Que tal um banho de floresta?

Trata-se de uma modalidade terapêutica que promove a relação entre a saúde integral e o contato direto com a natureza
Cientistas da Universidade de Stanford descobriram que o contato com florestas regula regiões do cérebro associadas à depressão

No Japão feudal era uma prática comum ir à floresta, sentar-se sob as árvores e observar uma pedra crescer. Pode parecer absurdo à nossa estreita e míope cultura ocidental, o ato de “observar uma pedra crescer”, pois pedra não cresce. Porém, a ideia tem a ver com a capacidade humana de dominar a mente e ter total controle sobre a percepção de tudo ao redor. A terapia Shinrin-yoku, ou Banho de Floresta, é um conceito empolgante no que diz respeito à relação entre humanos e a natureza.

Embora prática de meditar na floresta seja algo bastante antigo para os japoneses, foi sistematizada somente há cerca de 40 anos, com resultados bastante promissores e que por isso mesmo o Shinrin-yoku se difundiu a todos os continentes. A potência energética da floresta é o principal elemento do Banho de Floresta. Os pesquisadores japoneses perceberam que ao caminhar, contemplar, inspirar e expirar sob as copas das árvores, a pessoa recebe benefícios orgânicos e psicológicos da interação com o verde das matas. O simples fato de visualizar uma colina verdejante já causa uma sensação de bem-estar capaz de baixar os níveis de estresse.

Pode parecer absurdo à nossa estreita e míope cultura ocidental, o ato de “observar uma pedra crescer”, pois pedra não cresce.

Ficar imerso no ambiente de uma floresta regula positivamente a pressão arterial, os batimentos cardíacos, o nível geral de relaxamento e a qualidade do nosso sono, diminuindo a presença de hormônios associados ao stress ao mesmo tempo em que aumenta em mais de 50% a presença de células antitumorais na circulação sanguínea.

Mais do que uma terapia

Cientistas da Universidade de Stanford descobriram que o contato com florestas regula regiões do cérebro associadas à depressão. Mais que uma excelente terapia para vários sistemas orgânicos, o contato com florestas e bosques acelera o processo de cura em termos de saúde mental, gerando um impacto positivo e direto no nosso humor e no bem-estar.

Os japoneses relacionaram os efeitos da inalação de compostos orgânicos voláteis liberados pelas folhas das árvores aos seres humanos. Tais compostos são para o mundo vegetal algo como antibióticos que agem inibindo o desenvolvimento de micro-organismos agressores. Quando o ser humano inala esses compostos, eles geram efeitos positivos para a manutenção da saúde geral.

Como praticar o Banho de Floresta

…o ideal é que a terapia florestal seja realizada de forma individual e sem interferências

Silêncio, meditação e observação a tríade-chave do Shinrin-yoku. Há diversos locais que promovem a ida em grupo à natureza, mas o ideal é que a terapia florestal seja realizada de forma individual e sem interferências. Qualquer pessoa pode se aventurar a buscar esse contato direto e se beneficiar de todo o potencial terapêutico. Munir-se de alguma técnica de meditação é recomendado. Mindfulness[i] é uma das linhas recomendadas.

A sessão de shinrin-yoku começa com o deslocamento até uma floresta ou área verde, como um parque ou jardim botânico. O participante então deve se acalmar, sentir sua pulsação, ao mesmo tempo que observa o ambiente à sua volta e caminha lentamente, prestando atenção no movimento dos pés e deixando todos os sentidos atentos, permitindo uma imersão completa de sua consciência no ambiente da floresta. O silêncio e o contato com a natureza permitem serenar a mente e o corpo e ajudam a expandir o que é percebido pelos sentidos, sendo cientificamente aconselhado como método para reduzir o estresse.

Procure um ambiente natural tranquilo, vá sozinho e fique em silêncio ou, se for em grupo, combine de só conversarem ao final da experiência. Os estudos realizados comprovam que os benefícios podem ser sentidos com caminhadas a partir de 40 minutos, mesmo que sejam ocasionais – nesse caso, o ganho maior é emocional e de curto prazo.

No método terapêutico, são propostas sete caminhadas de três horas cada, sendo uma por semana, para que o participante, aos poucos, vá treinando o corpo e a mente para aquietar-se e ampliar a percepção. O começo da prática pode ser feito com o aconselhamento de um guia, mas nada impeça de a própria pessoa se guiar e aventurar-se pelas caminhadas do Shirin-yoku.

Marque uma reunião em um parque. Troque o café pelo óleo essencial natural das árvores. Que tal mudar o almoço no restaurante por um piquenique ao ar livre?

Dicas de como se iniciar na terapia Banho de Floresta
  • Em vez de ler um livro ou estudar no sofá, dirija-se à praça ou parque arborizado mais próximo. E faça-o sentado num daqueles bancos, de preferência o mais perto possível das árvores.
  • Adentre num lugar de natureza e silencie por alguns instantes. Procure receber o que os seus sentidos podem captar. Ative a percepção dos sons dos pássaros, vento, galhos e animais ao redor. Sinta o cheiro das plantas, contemple os diversos tons de verde da natureza. Toque cada folha diferente.
  • Comece a conhecer a região de floresta próxima da sua cidade. Verifique se há passeios e trilhas para adentrar em uma mata de verdade.
  • Que tal substituir alguns exercícios indoor, ou a academia em ambientes fechados por treinos ao ar livre ou mesmo usar equipamentos disponíveis em praças e parques?
  • Marque uma reunião em um parque. Troque o café pelo óleo essencial natural das árvores. Que tal mudar o almoço no restaurante por um piquenique ao ar livre? Encontros na natureza são inspiradores.
  • Programe as suas viagens para destinos de natureza. Esqueça as grandes cidades e seus trânsitos, e foque nas maravilhas naturais que esse país reserva. Surpreenda-se!
  • Programe ou se inscreva em exercícios de respiração, yoga, práticas orientais e meditação nos parques. Há vários gratuitos em muitas cidades.
  • Divulgue essa prática para a família e amigos.

Fontes:

https://www.ecycle.com.br/banho-de-floresta/

https://ecopsicologiabrasil.com/banho-de-floresta/

[i] Mindfulness, ou atenção plena, é a capacidade de focar no presente e resistir às distrações. É um exercício mental que exige foco e atenção em suas próprias emoções e sensações.

Praticar a mindfulness é uma forma de se concentrar no momento presente e abraçar as suas sensações corporais sem julgamento. É um processo de autoconhecimento.

Constrangimento entre árvores? Entenda o fenômeno dessa timidez

Há muitas teorias que visam justificar o fato de que as copas das árvores mantêm um distanciamento mínimo e bem peculiar entre si
Cientistas que estudam os dosséis recomendam para os leigos: deite-se sob as copas das grandes árvores, olhe para os dosséis esmeralda e deleite-se com o balançar das ramagens ao sabor dos ventos. É uma sensação simplesmente indescritível!

Quem já teve a experiência de cuidar de uma planta sabe o que representa a correta exposição ao sol tanto do tronco como dos ramos mais internos. Quando a planta recebe a preciosa luz e calor, há um incremento realmente impressionante no seu desenvolvimento.

Na verdade, toda a vida na terra depende da energia oriunda da nossa querida estrela.

O fenômeno

Pense agora em árvores como as amazônicas que não são plantadas pelo homem e sim pelo processo natural. Elas crescem desordenadamente e dessa forma suas copas, teoricamente deveriam se juntar lá no alto. Mas não é isso que acontece. É justamente sobre esse fenômeno que estamos falando. As árvores, generosa e naturalmente mantêm entre si uma distância capaz de oferecer, no mínimo, oportunidade para que as plantas e os animais do solo possam usufruir da maravilhosa luz solar e se desenvolver.

MAHIM BHAT, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Além do descrito acima, ainda se buscam outras justificativas para o fenômeno. Há quem defenda que o fato ocorra para promover a redução da propagação de insetos prejudiciais. Há também quem acredite que as árvores não misturando suas copas, visam proteger os ramos uns dos outros, evitando que se partam ou rachem. Outra teoria argumenta que a assim dita timidez entre árvores maximiza o processo de fotossíntese por meio da maior exposição ao sol.

Buscando explicações para o fenômeno

Entre todas as teorias aventadas a partir da observação científica uma se destaca: a de que esse comportamento se dá para dificultar a passagem de insetos e larvas de uma árvore a outra. Para uma pessoa que esteja no chão da floresta e olhe para as copas, é fácil fazer uma analogia com rios, por causa do desenho intrincado delineado pelas frestas entre as árvores. Na realidade, esse é resultado de mecanismos diferentes em cada espécie. Afora o fenômeno descrito no início desse texto, todas as outras teorias ocorrem de forma pontual em uma ou outra espécie, resultado de inúmeras adaptações e processos evolutivos.

É assim que muitos dosséis1 de florestas, coberturas superiores da floresta formadas pelas copas das árvores, apresentam espaços vazios, que podem ajudar as árvores a compartilhar recursos e permanecer saudáveis. Há pesquisadores que defendem que também as árvores necessitam de seu espaço individual.

Histórico dos estudos 

As primeiras constatações remontam à década de 1920, porém foi preciso que se passassem várias décadas até que pesquisas reais fossem feitas, descritas e publicadas. A causa – ou as causas – do fenômeno, como já colocado, são várias e muitas ainda sem comprovação absoluta, mas que possuem fortes indícios. Dentre as muitas teorias aventadas, houve uma que defendia que a timidez arbórea se dava por uma disputa entre as árvores devido o balanço dos ramos causado pelo vento, cada árvore se esmerando em produzir mais e mais novos galhos para atacar ou se defender das vizinhas.

Aproximadamente duas décadas se passaram até que a equipe de Mark Rudnicki, biólogo da Universidade Tecnológica de Michigan, resolveu medir a força das colisões entre pinheiros da espécie Pinus contorta em Alberta, Canadá. O estudo percebeu que florestas compostas por troncos longos e longilíneos, largamente expostos às ventanias, tinham a tendência de resultar em timidez arbórea. Rudnicki e sua equipe experimentaram usar cordas de náilon para impedir os choques entre pinheiros vizinhos. O que ocorreu a partir disso espantou os pesquisadores: as plantas entrelaçaram suas copas, preenchendo os espaços entre as copas adjacentes! Ou seja: não eram os choques resultado de disputas, mas outra causa que permanece um mistério.

Já publicamos antes uma matéria sobre a consciência das plantas – veja aqui. A pesquisadora silvicultora e horticultora da Universidade de Yale, Marlyse Duguid, afirma que há cada dia mais estudos científicos sobre o tema da consciência vegetal. A comunicação química entre espécies lenhosas ainda é escassa, mas se em outras espécies já foi possível verificar que existe o estabelecimento de percepção entre afins, isso leva a crer que as plantas sejam capazes de interromper o crescimento do dossel antes da ocorrência de qualquer disputa. 

A individualidade como vantagem

O que se percebeu até o momento é que a timidez arbórea é um fato e que a preservação do espaço individual parece trazer benefícios. Proteger as folhas, por exemplo. É inegável que as folhas são elementos imprescindíveis para a sobrevivência de qualquer planta. É por elas que o vegetal respira, transpira, se hidrata por meio da captação da água, sente a brisa e os compostos químicos transmitidos por outras plantas e mais um sem número de funções essenciais. 

Assim sendo, toda planta sabe que folhagens mais espaçadas contribuem para que a luz do sol chegue ao chão da floresta e nutra outros vegetais e animais, elementos que ajudam no desenvolvimento da sua própria vida. Acredita-se, portanto, que as lacunas entre as copas permitem que a vida de tantas outras criaturas da floresta – cada qual com sua função no ciclo natural de desenvolvimento – sobrevivam e procriem, perpetuando o ciclo. 

E, acima de tudo, os cientistas que estudam os dosséis recomendam para os leigos: deite-se sob as copas das grandes árvores, olhe para os dosséis esmeralda e deleite-se com o balançar das ramagens ao sabor dos ventos. É uma sensação simplesmente indescritível!


O dossel da floresta, ou seja, a cobertura superior da floresta formada pelas copas das árvores, em termos ecológicos apresenta uma grande influência na regeneração das espécies arbustivo-arbóreas, além de atuar como barreira física às gotas de chuva, protegendo o solo da erosão.

Fontes

https://www.natgeo.pt/ciencia/2020/03/o-fenomeno-natural-que-provoca-timidez-entre-arvores

https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2020/07/algumas-arvores-praticam-distanciamento-social-para-evitar-doencas

A floresta é muito mais que madeira

Flores
Como as mudanças climáticas impactam os produtos florestais não madeireiros da Amazônia

As plantas e suas flores, sementes e frutos são produtos de extrema relevância na economia da Amazônia porque mantêm a floresta em pé, ou trocando em miúdos: não resulta em árvores no chão para a extração de madeira. Conforme discorre Diego Oliveira Brandão[i] em seu artigo Mudanças climáticas e seus impactos sobre os produtos florestais não madeireiros na Amazônia, esses produtos florestais não madeireiros (PFNM) são típicos de atividades sociais e econômicas de indígenas, ribeirinhos e agricultores locais que fazem o extrativismo na floresta e o cultivo de espécies nativas em sistemas agroflorestais. Trata-se do meio de subsistência de toda uma população que, além de preservar a floresta, tira dela seu sustento e de toda a sua família. Infelizmente, os efeitos das mudanças climáticas sobre os PFNM e os meios de subsistência de comunidades dependentes da floresta ainda são pouco compreendidos na Amazônia.

Neste artigo, o pesquisador investiga os impactos das mudanças climáticas sobre os PFNM apresentando suas observações. Ele inicia discorrendo sobre a concentração de dióxido de carbono na atmosfera (CO2), a temperatura global, o déficit de pressão de vapor de água na atmosfera, as secas, os incêndios florestais e o desmatamento podem impactar as plantas que fornecem PFNM na Amazônia.

Discute também as tendências na composição de espécies e faz uma conclusão indicando as regiões onde os extrativistas e agricultores estão mais ameaçados pelas mudanças climáticas na Amazônia. As espécies com frutos altamente empregados na economia da região são: açaí (Euterpe oleracea e E. precatoria), andiroba (Carapa guianensis), buriti (Mauritia flexuosa), bacuri (Platonia insignis), cacau (Theobroma cacau), castanha (Bertholletia excelsa), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), pupunha (Bactris gasipaes), taperebá (Spondias mombin) e ucuúba (Virola surinamensis). O artigo enfatiza que o efeito do dióxido de carbono (CO2) pode favorecer o extrativismo e o cultivo de espécies nativas em sistemas agroflorestais na Amazônia.

Cupuaçu Theobroma Grandiflorum

Ele explica que devido ao aumento anual na emissão de CO2 entre 2002 e 2011, favoreceu o aumento da taxa de fotossíntese, favorecendo a formação de flores e, em consequência, frutos. Em outra mensuração de um período mais longo na floresta tropical do Panamá, entre 1987 e 2014, foi associado ao aumento médio de 3% de floração. Portanto, a elevação do CO2 tem sido positiva para a formação de flores e frutos em ecossistemas naturais e na agricultura, mas pode ser limitada por variações climáticas e nutricionais.

Uma maior produção de flores e frutos causada pelo CO2 pode estimular mais carboidratos, lipídios e proteínas vegetais em PFNM para uso econômico na Amazônia. Por exemplo, as flores da espécie jambu (Acmella oleracea) são utilizadas por populações locais e empresas como alimento, fármaco e cosmético.

Especificamente sobre o impacto do aquecimento global na distribuição geográfica e produtividade de plantas na Amazônia: o que foi verificado é que a temperatura global na superfície do solo entre 2011 e 2020, vem aumentando de forma preocupante. Foi registrado um aumento entre 1,34 e 1,83°C mais alto em comparação à média do período entre 1850 e 1900 (IPCC 2021).

O pesquisador alerta sobre as estimativas para a Amazônia. Estas apontam que 30% de todas as espécies de árvores e 47% de toda sua abrangência geográfica serão reduzidas até 2050 pela combinação entre mudança climática e desmatamento. Isso causará um impacto significativo na vida de extrativistas e agricultores. Pois, com o aumento da temperatura global, cresce junto a demanda da atmosfera por evaporação; somado ao crescimento exponencial da taxa de transpiração das plantas que resulta em mudanças biofísicas em mais de 80% das espécies vegetais. É a principal mudança climática de efeito negativo sobre a produtividade observada na Amazônia.

As regiões amazônicas do sul e leste são as mais susceptíveis aos incêndios devido às menores taxas de precipitação (chuvas) e ao comprimento da estação seca em relação às regiões norte e oeste da Amazônia. O calor dos incêndios lesiona as raízes, troncos e copas, podendo levar à morte da planta. Queimam também os frutos e sementes dispersos pela vegetação que podem ser regenerados, coletados ou comercializados. A mortalidade das árvores após incêndios tem relação com as características morfológicas das espécies, porque as espécies com periderme (casca) mais fina são intolerantes ao fogo e suas populações reduzem onde os incêndios são frequentes (Barlow e Peres 2008). Isso indica que os incêndios florestais são ameaças maiores à diversidade de PFNM em municípios nas regiões sul e leste da Amazônia brasileira. Diego encerra enfatizando que “novos estudos são importantes para compreender como as espécies típicas da Amazônia e no bioma Cerrado são impactadas com as mudanças climáticas”.

Artigo original, publicado pelos Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE): http://mtc-m16c.sid.inpe.br/ibi/8JMKD3MGPDW34P/45U3UDP

[i] Biólogo com bacharelado pela Universidade Estadual de Montes Claros (2004-2009) e mestrado em Biodiversidade (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (2009-2011). Atualmente é aluno de doutorado em Ciências Ambientais (Ciência do Sistema Terrestre) no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2018-2022). Trabalha e estuda cadeias de produção extrativista, florística do Brasil e restauração florestal da Amazônia. É também  Biólogo Responsável Técnico pela Consultoria Amazônia Socioambiental.

Plantar árvores é (ou deveria ser) missão de todos

Cidades crescem, mais pessoas por metro quadrado: microclimas um problema atual.

A cada ano que passa as cidades vão crescendo especialmente de forma verticalizada, ao mesmo passo que novos bairros vão surgindo. A construção de prédios pode parecer uma boa solução para o desafio de colocar mais pessoas em espaço de área menor. 

Mas aquilo que parece ser uma solução pode trazer consigo um efeito prático negativo. Basta que haja excessos.

Você já ouviu falar de “Ilhas de calor”?

É um termo utilizado para explicar o aumento de temperatura em uma determinada área onde o número significativo de prédios construídos impede a circulação de ventos, elevando a temperatura daquele local em comparação com o restante da cidade ou do bairro.

Esse termo também tem outro nome: microclima urbano. 

TV Em Tempo Online, CC BY 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by/3.0, via Wikimedia Commons

Assim como existe um termo para a constatação de um problema que é a elevação da temperatura, existe outro para a solução do problema, o microclima florestal.

Uma rede em baixo de uma árvore

É comum aos moradores da região Norte e Nordeste do país o uso de redes, para tirar um breve descanso. Melhor ainda é quando a rede está amarrada no tronco de uma frondosa árvore, pois não só a brisa, como o vento para a temperatura ser um pouco mais fresca e para o descanso ser mais revigorante. 

Este é apenas um pequeno exemplo de como funciona o microclima florestal. Que é o inverso do microclima urbano. Quando se fala da importância do plantio de árvores e reflorestamento, vai muito além de recuperar e proteger o meio ambiente. Mas, é uma forma da vida humana ser impactada positivamente com isso.

Estudos sobre microclimas

Já existem alguns estudos sobre microclimas, e seu efeito prático e real em uma determinada área. Um desses estudos, feito por quatro pesquisadores de diferentes universidades¹ identificaram que as árvores podem ajudar diminuir em até 3°C a temperatura no seu entorno. O estudo também mostra que quanto mais velha for a árvore, mais ela contribui com essa redução. 

O Instituto Soka Amazônia durante todo o mês realiza ações de plantio de dezenas de mudas em conjunto com parceiros. Com o passar dos anos, e com os devidos cuidados, essas mudas vão se transformando em frondosas árvores contribuindo para o bem-estar e para o meio-ambiente. Em verdade, plantar árvores é, ou deveria ser, missão de todos, pois o que impacta na vida de um, também irá impactar na vida de todos. 

Preparação de Mudas para plantios do Instituto Soka Amazônia

Nota:

1- Bizuti, D. T. G., Viani, R. A. G., Brancalion, P. H. S., Taniwaki, R. H., Silva, R. J., Costa, C. O. R. da, & Roncon, T. J. (2016). Influência da composição de espécies florestais no microclima de sub-bosque de plantios jovens de restauração. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18671/scifor.v44n112.18

ODS 4.7 de Educação Ambiental:

Contato direto e prático de jovens com o futuro que lhes pertence

Erradicação da pobreza, fome zero, trabalho decente, redução da desigualdade, consumo e produção responsável, paz, justiça, redução da desigualdade, no total são 17 os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, objetivos sem dúvida ambiciosos e interconectados, que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo. Esses objetivos foram propostos pela ONU – Organização das Nações Unidas em 2015 e dali em diante vêm se tornando realidade.

A propósito, vale a pena conhecer histórias e casos expostos na internet aqui.

Educação ambiental

A meta número 4 aborda aspectos relativos a educação de qualidade e a meta 4.7 fala especificamente sobre a educação ambiental. Ela estabelece que:

“Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável.”

Fazer a diferença no futuro

Dentro desse tema e determinação, a Academia Ambiental é um projeto do Instituto Soka Amazonas.

Todos os meses dezenas de alunos de escolas municipais de Manaus visitam o Instituto, com sua permanente alegria e disposição, muita vontade de aprender coisas novas, preparando-se para no futuro fazer a diferença no cuidado e preservação do meio ambiente.

Os alunos vivenciam momentos práticos de contato direto com a natureza e seu comportamento, aprendem que o meio ambiente vai muito além de árvores, rios, animais. “Ambiente”, em verdade, é qualquer lugar em que estamos. Cada ação gera um impacto no lugar em que estamos. Na RPPN Dr. Daisaku Ikeda (Reserva Particular do Patrimônio Natural), acompanham, por exemplo, todos os passos de como as abelhas produzem o mel; de como se formam os cursos d’água; veem de perto o encontro das águas. Sem falar no contato direto com a Sumaúma, que é considerada a árvore gigante da Amazônia.

Ampliação do escopo

A Academia foi criada com a ideia de que suas atividades fossem destinadas exclusivamente a alunos da rede pública de Manaus, mas com o passar do tempo, outras instituições corporativas, educacionais e religiosas também passaram a fazer parte dessas instrutivas visitas.

A Academia Ambiental e sua intensa atividade anual

Educação Ambiental
3 palestras e muito material de raciocínio para os jovens

Um dos projetos mais sólidos do Instituto Soka Amazônia é a Academia Ambiental, que inclui neste início de agosto (agosto 2022) três das diversas aulas-palestras de educação ambiental que estão programas e que ao serem ministradas percorrem diversos pontos da RPPN Dr. Daisaku Ikeda como a Baby Sumaúma, o Encontro das Águas, a Castanheira Centenária, as Ruínas das Olarias, o Meliponário, o Viveiro de Mudas, a trilha da terra-preta-de-índio. O roteiro das palestras é adaptado de acordo com o período do ano e das condições meteorológicas e continuará dentro de um calendário ao longo do ano. Compartilhamos aqui o conteúdo de três dessas palestras: 1) Encontro das Águas, 2) Ruínas das Olarias, e 3) Castanheira e os benefícios das árvores

1. Encontro das águas

No mirante do Instituto Soka é possível ter a visão de um dos principais pontos turísticos de Manaus, o “Encontro das águas”. É ali que os rios Negro e Solimões se encontram dando origem ao rio Amazonas, mas suas águas não se misturam por aproximadamente 7 quilômetros. Diante das explicações que são dadas, os alunos passam a conhecer as razões de águas não se misturarem e são levados a raciocinar sobre uma referência do fenômeno em relação aos seres humanos. 

Nas explicações, são lembrados os principais fatores que provocam o fenômeno: velocidade dos rios, temperatura, formação geológica, partículas em suspensão, e o diferente pH de cada um dos rios. Ao serem dadas as explicações, é feita uma reflexão sobre as características que nos tornam seres humanos diferentes uns dos outros, aproveitando o potencial de construir coisas grandiosas como o rio. Quem apresenta o tema aproveita para comparar a logomarca do Instituto com o Encontro das Águas.

Do mirante também é possível visualizar uma estação de captação de água que é um dos responsáveis pelo abastecimento da cidade de Manaus, feito através do rio Negro. Os alunos são instados, então, a refletir sobre a qualidade de água que chega às suas casas e a compreenderem a relação que há entre o processo de tratamento da água com o que aprenderam sobre as propriedades que levam as águas de cada rio a não se misturarem. 

Encontro das Águas em Manaus – Vista do Instituto Soka Amazônia

A cidade de Manaus é cortada por igarapés que deságuam no rio Negro. Um dos propósitos da palestra é que os alunos se conscientizem da importância de preservar os igarapés com a consciência do significado deles para o rio Negro, de onde se extraem muitos recursos, lembrando que suas águas são parte fundamental para criação do rio Amazonas, o maior rio de água doce do mundo, responsável por um alto porcentual da água doce despejada no oceano, com influência na vida marinha. 

2. Ruínas das olarias 

Nos anos de 1910, durante o auge do ciclo da borracha na cidade de Manaus, no local onde hoje funciona o Instituto, existia uma rede de olarias que forneciam material para construção do centro histórico da cidade de Manaus. Por conta dessas fábricas, uma grande área foi desmatada para se produzir lenha para os fornos de tijolos. Próximo ao rio, hoje, ainda é possível ver algumas estruturas dessas antigas fábricas e, principalmente, ver a retomada da floresta sobre as ruínas, uma vez que o local foi restaurado, possibilitando o surgimento de uma nova floresta.  

Os alunos realizam uma pequena trilha dentro das ruínas, ou no seu entorno, dependendo da vazante. Enquanto se conta a história dessa área, é feita uma reflexão sobre a importância de novas tecnologias para a preservação do meio ambiente e a importância de ambos estarem alinhados na construção de uma sociedade mais sustentável. 

Por estar à beira do rio e ser uma área de várzea sazonalmente alagada pela vazante do rio Negro, também é um local onde se acumula muito lixo trazido pela correnteza do rio. Os alunos são estimulados a refletir sobre o descarte correto do lixo e as possibilidades de reaproveitamento e reciclagem.

3. Castanheira e os benefícios das árvores

Ao pé de uma castanheira centenária, os alunos refletem sobre os principais benefícios que uma árvore e uma floresta podem trazer para as nossas vidas. 

O primeiro benefício discutido é o “sequestro de carbono” feito pelas árvores. Uma árvore é capaz de absorver 180 kg de CO2. A fase em que uma árvore mais absorve carbono é durante o crescimento, uma vez que o carbono é essencial para a constituição podendo representar até 80% da formação do tronco. Os alunos são estimulados a sempre plantar árvores para garantir que o processo seja mantido. 

O segundo benefício diz respeito à qualidade térmica nas cidades. A sombra de árvores e a diminuição da sensação térmica são alguns dos pontos expostos. Apesar de Manaus ser a capital da floresta Amazônica brasileira, no CENSO de 2010 feito pelo IBGE foi constatado que a cidade é uma das capitais com o pior índice de arborização urbana. Segundo o Centro de Monitoramento da UFAM, Manaus conta com apenas 22% de cobertura vegetal.  Nesse ponto, os alunos refletem sobre a necessidade de preservação da vegetação dentro da cidade. 

O terceiro ponto é o processo conhecido como “rios voadores”, massa de ar carregada de gotículas de água que é levada pelos ventos no céu para boa parte do sudeste e centro-oeste do Brasil, regiões do país em que se produz a maior parte dos alimentos. 

Enfim, dessa forma, os alunos conhecem o ciclo da água e a interligação de todo o país e o quanto o impacto da preservação da floresta amazônica influencia não só a economia local, como a qualidade de vida de todo o Brasil bem como de outros países.

A Academia Ambiental e sua intensa atividade anual

Educação Ambiental
3 palestras e muito material de raciocínio para os jovens

Um dos projetos mais sólidos do Instituto Soka Amazônia é a Academia Ambiental, que inclui neste início de agosto (agosto 2022) três das diversas aulas-palestras de educação ambiental que estão programas e que ao serem ministradas percorrem diversos pontos da RPPN Dr. Daisaku Ikeda como a Baby Sumaúma, o Encontro das Águas, a Castanheira Centenária, as Ruínas das Olarias, o Meliponário, o Viveiro de Mudas, a trilha da terra-preta-de-índio. O roteiro das palestras é adaptado de acordo com o período do ano e das condições meteorológicas e continuará dentro de um calendário ao longo do ano. Compartilhamos aqui o conteúdo de três dessas palestras: 1) Encontro das Águas, 2) Ruínas das Olarias, e 3) Castanheira e os benefícios das árvores

1. Encontro das águas

No mirante do Instituto Soka é possível ter a visão de um dos principais pontos turísticos de Manaus, o “Encontro das águas”. É ali que os rios Negro e Solimões se encontram dando origem ao rio Amazonas, mas suas águas não se misturam por aproximadamente 7 quilômetros. Diante das explicações que são dadas, os alunos passam a conhecer as razões de águas não se misturarem e são levados a raciocinar sobre uma referência do fenômeno em relação aos seres humanos. 

Nas explicações, são lembrados os principais fatores que provocam o fenômeno: velocidade dos rios, temperatura, formação geológica, partículas em suspensão, e o diferente pH de cada um dos rios. Ao serem dadas as explicações, é feita uma reflexão sobre as características que nos tornam seres humanos diferentes uns dos outros, aproveitando o potencial de construir coisas grandiosas como o rio. Quem apresenta o tema aproveita para comparar a logomarca do Instituto com o Encontro das Águas.

Do mirante também é possível visualizar uma estação de captação de água que é um dos responsáveis pelo abastecimento da cidade de Manaus, feito através do rio Negro. Os alunos são instados, então, a refletir sobre a qualidade de água que chega às suas casas e a compreenderem a relação que há entre o processo de tratamento da água com o que aprenderam sobre as propriedades que levam as águas de cada rio a não se misturarem. 

Encontro das Águas em Manaus – Vista do Instituto Soka Amazônia

A cidade de Manaus é cortada por igarapés que deságuam no rio Negro. Um dos propósitos da palestra é que os alunos se conscientizem da importância de preservar os igarapés com a consciência do significado deles para o rio Negro, de onde se extraem muitos recursos, lembrando que suas águas são parte fundamental para criação do rio Amazonas, o maior rio de água doce do mundo, responsável por um alto porcentual da água doce despejada no oceano, com influência na vida marinha. 

2. Ruínas das olarias 

Nos anos de 1910, durante o auge do ciclo da borracha na cidade de Manaus, no local onde hoje funciona o Instituto, existia uma rede de olarias que forneciam material para construção do centro histórico da cidade de Manaus. Por conta dessas fábricas, uma grande área foi desmatada para se produzir lenha para os fornos de tijolos. Próximo ao rio, hoje, ainda é possível ver algumas estruturas dessas antigas fábricas e, principalmente, ver a retomada da floresta sobre as ruínas, uma vez que o local foi restaurado, possibilitando o surgimento de uma nova floresta.  

Os alunos realizam uma pequena trilha dentro das ruínas, ou no seu entorno, dependendo da vazante. Enquanto se conta a história dessa área, é feita uma reflexão sobre a importância de novas tecnologias para a preservação do meio ambiente e a importância de ambos estarem alinhados na construção de uma sociedade mais sustentável. 

Por estar à beira do rio e ser uma área de várzea sazonalmente alagada pela vazante do rio Negro, também é um local onde se acumula muito lixo trazido pela correnteza do rio. Os alunos são estimulados a refletir sobre o descarte correto do lixo e as possibilidades de reaproveitamento e reciclagem.

3. Castanheira e os benefícios das árvores

Ao pé de uma castanheira centenária, os alunos refletem sobre os principais benefícios que uma árvore e uma floresta podem trazer para as nossas vidas. 

O primeiro benefício discutido é o “sequestro de carbono” feito pelas árvores. Uma árvore é capaz de absorver 180 kg de CO2. A fase em que uma árvore mais absorve carbono é durante o crescimento, uma vez que o carbono é essencial para a constituição podendo representar até 80% da formação do tronco. Os alunos são estimulados a sempre plantar árvores para garantir que o processo seja mantido. 

O segundo benefício diz respeito à qualidade térmica nas cidades. A sombra de árvores e a diminuição da sensação térmica são alguns dos pontos expostos. Apesar de Manaus ser a capital da floresta Amazônica brasileira, no CENSO de 2010 feito pelo IBGE foi constatado que a cidade é uma das capitais com o pior índice de arborização urbana. Segundo o Centro de Monitoramento da UFAM, Manaus conta com apenas 22% de cobertura vegetal.  Nesse ponto, os alunos refletem sobre a necessidade de preservação da vegetação dentro da cidade. 

O terceiro ponto é o processo conhecido como “rios voadores”, massa de ar carregada de gotículas de água que é levada pelos ventos no céu para boa parte do sudeste e centro-oeste do Brasil, regiões do país em que se produz a maior parte dos alimentos. 

de todo o país e o quanto o impacto da preservação da floresta amazônica influencia não só a economia local, como a qualidade de vida de todo o Brasil bem como de outros países.

Se afetar as abelhas, irá também nos afetar

por Iris Andrade da Cruz (*)

Quando pensamos na proteção da fauna (os animais) tendemos a olhar o todo, se observarmos intimamente uma floresta, veremos que desde minúsculos até grandes animais vivem ali. Várias ações humanas ao longo de muitos anos, tem afetado diretamente a fauna, dentre essas ações estão o desmatamento e as queimadas. Os animais muito mais vulneráveis diante disso são os insetos, e entre esses encontram-se as abelhas. 

Espécies Catalogadas

O fogo e a derrubada de árvores causam destruição do habitat, danificam e destroem populações inteiras de abelhas. Muitas espécies de abelhas têm alcances de voo curtos e a escala e a velocidade de incêndios podem facilmente dominá-las. No caso das abelhas sociais, a colônia não migra, o que as torna suscetíveis. Ainda, a grande maioria das abelhas precisam das árvores para sua moradia.

As interferências humanas nos habitats podem favorecer espécies de abelhas mais que outras, e afetar diretamente na polinização. A polinização é a transferência de grãos de pólen entre órgãos masculinos e femininos das flores, uma atividade importantíssima que as abelhas exercem para que as plantas nativas e cultivadas possam se reproduzir e gerar frutos e sementes. De acordo com Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, dos cultivos de plantas estudadas (114) a maioria são polinizadas por abelhas (78,9%). Cultivos com alto valor econômico são polinizados por abelhas como soja, café, maçã, cebola, erva-mate, melão, tomate e feijão. 

Se as abelhas forem extintas, a produção de alimentos vai enfrentar dificuldades drásticas. Einstein citou uma vez que se as abelhas desaparecerem não haverá polinização, não haverá reprodução das plantas, sem as plantas não haverá animais, sem animais não haverá os seres humanos. Algumas coisas dependem de apoio de políticas públicas, no entanto, nós no lugar onde vivemos, podemos contribuir para a conservação das abelhas com atitudes práticas simples. Um dos lemas de René Dubos era “Pensar globalmente, agir localmente” (formulação de autoria do sociólogo alemão Ulrich Beck), ou seja, a pessoa fazer o máximo que puder no local onde vive para estimular a ação de lidar com problemas.

Dica: cultivar plantas com flores (jardins), pois as abelhas precisam do néctar e pólen para sua alimentação, as flores propiciam esses recursos para elas; e plantar árvores, pois muitas abelhas fazem suas casas em ocos de árvores, e elas também trazem benefícios para nós. No local onde nos encontramos, vamos juntos proteger as abelhas!!!

Apresentação do Meliponário em Academia Ambiental no Instituto Soka Amazônia

(*) Iris Andrade da Cruz, mestre em Ciências Biológicas (Entomologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Tem experiência com levantamento de espécies vegetais, com estudos de abelhas sem ferrão e com a atividade de meliponicultura. Atualmente atua como monitora e palestrante no programa de Educação Ambiental do Instituto Soka Amazônia, além de dar palestras sobre a importância das abelhas, representando o Instituto Soka Amazônia, na ação de educação ambiental ‘OCA vai à escola’, da Secretaria Municipal de Educação de Manaus – SEMED.

REFERÊNCIA

Foto abelha em destaque: do acervo do Grupo de Pesquisas em Abelhas – GPA – INPA

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/gcb.14872

https://www.xerces.org/blog/forests-fires-and-insects

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1046/j.1461-0248.2003.00394.x

https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107777

Wolowski, M., Agostini, K., Rech, A. R., Varassin, I. G., Maués, M., Freitas, L., … & SILVA, C. D. (2019). Relatório temático sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos no Brasil. Editora Cubo, São Carlos.

https://amazoniareal.com.br/abelhas-gafanhotos-sapos-e-tatus-foram-os-mais-atingidos-pelos-incendios-na-amazonia/

Relações entre espécies: a biodiversidade em favor da vida

As relações entre os seres vivos é o que torna fascinante a vida selvagem!

Existem muitas formas de os seres vivos interagirem na natureza. Algumas relações podem parecer violentas, outras afetuosas até, mas cada qual possui uma finalidade objetiva e necessária dentro do ciclo da vida. 

Os seres vivos estão em constante troca. Para os leigos, em muitos casos, pode parecer benéfico somente para um lado, enquanto o outro simplesmente se deixa ser ‘usado’. Mas não é bem assim. Na natureza, existem diversos tipos de relações, sendo algumas benéficas e outras prejudiciais para os envolvidos. Essas relações são classificadas como positivas, quando há ganho para um dos lados ou para ambos, e como negativas, quando há prejuízo pelo menos para um dos implicados. Quando ocorrem entre indivíduos da mesma espécie, as relações são denominadas intraespecíficas e, quando são de espécies diferentes, chamamos de interespecífica. 

União faz a força!

Exemplos de relacionamentos intraespecíficos são os recifes de coral. Cada qual é formado por inúmeros indivíduos juntos vivendo e atuando em conjunto para o bem comum. Essa relação é chamada de colônia. Vivem todos juntos, literalmente colados uns nos outros realizando funções coletivamente em prol de toda a coletividade.

Já as colmeias e os formigueiros são chamados de sociedades e são exemplos de envolvidos. Embora suas organizações sejam também formadas por indivíduos da mesma espécie, existem grupos específicos cada um realizando ações diferenciadas, tudo em prol da sociedade em que vivem. Os papéis são claros e precisos, os indivíduos nascem e exercem suas funções sem nunca mudar de área, sem questionar, do nascimento à morte, como numa engrenagem perfeita. 

Podem ainda ser desarmônicas, quando há competição entre indivíduos, por recursos que, na maioria das vezes, não estão disponíveis em abundância no meio em que vivem. Alimento, água, parceiros reprodutivos, abrigos, são exemplos de recursos escassos que podem ser motivo de competição e desarmonia. O que ocorre é a seleção natural, dos mais fortes e/ou aptos. Casos extremos ocorrem com frequência na natureza, como o canibalismo. Um exemplo clássico é a viúva negra que, logo após o coito, arranca e devora a cabeça do macho. O mesmo ocorre com as fêmeas do louva-a-deus que devoram todo o corpo do macho. Cadelas que se sentem muito debilitadas após o parto, devoram alguns de seus filhotes recém paridos ou mesmo todos, se ela sentir que sua sobrevivência depende disso.

Diferentes tipos de parcerias

Nas relações interespecíficas há pelo menos sete tipos bem diferenciados.

  1. Protocooperação – ela acontece quando dois seres envolvidos se ligam para cooperarem um com o outro. O exemplo clássico é o que ocorre entre o pássaro-palito e o jacaré. A relação se dá quando o pássaro pousa na boca do jacaré para alimentar-se dos resíduos de carne que sobram entre os dentes. Ambos se beneficiam da relação: o jacaré ganha uma limpeza bucal e o pássaro sua refeição fácil. Outro exemplo é o que ocorre entre as árvores e os pássaros. As árvores fornecem alimento e moradia e as aves, em contrapartida, polinizam suas flores e espalham as sementes, uma relação benéfica que já dura milhões de anos.
  1. Mutualismo – essa associação se difere da anterior pelo fato de que é essencial para a sobrevivência de ambos. Um exemplo é o líquen que ocorre quanto da associação entre o fungo e a alga: esta última produz alimento através da fotossíntese que o fungo necessita e, este absorve a umidade e matéria orgânica que a alga utiliza. Cada qual vive e atua em função da sobrevivência de ambos. Outro exemplo importante: os bovinos e as bactérias de seu estômago. Embora herbívoros, esses grandes mamíferos não conseguem quebrar a celulose das folhas que ingerem sem que as bactérias produzam a enzima celulase. Em troca de moradia e alimento, esses microorganismos trabalham para o bovino, um não vive sem o outro. 
  1. Inquilinismo – como o próprio termo sugere, a relação se estabelece sem que os envolvidos retirem nada do outro. O exemplo clássico é o das plantas epífitas (orquídeas e bromélias) que aderem aos troncos das árvores. Isso garante que consigam maior luminosidade e, portanto, tenham condições de realizar a fotossíntese para produzir seu alimento. Para as árvores, a presença dessas plantas é inofensiva.
Inquilinismo: Plantas Epífitas como as Orquídeas
  1. Comensalismo – os parceiros compartilham do mesmo alimento como ocorre com leões e hienas. As leoas caçam, chamam o leão para que se alimente, depois é a vez delas e, quando todos estão saciados, deixam os restos para as hienas que se mantém ao redor, à espreita durante todo o processo. É uma relação estranha e peculiar, mas nenhuma das partes se prejudica.
  1. Parasitismo – este é um tipo de relação diferente da anterior no sentido de uma das partes se aproveita do esforço do outro e prejudica-o. O exemplo mais cotidiano é o dos piolhos e carrapatos e o ser humano. Os insetos são ectoparasitas, ficam instalados externamente. Já os endoparasitas, que se instalam dentro do corpo, como os vermes que se alojam no intestino. Todos esses parasitas sobrevivem se alimentando de sangue, líquido vital para a sobrevivência humana e, em estágios graves, podem levar à anemia ou outras patologias.
  1. Herbivoria ou herbivorismo – tem a ver com a fonte de alimento. Bovinos se enquadram nesse grupo, bem inúmeras outras espécies de vertebrados que se alimentam exclusivamente de plantas, consequentemente, predando-as. (Obs.: No caso do ser humano, dá-se ao fenômeno o nome de vegetarianismo e, no caso dos insetos, de fitofagia).
  1. Predatismo – essa é uma relação em que a presa (que servirá de alimento) e o predador (que caçará a presa). São muitos os exemplos que poderiam ser apresentados. Um deles é o que ocorre entre os leões e as zebras; serpentes e ratos; crocodilo e gnu, por exemplo. Importantíssimo para manter o equilíbrio ambiental das populações de determinados animais.

Fontes: 

https://www.biologianet.com/ecologia/protocooperacao.htm

https://www.biologianet.com/ecologia/predatismo-predacao.htm#:~:text=Um%20exemplo%20cl%C3%A1ssico%20de%20predatismo,como%20vis%C3%A3o%20ou%20olfato%20agu%C3%A7ados

https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Ecologia/relacoesecologicas4.php

https://www.biologianet.com/ecologia/comensalismo.htm

https://www.todabiologia.com/ecologia/inquilinismo.htm

https://www.ecycle.com.br/mutualismo/

Plantar a semente de uma nova consciência no coração das pessoas

Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) propõe educação de qualidade para assegurar a educação inclusiva, equitativa, de qualidade, e proporcionar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Esse é um dos propósitos da atuação do Instituto Soka Amazônia

Baseado nos valores humanistas do fundador, Dr. Daisaku Ikeda, o Instituto Soka Amazônia é uma organização não governamental que trabalha em prol da integridade ecológica da Amazônia, que cria oportunidades para seus visitantes e parceiros se conectarem com a natureza em uma perspectiva baseada em valores. 

Suas ações estão diretamente relacionadas com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e nesta coluna apresentaremos a contribuição do Instituto com o ODS 4 – Educação de qualidade, cujo objetivo é “assegurar a educação inclusiva, equitativa, de qualidade para proporcionar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2022). Dentre as diversas metas no Objetivo 4 da Agenda 2030, a meta 4.7 inclui a temática de educação ambiental: “Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2022).

Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável

Educação não é exclusividade de determinado grupo

No Instituto Soka, a educação ambiental não é exclusividade para um determinado público; todos que entram em contato têm chance de aprender sobre educação ambiental. Assim, criam-se oportunidades para os indivíduos se conectarem com o meio ambiente de diversas formas: numa aula ou palestra, numa simples visita à nossa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) ou até numa expedição na floresta onde é possível colaborar com ribeirinhos, plantar uma muda. Uma das ações mais regulares do Instituto é a conscientização e o engajamento ambiental por meio do envolvimento dos parceiros em processos do plantio. O ato de plantar uma árvore é uma experiência inesquecível, que cria um laço entre o ser e o meio ambiente. Projetos de plantio têm sido realizados em associação com escolas, instituições religiosas, empresas privadas e públicas.

Plantio Escola Indigena Katana T_ykua
Educação Ambiental não é sinônimo de ecologia

O propósito Abordagem de Criação de Valor significa fazer com que cada pessoa (alunos em especial) encontre a felicidade e transforme a sociedade. O ponto de partida para aplicar tal abordagem na educação ambiental é o respeito à dignidade da vida, na qual todos os seres humanos são iguais em essência e todas as formas de vida merecem ser igualmente respeitadas. 

O ambiente é qualquer lugar onde uma pessoa se encontre, uma casa, uma escola, uma empresa, uma cidade, qualquer lugar é considerado um ambiente.

É importante ressaltar que educação ambiental não é sinônimo de ecologia. Educação Ambiental não é o estudo da natureza. O ambiente é qualquer lugar onde uma pessoa se encontre, portanto, uma casa, uma escola, uma empresa, uma cidade, qualquer lugar é considerado um ambiente. Além disso, o estudo da educação ambiental não se limita exclusivamente à educação formal; ela inclui o aprendizado formal e não-formal, ou seja, qualquer faixa etária e qualquer lugar são apropriados para aplicar os ensinamentos da educação ambiental.  

Especificamente sobre a Abordagem de Criação de Valor na educação ambiental, o idealizador do Instituto propôs “Quatro Passos para a Conscientização”: (1) aprendizagem, (2) reflexão, (3) empoderamento e (4) liderança.

Aprender é essencial para adquirir uma compreensão e uma consciência mais profunda. É importante não apenas compreender as causas e a estrutura social que impulsionam a destruição ambiental, mas também aprender sobre a realidade daqueles que sofrem, ter compaixão por eles e estar atento à nossa interconexão. 

Reflexão significa esclarecer os valores éticos de uma pessoa. A educação deve estimular a compreensão de como as questões ambientais estão relacionadas a nós e deve inspirar-nos a assumir a responsabilidade por nossas ações em nível global (Ikeda, 2002). O primeiro passo, aprendizagem, é fundamental para dar as ferramentas necessárias para o estudante fazer as escolhas livremente, com pensamento crítico através do exercício de reflexão.

Visita ao Instituto E.M Jorge de Resende

Dessa forma, a pessoa se empodera. Empoderar significa agir com coragem e esperança, é um profundo comprometimento com o meio ambiente. O empoderamento não é um modo de vida passivo e dependente, no qual a vida de alguém está à mercê de mudanças das circunstâncias; é uma forma de vida contributiva, baseada na consciência da natureza interdependente de nossas vidas com o meio ambiente, na qual nos esforçamos ativamente para alcançar a felicidade, tanto para nós mesmos quanto para os outros (Ikeda, 2002). 

Transformação real na sociedade

O empoderamento exerce liderança e gera transformação real na sociedade (Ikeda, 2012), porque um estudante empoderado inspira outros a agir, causa engajamento social e cria uma rede de colaboração. Assim, o aluno impacta sua comunidade, sua nação e o planeta, tornando-se um cidadão global.

O constante exercício dos quatro passos para conscientização ilumina as capacidades do ser humano, o faz aprimorar novas habilidades, aprender e repensar valores e crenças, e ter a liberdade de fazer escolhas conscientes. Quando os alunos vivem uma vida de auto realização, eles transformam a sociedade, o meio ambiente e, no final, os alunos encontram a própria felicidade.

Bibliografia:

Ikeda, Daisaku (2002). Education for Sustainable Development Proposal, disponível em https://www.daisakuikeda.org/main/educator/education-proposal/edu-proposal-2002.html

Ikeda, Daisaku (2012). For a Sustainable Global Society: Learning for Empowerment and Leadership, disponível em https://www.sgi.org/content/files/about-us/president-ikedas-proposals/environmentproposal2012.pdf

ONU (2022). Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/4