De como óleos batizados acabaram abrindo caminho para uma empresa modelo

A Amazônia como ela é: Parece coisa de novela das 8, filme de cinema, ou mesmo livro de autoajuda, mas é fato real, que aconteceu no Amazonas em maio de 2004.

Duas fraturas na coluna em um acidente na Usina Termelétrica, localizada no Estado do Amazonas, em Manaus e a vida de Raimundo Lima da Luz, que ali trabalhava em serviços de manutenção de rotina, mudou para sempre.

Hoje ele tem placa de titânio na coluna cervical, mas plena consciência de que a mudança acabou sendo positiva, apesar de uma trabalheira danada e muitos momentos de grande apreensão por que passou.

Na ponta de cá, a realidade é a história da Extratora de Óleos Vegetais Canto da Luz Eireli, uma empresa que dá a ele muito o que contar e põe em destaque um projeto com aspectos que representam muito, tanto para a economia do Amazonas, mas especialmente para a qualidade de vida de populações ribeirinhas.

Procura sem resultados por óleos de qualidade

Na raiz da Canto da Luz, uma necessidade pessoal de Raimundo quando se recuperava do acidente, e tinha necessidade de produtos à base de óleo de andiroba e copaíba, comprados então na área urbana de Manaus.

Ele percebia que eram produtos flagrantemente batizados (ou para usar a palavra certa, adulterados) com a adição de outros óleos, especialmente de soja ou babaçu.

Na busca por óleos mais puros, Raimundo resolveu ir direto às áreas de produção, em povoados no interior do Estado.

Pura decepção, pois percebeu que ali também acontecia o batismo, recurso dos produtores para ganhar um pouco mais.

Os milagres da andiroba e da copaíba É um sem fim de enfermidades para as quais os produtos de andiroba e copaíba são indicados: ACNE, pele ressecada, queda de cabelos, eliminação de estrias e celulite, psoríase, (doenças autoimunes), problemas vasculares, esfoliação natural, hidratação e clareamento de pele, renovação celular cutânea, desintoxicante da pele e bactericida, artrite, reumatismo, relaxante muscular, tendinite, repelente contra insetos, carrapaticida. fungicida, bactericida, antimicótico e imunoestimulante

Foi essa constatação que o levou a iniciar a busca de um sistema próprio de extração do óleo.

Desenvolvimento da máquina patenteada

Analisa daqui, estuda dali, discute com uma pessoa, discute com outra, seu caminho acabou cruzando com a dra. Isolde Ferraz, do INPA, (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), e sua participação no projeto foi de extrema valia.

Foram anos inteiros de estudos, testes, para chegar à realidade atual em que são produzidos óleos inigualáveis, de extrema pureza através de uma metodologia totalmente nova.

Para tornar curta uma história bem mais comprida:

  • A Extratora Canto da Luz requereu junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) a patente de sua máquina de extração de óleo.
  • Seu processo e sua metodologia de produção são únicos e proporcionam não só altos índices de pureza dos óleos de andiroba e copaíba como um aproveitamento superior das sementes processadas.
  • Operando ainda na incubadora da Universidade Federal do Amazonas, a Canto da Luz está em vias de se tornar 100% independente, em novas instalações fora da Universidade, ao mesmo tempo em que mantém entendimentos com investidores para viabilizar economicamente o projeto.
  • Mantém, e vai estimular cada vez mais as parcerias com ribeirinhos que foram encorajados a reflorestar áreas degradadas da Amazônia. Em termos práticos, isso representará para essas populações não só um novo rendimento, como ampliará o valor pago por saco de sementes.
  • Está nos planos a potencialização da extração das sementes em toda a região, capacitando as populações e fortalecendo as comunidades extrativistas. É uma soma em que 2+2= 5, talvez 6.
  • A produção, hoje, é de produtos fitoterápicos para o mercado de saúde e não cosméticos, mas o propósito é manter ativas as duas linhas – fitoterápicos e cosméticos à base de andiroba (principalmente) e copaíba.
  • O projeto de expansão prevê a curto prazo um crescimento de 125 para 500 unidades por dia.
  • Por causa da pandemia a produção esteve muito restrita e foi suficiente para atender clientes há mais tempo, tanto no estado do Amazonas como em cidades como Brasília, Campinas e Ribeirão Preto.
  • Num horizonte mais amplo, pode ser prevista a exportação de óleos para outros países e nesse sentido já há entendimentos com empresas de Portugal, Espanha, Itália e Alemanha.

O óleo de andiroba que afirmavam estar sendo extraído a frio, não era a frio, pois no processo as amêndoas eram torradas após secagem de 150°C a 300°F e depois levadas a uma prensa para extração do óleo

Os fitoterápicos Canto da Luz.

Em seu site, a Canto da Luz explica que a sua linha de produtos é de fitoterápicos, ou seja, produtos alcançados de plantas medicinais, onde são utilizados exclusivamente derivados de droga vegetal tais como: suco, cera, exsudato, óleo, extrato, tintura, entre outros. A linha inclui cápsulas de andiroba e de copaíba, além de cremes massageadores e sabonetes

A Amazônia como ela é

As castanhas e o sucesso de um projeto-empresa que respeita usos e costumes dos povos da Amazônia

É o tipo de empreendimento que vale a pena conhecer.

Não apenas pelo seu incontestável sucesso. Por sinal ele é, a bem dizer, resultado de uma experiência malsucedida, lá atrás, nos anos 1970, quando o Governo incentivava empresários a investirem na Amazônia e o projeto pecuário então implantado não demorou muito a demonstrar uma coisa que hoje todos já sabem, a inadequação do solo amazônico para pastagens.

Estamos falando da Fazenda Aruanã, (e da Agropecuária Aruanã Ltda.) em Itacoatiara, a uns 200 e poucos quilômetros de Manaus, de onde saem as castanhas do Brasil EcoNut ali mesmo cultivadas, selecionadas, beneficiadas e embaladas a vácuo dentro de padrão exportação, vendidas basicamente a públicos do Sudeste do país sobretudo em lojas de produtos naturais. A embalagem de Econut contém atmosfera modificada. É feito o vácuo e em seguida introduzido gás da atmosfera modificada que garante 2 anos de validade para o produto.

Detalhes e mais detalhes

Mais importante do que isso, no entanto, são os muitos detalhes que envolvem a empreitada.

Nada de processos de produção e beneficiamento com muita automação e recursos de tecnologia de ponta. Em lugar disso, imenso respeito pelos usos e costumes dos povos locais; a saudável convivência com índios e povos ribeirinhos; a forma de produção manual e simples, que leva em conta a conveniência de usar intensamente mão de obra local com seus usos e costumes; a inflexível decisão de defender apenas os interesses do empreendedor, mas também dos habitantes da região, levados a plantar castanhas para negociá-las com total liberdade, sem qualquer obrigação de vender suas colheitas ao empreendedor que lhes forneceu a custo zero tanto as sementes como a forma mais adequada de fazer o plantio.

Humanismo A atuação do Instituto Soka Amazônia está intimamente ligada à pratica do Humanismo, que a  SGI (Soka Gakai Internacional) e a sua organização no Brasil, a BSGI sempre propagaram. Da mesma forma, os princípios humanísticos estão presentes, de A a Z neste projeto da Fazenda Aruanã, no momento em que fica patente seu respeito pelos povos da Amazônia, seu ambiente, seu modo de vida e os meios de seu sustento.

Pelo contrário. A Fazenda Aruanã utiliza em sua produção exclusivamente suas próprias castanhas.

Castanhas em lugar de áreas degradadas

É sabido e usual o fato de que ribeirinhos e até mesmo pequenos agricultores que têm suas roças de subsistência na floresta Amazônica normalmente abrem pequenas clareiras na floresta para seu plantio, mandioca sobretudo, além de pesca. Mais adiante, esgotado o solo, ele é abandonado e aberta nova clareira e mais adiante novo abandono de uma área devastada.

A família proprietária da Fazenda Aruanã, atenta a esse indesejável círculo vicioso, iniciou um processo de contato com ribeirinhos com uma proposta: “não deixem a área devastada; mantenham-na viva, plantando castanha, que castanha é dinheiro. Nós lhes daremos as sementes, ajudaremos na melhor forma de plantio e de cuidados”. Essa abordagem fez com que crescesse o número de áreas recuperadas e, passado o tempo, há ribeirinhos que têm hoje uma nova fonte de rendimento pois, de fato, castanha é um produto de facílima comercialização.

“O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” “A castanha é sua e você a vende para quem bem entender. Nós só usamos castanha plantada por nós mesmos! ”

A desconfiança do ribeirinho

Curiosidade: desconfiados, alguns ribeirinhos ficaram esquivos: “O sr. me dá semente e depois sou obrigado a vender as castanhas pro senhor! ” A desconfiança foi água abaixo com a resposta de que isso não seria necessário. Cada um venderia as castanhas a quem bem entendesse e a Fazenda Aruanã continuaria usando exclusivamente suas próprias castanhas.

Múltiplas alternativas e um convite

Esse projeto, em verdade,  permite múltiplas alternativas para textos e nosso propósito é fazer isso em diferentes matérias em nossas mídias sociais.

Aceite um convite que fazemos aqui e agora, com a convicção de que será uma experiência enriquecedora, uma espécie de brisa saudável e de esperança a respeito da Amazônia, que quase sempre (a bem dizer quase todos os dias) é assunto para matérias pessimistas e preocupantes.

Aceite este convite: vale a pena

O programa “O Globo Repórter” esteve na Fazenda Aruanã em 2020 e fez um relado muito bem feito desse caso de sucesso, que está agora no youtube.

São uns 13 ou 14 minutos que valem a pena.

Mais adiante voltaremos ao assunto.

Vídeo Globo Rural – Produção comercial de castanhas na Amazônia ajuda na recuperação de florestas em 19 abr 2020Clique aqui se o vídeo não abrir em seu navegador

Maratona em janeiro 2022

Plantios na Amazônia
1500 mudas plantadas debaixo de chuva ou de sol de rachar

Além de falar das 1.500 árvores que o Instituto Soka Amazônia plantou neste janeiro de 2022, o propósito em especial, é lembrar passo a passo a verdadeira maratona que é fazer plantios. Sem deixar de contar como e por que as parcerias tornam possíveis esses projetos. Falar das razões que têm levado empresas e empresários a fazerem essas parcerias. Motivar outras empresas e outros empresários a seguirem por esse caminho.

Muitas árvores, diferentes realidades

Em termos gerais, o objetivo é completar o adensamento florestal com espécies madeireiras, frutíferas ou mesmo ornamentais em áreas que por alguma razão descampadas ou em clareiras abertas em florestas densas. Andirobas-cascudas, cumarus, teutos-vermelhos, mari-maris-rosas, mogno, as espécies são muitas, plantadas em locais adequados para seu natural desenvolvimento.

Antes de começar a maratona

É preciso ter informações sobre o local onde serão os plantios. Campo aberto? Mata? Quais os trabalhos necessários no local antes de deslocar até lá a equipe e tudo o que é preciso para que o plantio possa ser feito de forma a manter as mudas em condições até a hora de serem levadas aos berços. “Berços” é o termo usado para a abertura no solo para as mudas serem plantadas. A palavra “cova” é inadequada…

Para isso, visita de técnicos ou, quando o local é mais distante, análise por imagens via satélite.

No caso de um dos locais usados em janeiro, os proprietários assumiram a responsabilidade por esse trabalho que poderia ser rápido, mas por diversas razões levou praticamente 6 semanas para ser concluído.

O dia da maratona começa às 5 da manhã

Às 5 da manhã a equipe formada normalmente por 6 pessoas já está a postos no Instituto: coordenador, motorista e pessoal operacional. E a faina começa com a coleta das mudas nos dois viveiros para sua acomodação das mudas e de toda aparafernália necessária na Kombi que irá até o local.

Em seguida, estrada. Ou, num dos casos de janeiro, longa travessia de Manaus de uma ponta a outra da cidade para atingir, nesse caso, a área do Parque Mosaico. Na outra área desse mês, viagem de hora e meia até Iranduba, onde ficam as terras da Barcelar.

Dito dessa forma, pode ficar a impressão de que daí pra frente é tudo fácil, afinal é só abrir o berço, colocar as mudas em seu berço e sair para o aplauso.

Coisa nenhuma!

A Kombi é descarregada o mais perto possível do local de plantio, mas em verdade esse local “próximo” chega a estar a 1 quilômetro de onde serão cavados os berços. E as mudas têm que ser levadas “no braço”, em terreno quase sempre húmido, cheio de barro, em aclive e declive, num calor muito forte, quase sempre debaixo de chuva, já que é justamente na época das chuvas que os plantios podem ser feitos.

No caso do plantio em Manaus, uma ajuda nessa fase, dada pela empresa parceira que pôs à disposição da equipe um trator para distribuir as mudas no local certo.

Como já foi dito, há o trabalho que antecede o plantio, que é abrir o mato que sempre há no local.

Quando isso está feito, começa o plantio propriamente dito.

Demarcar o local; abrir o berço manualmente, usando apenas uma “boca de lobo” (aquela ferramenta, tipo de enxada com 2 pás)  dentro das rigorosas especificações, dar o último trato na muda (em alguns casos é preciso, por exemplo, podar as raízes) colocar a muda no berço, fechá-lo com cuidados especiais, pois é necessário evitar que haja excesso de oxigênio no berço, para, então, fazer o georreferenciamento, dando a cada nova árvore seu endereço único.

O complicado dever de se alimentar e não morrer de sede O pessoal do Instituto Soka Amazônia agora já está escolado e foi aprendendo aos poucos a tornar menos árduo o seu trabalho. Para as refeições, por exemplo. No caminho de ida a equipe vai prestando atenção em alternativas para comprar o almoço. Levar marmitas não é a melhor solução, dada a falta de recursos. Escolhido o “restaurante”, na hora certa o motorista vai até lá, compra o que tem que comprar e volta. E a sede, naquele calorão? São 6 pessoas que acabam consumindo, cada um, em dia normal de trabalho, 3 litros d’água cada um. 18 litros de água em garrafões pesados que têm que ser transportados, no braço, do local em que a Kombi estacionou até a área de plantio. Sem falar que a água, para ter condições de ser consumida em condições de temperatura minimamente aceitável, exige uma boa quantidade de gelo. Terminou? Não. Hoje cada um já chega ao local com sua caneca e seus talheres, mas no princípio era um sufoco, bebendo água no gargalo e, por falta de um simples garfo, comendo com as mãos.

São horas e horas de trabalho pesado. Quase sempre com chuva ou com um sol de rachar. Pequeno intervalo para uma refeição improvisada. Água fresca, já que as tarefas são duras e o calor amazonense só faz aumentar a sede.

No fim do dia, preparar a retirada para chegar de volta ao Instituto lá pelas 5 ou 6 da tarde.  

Dadas as condições adversas da atividade, muitas vezes as equipes só podem trabalhar três dias por semana.

As fundamentais parcerias

O Instituto Soka Amazônia tem tido demonstrações constantes de que há empresas e empresários cada vez mais conscientes da necessidade de plantar árvores. Têm recursos para isso, mas não têm condições de se ocupar dessa missão elas mesmas. Seja pela razão que for, encontram dificuldade para viabilizar os plantios através de terceiros.

O Instituto tem por norma não vender mudas e sim cria-las para executar plantios. As parcerias são a possibilidade de uma soma sinérgica em que se juntam recursos de um lado e de outro, para viabilizar de forma econômica os plantios, onde um lado entra com as mudas e a tecnologia de plantio, e de outro os recursos financeiros para permitir a concretização desses projetos.

Para cada plantio é editado um relatório minucioso, com todos os detalhes uma a uma de cada espécie plantada, sua localização, condições do terreno, equipe envolvida no projeto, documento que é entregue ao parceiro que tornou possível.

Veja abaixo nossos relatórios de plantios neste período.

Sauins-de-coleira se estabelecem no Instituto Soka Amazônia

Desde novembro de 2021, a família desse primata ameaçado está se adaptando ao novo espaço e parece estar totalmente ambientada

O sauim-de-coleira é um dos xodós da população de Manaus-AM, por causa de sua presença em diversos fragmentos florestais do Amazonas. Devido a isso, é muitas vezes chamado de sauim-de-manaus ou de sauim-de-duas-cores.

Desde o último mês de novembro, uma família desses primatas foi alocada na reserva do Instituto Soka Amazônia, afinal seu habitat natural está sendo cada vez mais perdido devido ao crescimento desordenado da região.

“Dos 9 animais do grupo, três se separaram, mas se juntam esporadicamente. Esse grupo menor dificilmente é avistado”, contou o professor doutor em Zoologia da Universidade Federal do Amazonas -UFAMA, Marcelo Gordo, responsável pela captura e soltura da família.

Família de Sauins se ambientando no Instituto Soka Amazônia

Segundo ele, o grupo maior, com os 6 indivíduos, tem explorado bem novas áreas dentro da Reserva, voltando sempre para se alimentar nas plataformas elevadas, abastecidas com bananas todos os dias.

Embora sejam competidores naturais por território e alimentos dos sauins, os macacos de cheiro que já eram abundantes na reserva, até o momento não têm causado problemas. “Nessa época de chuvas há muitas árvores com frutos disponíveis para ambas as espécies”, ressalta o professor.

Na última semana de janeiro, o grupo principal com 6 indivíduos foi avistado. “Estão frequentando com menos frequência as plataformas de alimentação, provavelmente pela fartura de alimentos na mata. Aparentemente estão muito bem”, detalhou, “infelizmente, o grupo menor com 3 animais não foi mais avistado”.

Uma espécie em constante ameaça

Desde 1997 a redução de seu habitat natural fez com que a população desse simpático primata fosse diminuída em 80%. Hoje restam 7,5 mil km² (nos) em partes dos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara.

Tanto a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) quanto o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), colocam a espécie no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A estimativa atual é de que ainda existam mais de 45 mil sauins-de-coleira na natureza, com mais de 20 mil adultos entre eles. A cada ano, no entanto, eles perdem mais de 250 km² de habitat: 80% para o desmatamento e 20% pela ocupação do seu principal concorrente: o sagui-de-mãos-douradas.

Fonte:https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/mamiferos/saium-de-coleira

O olhar fotográfico de quem vê além do óbvio

Valter Calheiros de Souza
O fotógrafo da natureza, Valter Calheiros de Souza vem registrando as belezas e os desafios da Amazônia desde a década de 1980

Não há dúvida de que há quem veja e não enxergue e há quem olhe e perceba muito mais do que está diante de si. Este é o olhar do fotógrafo, um ser sensível que, munido de sua câmera, consegue captar muito mais do que a simples paisagem à sua frente. Valter, desde que se mudou de Parintins-PA, para Manaus-AM, encontrou na arte fotográfica seu modo de exprimir o mundo que enxerga, tanto como meio de registrar sua riqueza como para denunciar as mazelas. É ainda um dos grandes amigos e colaboradores do Instituto Soka Amazônia.

O que significa ter “um bom olho”

O olhar fotográfico é aquele que além de ver, sente o que se passa naquele local. Dessa forma, ter ‘um bom olho” para a fotografia passa necessariamente pelo sentimento, pelo universo interno de cada um. Por meio do ato de fotografar proporciona-se a comunicação, daí a conhecida sentença ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’, frase atribuída ao filósofo chinês Confúcio. O jovem Valter, no alto de seus 17 anos, assim que chegou a Manaus percebeu que poderia ‘comunicar muito’, por meio de suas imagens.

Por meio do ato de fotografar proporciona-se a comunicação, daí a conhecida sentença ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’

frase atribuída ao filósofo chinês Confúcio

Mostrar uma maravilha ao mundo

Oriundo de uma prole numerosa, ele é o terceiro de 9 irmãos, chegou a um distrito na periferia de Manaus que fica em frente ao Encontro das Águas. “Naquele momento senti que tinha o dever de registrar aquela maravilha e mostra-la ao mundo! ”  Para quem ainda não teve o privilégio de ir a esse local encantado, onde as águas dos rios Negro e Solimões percorrem quilômetros lado-a-lado, como se algo mágico os unisse e os impelisse a caminhar irmanados de forma a produzir tal singularidade, não tem ideia da grandiosidade desse fenômeno.

Para o adolescente Valter, esse momento marcou profundamente sua vida. Uniu-se a outros com o objetivo de salvaguardar aquele local sagrado e vem se empenhando para garantir a sua preservação.

Educador ambiental

Valter é o responsável pela área educacional do Museu da Amazônia – MUSA. Segundo consta do site, “O mote ‘viver juntos’, mais que um imperativo de entendimento entre humanos e não humanos que aqui vivem, é, para o Musa, símbolo de um projeto de educação e solidariedade empenhado em promover o convívio dos cidadãos na diversidade cultural, biológica, social e política da grande bacia amazônica. Trata-se de um ‘museu vivo’, ou seja, os visitantes têm um acervo a céu aberto, onde podem ver as intrincadas ligações entre os seres que compõem o espaço totalmente vivo e interativo.

Valter coordena as visitações, em especial das escolas das redes públicas municipal e estadual. “Há basicamente dois tipos de visitas: a matutina e a noturna”, explica Valter. A matutina acontece muito cedo, quando as criaturas do dia iniciam sua jornada. A noturna, ainda mais fascinante, visa assistir aos seres noturnos em suas ações cotidianas.

“A Amazônia tem 2 momentos no ano: a cheia e a vazante. Durante a cheia é praticamente impossível realizar determinadas atividades, mas pode-se fazer outras, como percorrer os igarapés de barco. Na vazante, quando as águas baixam e a vida terrestre reinicia”, torna a explicar. Em cada fase o museu se reinventa e produz vivências inesquecíveis aos seus visitantes.”

Os 100 hectares do MUSA

Criado em janeiro de 2009, o Musa ocupa 100 hectares da Reserva Florestal Adolpho Ducke, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, em Manaus. Uma área de floresta de terra firme, nativa, que há mais de 60 anos vem sendo estudada com paixão.

Podem ser encontrados no MUSA: exposições, viveiro de orquídeas e bromélias, lago, aquários e laboratórios experimentais de serpentes, de insetos e de borboletas. Uma torre de 42 metros permite fruir uma magnífica vista do dossel das árvores da floresta, inesquecível quando vista às seis da manhã.

Trilhas na floresta proporcionam ao visitante passeios agradáveis e descobertas surpreendentes. No Musa são desenvolvidas pesquisas em divulgação e popularização da ciência e da educação científica e cultural.

Leia mais: https://museudaamazonia.org.br/

Quilômetros mata a dentro,

A riqueza dos igarapes

parte essencial da maior bacia fluvial do mundo

Meu nome é igarapé, mas pode me chamar de caminho d’água, que é como os índios me chamavam

São cursos d’água de primeira, segunda ou terceira ordem que irrigam a floresta amazônica e percorrem quilômetros mata adentro. São constituídos por longos braços de rios ou canais e são incontáveis em toda a bacia Amazônica. Pouco profundos e estreitos, portanto, somente pequenas embarcações chatas e canoas conseguem navegar por eles. No idioma tupi-guarani, igarapé = caminho d’água.

Para as comunidades ribeirinhas são fonte de água potável, proporcionam irrigação para suas pequenas plantações, peixes como alimento e vias de acesso a rios e outras comunidades. Mas o que mais importante disso tudo é sua imensa importância à biodiversidade.

Segundo ressaltam os especialistas, a Amazônia constitui a maior bacia fluvial do planeta, com 700 mil km2. Composta por rios e lagos gigantes, os igarapés abundam e são parte essencial da intrincada cadeia de cursos d’água, constituindo uma das reservas aquáticas mais densas do mundo. Excetuando-se os rios que nascem nas altas montanhas dos Andes, quase todos os rios amazônicos são resultantes da junção de pequenos igarapés. Estima-se que 80% da bacia hidrográfica é ocupada pelos igarapés, ou seja, são a morada de uma quantidade inestimável de flora e fauna, muitas das quais ainda estão por serem descobertas e catalogadas.

Estudo recente

Pesquisadores catalogaram, observaram e registraram 83 igarapés (com até três metros de largura) nos municípios de Santarém e Paragominas, no Pará, para melhor compreender a importância desses pequenos cursos d’água para a conservação da biodiversidade em regiões de expansão agropecuária. Nesse artigo os cientistas apontaram principalmente as fragilidades nas leis ambientais brasileiras na proteção dos riachos de pequeno porte, fundamentais para humanos.

O estudo foi coordenado por pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável (RAS), que reúne mais de 30 instituições do Brasil e do exterior com o objetivo de pesquisar temas relacionados à conservação e o uso sustentável da terra na região amazônica. Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico britânico Journal of Applied Ecology. A RAS é coordenada por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, Lancaster University, Manchester Metropolitan University, Stockholm Environment Institute e o Museu Paraense Emílio Goeldi.

As leis atuais protegem os cursos d’água, mas simplesmente ignoram o que ocorre mata adentro, longe das margens dos igarapés. O problema é que se trata de um sistema complexo que afeta todo o conjunto. A derrubada da mata afeta também os cursos d’água. Não há como proteger somente uma parte da cadeia.

Em 150 metros, 44 espécies de peixe

Os pesquisadores se surpreenderam com a imensa variedade de vida! Num pequeno trecho de apenas 150 metros, obtiveram o registro de 44 espécie de peixes. Mesmo igarapés próximos, com poucos quilômetros de distância um do outro, abrigam conjuntos de espécies bastante diferentes. Ou seja: cada pequeno curso d’água amazônico é inestimável e precisa ser preservado.

https://www.museu-goeldi.br/noticias/a-diversidade-dos-igarapes-e-a-urgencia-de-sua-preservacao

Arborização urbana: cuidados necessários

Por meio de uma seleção criteriosa das espécies vegetais, economizam-se recursos e, principalmente, obtêm-se resultados muito mais promissores

Quem vive em cidades já deve ter se deparado com calçadas danificadas ou até mesmo ter tropeçado num desses trechos. Nem sempre isso tem a ver com a má conservação, mas com espécies arbóreas impróprias para a arborização de calçadas. O biólogo e mestre em Ecologia, Diego Oliveira Brandão, enfatiza que “sem base técnica e científica, os projetos de arborização podem gerar despesas anuais maiores que os investimentos iniciais na implantação”.

Foto de Diego Oliveira Brandão – fonte: https://www.linkedin.com/pulse/sele%25C3%25A7%25C3%25A3o-de-esp%25C3%25A9cies-vegetais-para-projetos-urbana-oliveira-brand%25C3%25A3o/?trackingId=Ihu31KzUlXmLve%2FSh1pQig%3D%3D

Ele exemplifica: “para espécies plantadas em calçadas, o investimento com podas de galhos poderá ser constante com o crescimento natural da vegetação no espaço da fiação”. Os cuidados têm a ver ainda com considerar espécies de menor estatura para árvores que serão plantadas em calçadas onde se encontram os postes de fiação elétrica. O ideal é que sejam utilizadas plantas com porte de arbustos, ou árvores que não ultrapassem os 4 metros quando adultas.

Não há dúvida de que ruas com mais árvores e plantas são mais frescas, mais belas e mais acolhedoras, do que a paisagem monótona e cinzenta do concreto. Há pesquisadores que consideram como “florestas urbanas”, levando em consideração todo o conjunto de espaços do tecido urbano passiveis de receberem algum tipo de vegetação, como parques, praças, jardins, quintais, canteiros centrais de ruas e avenidas etc.

Para que um projeto de arborização urbana possa ser considerado como excelente, deve se caracterizar por baixo investimento em manutenção a médio e longo prazo. E, caso contrário, o resultado invariavelmente é o alto custo com a constante necessidade de poda de galhos que podem prejudicar a rede elétrica, causando não apenas problemas com o abastecimento, mas riscos à vida humana.

Outros custos: remoção de plantas e/ou substituição de árvores, manutenção de calçadas, derrubada de postes que sustentam a fiação elétrica e de internet, rachadura em paredes, produção volumosa de resíduos orgânicos como folhas e frutos, entupimento de calhas, exposição de raízes que reduzem a mobilidade urbana, problema com vizinhos e órgãos ambientais. “Por isso, pessoas e empresas que precisam de arborização urbana deveriam consultar profissionais com conhecimentos empíricos e científicos na fase de seleção de espécies”, explicou Diego.

Além de todos esses problemas de infraestrutura pública e urbana, há ainda o risco de acidentes fatais, pois queda de árvores podem por em risco a vida humana. As espécies selecionadas para a arborização urbana podem cair em cima de pessoas e danificar casas, carros, bicicletas e outras coisas importantes quando são plantadas sem critérios técnicos e científicos. Diego ressalta que “a leitura de estudos científicos pode ajudar a selecionar as espécies vegetais, porque há características importantes da botânica e ecologia das espécies vegetais a serem levadas em conta, como a altura, a distância das copas das árvores à fiação, o tamanho da copa e o tamanho das rachaduras causadas no passeio”.

Uma seleção de espécies tem que ser feita no sentido de reduzir o custo de manutenção e o risco de acidentes em longo prazo, além de prover bem-estar para os cidadãos. Diego conclui alertando para o fato de que a arborização urbana ainda é pouco estruturada na legislação brasileira. O Estatuto das Cidades carece de diretrizes para a arborização urbana (Lei 10.257/2001). Em 2008, o Projeto de Lei 199 foi apresentado para alterar o Estatuto das Cidades ao incluir o Plano de Arborização Urbana, porém ainda não foi aprovado. Isso talvez explique o fato de pessoas e empresas entenderem pouco sobre a importância da seleção de espécies vegetais. “Para alguns projetos de arborização urbana, por errar na seleção de espécies, a única solução sustentável é a substituição completa da vegetação”, finalizou o biólogo.

Fontes:

https://www.copel.com/hpcopel/guia_arb/a_arborizacao_urbana2.html

https://www.linkedin.com/pulse/sele%25C3%25A7%25C3%25A3o-de-esp%25C3%25A9cies-vegetais-para-projetos-urbana-oliveira-brand%25C3%25A3o/?trackingId=Ihu31KzUlXmLve%2FSh1pQig%3D%3D

O encontro entre a criança e sua árvore

Lauro Guilherme de Araújo Mota é uma das centenas de crianças que têm árvores plantadas em celebração ao seu nascimento

O projeto Sementes da Vida do Instituto Soka Amazônia, vem plantando uma árvore a cada criança nascida na Maternidade Moura Tapajós de Manaus desde novembro de 2016. No último dia 15 de dezembro, o pequeno Lauro de 3 anos, foi finalmente conhecer a sua árvore: um Ipê Pau D’Arco. Acompanharam a visita: Roseneide (avó), Débora Mariane (prima), Isabel Cristina (mãe) e Gabriel (padrasto). A avó, Roseneide, foi com quem conversamos e iniciou contando que o Laurinho nasceu no dia 14 de outubro 2018.

A família do pequeno Lauro no Instituto Soka Amazônia

A notícia da gravidez gerou uma surpresa inicial, mas o sentimento maior foi de felicidade. Segundo Roseneide, Isabel, a mãe, realizou um completo pré-natal e teve um acompanhamento muito bom feito todo na Maternidade Moura Tapajós. Foi um parto normal e tranquilo.

Conheceram o projeto Sementes da Vida por meio da maternidade e do seu diretor que é um amigo da família. Roseneide acompanhou a filha ao cartório para realizar o registro do pequeno Lauro e ali souberam que receberiam também o certificado do plantio de um ipê pau d’alho, a árvore que celebrava o nascimento de Lauro. “Fiquei muito feliz pois achei um projeto muito bom e falei a todos em casa que o Lauro tinha agora uma árvore plantada com seu nome e que ele tinha que acompanhar seu desenvolvimento”.

Lauro e sua Avó Roseneide com o Certificado de Plantio da Árvore do projeto Sementes da Vida

A avó de Lauro ficou tão empolgada que enviou a foto do certificado às irmãs no Rio Grande do Norte. Uma delas, professora, foi a mais entusiasta. Postou em suas redes e comentou sobre o projeto ao seu público. “Desde então a gente queria conhecer o projeto, o local onde estava a árvore, mas não sabíamos como fazer”. Roseneide foi à luta: pesquisou e escreveu um comentário numa das postagens em rede social deixando o telefone. Foi então que a equipe do Instituto contatou-a para proporcionar essa vivência ao pequeno Lauro e família.

Segundo seus familiares, Lauro, desde cedo, demonstrou ser uma criança diferenciada, precoce mesmo. “Ele gostava de coisas que não eram da sua idade”, contou a avó. A prima Gabriela, nascida dias após Lauro, se interessava por coisas naturais para a idade, como desenhos animados infantis e bichinhos de pelúcia. Muito curioso, despertou cedo para as cores e o mundo à sua volta, um aventureiro, “vai onde ele acha que consegue chegar, sem medo”. Lauro tem predileção por aprender, jogos de montar, livros. Intrigada, Roseneide buscou aconselhamento médico e teve o diagnóstico de criança superdotada.

Isabel Cristina, mãe de Lauro juntamente com Lauro e sua árvore Pau d’Arco.

A priminha de Lauro, Gabriela, nasceu em outra maternidade e por isso não tem uma árvore plantada em seu nome.

“Seria muito bom se outras maternidades também estivessem no projeto para que todas as crianças pudessem ter sua árvore e, desde cedo, aprendessem a cultivar e preservar a natureza”, finalizou Roseneide.

Muito calor na rua? A solução está no plantio de árvores!

Sensação térmica beirando o insuportável é resultado direto da escassez de áreas verdes

As cidades brasileiras são naturalmente quentes devido a boa parte do território nacional se encontrar em região tipicamente tropical. Devido a isso, alguns municípios possuem verões com temperaturas muito acima do suportável, “com temperaturas acima de 50ºC”, segundo o biólogo Diego Brandão, ocasionando baixíssimos índices de umidade relativa do ar. Tal fato ocorre devido o crescimento desordenado dos centros urbanos ter sido realizado à custa da remoção de grande parte da vegetação que resultou em edifícios, casas, indústrias, asfalto e outras construções, em sua maioria, compostas de concreto e cimento, materiais que retém o calor. Diego cita ainda que o aumento de temperatura nas cidades também acontece devido à mudança climática  causada pelas atividades humanas. O IPCC 2021 colocou em seu relatório que o aumento da temperatura global na superfície do solo entre 2011 e 2020 foi registrada entre 1,34 e 1,83° C mais alta em comparação a média entre 1850 e 1900[i]. E pior: aumentam a incidência da radiação solar direta e da radiação de onda longa[ii], modifica a direção dos ventos, altera os ciclos de precipitação (chuvas).

Some-se a tudo isso o aumento da impermeabilização do solo nos centros urbanos, além dos grandes níveis de gases poluentes emitidos de maneiras diferentes. É assim que se modificou radicalmente o clima nas cidades, que levou à ocorrência de temperaturas muito altas e baixíssimos índices de umidade relativa do ar. A consequência mais evidente, além do calor, é o prejuízo na saúde dos habitantes.

Asfalto e concreto retém a radiação solar, o que aquece a superfície terrestre. O mormaço que sentimos na rua é relacionado diretamente a esses dois componentes. Agora: experimente ir para a sombra de uma árvore. Pronto! O frescor que alivia o desconforto é a resposta ao problema, não é papo de eco-chato. A sombra de uma árvore pode baixar até 10ºC a temperatura em relação à exposição direta ao sol. Não é achismo, é fato.

As árvores amenizam o desequilíbrio térmico criado pela grande concentração de gás carbônico somado ao calor retido pelo asfalto e concreto. Portanto a arborização urbana é a melhor maneira de retificar o estrago, além de proporcionar bem estar, tanto orgânico como visual – não há como negar que o verde embeleza as cidades e nos causa irreprimível deleite.

Um estudo realizado em 2015[iii] pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), encabeçada pelo médico Anderson Martelli e o biólogo Arnaldo Rodrigues Santos, analisou a relação entre a arborização urbana no município de Itapira-SP e sua influência no conforto térmico.

Os dados foram coletados em um parque bem arborizado, uma praça com unidades arbóreas isoladas e em uma área desprovida de vegetação. Os resultados mostraram que a arborização influencia os valores de temperatura e umidade relativa do ar, indicando uma necessidade de arborização na área urbana, como condicionante de conforto térmico. Está muito bem estabelecida a função exercida pela arborização na redução do calor gerado no ambiente urbano, proporcionando um microclima com condições de conforto térmico favorável, redução da insolação direta, ampliação das taxas de evapotranspiração e redução da velocidade dos ventos, desempenhando assim, um importante papel na melhoria das condições ambientais das cidades e qualidade de vida de seus habitantes.

Simples assim. Além do que está descrito acima, as árvores exercem ainda uma importante função dentro do espaço urbano: reparar, dentro do possível, os estragos causados pelo dióxido de carbono (CO2), principal causador do efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas no planeta. Isso acontece principalmente devido à fotossíntese, que é a troca gasosa realizada pelas plantas, removendo o CO2 da atmosfera e liberando oxigênio, gás essencial para a sobrevivência humana.

Outro estudo realizado na Universidade Federal de Goiás, na capital Goiânia, demonstrou que numa mesma cidade, há climas diferentes entre bairros que possuem mais verde e outros que têm mais asfalto. Realizada num período de um ano, a pesquisa comprovou o que já se suspeitava: há bairros 8ºC mais frescos devido à maior quantidade de verde.

Em um bairro de comércio, onde não existem árvores, onde tudo é asfaltado e o trânsito é ruim o dia todo. Às três da tarde o termômetro marcou 39.8ºC. E a umidade relativa do ar era de 14%. A equipe se deslocou para outra região, onde há vasta arborização, um dos maiores parques da cidade. Ali o termômetro marcou 32,2ºC. Isso no mesmo dia. E a unidade relativa do ar? No parque estava em 40%!

Há que se repensar urgentemente na melhoria da qualidade de vida das populações urbanas. Arborizar as cidades é fundamental. Com mais árvores, a condição do ar melhora, assim como o regime de chuvas e os ciclos dos ventos e, consequentemente, a umidade do ar.

Fontes:

https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/entenda-relacao-entre-arvores-e-o-clima-das-cidades/ http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/10/relacao-entre-arvores-e-temperaturas-vira-tema-de-estudo-em-universidade.html


[i] : IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessmentreport-working-group-i/ Acesso em: 28 out. 2021.

[ii] A radiação de onda longa é o fluxo radiante de energia resultante da emissão dos gases atmosféricos e de superfícies líquidas e sólidas da Terra. A maior parte da radiação emitida pela Terra e pela atmosfera está contida no intervalo de 4 a 100 mm e por isto recebe a denominação de radiação de onda longa.

[iii] file:///C:/Users/Mo/Downloads/15968-87501-1-PB.pdf

Amazônia: exuberância verde em solo pobre

A imensa camada florestal amazônica se assenta em uma fina camada de compostos orgânicos

Pouca gente acredita, mas é verdade: aquela imensidão verde amazônica está assentada sobre uma fina camada de nutrientes, um solo considerado pobre. O ceticismo vem da pergunta que logo vem à mente: como é possível? É o que este texto visa responder. Todo solo se desenvolve a partir da destruição (intemperismo) das rochas, ou material de origem. Tal intemperismo[i] tem causa principal nas chuvas torrenciais que literalmente lavam a região, por uma série de fatores (já abordados na matéria deste blog: Rios voadores são essenciais para o planeta)

As águas dessas chuvas são levemente ácidas por causa da reação com o CO2 da atmosfera, que forma um composto chamado ácido carbônico (H2O + CO2 = H2CO3) que decompõe as rochas. Há ainda a ação de outros organismos como fungos, algas, líquens, raízes, que atuam em conjunto para a ocorrência do intemperismo, por também produzirem ácidos.

Porém, o principal agente intemperizador das rochas é a água, pois o solo em que está assentada a mata, resulta de todo um conjunto de fatores: a decomposição física das rochas que se quebram continuamente em pedaços cada vez menores, e a formação de outros minerais secundários. A cada chuva vão perdendo elementos químicos nutricionais fundamentais para o desenvolvimento da vegetação, como cálcio, magnésio e potássio, pois são pouco retidos no solo.

A maior parte do solo amazônico é arenoso. A fina camada que recobre o chão é formada pela decomposição de folhas, frutos, sementes e animais mortos. E é isso que lhe confere sua exuberância. Embora o intemperismo impere, é a floresta que mantém a sua magnífica exuberância. Sem ela, a floresta, o solo se torna areia em poucas décadas.

Foto de Materiais orgânicos (Serrapilheira) feita por Setsuo Tahara disponível em https://www.flickr.com/photos/setsuotahara/101158655/

A derrubada contínua vem desertificando grande parte do que antes era uma densa e majestosa floresta. Há indícios claros que se a atual taxa de desmatamento se mantiver, em breve não haverá mais como recuperar a vegetação.

Em áreas desmatadas, as fortes chuvas “lavam” o solo, carregando seus nutrientes. É o chamado processo de lixiviação[i], que deixa os solos amazônicos ainda mais pobres. Dos 6,7 bilhões de km2 de área da Amazônia, somente 14% de toda essa imensidão é considerada verdadeiramente fértil para a agricultura.

Neste processo a camada de húmus tem um papel fundamental. Além disso, os poucos nutrientes presentes no solo são rapidamente absorvidos pelas raízes das árvores, e estas plantas, por sua vez, tornam a liberar nutrientes para enriquecimento do solo. Trata-se de uma constante reciclagem de nutrientes.

Nas margens dos rios podemos encontrar solos mais férteis, conhecidos como várzeas. As chuvas carregam os nutrientes e correm para os rios, daí suas margens possuírem maior quantidade de compostos orgânicos. Especialmente as águas vindas das Cordilheiras dos Andes que percorrem grandes extensões de terra e vem trazendo imensas quantidades de nutrientes, principalmente nos períodos de cheias. Em algumas regiões pequenas de Rondônia e Acre (estados que vem sofrendo grandes devastações) encontram-se solos de grande fertilidade.

Portanto, o que sustenta a exuberância da floresta, é a própria floresta, devido as toneladas de material orgânico depositadas continuamente no solo, apesar da escassez de nutrientes.

Fontes

https://www.ibflorestas.org.br/bioma-amazonico

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-solo-amazonia-pobre-nutrientes.htm https://www.blogs.unicamp.br/geofagos/2006/10/10/solo-pobre-vegetacao-exuberante/


[i]  Lixiviação é o movimento de materiais solúveis na matriz do solo pelo efeito da água que escorre e causa erosão ou a água que infiltra no solo em direção ao lençol freático. … “O mesmo processo acontece em todos os solos com a camada superficial mais leve (solos de textura leve)


[i] Dá-se o nome de intemperismo (também chamado de meteorização) ao conjunto de alterações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem quando ficam expostas na superfície da Terra.