e de cor marrom-avermelhada.

O tronco que pode chegar a um metro de diâmetro e fornece uma madeira resistente, de consistência sólida e por isso mesmo de grande longevidade. O jatobazeiro é uma árvore que não apodrece facilmente quando morre devido à sua natureza antifúngica, por isso é uma matéria prima bastante apreciada para a construção de alicerces, portas, tábuas e objetos de arte, daí a grande procura e, na mesma proporção, o grande risco de extinção. É considerada uma das madeiras mais valiosas do mundo.

Atributos medicinais do fruto

Já o fruto maduro (ocorre entre os meses de julho a setembro) é talvez seu mais importante atributo. De odor forte e marcante, possui casca dura e em média carrega duas sementes por fruto. Indicada para tratamento de anemia pelo alto teor de ferro. É ainda rica em fósforo, magnésio e vitamina C. Fornece mais potássio que a banana e mais cálcio que leite e é, portanto, considerado um energético natural.

O chá medicinal é benéfico no tratamento de diversas afecções: cicatrização de feridas em geral (tanto cutânea quanto interna), asma e outras doenças respiratórias, blenorragia, cistite, cólicas, verminose, prisão de ventre, coqueluche, disenteria, má digestão, fraqueza, problemas de próstata, tosse e laringite. Portanto, as propriedades do jatobá, sempre utilizado como coadjuvante, são: ação adstringente, antibacteriana, antiespasmódica, antifúngica, anti-inflamatória, antioxidante, balsâmica, descongestionante, diurética, estimulante, expectorante, fortificante, hepatoprotetora, laxante, tônica e vermífuga.

Até a seiva do jatobá possui propriedades medicinais. Obtida através da laceração ou perfuração do tronco, proporciona tratamento para os convalescentes, anêmicos e aos debilitados por afecções pulmonares, pois colabora para o fortalecimento do sistema imunológico.


Fontes:

Imagem Jatobá: Conrado, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons

http://www.cerratinga.org.br/jatoba/

https://www.tuasaude.com/jatoba/#:~:text=Jatob%C3%A1%20%C3%A9%20uma%20%C3%A1rvore%20que,em%20lojas%20de%20produtos%20naturais

https://www.infoescola.com/plantas/jatoba/

[i] Áreas antrópicas são as ocupações humanas somadas às consequências da exploração dos recursos naturais, devido às necessidades e atividades das suas populações.

[ii] Quando falamos “cerrado stricto sensu” estamos nos referindo apenas às formações savânicas, já o termo “cerradolato sensu” abrange, as formações campestres até os cerradões, incluindo as savanas. https://biologo.com.br/bio/introducao-ao-cerrado/#:~:text=Quando%20falamos%20%E2%80%9Ccerrado%20stricto%20sensu,os%20cerrad%C3%B5es%2C%20incluindo%20as%20savanas

[iii] Floresta Ombrófila é a deniminação atual do ecossistema que já foi conhecido como floresta pluvial. https://www.institutopuruna.com.br/floresta-ombrofila-mista/?gclid=Cj0KCQiA0-6ABhDMARIsAFVdQv-pgG0SLrK_RVSDHnTnoZQTYsvO1iR33o5pG7h3-uRrPnfyZh4vAZsaAgAJEALw_wcB

[iv] A dinâmica sucessional em florestas pode ser caracterizada principalmente pelas mudanças na flora e na fauna decorrentes em determinado período. (…) As primeiras descrições sobre dinamismo florístico em formações florestais secundárias da Floresta Ombrófila Densa no Sul do Brasil foram abordadas por Klein (1980). https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-67622009000100011#:~:text=A%20din%C3%A2mica%20sucessional%20em%20florestas,fauna%20decorrentes%20em%20determinado%20per%C3%ADodo.&text=As%20primeiras%20descri%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20dinamismo,abordadas%20por%20Klein%20(1980)

Cumaru: Uma árvore medicinal

Cumaru

Os benefícios da árvore são impressionantes!

Ameaça: cobiça por sua madeira de altíssima qualidade

Todo habitante da floresta conhece suas propriedades medicinais. Há séculos a árvore Cumaru é usada em preparados que, todo mundo garante, são muito eficazes na cura de diferentes males. Desde a casca até os frutos, as folhas, todas as partes da Cumaru (Dipteryx odorata) são valiosas e muito apreciadas.

Monster46, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons https://commons.wikimedia.org/wiki/File:La-Sarrapia.JPG

Com indicação para enfermidades das vias respiratórias, são preparados xaropes e infusões produzidos a partir da extração da casca da árvore. Assegura-se que a semente tem propriedades analgésicas no tratamento de dor de ouvido com um preparado à base de álcool. O chá das folhas é um potente coadjuvante no tratamento de arritmias cardíacas. Já o óleo extraído também da semente é um potente anti-inflamatório, muito utilizado nos casos de reumatismo.

A partir do fruto, que possui uma fragrância inconfundível, produz-se um personalíssimo e muito agradável perfume. Como dizem os coletores extrativistas: “A gente colhe, seca e abre. O cheiro da semente pega e o perfume fica o dia todo nas mãos!”.

Tanto essas propriedades são reconhecidamente válidas, que grandes empresas vêm fomentando o plantio da árvore em enormes áreas na Amazônia. Esse plantio contribui para o reflorestamento e ao mesmo tempo incentiva a fixação do trabalhador rural na região. A semente do cumaru é conhecida como fava-tonka ou fava-tonca, e vem sendo utilizada pela perfumaria desde o século XIX. O princípio ativo responsável pelo seu perfume é a cumarina e a fragrância remete a uma fusão de aromas de baunilha e amêndoa.

Mas e a madeira?

Todos os benefícios listados são salutares tanto para floresta como para as comunidades, já que a extração dos insumos mantém a árvore em pé e proporciona renda aos povos que habitam a floresta. Porém, uma das características que assombram a manutenção dessa harmonia é a altíssima qualidade da madeira dessa árvore muito resistente ao ataque de cupins e de fungos que provocam apodrecimento. A indústria moveleira de luxo é a grande consumidora dessa matéria prima, o que acaba por ameaçar a continuidade de sua existência nos ambientes naturais.

Características físicas

Árvore de copa globosa, tronco ereto e cilíndrico, de 50-70 cm de diâmetro. Sua casca é lisa e amarela, pouco espessa, rugosa e descamante em placas irregulares. Suas flores pequenas em tons brancos com as pontas rosas; a fruta é carnosa (drupa) de cor amarela esverdeada com gosto meio amargo, e suas sementes são de coloração vinho, mas quando maduras escurecem e ficam pretas.

É uma árvore de porte grande que pode atingir 30 metros de altura em ambiente natural, mas quando cultivada não chega a esse patamar. Daí a indústria madeireira buscar seus insumos na floresta. Embora seja abundante na região amazônica, pode ser encontrada também desde o estado do Acre até o Maranhão.

O fruto da Cumaru é uma noz ovoide, de casca verde-amarelada, que envolve uma semente que possui uma amêndoa oleosa, de forma alongada. Essa amêndoa é rija e envolta por uma película fina de cor pardo-clara, com uma semente verde. Quando a amêndoa está seca, a semente adquire uma tonalidade vermelho-escura.

A floração árvore ocorre entre os meses de dezembro e abril e o amadurecimento dos frutos acontece, principalmente, entre maio e setembro.

Propriedades medicinais

Cardiotônica: atua como tonificante do coração

Antiespasmódica: melhora quadros de cólica uterina

Antiasmático: alivia os sintomas da asma

Emenagoga: facilita o fluxo da menstruação diminuindo a cólica menstrual

Diaforética: estimula a transpiração, contribuindo para a desintoxicação do organismo

Anti-inflamatória: trata e combate estados inflamatórios como feridas, aftas e úlceras e em caso de sinusite

Analgésica: minimiza estados de dor, como a do reumatismo e da cefaleia

Broncodilatadora: alivia congestionamento pulmonar, em casos de gripe, asmas e bronquites

Alerta: A cumarina (Cumaricanhydride), principal princípio ativo desta planta, é uma substância branca de sabor acre no começo e depois agradável, solúvel em água fervente, é responsável por grande parte das propriedades da árvore Cumaru. O extrato da cumarina tem efeito anestésico sobre o sistema nervoso central e, em altas doses pode resultar em morte.

Fonte:

https://www.embrapa.br/agrossilvipastoril/sitio-tecnologico/trilha-ecologica/especies/cumaru

https://www.youtube.com/watch?v=8RZnUTl9fqwhttps://www.greenmebrasil.com/usos-beneficios/6617-cumaru-beneficios-como-usar/

Uma raridade amazônica

Muda de Coccoloba

Coccoloba gigantifolia é uma árvore amazônica que detém o título da maior folha do planeta e figura no Guiness Book desde 1997!

No último dia 10 de dezembro, o Instituto Soka Amazônia realizou o plantio de uma muda de Coccoloba gigantifolia, uma rara espécie amazônica, cuja folha pode chegar a 2,5m de comprimento e 1,44m de largura. O exemplar plantado foi um presente do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – à instituição, como forma de celebrar a amizade e a longa e frutífera parceria. O plantio foi realizado pelo presidente da BSGI, Miguel Shiratori, que se encontrava em visita ao Instituto. O plantio foi também um marco que visa projetar os próximos 10 anos, rumo ao icônico ano de 2030, quando a Soka Gakkai completa seu centenário e é também o ano estabelecido pela ONU para a total implementação dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável[i].

Exemplares dessa árvore só são encontrados na bacia do Rio Madeira, nos estados do Amazonas e Rondônia, em áreas altamente impactadas por projetos de infraestrutura como barragens hidrelétricas, estradas e empreendimentos agropecuários. Estes fatores somados à sua pouca incidência colocam a Coccoloba gigantifolia, na lista de espécies ameaçadas de extinção, o que por si é bastante desalentador uma vez que esta árvore foi recém “descoberta”, por assim dizer.

Embora o INPA possua um exemplar de sua imensa folha seca emoldurada em sua sede em Manaus há décadas, foi somente há pouco mais de uma década que a Coccoloba gigantifolia foi oficialmente catalogada, mas ainda seus pesquisadores lutam para o reconhecimento de sua identidade genuinamente nacional.

Foram 13 anos de espera até que uma das plantas floriu e frutificou, em 2018, o que permitiu aos pesquisadores do INPA encerrar o ciclo e identificar a espécie. “Nunca poderíamos descrever a espécie sem flor e sem fruto, por isso que demorou tanto. A planta do campus do INPA floresceu e frutificou aos 13 anos”, explicam os autores do estudo, Cid Ferreira e Rogério Gribel.

São árvores que chegam a 15 metros de altura e tronco fino, de no máximo 15cm de diâmetro. Vem daí o impressionante espetáculo de suas imensas folhas, o que a torna muito visada para ornamentação. E o fruto é muito apreciado por araras, tucanos e araçari.

Fontes:

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0044-59672004000400006&script=sci_arttext

http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/06/em-extincao-maior-folha-do-mundo-ainda-e-encontrada-no-amazonas.html

http://portal.inpa.gov.br/index.php/ultimas-noticias/3752-arvore-com-maior-folha-do-mundo-ganha-identificacao-botanica


[i] https://un75.online/partner/google?lang=prt&gclid=CjwKCAiA_eb-BRB2EiwAGBnXXi856xcx41Gu34mOeRPEGjPYZf0TZgtR4q9AgH78iwi1Y7xIoI3w5BoCHowQAvD_BwE

Precioso fruto do Brasil: a nossa CASTANHEIRA!

Castanheira do Brasil

Um dos frutos mais apreciados em todo o mundo, a castanha do Brasil é rica em selênio, micronutriente que preserva as células e tem ação desintoxicante

Só para ter uma ideia de sua potência: com a ingestão de apenas uma castanha do Brasil por dia, obtém-se a dose necessária de selênio, componente fundamental para a manutenção da saúde física e mental. Além desse, são muitos os benefícios advindos desse fruto, mas o maior de todos é, sem dúvida, a sua contribuição para a manutenção da floresta em pé, pois grande parte da coleta da castanha é feita por extrativistas que vivem no interior das matas e nas margens dos rios e que por isso mesmo, cuidam e protegem essas árvores. responsáveis por sua subsistência.

Bertholletia excelsa

Também conhecida como castanheira-do-pará, a Bertholletia excelsa é uma árvore altiva, e majestosa, nativa da Amazônia e cresce quase sempre às margens de grandes rios, como o Amazonas, o Negro, o Orinoco e o Araguaia. Está presente também nos demais países amazônicos (Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa), mas atualmente ela só abunda na Bolívia e no Suriname.

Árvore ameaçada

Embora seja fonte de subsistência para uma parcela da população da floresta, está ameaçada de extinção devido ao desmatamento que devasta áreas imensas indiscriminadamente. Consta inclusive, na lista da União Mundial para a Natureza (IUCN) como espécie que se encontra em situação de grande vulnerabilidade.

30 a 50 metros de altura

As castanheiras-do-Brasil normalmente atingem entre 30~50 metros de altura e chegam, em média, a 2 metros de diâmetro, mas há registro de espécimes que alcançaram mais de 50m de altura e mais de 5m de diâmetro. O tronco é reto e os galhos se concentram na parte mais alta da árvore. A casca é acinzentada e as folhas, que ficam acima da copa das outras árvores, têm de 20 cm a 35 cm de comprimento.

As castanhas

As castanhas são as sementes da planta e se encontram protegidas no interior do fruto – “ouriços” – de casca dura e contêm cerca de 10 a 25 sementes. Cada fruto pesa em média 750g, mas pode chegar a 2kg e leva cerca de um ano para amadurecer.

Ouriços da Castanheira

As castanhas são muito apreciadas por roedores como as cutias, que desenvolveram a habilidade de abrir os ouriços (a casca destes pode chegar a ter 2cm de espessura), mas micos e outros animais também se alimentam delas. O peso do ouriço o faz precipitar-se no solo e, os frutos abertos que não são devorados, são absorvidos pelo solo que dará início à germinação de uma nova castanheira, que pode viver cerca de 500 anos!

A reprodução

A reprodução depende de um solo intocado, mas também de certos insetos que são atraídos por orquídeas que vivem próximas das castanheiras. Ao se aproximarem das orquídeas, também acabam sendo atraídos pelas flores da árvore. Ou seja: sem as orquídeas os insetos não se aproximariam, a polinização não aconteceria e não correriam os frutos. Tudo é parte de um ciclo de vida muito bem engendrado pela natureza.

Ajudar a espécie

Uma das maneiras de ajudar a castanheira é cuidar para que se compre madeira sempre com certificação pois estará apoiando a criação e a gestão de unidades de conservação. Além disso dar preferência a produtos sustentáveis do ponto de vista ecológico e social.

Mais benefícios da castanha

Além do selênio já citado, a castanha-do-Brasil possui alta capacidade saciante, por possuir alto teor de gordura boa e proteína, sendo por isso um grande aliado no processo de emagrecimento; é ainda fonte de fibra, vitaminas e minerais como o cálcio e o magnésio. Fortalece os ossos, é aliada do bom colesterol (HDL), combate o envelhecimento e fortalece o sistema imunológico.

Não só o selênio

Voltando ao selênio, um estudo da Universidade de São Paulo (USP), da pesquisadora Bárbara Cardoso, comprovou que o consumo diário de selênio – presente em altas concentrações do fruto – é capaz de melhorar o desempenho de idosos em testes cognitivos. A descoberta rendeu à pesquisadora o 1º lugar na categoria mestre e doutor no Prêmio Jovem Cientista. Os resultados dessa pesquisa vêm movimentando a indústria farmacêutica em testes feitos nos laboratórios da Universidade de Melbourne, na Austrália. Nutricionistas, nutrólogos e médicos do Esporte indicam o consumo de uma castanha por dia para ajudar no emagrecimento. Outro ganho é a redução em até 60% do risco relativo de desenvolver doença arterial crônica, quando consumida pelo menos cinco vezes por semana.

A castanheira fornece ainda insumos para a milionária indústria de cosméticos. É, portanto uma espécie que pode encabeçar o desenvolvimento de novas matrizes econômicas, uma das propostas do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), que defende uma abertura para possibilidades que conduzam à independência do modelo da Zona Franca de Manaus, para que não se repita a história do ciclo da borracha que reinou por três décadas e, ao quebrar, levou junto toda a economia do Estado (a borracha produzida no Amazonas era responsável por 45% do PIB da época).

Ou seja: a castanha-do-brasil é um excelente exemplo do imenso potencial econômico da maior floresta tropical do planeta.

Fontes: https://amazonia.org.br/2016/06/castanha-o-bendito-fruto-da-amazonia-para-uma-vida-saudavel/https://brasilamazoniaagora.com.br/domesticacao-da-castanha-parte3/

Mais de 3.000 alegres e ruidosos “donos” da Academia Ambiental

Mesmo em regime remoto continua a empolgação da moçada

Nesta época de pandemia  em que as regras de isolamento social são mandatórias, uma das mais alegres e estimulantes atividades que se desenvolvem regularmente no Instituto Soka Amazônia -a visita de grupos de estudantes- está sendo feita de forma remota, e por isso menos colorida, sem aquele clima descontraído que é próprio da moçada que vem passar algumas horas conosco para se familiarizar com as coisas do ambientalismo e sentir de perto todo o trabalho que é aqui realizado dia após dia, 365 dias do ano. Mas temos a certeza de que mesmo assim, o envolvimento das crianças com as questões ambientais continuam firmes.

Em sala de aula, em meio ao verde e agora em casa

O programa “Academia Ambiental” existe formalmente desde 2017.

Antes disso as visitas desses grupos aconteciam com menor regularidade.

O saldo positivo é que já chega a mais de 3.00 alunos de escolas públicas da área de Manaus que já visitaram o Instituto, no programa que inclui tanto uma parte em sala de aula, como caminhadas pela Reserva Ecológica Daisaku Ikeda e pelo Sitio Arqueológico descoberto em 2001, quando são abordados de forma dinâmica os mais diferentes aspectos de ecologia, integração do ser humano com a natureza, meio ambiente e do célebre Encontro das Águas, fenômeno que apesar de extremamente familiar para quem vive em Manaus, acaba sempre empolgando os jovens estudantes.

Caminhadas dos grupos de alunos no Instituto Soka Amazônia

 Esse programa vem sendo cumprido de outra forma desde outubro de 2020 com a produção de materiais especiais -vídeos, em especial- que são remetidos às escolas para que os professores os utilizem dentro das aulas remotas, que passaram a ser rotina.

Apesar de toda a familiaridade com o Encontro das Águas de quem vive em Manaus, o fenômenos continua empolgando os jovens que participam do projeto Academia Ambiental

Um exemplo de que esse formato é um sucesso, apesar de ter seu dinamismo comprometido, é o da Escola Municipal Francisco Nunes. 40 alunos do 9º ano participaram e produziram vários trabalhos a partir da utilização do material remetido. Nesse caso específico foi importante a parceria com o organismo Ocas do Conhecimento Ambiental da Secretaria Municipal de Educação (Semed-Manaus).

Novidades em 2021

Para 2021 -e todos esperam que a pandemia tenha chegado ao fim- há várias inovações que estão sendo programadas pelo Instituto Soka Amazônia e com isso voltará a reinar, aqui, a descontração que é típica de encontros de jovens em programas como o da Academia Ambiental. 

Sumaúma: A gigante da Amazônia

Sagrada para os povos tradicionais da floresta, pode viver mais de 120 anos e ainda proporciona benefícios medicinais únicos

Sua grandiosidade impressiona. Pode chegar a 70 metros o que equivale a um edifício de 24 andares! Sua copa se projeta acima de todas as demais servindo de abrigo e proteção para inúmeros pássaros e insetos. A Samaúma ou Sumaúma (Ceiba pentranda) é uma das árvores mais extraordinárias da Amazônia por seu gigantismo. Sagrada para povos da antiguidade do continente, como os maias, seu nome remete à fibra que pode ser obtida a partir de seus frutos. O Instituto Soka Amazônia tem duas sumaúmas de grande destaque para as aulas práticas de educação ambiental: uma de 25 anos com 30 metros de altura e outra chamada carinhosamente de sumaúma-bebê de 3 anos, com altura de 3 metros.

Quanto à sua sacralidade, de acordo com a sabedoria da floresta, na base da sumaúma há um portal – invisível aos olhos humanos não-iniciados – que conecta esta realidade com o universo espiritual. Seres mitológicos das matas entram e saem por esse portal (leia a lenda da sumaúma ao final deste texto).

A árvore pertence à família das bombacáceas, encontrada em florestas pluviais da América Central, da África ocidental, do sudeste asiático e da América do Sul. No Brasil, ela ocorre na Amazônia, onde há também uma ilha denominada Sumaúma, no rio Tapajós. Nas várzeas ela cresce muito rápido, mas tem porte menor em terra firme. As raízes tubulares são chamadas de sapopemas (palavra do tupi que significa raiz chata). De madeira clara, leve e macia quando jovem, e acastanhada ou cinza na maturidade. Os frutos são capsulas amareladas de 5 a7 centímetros de diâmetro, por 8 a 16 cm de comprimento e cada uma pode conter de 120 a 175 sementes, envoltas em uma paina leve, branca e sedosa. Devido a essa paina, usadas como alternativa para o algodão e são comumente usadas para encher almofadas, isolamentos e até colchões, é conhecida também por algodoeiro.

Frutos da Sumaúma

Outrora era o telefone da floresta. Golpeadas suas enormes sapopemas ecoam por longas distâncias ao ser golpeadas, por isso era um meio de comunicação entre os povos da floresta, com códigos elaborados como o morse.

Das sementes também pode se extrair o óleo que, além do uso alimentar, é usado também na produção de sabões, lubrificantes e em iluminação, e é ainda bastante eficiente no combate à ferrugem. Rica em proteínas, óleo e carboidratos, a torta das sementes serve de ração para animais e como adubo.

Há ainda o uso medicinal. Da seiva da sumaúma é produzido medicamento para o tratamento da conjuntivite. A casca tem propriedades diuréticas e é ingerido na forma de chá, indicado para o tratamento de hidropisia do abdômen[i] e malária. Certas substâncias químicas extraídas da casca das raízes combatem algumas bactérias e fungos. Em margens de riachos secos, as raízes descobertas da sumaúma fornecem água potável no verão. As sapopemas obtém água das profundezas do solo amazônico e abastece não somente a si, mas a todo um conjunto de outras espécies ao seu redor. Essa característica única a torna a “mãe” da floresta, já que o precioso líquido é vital para a sobrevivência de todo ser vivo. Em períodos específicos, quando as sapopemas atingem um determinado nível de umidade, a árvore solta esse excesso e irriga todo o seu entorno.

Lenda da sumaúma

Conta a lenda que em tempos muito antigos o marido de uma curandeira foi picado por uma cobra venenosa, e ela nada pôde fazer para salvá-lo. Passado o luto, a moça se dedicou a pesquisar a cura para a picada de cobras. Ela descobriu que o tubérculo da planta jérgon sacha (Dracontium lorettense) não só curava as picadas, mas também dava à pessoa imunidade contra o veneno de outras picadas.
Infelizmente, um dia o filho da curandeira foi picado, e o remédio não funcionou. Desesperada, ela tomou uma medida radical: usando rapé, suplicou ao espírito da planta que deixasse seu filho viver. Em troca, a curandeira concordou em tornar-se espírito e viver para sempre na base da Samaúma.
Por isso é que hoje tem “Mãe Samaúma”, esse espírito que ocupa um lugar de honra no reino da floresta. É ela quem, com sua poderosa energia, olha e protege as plantas e os animais das matas e da natureza.

Este texto é um excerto editado de “Um Conto Amazônico”, de Arnaldo Quispe, publicado em 2013 no Blog Terras Náuas, do jornalista acreano

 

Fontes:

http://w2.files.scire.net.br/atrio/inpa-atu_upl//THESIS/171/alexandra_maria_ferreira_silveira_dissertaoatu_20200513104235679.pdf

https://www.xapuri.info/news/a-lenda-mae-samauma/#:~:text=Diz%20a%20sabedoria%20da%20floresta,humano%20com%20o%20universo%20espiritual.

[i] Hidropisia é a acumulação anormal de fluido nas cavidades naturais do corpo ou no tecido celular. O termo pode ser usado como sinônimo de edema. Historicamente, hidropisia, como doença, designava a causa principal dos edemas generalizados, a saber, a insuficiência cardíaca congestiva. Diz-se “hidrópico” o indivíduo que sofre da doença

Esperança para o FUTURO

Instituto Soka Amazônia participa de evento ecumênico e ambiental internacional

Futuro. Palavra que vem recebendo novos significados a cada dia. Esperança. Desejo, anseio, necessidade que permeia todas as mentes nesse momento que a humanidade convive com tantas incertezas. Foi nesse contexto que aconteceu o seminário Hope for the Future (Esperança para o Futuro), promovido pela Interfaith Liaison Committee, com sede em Genebra, na Suiça e com o apoio de diversos grupos religiosos internacionais. O tema do seminário foi a interrelação da fé e a questão climática. O Instituto Soka Amazônia, participou de um dos painéis, representado pela estudante de Ciências Naturais, Tais Tokusato.

O evento é um dos muitos que se seguirão antes da realização da COP26 (26ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática da ONU) em novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. Hope for the Future buscou compartilhar e refletir sobre histórias de esperança e ação das comunidades religiosas do mundo.

Pelo Instituto Soka, Tais relatou um pouco de sua história de vida, relacionada ao tema do evento. Ela contou como construiu sua vida a partir da vivência, desde a infância, embasada na filosofia humanística do budismo de Nichiren Daishonin, base de todas as ações da Associação Brasil SGI à qual Tais sempre foi associada.

“No budismo, todas as pessoas são dignas de respeito devido ao potencial ilimitado em suas vidas e elas merecem um ambiente igualmente digno. Os indivíduos e a natureza são inseparáveis e influenciam-se mutuamente, portanto, qualquer ação individual tem um resultado em seu ambiente”, exemplificou.

Desde 2016 no Instituto Soka Amazônia, Tais encontrou o local onde pode compartilhar a esperança real, por meio dos projetos de educação ambiental. “Eu vi esperança e sonhos surgindo do coração das crianças!”, exclamou.

Um de principais projetos educacionais tem como participantes alunos de escolas públicas de Manaus. Moradores da periferia que enfrentam a pobreza e a violência todos os dias. A maioria deles nunca visitou a floresta e tem medo dela. Neste projeto, são abordados diversos temas ecológicos ao longo de um dia de vivência direta na floresta na reserva natural do Instituto. “Assim como sementes, cada uma dessas crianças tem um potencial maravilhoso para desenvolver um futuro incrível e contribuir para um mundo melhor”.

Tais discorreu também sobre os demais projetos do Instituto e de como as ações deste vem se destacando em meio à sociedade manauara. “Acredito que as comunidades baseadas na fé convertem a esperança e tantos outros princípios importantes para a justiça climática em ações concretas que impactam a vida diária das pessoas comuns. É exatamente unindo pessoas comuns com valores compartilhados, como respeito, empatia e solidariedade, que um futuro digno e justo será construído”, ressaltou.

O Instituto Soka da Amazônia, localizado em frente ao dramático ponto de encontro dos rios Negro e Solimões, é um dos pontos turísticos mais visitados de Manaus. Quem visita a hoje a reserva natural, não pode imaginar que há poucas décadas era um terreno contendo as ruínas de uma antiga olaria cercada por uma área completamente devastada. Em 28 anos apenas, com o plantio de vinte mil espécies nativas de toda a região amazônica é hoje uma floresta florescente e biodiversa.

Há poucas semanas a filha do dono da antiga olaria que fabricava tijolos, visitou a reserva. “Ela nos disse que seu pai apreciava muito aquela área e por isso não tinha a intenção de vendê-la. Mas quando soube da proposta de criar uma reserva natural ali, acabou fechando o negócio”. Segundo Tais, na ocasião, ele afirmou aos filhos: “Vamos vender nossa fábrica para um projeto que visa respeitar a vida e proteger o meio ambiente”. Quando esta senhora visitou o Instituto, disse emocionada: “vocês estão realizando o que meu pai imaginava há décadas”.

Outro depoimento foi de uma educadora da rede pública, participante do projeto de educação ambiental. “Como professora, aprendi como é importante aumentar nossa consciência ecológica. Iniciamos uma nova etapa de nossas vidas aqui, a etapa de consciência ambiental, e estamos fazendo um trabalho duro para a nossa nação”.

Demais participantes do seminário Hope for de Future:

Créditos de carbono: simbiose entre as matas e o clima

Crédito de Carbono

A cada 10 mil novas árvores plantadas é possível neutralizar cerca de 1,6 milhão de toneladas de CO2 (dióxido de carbono)

Qualquer desavisado percebe que mesmo em meio ao calor intenso do verão brasileiro, a sombra de uma frondosa árvore traz um frescor revigorante. Isso porque uma única árvore é capaz de regular a temperatura na sombra de sua copa. Árvores captam a água do subsolo pelas raízes e do ambiente em toda a sua superfície e evaporam por meio de estruturas microscópicas localizadas nas folhas. O Instituto Soka Amazônia, nos 55 hectares de sua Reserva Particular do Patrimônio Natural já neutralizou dezenas de milhões de toneladas de CO2 devido as ações de recuperação ambiental. Em 2025, quando se completarão os 30 anos do credenciamento pelo Ibama serão cerca de 98 milhões de toneladas de dióxido de carbono neutralizados.

No dia 7 de novembro celebra-se o dia da Floresta e do Clima. A relação floresta e clima são simbióticas e, desde o estabelecimento do Protocolo de Quioto[i] (em vigor desde 2005), o mercado de créditos de carbono passou a ser um foco importante para a neutralização dos gases de efeito estufa e minimizar o aquecimento global.

Mas como funciona o mercado de créditos de carbono?

Uma unidade de crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono emitido (tCO2e). Funciona assim: empresas e países têm uma cota de emissão de gases de efeito estufa, os que não atingem a quantidade estabelecida, podem vender essa “sobra”. Os que não superam a meta compram de empresas que possuem créditos ou de quem produz esses créditos como as Reservas neutralizadoras, um exemplo é RPPN Dr. Daisaku Ikeda do Instituto Soka.

Obviamente, a Floresta Amazônica Brasileira é um dos maiores – senão o maior – reservatório de créditos de carbono do planeta. Além de equilibrar o clima, ela protege cerca de 10% da biodiversidade do mundo. A floresta proporciona ainda, sobrevivência e renda a dezenas de povos tradicionais, junto com todo o conhecimento milenar da cultura preservada a gerações por essas populações. Tais fatos evidenciam a gravidade dos problemas ocasionados pelo desmatamento, degradação das matas, as mudanças do uso do solo devido as atividades agropecuárias. Tais ações são responsáveis por 24% de todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) que repercutem em todo o mundo.

Somente no Brasil, tais atividades na região ocasionaram 71% de todas as emissões em 2017 (SEEG, 2019)[ii]. Embora a taxa de desmatamento brasileira tenha diminuído de 2004 a 2012, esses valores voltaram a crescer nos últimos anos. Dessa forma, manter a floresta em pé é crucial, não apenas à nossa gente brasileira, mas também a todas as nações do globo.

Mercado de créditos de carbono

Este início de milênio trouxe novos olhares para a Economia florestal que, há muito, deixou de ser somente um campo de atuação de militantes e ambientalistas. Muitos especialistas apontam que se trata de um mercado em crescimento, mesmo diante de diversos entraves, principalmente nos últimos anos em que se colocou em dúvida algumas certezas estabelecidas quanto às questões ambientais.

Há todo um universo de títulos verdes[iii] disponíveis que, num único ano (2017), registrou um saldo de quase 900 bilhões de dólares, um crescimento de mais de 200 bilhões em relação a 2016. Deste total, 61% foi para comercialização de baixo carbono e 19% para energia limpa. Para estes que reduziram suas emissões, são emitidos créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões.

Cada vez mais as empresas vêm se conscientizando sobre a necessidade de desenvolver ações efetivas de combate às suas emissões de gases nocivos. Todo projeto passa necessariamente por uma avaliação de órgãos internacionais e, se e quando aprovado, torna-se elegível para gerar créditos verdes. Aí, a cada tonelada de CO2 não emitido estas empresas conquistam uma unidade de crédito, possível de ser negociado diretamente com empresas ou na bolsa de valores. Kenny Fonseca, professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), enfatiza que “os países só podem usar esses créditos para suprir uma pequena parte de suas metas”. Ou seja: cumprir o acordo estabelecido no Protocolo de Quioto tem de ser o principal objetivo dos países que firmaram o documento.

O avanço das descobertas não cessa. Sabe-se hoje que não são só os gases que provocam o efeito estufa. A fuligem da fumaça, chamada de carbono negro, tem também um papel bastante nocivo e preponderante. Esse carbono negro ocasiona um sombreamento da superfície atmosférica resultando em aquecimento desta. E também adultera significativamente a formação das nuvens, causando o desequilíbrio térmico do globo.

O pesquisador alerta ainda que, ao contrário do resto do mundo, o Brasil ainda não tem metas a cumprir, apesar de estar na lista dos 20 países que mais poluem. Segundo Kenny, 2/3 das emissões brasileiras estão ligadas à mudança drástica do uso do solo (desmatamento, queimadas e conversão de florestas em sistemas agropecuários). Fato que coloca o país num patamar delicado, que deve afetar todo o planeta.

Fontes:

https://novaescola.org.br/conteudo/1089/como-funcionam-os-creditos-de-carbono#:~:text=A%20negocia%C3%A7%C3%A3o%20dos%20cr%C3%A9ditos%20de,que%20causam%20o%20efeito%20estufa.&text=Nesse%20caso%2C%20a%20cada%20tonelada,meio%20da%20bolsa%20de%20valores

https://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/protocolo-de-quioto.html https://bluevisionbraskem.com/inteligencia/economia-florestal-como-funcionam-os-creditos-de-carbono/


[i] Acordo internacional entre os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), firmado com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global.

[ii] Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa

[iii] Títulos verdes são modelos de títulos de investimento nos quais os recursos são usados exclusivamente para financiar projetos verdes, sendo os créditos de carbono sua principal matriz